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A ginástica laboral e a qualidade de vida do trabalhador

La actividad física laboral y la calidad de vida del trabajador

 

*Acadêmica do curso de Educação Física da Universidade Federal de Sergipe – UFS.

**Mestranda em Educação pela Fundação Universidade de Blumenau – FURB.

***Doutor em Educação pela Universidade Federal da Bahia – UFBA

Professor do Departamento de Educação Física da UFS

(Brasil)

Joice Soares Siqueira*

Camila da Cunha Nunes**

Fabio Zoboli***

mila_hand4@hotmail.com

 

 

 

 

Resumo

          Este estudo visa discutir a qualidade de vida no “setor” profissional/trabalho e traz consigo a visão de totalidade de qualidade de vida, pois por meio da prática da ginástica laboral e da preocupação com os aspectos ergonômicos busca-se melhorar a qualidade de vida, a modificação de comportamento dos funcionários de uma empresa de transporte de mercadorias da cidade de Aracaju – SE, envolvendo aspectos biológicos, físicos, psicológicos e sociais.

          Unitermos: Educação Física. Ginástica Laboral. Qualidade de vida no trabalho.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 16 - Nº 157 - Junio de 2011. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    O século XXI será lembrado por muitos acontecimentos e sem dúvida um desses se trata de uma preocupação maior com a qualidade de vida. Há uma atenção especial para os hábitos diários das pessoas e se estes são classificados como saudáveis ou não. Esta discussão visa à redução de hábitos deletérios à saúde e à qualidade de vida, e aumentar a freqüência de hábitos promotores de saúde e de qualidade de vida.

    Neste sentido, a qualidade de vida tão evidenciada pela sociedade “moderna” pode estar associada a vários setores da nossa vida, sendo que a satisfação pessoal em cada um desses setores é imprescindível para se adquirir um estilo de vida melhor, envolvendo vários aspectos como: vida pessoal, emocional, profissional, familiar, entre outros.

    Nahas (2001) salienta que qualidade de vida é a condição humana resultante de um conjunto de parâmetros individuais e sócio-ambientais, modificáveis ou não, que caracterizam as condições em que vive o ser humano. Desta forma a atenção para as condições de trabalho oferecidas ao ser humano também fazem parte do que Nahas denomina ser qualidade de vida. Sendo assim, um programa de promoção de saúde incluindo ginástica laboral, palestras, informações diversas sobre saúde, pode influenciar positivamente a qualidade de vida do empregado a partir do seu cotidiano laboral, modificando inclusive, seus hábitos até mesmo fora do ambiente de trabalho (MARTINS e MICHELS, 2001).

    A partir dessas considerações iniciais, este artigo tem como escopo a qualidade de vida no “setor” profissional/trabalho e traz consigo a visão de totalidade de qualidade de vida, pois por meio da prática da ginástica laboral e da preocupação com os aspectos ergonômicos busca-se melhorar a qualidade de vida, a modificação de comportamento dos funcionários de uma empresa de transporte de mercadorias da cidade de Aracaju – SE, envolvendo aspectos biológicos, físicos, psicológicos e sociais.

Ginástica laboral e seus benefícios ao trabalhador

    Independentemente da ocupação, é necessário uma boa mobilidade para a realização das tarefas diárias. Nossas ações são realizadas por meio de um corpo que possibilita diversos movimentos, mas que necessita de um equilíbrio entre a postura (ação da gravidade), a capacidade de contração muscular (força muscular) e a boa flexibilidade (LIMA, 2007).

    A prática da ginástica laboral permite um treinamento da flexibilidade o que previne o encurtamento muscular crônico, motivo de queixas de dores musculares por diversos profissionais, além desta voltar-se para o combate dos denominados “vícios posturais”, considerado uma das razões de constantes reclamações por incômodos de origem física por parte dos trabalhadores.

    A relação com o outro e com o mundo faz o corpo adotar variadas posturas para satisfazer suas necessidades. Sendo assim, entende-se por postura: atitude que o corpo adota nas suas relações. A postura se dá por meio da ação coordenada de vários ligamentos, ossos e músculos que atuam para manter a estabilidade ou para assumir a base essencial.

