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Análise cinesiológica e sensibilidade a variáveis sexo e 

aquecimento de testes que mensuram a flexibilidade muscular

Análisis del cinesiológico y sensibilidad a las variables sexo y entrada en calor de las pruebas que miden la flexibilidad muscular

 

*Prof. Dr. Universidade do Vale do Itajaí (UNIVALI)

Coordenador LAFEX (UNIVALI)

e Universidade Regional de Blumenau (FURB)

**Professores Especialistas em Treinamento Resistido com Pesos

pelo Instituto de Pós-Graduação e Extensão (IPGEX)

(Brasil)

Prof. Dr. João Augusto Reis de Moura*

Prof. Esp. Jean Carlos de Oliveira**

Prof. Esp. Fernanda Letícia de Souza**

Prof. Esp. Graziani de Souza Reis**

Prof. Esp. Rodrigo Zirzanowski**

Prof. Esp. Jonas Samuel da Silva**

joaomoura@furb.br

 

 

 

 

Resumo

          A musculatura da cadeia posterior apresenta fundamental importância no alinhamento corpóreo, sendo imprescindível o monitoramento de seus níveis de flexibilidade. O presente estudo teve por objetivo avaliar e comparar a concordância e sensibilidade de seis testes de flexibilidade da cadeia muscular posterior. Para tanto, foram submetidos aos seis testes de flexibilidade, com e sem aquecimento prévio, quarenta sujeitos (20 homens e 20 mulheres), com idade entre 18 e 40 anos, todos acadêmicos de Educação Física, fisicamente ativos ou não. Após serem familiarizados com os procedimentos, os sujeitos tiveram sua flexibilidade da cadeia muscular posterior mensurada pelos seguintes testes: teste sentar e alcançar bilateral, teste sentar e alcançar unilateral esquerda e direita, teste flexibilidade tóraco-lombar e lombar com fita métrica e flexibilidade tóraco-lombar e lombar com instrumento flexímetro. Tanto o fator sexo, como o fator aquecimento, apresentaram relevância na maioria dos resultados obtidos nos testes, ficando comprovado que as mulheres possuem maior flexibilidade na cadeia muscular posterior e que o aquecimento influencia de forma positiva a flexibilidade tanto em homens quanto em mulheres. Na avaliação da correlação dos testes, pôde-se perceber que as piores correlações foram apresentadas pelos testes de flexibilidade tóraco-lombar e lombar com fita métrica, enquanto que as melhores correlações foram obtidas nos testes de sentar e alcançar com o banco de Wells. Os testes de flexibilidade tóraco-lombar e lombar com flexímetro apresentaram correlações médias. Concluiu-se que, para avaliação da flexibilidade da cadeia muscular posterior, os testes de sentar e alcançar com o banco de Wells são os mais eficientes, confiáveis e sensíveis ao fator sexo e aquecimento, sendo os testes de fita métrica os menos sensíveis.

          Unitermos: Flexibilidade. Testes. Cadeia posterior muscular.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 16 - Nº 156 - Mayo de 2011. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    A variável flexibilidade é de fundamental importância na performance de atividades motoras competitivas, especialmente verificada em modalidades como ginástica artística, artes marciais e natação, entre outros (Araújo, 1999; American College of Sports Medicine, 1998). Também fundamenta-se sua importância na manutenção da mobilidade do idoso (Papaléo, 2003), na postura corporal humana (Quadros e Furlanetto, 2002), como aplicação terapêutica (Achour, 1995), e no recurso metodológico de tratamento de patologias como fribromialgia, lombalgia e cervicalgia (American College of Sports Medicine, 1997; Dantas, 1994). Entre as características já estudadas sobre a flexibilidade destacam-se sua intensa especificidade muscular e a resposta à temperatura ambiente e ao aquecimento prévio (Alter, 1999). Assim, verifica-se uma gama de variáveis que possuem o poder de modular a flexibilidade muscular humana de forma intensa e variada.

