Introduzindo
a investigação
Atualmente, segundo Flores et al. (2009), a questão da formação de
professores ocupa uma posição de destaque em discussões acadêmicas,
profissionais e políticas na busca de uma melhoria da qualidade do ensino na
escola.
Também Marques; Ilha e Krug (2009a) destacam que o contexto da formação de
professores e as diversas peculiaridades que compõem os cursos de Licenciatura
nos permitem e nos instigam a desenvolver inúmeros estudos e pesquisas a fim de
contribuir com a nossa própria formação, assim como de fomentar
questionamentos e trocas com os demais profissionais da educação. Os autores
ainda salientam que nesse quadro amplo de possibilidades, um dos mais
importantes componentes curriculares de indiscutível relevância para a
formação de acadêmicos é a disciplina de Estágio Curricular Supervisionado
(ECS).
Pinto (apud BERNARDI et al., 2008) diz que a disciplina de
Estágio Curricular Supervisionado deve ser o eixo norteador dos cursos de
formação de professores, orientando o trabalho pedagógico das diferentes
disciplinas.
Nesse mesmo direcionamento de idéias, Pimenta e Lima (2004, p.61) destacam que
“o estágio como campo de conhecimento é o eixo curricular central nos cursos
de formação de professores, possibilitando que sejam trabalhados aspectos
indispensáveis à construção da identidade, dos saberes e das posturas
específicas ao exercício profissional docente (...)”.
Assim, considerando essas colocações, deslocamos o nosso interesse
investigativo do Estágio Curricular Supervisionado em geral, especificamente
para o Estágio Curricular Supervisionado da Licenciatura em Educação Física,
entretanto, mais particularmente para a Licenciatura do Centro de Educação
Física e Desportos (CEFD) da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), pois
essa realizou uma reforma curricular em 2005, fundamentada nas Resoluções Nº
01 e Nº 02 do Conselho Nacional de Educação/Conselho Pleno de 2002 (BRASIL,
2002a; 2002b).
É importante salientar que, com a reforma curricular supracitada, o novo
currículo (2005) do Curso de Licenciatura em Educação Física do CEFD/UFSM
proporciona o ECS I, II e III nos 5º, 6º e 7º semestres do mesmo, realizados
respectivamente no Ensino Médio, nas Séries/Anos Finais do Ensino Fundamental
e nas Séries/Anos Iniciais do Ensino Fundamental, com carga horária de 120
horas destinadas a cada estágio, somando-se a essas 360 horas, mais 45 horas de
Seminário em ECS, no 8º semestre do curso, totalizando então 405 horas.
Entretanto, na literatura especializada também consta que, o estágio
pedagógico nos cursos de Licenciatura tem sido identificado como um momento
crítico da formação inicial dos professores (ONOFRE; FIALHO, 1995).
Dessa forma, para avaliação e superação desses mesmos momentos críticos, os
professores que integram as unidades curriculares responsáveis pelos estágios
nas escolas de educação básica devem estar, constantemente, repensando as
condições de trabalho para os acadêmicos que se matriculam nessa disciplina.
Assim, com o propósito de amenizar os momentos críticos do Estágio Curricular
Supervisionado foi que pensamos em avaliar a experiência docente dos
acadêmicos em situação de estágio. E, nesse sentido, concordamos com Machado
(1996) que salienta que só o estagiário será capaz de avaliar os seus
sentimentos e o seu desempenho em relação ao que acontece durante a sua
docência no ECS.
Desse modo, baseando-nos nessa premissa foi que surgiu a questão problemática
norteadora dessa investigação: Qual é a percepção avaliativa e a
justificativa dos acadêmicos da Licenciatura em Educação Física do CEFD/UFSM
da experiência docente nos Estágios Curriculares Supervisionados I, II e III?
Nesse sentido, o objetivo geral dessa investigação foi analisar a percepção
avaliativa e a justificativa dos acadêmicos da Licenciatura em Educação
Física do CEFD/UFSM da experiência docente nos Estágios Curriculares
Supervisionados I, II e III.