    Neste caso especificamente a ginástica laboral terá a intenção de compensar os músculos mais utilizados no trabalho (alongando e relaxando) e fortalecer os seus antagonistas. Segundo Kolling (1980 apud SAMPAIO e OLIVEIRA 2008) a ginástica laboral compensatória tem o objetivo de trabalhar os músculos que não estão (ou são utilizados parcialmente) sendo utilizados com freqüência na jornada de trabalho e relaxar os músculos que estão em contração durante a maior parte da jornada de trabalho.

    Com a divisão social do trabalho priorizou-se cada vez mais movimentos e esforços físicos repetitivos o que ocasionou o surgimento de doenças e lesões cada vez mais comuns na classe operária. Desta forma, tornou-se necessário a Ginástica Laboral nas empresas seja ela preparatória ou compensatória, pois, é comprovado cientificamente que a sua prática previne lesões, distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho, orienta uma melhor postura diante das tarefas desempenhadas, maior preocupação com o estilo de vida através de conversas sensibilizadoras prevenindo doenças por meio da informação/intervenção.

    É importante ressaltar que os benefícios provenientes da prática da Ginástica Laboral caminham de mãos dadas com os fatores ergonômicos de uma empresa. Se há uma orientação postural na aula, esta deve ser materializada no momento do trabalho, com o ajuste da cadeira à anatomia do corpo do funcionário, manusear os equipamentos de forma e postura corretas, alternar posições sentadas ou em pé contribuindo positivamente com a circulação sanguínea, o ambiente ser arejado/iluminado, são elementos auxiliares na busca de um estilo de vida saudável no ambiente do trabalho e fora dele, incorporando essas novas atitudes na rotina diária.

    A prática da Ginástica Laboral também contribui para a melhoria da integração, permitindo maior socialização, já que esse é um momento de descontração tornando a relação menos formal. Paralelamente, a prática da Ginástica Laboral desperta o bom humor, a simpatia, melhora a disposição para o trabalho, conseqüentemente aumento na produtividade e melhor atendimento ao cliente.

    Um estudo realizado por Militão (2001) com funcionários do setor administrativo de duas empresas da cidade de Florianópolis, onde a ginástica laboral era orientada por um profissional de Educação Física mostrou que 48,2% dos funcionários responderam que no tocante a integração, houve uma melhora no relacionamento, o grupo ficou mais unido, além de uma sensação de bem estar e melhora do ânimo gerando maior disposição para o trabalho.

    De acordo com Polito e Bergamaschi (2006), no processo de conduta humana a auto-estima tem papel fundamental, uma vez que praticamente tudo o que se manifesta no ser humano, seja no plano físico, mental ou espiritual, está ligado a ela. Quando se vive em um ambiente de pressões, cobranças, os acertos não são valorizados, reconhecidos, certamente a auto-estima e a auto-confiança serão abaladas.

    O corpo somatiza todo esse bombardeio de fatores e cobranças e vai acumulando tensões, que muitas das vezes resultam em fortes dores musculares que acompanham o indivíduo durante sua rotina diária, o comportamento também sofre mudanças, sensações desconfortáveis são causadas pelo estresse.

    O Brasil tornou-se o segundo país com o número maior de pessoas estressadas, perdendo somente para o Japão. Estudos constataram que o estresse é maior por conta do trabalho no tocante as longas jornadas e a insatisfação com a ocupação laboral, na qual esta situação influi diretamente na qualidade de vida do sujeito (Reportagem do programa Globo Repórter).

    A prática da ginástica laboral tem atuação importante diante dessas situações, pois, visa proporcionar relaxamento do corpo, reduzindo as tensões acumuladas, diminuindo o estresse, acalmando os pensamentos de cobranças e tarefas, permite momentos de um “cuidar-se melhor”, elevando a auto-estima dos funcionários, deixando-os mais confiantes, motivados, dispostos e concentrados para o trabalho.

Metodologia

    Este estudo se caracteriza por uma pesquisa qualitativa que abordou o objeto de análise a partir de um estudo de caso. Trata-se de um estudo de uma das filiais (Filial - Aracaju) de uma empresa de transporte de mercadorias. Para Gil (2002) este tipo de estudo se fundamenta na idéia de que a análise de uma unidade de determinado universo possibilita a compreensão da generalidade do mesmo ou pelo menos o estabelecimento de bases para uma investigação a posterior, mais sistemática e precisa.