    A musculatura da cadeia posterior apresenta importância capital no correto alinhamento corpóreo que, em função de posturas adotadas no labor e no lazer, como o uso de sapatos de salto alto nas mulheres, por exemplo, geram encurtamentos musculares severos nesta cadeia muscular levando a alarmantes níveis de incidência de algias, fadiga física precoce e deformidades posturais (Sacco, Rojas, Burgi et al, 1993; Kendall, McCreary & Provance, 1995). Diante deste quadro, profissionais de saúde preocupam-se em monitorar os níveis de flexibilidade muscular da cadeia posterior corpórea, na intenção de preservar níveis mínimos aceitáveis correlatos com a saúde do aparelho locomotor.

    Como conseqüência, vários testes de mensuração da flexibilidade da musculatura da cadeia posterior são identificados na literatura, entretanto, com peculiaridades metodológicas que podem produzir efeitos de quantificação de flexibilidade diferenciados. Por exemplo, modificações no padrão de movimento executado entre os testes podem causar diferenciações cinesiológicas importantes nos músculos envolvidos e, como conseqüência, nos índices de flexibilidade encontrados, podendo levar a erros de interpretação. Identificação de diferentes protocolos de testes com ou sem aquecimento prévio e realizados em temperaturas ambientes diferentes podem tornar-se mais um foco de causa de discrepância em resultados de flexibilidade onde, verdadeiramente, não existem, gerando um resultado falso positivo.

    Desta forma, importante se faz uma comparação dos diferentes testes de flexibilidade para a cadeia muscular posterior, identificando os níveis de possíveis semelhanças ou discrepâncias entre estes, para que melhor se possa interpretar os resultados obtidos em avaliações e, com isso, subsidiar, de forma mais precisa, as prescrições de exercícios voltadas a encurtamentos musculares. Portanto, o objetivo do presente estudo é analisar cinesiologicamente, por modelagem estatística correlacional e inferencial, os diversos protocolos de medidas da flexibilidade da cadeia muscular posterior do corpo humano.

Material e método

Sujeitos

    Quarenta sujeitos, sendo 20 homens e 20 mulheres, na faixa etária de 18 a 40 anos, fisicamente ativos em diferentes níveis e acadêmicos do curso de Educação Física, fizeram parte do presente estudo. Para caracterização da amostra foram mensurados a estatura (EST) em metros, a massa corporal (MC) em quilograma, o índice de massa corpórea (IMC) em kg/m2, o perímetro do abdome (PA) em centímetros, o perímetro do quadril (PQ) em centímetros e a relação cintura/quadril (RC/Q). Para quantificação destas variáveis seguiu-se os procedimentos recomendadas pela Antrhropometric Standardization reference Manual descritas em Gordon, Chumlea, Roche (1988). O IMC foi calculado pela divisão da MC pela EST estando esta elevada ao quadrado.

    A todos os participantes foram explicados, minuciosamente, os procedimentos do presente estudo e foi lhes passado para leitura e análise o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), o qual versava sobre os objetivos do estudo, os procedimentos metodológicos de testagem ao qual iriam se submeter, e a possibilidade de desistência do estudo em qualquer fase deste, sem qualquer tipo de ônus aos voluntários (anexo 01). Cumpriu-se, assim, as normativas legais sobre ética na pesquisa segundo a Resolução CNS 196/96.

Delineamento do estudo

    No dia da testagem, os voluntários foram, primeiramente, familiarizados com os testes assistindo à demonstração feita pelos pesquisadores e, em seguida, executando o movimento em uma amplitude reduzida, apenas para que os avaliadores verificassem se a execução estava correta e adequada.

    Em seguida, após passarem por uma anamnese, os voluntários receberam uma ficha de coleta de dados e, sem aquecimento prévio, foram submetidos a seis (06) testes de flexibilidade que avaliam, no todo ou em parte, a flexibilidade da musculatura esquelética da cadeia posterior corporal em uma seqüência pré-estabelecida.