Em decorrência desse objetivo geral buscamos atingir os seguintes objetivos
específicos: 1) Analisar a percepção avaliativa e a justificativa dos
acadêmicos da Licenciatura em Educação Física do CEFD/UFSM da experiência
docente no Estágio Curricular Supervisionado I (Ensino Médio); 2) Analisar a
percepção avaliativa e a justificativa dos acadêmicos da Licenciatura em
Educação Física do CEFD/UFSM da experiência docente no Estágio Curricular
Supervisionado II (Séries/Anos Finais do Ensino Fundamental); e, 3) Analisar a
percepção avaliativa e a justificativa dos acadêmicos da Licenciatura em
Educação Física do CEFD/UFSM da experiência docente no Estágio Curricular
Supervisionado III (Séries/Anos Iniciais do Ensino Fundamental).
Para justificar a realização dessa investigação citamos Ilha; Krug e Krug
(2009) que acreditam que estudos dessa natureza podem oferecer subsídios para
modificações no contexto da formação de professores de Educação Física,
particularmente na compreensão do Estágio Curricular Supervisionado,
auxiliando, conseqüentemente, na melhoria da qualidade da formação inicial.
A
metodologia da investigação
A metodologia empregada nessa investigação caracterizou-se pelo enfoque
fenomenológico sob a forma de estudo de caso com abordagem qualitativa.
Conforme Triviños (1987, p.125) “a pesquisa qualitativa de natureza
fenomenológica surge como forte reação contrária ao enfoque positivista,
privilegiando a consciência do sujeito e entendendo a relatividade social como
uma construção humana”. O autor explica que na concepção fenomenológica
da pesquisa qualitativa, a preocupação fundamental é com a caracterização
do fenômeno, com as formas que se apresenta e com as variações, já que o seu
principal objetivo é a descrição.
Para Joel Martins (apud FAZENDA, 1989, p.58) “a descrição não se
fundamenta em idealizações, imaginações, desejos e nem num trabalho que se
realiza na subestrutura dos objetos descritos; é, sim, um trabalho descritivo
de situações, pessoas ou acontecimentos em que todos os aspectos da realidade
são considerados importantes”.
Já segundo Lüdke e André (1986, p.18) o estudo de caso enfatiza “interpretação
em contexto”. Godoy (1995, p.35) coloca que:
O estudo de caso tem se tornado na estratégia preferida quando os
pesquisadores procuram responder às questões “como” e “por que”
certos fenômenos ocorrem, quando há pouca possibilidade de controle sobre os
eventos estudados e quando o foco de interesse é sobre fenômenos atuais, que
só poderão ser analisados dentro de um contexto de vida real.
De acordo com Goode e Hatt (1968, p.17): “o caso se destaca por se constituir
numa unidade dentro de um sistema mais amplo”. O interesse incide
naquilo que ele tem de único, de particular, mesmo que posteriormente fiquem
evidentes estas semelhanças com outros casos ou
situações.
O instrumento utilizado para coletar as informações foi um questionário com
três perguntas abertas, que foi respondido por vinte e nove (29) acadêmicos do
7º semestre do curso de Licenciatura em Educação Física (Currículo 2005) do
CEFD/UFSM, matriculados na disciplina de Estágio Curricular Supervisionado III,
no 2º semestre letivo de 2010. Optamos pelo ECS III por esse ser o último
estágio dos acadêmicos e, portanto, significando a última experiência com a
escola na grade curricular do curso de Licenciatura em Educação Física do
CEFD/UFSM. A escolha dos participantes aconteceu de forma espontânea, em que a
disponibilidade dos mesmos foi o fator determinante. A fim de preservar as
identidades dos participantes, esses receberam uma numeração (1 a 29).
A cerca do questionário Triviños (1987, p.137) afirma que “sem dúvida
alguma, o questionário (...), de emprego usual no trabalho positivista, também
o podemos utilizar na pesquisa qualitativa”. Já Cervo e Bervian (1996)
relatam que o questionário representa a forma mais usada para coletar dados,
pois possibilita buscar de forma mais objetiva o que realmente se deseja
atingir. Consideram ainda o questionário um meio de obter respostas por uma
fórmula que o próprio informante preenche.
Pergunta aberta “destina-se a obter uma resposta livre” (CERVO; BERVIAN,
1996, p.138).
As questões norteadoras que compuseram o questionário estavam relacionadas com
os objetivos específicos dessa investigação e foram as seguintes: 1) Qual é
a sua avaliação e a justificativa sobre a sua experiência docente no Estágio
Curricular Supervisionado I (Ensino Médio)? 2) Qual é a sua avaliação e a
justificativa sobre a sua experiência docente no Estágio Curricular
Supervisionado II (Séries/Anos Finais do Ensino Fundamental)? e, 3) Qual é a
sua avaliação e a justificativa sobre a sua experiência docente no Estágio
Curricular Supervisionado III (Séries/Anos Iniciais do Ensino Fundamental)?