    Inicialmente, foi feito um levantamento bibliográfico a fim de buscar bases históricas e filosóficas para melhor compreender a manifestação e a percepção da qualidade de vida no trabalho por meio da prática da Ginástica Laboral e da Ergonomia.

    O segundo momento foi o estudo junto à referida empresa, na qual foram coletados os dados. Para tal utilizou-se como instrumentos a observação direta e 03 questionários dirigidos a diferentes sujeitos do ambiente pesquisado. As observações se deram nas mais variadas práticas no ambiente da empresa, desde a postura ao realizar tarefas de trabalho até de ordem estrutural da empresa, transferência do aprendizado das aulas de Ginástica Laboral para as ações cotidianas no trabalho e observação de 08 aulas de Ginástica Laboral acompanhando o professor de Educação física que as ministrava.

    Os três questionários aplicados continha perguntas abertas e fechadas. Um questionário teve a preocupação de coletar dados referentes à qualidade de vida no trabalho, o outro direcionado à coleta de dados empíricos para verificarmos a estrutura ergonômica da empresa pesquisada, e um terceiro questionário com os 02 encarregados da empresa: 01 do setor administrativo e 01 do setor operacional da empresa de transporte de mercadorias em questão. Foram aplicados 30 questionários junto aos dois setores da empresa, no entanto tivemos resposta de 22.

    E por fim, foi feita a análise dos dados coletados a fim de atingir o objetivo proposto inicialmente na pesquisa.

Análise e discussão dos dados coletados

Ginástica laboral e qualidade de vida no trabalho

    Para levantar dados referentes às ações da ginástica laboral relacionadas à qualidade de vida no trabalho, indagou-se aos funcionários sobre os efeitos da ginástica em si mesmo, segundo sua própria percepção no grupo de trabalho e na vida fora da empresa.

    Quando perguntados sobre a relação entre a prática de alongamentos através da ginástica laboral e as dores musculares 80% responderam que o mesmo é ótimo para prevenir e aliviar tais dores. Os demais (20%) responderam que o alongamento é bom para amenizar as dores musculares. Percebemos na justificativa que muitos deles declaram que se tornaram mais flexíveis, as dores do corpo causadas pelo trabalho estão diminuindo e que o corpo fica mais relaxado para enfrentar as tarefas diárias. Mesmo que os trabalhadores do setor operacional utilizem maior grupo muscular e maior força as respostas foram bem próximas as do setor administrativo.

    Q11 – “Conseguir ficar mais flexível, me sinto mais relaxado e as dores no corpo diminuíram.”

    Em seu estudo, Martins e Duarte (2000) concluíram que a prática da ginástica laboral promove a médio e longo prazo um aumento significativo da flexibilidade, combatendo o encurtamento muscular e conseqüentemente reduzindo as dores musculares do cotidiano dos funcionários.

    Ao serem questionados se através da prática da ginástica laboral observaram, perceberam alguma mudança em relação à integração, laços de amizades entre os colaboradores da empresa e do próprio setor que fazem parte 90% responderam que sim e 10% que não. Nas justificativas muitos alegaram que houve uma maior aproximação e comunicação entre os colegas, interferindo de forma positiva no respeito entre eles. A única resposta negativa (setor operacional) não foi justificada.

    Q2 – “Sinto mais aproximação, comunicação e respeito entre os colegas”.

    Quando perguntamos sobre como os funcionários se sentiam após participarem da aula de ginástica laboral 70% responderam que se sentiam mais disposto/animado/alto-astral, 20% relaxado/tranqüilo e 10% menos estressado. Ao justificarem a maioria relatou que se sentiam mais dispostos para enfrentar suas atividades de mais um dia de trabalho.

    Q3 – “Tenho mais disposição nas minhas atividades e mais ânimo”.

    Os encarregados de ambos os setores afirmaram quanto ao fator integração que há uma maior colaboração/cooperação entre os colegas durante o cumprimento das tarefas e que os colaboradores de ambos os setores demonstram maior disposição, bom humor, descontração e alegria (muitos deles cantam durante o trabalho/setor operacional) após participarem da ginástica laboral.