A interpretação das informações coletadas pelo questionário foi realizada
através da análise de conteúdo, que é definida por Bardin (1977, p.42) como
um:
Conjunto de técnicas de análise das comunicações visando obter, por
procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das
mensagens, indicadores (quantitativos ou não) que permitam a inferência de
conhecimentos relativos às condições de produção/recepção (variáveis
inferidas) destas mensagens.
Godoy (1995, p.23) diz que a pesquisa que opta pela análise de conteúdo tem
como meta “entender o sentido da comunicação, como se fosse um receptor
normal e, principalmente, desviar o olhar, buscando outra significação, outra
mensagem, passível de se enxergar por meio ou ao lado da primeira”.
Para Bardin (1977) a utilização da análise de conteúdo prevê três etapas
principais: 1ª) A pré-análise – que trata do esquema de trabalho,
envolve os primeiros contatos com os documentos de análise, a formulação de
objetivos, a definição dos procedimentos a serem seguidos e a preparação
formal do material; 2ª) A exploração do material – que corresponde
ao cumprimento das decisões anteriormente tomadas, isto é, a leitura de
documentos, a caracterização, entre outros; e, 3ª) O tratamento dos
resultados – onde os dados são lapidados, tornando-os significativos,
sendo que a interpretação deve ir além dos conteúdos manifestos nos
documentos, buscando descobrir o que está por trás do imediatamente aprendido.
Os
resultados e as discussões da investigação
Os resultados e as discussões dessa investigação foram explicitados
orientados pelos objetivos específicos.
A avaliação e a justificativa da experiência docente no Estágio
Curricular Supervisionado I (Ensino Médio) na percepção dos acadêmicos da
Licenciatura em Educação Física do CEFD/UFSM
Dezessete acadêmicos (1; 3; 5; 6; 8; 9; 11; 12; 15; 17; 19; 21; 22;
23; 24; 28 e 29) ‘aprovaram’ a experiência docente no ECS I.
Entretanto, doze acadêmicos (2; 4; 7; 10; 13; 14; 16; 18; 20;
25; 26 e 27) ‘reprovaram’ a experiência docente no ECS I. A
respeito dessas informações temos a salientar a dificuldade de encontrarmos
estudos na literatura especializada para podermos realizar a sua confrontação.
Dessa forma, inferimos a inexistência de estudos a respeito da avaliação de
estagiários sobre as suas experiências docentes no desenvolvimento do ECS em
Educação Física no ensino médio.
Os acadêmicos elencaram as seguintes ‘justificativas da aprovação’
da experiência docente no ECS I:
Pela boa relação com os alunos (Onze
acadêmicos: 3; 5; 9; 11; 15; 17; 19; 21; 22; 23 e 29) – Sobre
essa justificativa nos reportamos a Cunha (1992) que afirma que são bastante
comuns nos discursos de professores expressões como: ‘a relação com os
alunos me gratifica muito’ ou ‘a convivência com os alunos renova a gente’.
Destaca que essas relações se dão em clima de reciprocidade, em que o
comportamento do professor influencia o comportamento dos alunos e vice-versa,
instalando uma empatia entre eles. Assim, podemos inferir que isso também é
possível de ocorrer com os acadêmicos em situação de estágio;
2)
Pelo aprendizado docente adquirido (Quatro
acadêmicos: 1; 8; 12 e 28) – Essa justificativa pode ser
fundamentada por Pimenta e Lima (2004) que dizem que o Estágio Curricular
Supervisionado é um espaço de aprendizagem da docência marcada pela contínua
aproximação do futuro professor com a realidade escolar; e,
3)
Pelo sucesso pedagógico obtido (Dois
acadêmicos: 6 e 24) – A respeito dessa justificativa nos
referenciamos em Krug (2010c) que destaca que o sucesso pedagógico é a
principal razão da ocorrência dos melhores momentos na experiência docente
nos Estágios Curriculares Supervisionados I-II-III citada pelos acadêmicos da
Licenciatura em Educação Física do CEFD/UFSM.