    Segundo Figueiredo e Mont´Alvão (2008), quando se implanta um programa de ginástica laboral numa empresa, envolve-se a coletividade, o que propicia, além dos benefícios físicos em si, momentos de descontração e um desligamento momentâneo dos problemas do trabalho, se tornando um momento de pausa. Independentemente de suas funções, naquele instante todos irão relacionar-se, praticar exercícios, cooperar uns com os outros, conhecerem suas necessidades e limitações, respeitando seus limites e os de seus colegas.

    Por meio da observação direta esses fenômenos foram percebidos de maneira transparente. É nítido o interesse dos colaboradores para com a prática da ginástica laboral e ficou evidente a presença da motivação, da alegria, da descontração, da comunicação espontânea entre eles, principalmente nas atividades em duplas ou em grupo. Após a aula eles trabalhavam mais dispostos e bem humorados isso foi percebido em ambos os setores.

    A questão do interesse por parte dos colaboradores, os encarregados relataram que eles se mostram muito interessados, mas alegam que “Talvez o horário esteja influenciando na participação de forma negativa, já que neste horário muitos estão na rua, fazendo entregas”. Talvez fosse interessante a empresa rever a questão do horário, ou propor horários em dois turnos, beneficiando um maior número de colaboradores com a prática da ginástica laboral. Outra questão é o fato das turmas serem mistas o que beneficia e fortalece o convívio, mas sugerimos aos professores que tentem ministrar as aulas que em certos momentos os exercícios sejam específicos para as atividades desempenhadas por ambos setores da empresa.

    Quando questionados sobre o que julgavam ocorrer nas aulas de ginástica laboral em relação ao fator prevenção de doenças (L.E.R/D.O.R.T, desvios posturais, dores na coluna, estresse, entre outras) grande parte não respondeu ou apenas relataram que era algo muito importante somando 70% de colaboradores e somente 30% (02 do setor administrativo - 20% e 01 do setor operacional - 10%) responderam relatando que nas aulas de ginástica laboral são orientados por meio de conversas sensibilizadoras.

    Q4 – “Temos bastante orientação e conversas sobre como prevenir essas doenças”.

    As manifestações somáticas em quem trabalha são um grito de alerta para mostrar que não é o homem que está doente e sim o trabalho. As posturas inadequadas muitas vezes por falta de orientação e falta de planejamento ergonômico juntamente com a continuidade de movimentos nestas condições são as causas mais importantes para a manifestação de doenças ocupacionais. Entre os problemas mais freqüentes provocados pelas posturas e atitudes inadequadas no trabalho, podemos citar a dor na região lombar, o desconforto na nuca, na coluna cervical, no pescoço, encurtamentos musculares, incômodos nos olhos, lesões nos cotovelos, punhos, nas mãos e nos ombros. Alguns tipos de dor ainda elevam o nível de estresse e podem provocar mau humor e, a longo prazo, depressão.

    Como a prática da ginástica laboral incentiva a prática de exercícios preventivos, atua combatendo vícios posturais, promove a socialização consegue interferir relação ao ânimo, integração, auto-estima, autoconfiança e até mesmo na auto-imagem dos funcionários o que gera um bem estar físico e emocional, contribuindo na qualidade de vida dos mesmos, prevenindo doenças ocupacionais (REVISTA DO CONFEF 2007).

    Segundo Polito e Bergamaschi (2006) a ginástica laboral, além de prevenir a L.E.R, busca a eficiência e saúde musculoesquelética, redução dos riscos ambientais, redução do estresse e interesse conjunto da empresa e dos funcionários em melhorias da qualidade de vida no trabalho. Seria interessante que além de proporcionar a prática da ginástica laboral, a empresa (ou o professor responsável pela ginástica) promovesse momentos de conversas sobre dicas de saúde, qualidade de vida, postura adequada ao realizar tarefas, alternância de posições, ativando melhor a circulação, reduzindo os riscos de acidentes no trabalho e prevenindo mazelas ocupacionais.

    Por meio da observação direta percebemos que dentro do programa de ginástica laboral há momentos em que o professor de Educação Física responsável pela ginástica se preocupava em passar informações de suma importância para o cotidiano dos funcionários tanto nas atividades do trabalho, como para a qualidade de vida dentro e fora da empresa. Analisando a situação sugerimos que o professor responsável pela ginástica na empresa organizasse um calendário (com base no calendário da qualidade de vida) onde de acordo com as datas “comemorativas” ele fosse trazendo breves informações e ainda colocar cartazes, panfletos alertando para hábitos e posturas saudáveis.