Quanto às ‘justificativas da reprovação’ da experiência docente
no ECS I os acadêmicos citaram as seguintes:
Pela falta de professor orientador de estágio na universidade
(Cinco acadêmicos: 2; 4; 7; 10 e 14) – Sobre
essa justificativa citamos Piéron (1996) que salienta que estudos revelam que
vários elementos interferem no sucesso dos acadêmicos no estágio de ensino,
mas, dentre eles, destaca-se a forma como é realizada a
supervisão/orientação. Assim, podemos inferir que a ausência do professor
de estágio acarretará dificuldades aos acadêmicos em situação de
estágio;
2.
Pelo abandono do professor de Educação Física da escola que não ajudou
(Quatro acadêmicos: 13; 20; 25 e 27) – A respeito
dessa justificativa nos reportamos a Santos (1996) que salienta que, na maioria
das vezes, os estagiários são abandonados pelos professores regentes das
turmas ficando o estagiário sem auxílio nos momentos necessários. Assim,
podemos inferir que o abandono do estagiário pelo professor da escola poderá
acarretar dificuldades ao estagiário; e,
3.
Pela resistência dos alunos às atividades propostas, pois somente querem
jogo (Três acadêmicos:
16; 18 e 26) – Relativamente a essa justificativa mencionamos
Mattos e Neira (apud KRUG, 2011a) que reportam-se ao fato de que com
freqüência as aulas de Educação Física tornam-se a atividade de jogar por
jogar, onde as aulas se estabelecem na forma de dividir as equipes e partir para
o racha como jogo. Os autores colocam que nesse caso a Educação Física “transforma-se
assim em um espaço para recreação e lazer dos alunos (daqueles que só
jogam), desvinculando por completo de sua dimensão educacional” (p.1).
A avaliação e a justificativa da experiência docente no Estágio
Curricular Supervisionado II (Séries/Anos Finais do Ensino Fundamental) na
percepção dos acadêmicos da Licenciatura em Educação Física do CEFD/UFSM
Vinte e dois acadêmicos (1; 3; 5; 6; 8; 9; 11; 12; 15; 16; 17; 18;
19; 21; 22; 23; 24; 25; 26; 27; 28 e 29) ‘aprovaram’ a
experiência docente no ECS II. Essa informação pode ser confrontada com o
estudo de Silva e Krug (2008) intitulado ‘A opinião discente sobre o Estágio
Curricular Supervisionado em Educação Física na UFSM’ que constataram que
50,0% dos acadêmicos estudados da Licenciatura em Educação Física
(Currículo 1990) do CEFD/UFSM, que realizaram o estágio nesse segmento
escolar, aprovaram a realização do estágio nas séries finais do ensino
fundamental.
Entretanto, sete acadêmicos (2; 4; 7; 10; 13; 14 e 20) ‘reprovaram’
a experiência docente no ECS II. Essa informação pode ser confrontada com o
estudo de Silva e Krug (2008) intitulado ‘A opinião discente sobre o Estágio
Curricular Supervisionado em Educação Física na UFSM’ que constataram que
50,0% dos acadêmicos estudados da Licenciatura em Educação Física
(Currículo 1990) do CEFD/UFSM, que realizaram o estágio nesse segmento
escolar, reprovaram a realização do estágio nas séries finais do ensino
fundamental.
Os acadêmicos elencaram as seguintes ‘justificativas da aprovação’
da experiência docente no ECS II:
Pela boa relação com os alunos (Doze
acadêmicos: 8; 9; 15; 16; 18; 21; 22; 23; 25; 26; 27 e 29) –
Sobre essa justificativa nos reportamos a Marques; Ilha e Krug (2009b) que
destacam que, constantemente, a relação do professor de Educação Física e
seus alunos são bastante amigáveis e descontraídas;
2.
Pelo aprendizado docente adquirido (Sete
acadêmicos: 3; 5; 11; 12; 17; 19 e 28) – Em relação a essa
justificativa nos reportamos a Pereira (1996) que afirma que o Estágio
Curricular Supervisionado/Prática de Ensino é essencial à formação do
futuro professor, pois lhe proporciona um momento específico de aprendizagem
sobre a sua função profissional; e,
3.