    Ao serem questionados se costumavam ficar tensos no ambiente de trabalho se sentindo cobrado, preocupado com as tarefas 60% responderam que sim e 40% que não. Aos 60% que responderam de forma afirmativa foi perguntado se essa tensão se tornava acumulada ao longo dos dias causando algum tipo de desconforto de origem física e/ou psicológica tais como: cansaço, desânimo, dores musculares, irritação e ansiedade. Todas as alternativas apareceram como forma de manifestação dessa tensão acumulada, os mais presentes foram irritação e dores musculares.

    Ao serem questionados se na opinião deles as aulas de ginástica laboral interferiam de alguma forma em alguns desses sintomas 90% (dos 60% que responderam de forma afirmativa a questão 05) responderam que sim e 10% que não este justificando participar uma vez ou outra das aulas de ginástica laboral, por se encontrar muitas das vezes fazendo entregas. Os que responderam sim justificaram em sua maioria que conseguem relaxar a musculatura (principalmente pescoço e regiões próximas) e também a mente, controlando a irritação, diminuindo o cansaço, melhorando o ânimo.

    Q6 – “Na aula podemos relaxar regiões doloridas próximas ao pescoço, alongar, descontrair, nos afastar por alguns minutos do trabalho”.

    De acordo com Oliveira et al. (2007) a ginástica laboral atua na prevenção e no combate ao estresse, a irritação e a ansiedade, visto que durante a atividade física é liberado um neurotransmissor chamado endorfina, o que causa bem – estar e alívio das tensões. Além disso, os exercícios ajudam a reavaliar o modo de pensar, organizar seu tempo, espaço e atuação, compreensão, descontração, fatores preventivos dos sinais de estresse.

    Quando questionados se costumam colocar em prática no momento das suas atividades diárias os ensinamentos da aula de ginástica laboral em relação àpostura corporal adequada ao realizar suas tarefas 100% responderam que sim. O pessoal do setor administrativo respondeu que costuma se policiar em relação à postura ao sentar e se manter sentado na cadeira, e também na questão de vez em quando levantar, andar um pouco, colaborando com a circulação.

    Q7 – “Costumo me vigiar em relação à postura ao sentar e me manter nesta posição e também em me levantar, andar um pouco pela empresa por causa da circulação.

    Já o pessoal do setor operacional costuma ficar atento para os ensinamentos, utilizando dicas sobre como abaixar para pegar uma determinada carga (utilizando a alavanca das pernas, não forçando a coluna) e em alguns momentos fazem alguns exercícios de alongamento que aprenderam na aula mesmo em dias que não tem a ginástica.

    Q7 – “O mais importante e o que uso com mais freqüência é quando pego as caixas, passando o peso para as pernas e não para as costas”.

    Por meio das observações foi possível perceber que os colaboradores realmente tentam por em prática o que aprendem nas aulas de ginástica laboral como até mesmo descreveram em suas respostas, mas também podemos observar que nem sempre isso é possível. No setor administrativo há dias em que eles estão muito atarefados e não executam a “parada” de alguns minutos, nem ao menos circulam pela empresa, melhorando o fluxo sanguíneo, muitas vezes envolvidos demais no trabalho (de olho nos prazos a serem cumpridos) esquecem de tais atitudes simples benéficas para sua saúde. No setor operacional eles seguem as dicas com mais frequência, muitas vezes um ajuda o outro contribuindo para amenizar a carga que somente um iria ter que deslocar. Talvez fosse interessante ser rotina da empresa “parar” um pouquinho a cada duas, três horas, oferecendo oportunidade de materializarem o que vivenciam nas aulas. No entanto, no sistema capitalista em primeiro lugar está o lucro tornando essa medida muito rara nas empresas.

    No questionamento se conseguem transferir as informações sobre qualidade de vida para o seu cotidiano, melhorando os seus hábitos de vida 100% responderam que sim. Na justificativa grande parte respondeu que passou a fazer caminhada, alongar antes das atividades, ingerir maior quantidade de água, sendo que uma pessoa (10%) do setor administrativo respondeu que passou a cuidar melhor da alimentação aproveitando as informações.

    Q8 – “Passei a fazer caminhada pela manhã e alongar antes das atividades, coisa que eu não fazia”.