Pelo sucesso pedagógico obtido (Três
acadêmicos: 1; 6 e 24) – A respeito dessa justificativa citamos
Luft (2000) sucesso é um bom êxito, um resultado feliz. Assim podemos inferir
que o sucesso pedagógico aqui manifestado é quando o estagiário tem um bom
êxito em sua atividade docente;
Quanto às ‘justificativas da reprovação’ da experiência docente
no ECS II os acadêmicos citaram as seguintes:
Pela falta de professor orientador de estágio na universidade
(Cinco acadêmicos: 2; 4; 7; 10 e 14) – Sobre
essa justificativa citamos Pimenta (1995) que coloca que existe uma
dificuldade de acompanhamento do estágio, por parte do professor orientador,
devido ao grande número de alunos, à diversidade de escolas onde os
acadêmicos estagiam e à falta de professores de estágio, em alguns casos;
e,
2.
Pelo abandono do professor de Educação Física da escola que não ajudou
(Dois acadêmicos: 13 e 20) – Essa justificativa
pode ser embasada em Neuenfeldt e Canfield (1998) que dizem que é necessário
estabelecer um compromisso entre os estagiários e as escolas que os recebem,
pois deve haver uma troca de experiências, um trabalho conjunto e jamais se
deve permitir que os professores de educação Física abandonem suas turmas
para os estagiários.
A avaliação e a justificativa da experiência docente no Estágio Curricular
Supervisionado III (Séries/Anos Iniciais do Ensino Fundamental) na percepção
dos acadêmicos da Licenciatura em Educação Física do CEFD/UFSM
Vinte e nove acadêmicos (1; 2; 3; 4; 5; 6; 7; 8; 9; 10; 11; 12; 13;
14; 15; 16; 17; 18; 19; 20; 21; 22; 23; 24; 25; 26; 27; 28 e 29) ‘aprovaram’
a experiência docente no ECS III. Essa informação pode ser confrontada com o
estudo de Silva e Krug (2008) intitulado ‘A opinião discente sobre o Estágio
Curricular Supervisionado em Educação Física na UFSM’ que constataram que
70,8% dos acadêmicos estudados da Licenciatura em Educação Física
(Currículo 1990) do CEFD/UFSM, que realizaram o estágio nesse segmento
escolar, aprovaram a realização do estágio nas séries iniciais do ensino
fundamental.
Como podemos notar nenhum acadêmico ‘reprovou’ a
experiência docente no ECS III. Essa informação pode ser confrontada com o
estudo de Silva e Krug (2008) intitulado ‘A opinião discente sobre o Estágio
Curricular Supervisionado em Educação Física na UFSM’ que constataram que
29,2% dos acadêmicos estudados da Licenciatura em Educação Física
(Currículo 1990) do CEFD/UFSM, que realizaram o estágio nesse segmento
escolar, reprovaram a realização do estágio nas séries iniciais do ensino
fundamental.
Os acadêmicos elencaram as seguintes ‘justificativas da aprovação’
da experiência docente no ECS III:
Pelo aprendizado docente adquirido (Nove
acadêmicos: 2; 3; 8; 10; 13; 16; 21; 22 e 23) – Em relação
a essa justificativa nos referimos a Pimenta e Lima (2004) que colocam que o
Estágio Curricular Supervisionado pode ser um espaço de convergência das
experiências pedagógicas vivenciadas no decorrer do curso, como também, uma
possibilidade de aprendizagem da profissão docente, mediada pelas relações
sociais historicamente situadas;
2.
Pela ajuda do professor orientador de estágio da universidade
(Seis acadêmicos: 4; 14; 20; 25; 27 e 28) – Sobre
essa justificativa citamos Krug (2011b) que em seu estudo intitulado “As
expectativas e realizações no Estágio Curricular Supervisionado dos
acadêmicos da Licenciatura em Educação Física do CEFD/UFSM” constatou o
quanto facilita o aprendizado docente dos estagiários quando de uma efetiva
participação do professor orientador de estágio da universidade. Já Pereira
e Montiel (2010) salientam que a ação do professor supervisor (professor
universitário) é de grande importância para o processo ensino-aprendizagem
que caracteriza o estágio, pois devido a sua experiência docente ele pode
antecipar e contribuir para a minoração de equívocos pedagógicos,
decorrentes de pouca experiência dos acadêmicos em ECS, em especial durante
suas aulas nas práticas de ensino;
3.