    No estudo de Militão (2001), os resultados mostraram que a ginástica laboral contribuiu de maneira significativa para a adoção de hábitos mais saudáveis, contribuindo na qualidade de vida dos trabalhadores fora do ambiente de trabalho.

Considerações finais

    O presente estudo procurou compreender de que forma a qualidade de vida através da prática da ginástica laboral pode ser percebida em uma filial de uma rede de transporte de mercadorias da cidade de Aracaju.

    Os resultados mostraram que a grande maioria dos trabalhadores investigados perceberam benefícios na prática da ginástica laboral. Em relação aos alongamentos proporcionados nas aulas de ginástica laboral as respostas demonstraram que 100% dos colaboradores se sentiam mais flexíveis, relaxados e com menos dores pelo corpo. No quesito gerenciamento de relacionamentos entre funcionários, gerentes, encarregados mais uma vez a ginástica laboral apareceu como um grande triunfo que proporciona uma melhor aproximação, comunicação, integração do grupo e até mesmo estimula o respeito entre os colaboradores, justificativa de 90% dos investigados ao responderem se perceberam mudanças em relação a amizade, ao convívio com a participação na aulas. Sendo que esse fator pode também ser percebido nas respostas dos encarregados e relatado na observação direta.

    Muitos alegaram se sentir mais dispostos, animados (70%), outros relaxados (20%) e um (10%) menos estressado após participarem da aula de ginástica laboral quando questionados como se sentiam após as atividades praticadas na aula, alguns até responderam que a prática tem ajudado a aliviar sintomas de irritabilidade e dores musculares oriundas de preocupações e cobranças no trabalho, mostrando benefícios não somente na estrutura óssea, muscular, como também melhorias que envolvem o psicológico, o alívio das tensões do corpo e da mente.

    Desta forma conclui-se que de acordo com a percepção dos colaboradores da empresa investigada a ginástica laboral é ferramenta eficaz no combate as doenças ocupacionais e a promoção de saúde, de qualidade de vida no trabalho.

    Ao término desta pesquisa tem-se a consciência de que ela, como todo trabalho científico, será sempre (re)interpretada à luz de novas teorias, fatos e documentos. O tempo e a história sempre terão novos olhares para novas reflexões e interpretações, pensar diferente seria ir a desencontro à essencialidade da mesma.

Nota

1.     Utilizaremos a letra Q para nos referir ao questionário e o número que a precede para identificar o número da questão em discussão. Q1 = questão 1 do questionário proposto.

Referências

  • FIGUEIREDO, F.; MON’TALVÃO, C. Ginástica Laboral e Ergonomia. 2. ed. Rio de Janeiro: Sprint, 2008.

  • GIL, A. C. Como Elaborar projetos de Pesquisa. São Paulo: Atlas, 2002.

  • LIMA, V. Ginástica Laboral: atividade física no ambiente de trabalho. 3. ed. São Paulo: Phorte, 2007.

  • MARTINS, C. O.; JESUS, J. F. Estresse, Exercício Físico, Ergonomia e Computador. Revista Brasileira de Ciências e Esporte, setembro, 21 (1), p. 807-813, 1999.

  • MARTINS, C. O.; MICHELS, G. Saúde x Lucro: Quem Ganha com um Programa de Promoção da Saúde do Trabalhador? Revista Brasileira de Cineantropometria& Desenvolvimento Humano, n. 1, v. 3, p. 95-101, 2001.

  • MILITÃO, A. G. A Influência da Ginástica Laboral para a Saúde dos Trabalhadores e sua Relação com os Profissionais que a Orientam. 2001. 86 F. Dissertação (Mestrado em Engenharia da Produção) - Programa de Pós Graduação, UFSC, Florianópolis.

  • NAHAS, M. V. Atividade Física, Saúde e Qualidade de vida: conceitos e sugestões para um estilo de vida ativo. Londrina: Midiograf, 2001.

  • OLIVEIRA, A. S.; OLIVEIRA. D. L.; SANTOS, J. F. S.; DECOL, M. Ginástica Laboral. Revista Digital – Buenos Aires – ano. 11, n. 106, Março, 2007.

  • POLITO, E.; BERGAMASHI, E. C. Ginástica Laboral: teoria e prática. 3. ed. Rio de Janeiro: Sprint, 2006.

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