Por ter se sentido professor (Cinco
acadêmicos: 11; 12; 15; 17 e 24) – Relativamente a essa
justificativa nos reportamos a Silva e Krug (2010) que se apropriando de
ensinamentos de Nóvoa, Pimenta e Zabalza, concluem, em poucas palavras, que ser
professor é um processo que se desenvolve no tempo e que perpassa caminhos
incertos, ambíguos e desconhecidos, onde cada um vai construindo sua maneira de
ser e estar na profissão, mas que a aprendizagem profissional da docência
está relacionada com as experiências das pessoas e como elas a organizam, pois
é nesses movimentos que elas se constróem como sujeitos. Assim, os saberes da
docência são colaboradores na construção da identidade do professor;
4.
Pela boa relação com os alunos (Quatro
acadêmicos: 18; 19; 26 e 29) – Em relação a essa
justificativa nos referimos a Cunha (1996) que afirma que a aula é um lugar de
interação entre as pessoas e, portanto, um momento único de troca de
influências. Assim, a relação professor-aluno no sistema formal é parte
integrante da educação e insubstituível na sua natureza. Destaca que a
relação professor-aluno passa pelo trato do conteúdo de ensino. A forma como
o professor se relaciona com a sua própria área de conhecimento é
fundamental, assim como sua percepção de ciência e de produção do
conhecimento. E isso interfere na relação professor-aluno, é parte dessa
relação. Outro aspecto que se entrelaça é a metodologia do professor. Um
professor que acredita nas potencialidades do aluno, que está preocupado com
sua aprendizagem e com seu nível de satisfação, exerce práticas de sala de
aula de acordo com essa posição. E isso é também relação professor-aluno.
Parece conseqüência natural que o professor que tem boa relação com os
alunos preocupe-se com os métodos de aprendizagem e procure formas dialógicas
de interação. Assim, podemos inferir que isso também é possível de ocorrer
com os acadêmicos em situação de estágio;
5.
Pelo sucesso pedagógico obtido (Três
acadêmicos: 6; 7 e 9) – Essa justificativa pode ser
fundamentada por Zacaron et al. (1999) que no seu estudo intitulado ‘O
sucesso pedagógico em Educação Física na opinião dos futuros professores’
constataram que os acadêmicos-estagiários (1º semestre de 1998) da
Licenciatura (Currículo 1990) do CEFD/UFSM relacionaram o sucesso nas aulas,
sobretudo, ao atingirem os objetivos propostos, atribuindo o sucesso a fatores
relativos às suas capacidades de intervenção pedagógica e, ainda às
condições de trabalho, aos recursos a às condições institucionais; e,
6.
Pela ajuda do professor da escola (Dois acadêmicos: 1 e
5) – Nessa justificativa ficou evidenciado o que sugerem Ferreira e Krug
(2001) de que é necessário acontecer um maior comprometimento do professor de
Educação Física da escola para com o acadêmico-estagiário para que o mesmo
tenha um bom desempenho em sua docência.
Conclusão:
uma possível interpretação sobre a investigação
Pela análise das informações obtidas podemos concluir que a grande maioria
dos acadêmicos estudados, ou seja, dezessete no ECS I (Ensino
Médio) e vinte e dois no ECS II (Séries/Anos Finais do Ensino
Fundamental), bem como a totalidade, isso é, vinte e nove
no ECS III (Séries/Anos Iniciais do Ensino Fundamental) ‘aprovaram’
a experiência docente em situação de estágio, o que consideramos muito
importante, pois demonstrou que o estágio pedagógico na Licenciatura em
Educação Física do CEFD/UFSM contribuiu, de forma geral, para a formação
profissional dos acadêmicos estudados, conforme o preconizado por Conceição e
Krug (2009).
O que mais chamou à atenção nos resultados foi o ‘aumento crescente da
aprovação’ da experiência docente nos ECS I, II e III (ECS I=17; ECS
II=22; ECS III=29) até o ‘desaparecimento total da reprovação’
(ECS I=12; ECS II=7; ECS III=0) pelos acadêmicos estudados. Assim, podemos
inferir que existiu um aumento progressivo na qualidade da experiência docente
na seqüência dos ECS I, II e III na avaliação dos acadêmicos em situação
de estágio. Esse fato se relaciona com o que dizem Ilha et al. (2009) de
que os ECS I, II e III da Licenciatura em Educação Física do CEFD/UFSM se
dão em escolas e espaços sociais diversos, tendo, portanto, características
próprias e singulares, o que possibilita ao estagiário conhecer e perceber
como se elabora, se organiza e se conduz o processo educativo. Também esse
resultado se relaciona com o que Ilha; Ivo e Krug (2009) afirmam, de que,
independente das problemáticas que o cercam, esse momento do estágio
pedagógico é de fundamental importância durante a graduação, pois as
experiências nele vivenciadas serão fundamentais na futura prática
pedagógica dos mesmos.
Quanto às ‘justificativas da aprovação’ da experiência docente
nos ECS I, II e III pelos acadêmicos estudados, podemos constatar o
aparecimento de seis diferentes respostas: 1ª – Pela
boa relação com os alunos (vinte e sete citações: ECS I=11; ECS
II=12; ECS III=4); 2ª – Pelo aprendizado docente adquirido (vinte citações:
ECS I=4; ECS II=7; ECS III=9); 3ª – Pelo sucesso pedagógico obtido (oito
citações: ECS I=2; ECS II=3; ECS III=3); 4ª – Pela ajuda do professor
orientador de estágio da universidade (seis citações: ECS I=0; ECS
II=0; ECS III=6); 5ª – Por ter se sentido professor (cinco
citações: ECS I=0; ECS II=0; ECS III=5); e, 6ª – Pela ajuda do professor
da escola (duas citações: ECS I=0; ECS II=0; ECS III=2). Assim, em
decorrência dessa constatação podemos destacar duas situações
importantes. São elas: a) O aparecimento de três diferentes respostas
(1ª- Pela boa relação com os alunos; 2ª – Pelo aprendizado
docente adquirido; e, 3ª – Pelo sucesso pedagógico obtido) como
justificativa simultânea da aprovação da experiência docente nos ECS I, II e
III; e, b) A ocorrência da existência de três diferentes respostas (4ª - Pela
ajuda do professor orientador de estágio da universidade; 5ª – Por
ter se sentido professor; e, 6ª – Pela ajuda do professor da escola)
como características únicas do ECS III. Nesse sentido, podemos salientar a
importância de duas principais justificativas. São elas: 1ª) A
valorização pelos estagiários estudados de uma ‘boa relação com os
alunos’ (vinte e sete citações), situação essa que é
destacada em vários estudos (KRUG, 2010a; KRUG, 2010b; KRUG, 2010c; KRUG,
2010d); e, 2ª) A valorização do ‘aprendizado docente adquirido’ (vinte
citações), situação essa que também é destacada em vários estudos (FLORES
et al., 2009; KRUG, 2010a; KRUG; KRUG, 2010; KRUG et al., 2011).
Já quanto às ‘justificativas da reprovação’ da experiência
docente nos ECS I, II e III pelos acadêmicos estudados, podemos constatar o
aparecimento de três diferentes respostas: 1ª – Pela falta
de professor orientador de estágio na universidade (Dez citações:
ECS I=5; ECS II=5; ECS III=0); 2ª – Pelo abandono do professor de
Educação Física da escola que não ajudou (Seis citações: ECS
I=4; ECS II=2; ECS III=0); e, 3ª – Pela resistência dos alunos às
atividades propostas, pois somente querem jogo (Três citações: ECS
I=3; ECS II=0; ECS III=0). Assim, em decorrência dessa constatação podemos
destacar duas situações importantes. São elas: a) O
aparecimento de duas diferentes respostas (1ª – Pela falta de professor
orientador de estágio na universidade; e, 2ª – Pelo abandono do
professor de Educação Física da escola que não ajudou) como
justificativa simultânea da reprovação da experiência docente nos ECS I e
II, as quais denunciam a situação de abandono dos estagiários pelas duas
instituições de ensino responsáveis por eles que são a universidade e a
escola, conforme o destacado pelo estudo de Krug (2010b); e, b) A inexistência
da ocorrência de justificativa no ECS III, pois não houve reprovação da
experiência docente nessa situação de estágio, como o verificado no estudo
de Krug (1998).
Assim, diante dessas conclusões podemos inferir que, por todas as questões
destacadas, os acadêmicos da Licenciatura em Educação Física do CEFD/UFSM
estão desenvolvendo os Estágios Curriculares Supervisionados I-II-III com uma
boa qualidade de realização e, sendo assim, esse fato, deve estar contribuindo
com uma boa formação inicial dos envolvidos.
Para finalizar, recomendamos a realização de investigações mais aprofundadas
sobre a formação inicial de professores de Educação Física e em particular
sobre o Estágio Curricular Supervisionado, pois esse momento é muito
importante para uma formação de qualidade.
Referências
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EFDeportes.com, Revista Digital · Año 16 · N° 157 | Buenos Aires,
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