    Após o término da primeira bateria de testes, os avaliados foram submetidos a aquecimento através de aproximadamente oito (08) minutos de caminhada/trote, com controle de Frequência Cardíaca (FC) feita através de monitor cardíaco, tendo mantido sua FC do segundo ao oitavo minuto entre 120 e 140 bpm/min. Imediatamente após o aquecimento, os voluntários voltaram a realizar a bateria de testes de flexibilidade, seguindo a mesma seqüência executada antes do aquecimento.

    A ordem de aplicação dos testes nas sessões de avaliação foi alternada sistematicamente entre os voluntários, sendo a seqüência controlada pela elaboração de seis (06) tipos de ficha de coleta de dados: ficha 1 - seqüência A, B, C, D, E e F; ficha 2 - seqüência B, C, D, E, F e A; ficha 3 - seqüência C, D, E, F, A e B; ficha 4 - seqüência D, E, F, A, B e C; ficha 5 - seqüência E, F, A, B, C e D e ficha 6 - seqüência F, A, B, C, D e E, sendo que a cada seis avaliados, voltava-se a seqüência de execução da ficha 1. Este procedimento procurou evitar que o alongamento realizado nos primeiros testes viesse, sistematicamente, a induzir uma melhor performance nos testes finais (5º e 6º testes).

    A temperatura variou entre 18 e 25 graus centígrados nas sessões de avaliação e foi pedido aos voluntários que ficassem descalços com o top e bermuda (mulheres) e shorts (homens) durante a medida de flexibilidade. Todos foram mensurados no mesmo período do dia (entre 18:00 e 20:00 horas) para manterem o ritmo circadiano.

Testes de flexibilidade

A.     Teste de sentar-e-alcancar bilateral (TSEAB): indivíduo descalço, sentado com os dois joelhos estendidos e a planta dos pés completamente em contato com o aparelho (banco de Wells). Ombros fletidos a 90 graus, com o tronco e cotovelos estendidos, ficando os membros superiores (MMSS) paralelos ao solo. O indivíduo posicionava as mãos (que devem estar sobrepostas e alinhadas) sobre a régua de mensuração do aparelho e executava a maior amplitude de movimento possível de flexão de quadril e coluna vertebral, levando as mãos o máximo possível à frente do corpo em direção aos pés (imagem A, figura 1).

B.     Teste de sentar-e-alcançar unilateral (TSEAU): posicionamento e execução do teste é idêntico ao teste anterior para os MMSS e movimento de quadril e coluna vertebral durante o teste. Um dos Membros Inferiores (MMII) posicionava-se conforme descrito anteriormente, todavia, o outro MMII ficava com o joelho semi-flexionado e o quadril um pouco abduzido o suficiente para que este, e principalmente o pé, posicione-se fora do aparelho, evitando que a musculatura posterior desta região (hemicorpo) fosse requisitada durante o movimento, o que caracterizou um teste unilateral (imagem B, figura 1).

C.     Flexibilidade tóraco-lombar com flexímetro (FTL-flex) (prega axilar): com o indivíduo na posição ortostática, o aparelho flexímetro foi posicionado na altura da prega axilar. A escolha deste ponto de referência é justificada devido ao fato de que, em mulheres, a medida não sofrerá nenhuma interferência do volume dos seios, ficando o aparelho posicionado acima destes. A partir de então, foi pedido ao avaliado que flexionasse a coluna vertebral e a articulação do quadril ao máximo possível sob a ação gravitacional (imagem C e D, figura 1). A leitura do flexímetro (graus de movimento) foi feita com o indivíduo na posição final.

D.     Flexibilidade lombar com flexímetro (FL-flex) (cicatriz umbilical): procedimento do teste idêntico ao anterior (teste E) ocorrendo apenas a mudança de posicionamento do flexímetro. Com o indivíduo na posição ortostática, o aparelho flexímetro foi posicionado na altura da cicatriz umbilical (Imagem “A”, figura 2).

E.     Flexibilidade tóraco-lombar (FTL): indivíduo em pé na posição de ortostase. Na região cervical foi demarcado o processo espinhoso da sétima vértebra cervical (C7) e na região lombar identificaram-se as duas espinhas ilíacas póstero-superiores (EIPS) e traçou-se uma linha reta unindo as mesmas. O ponto em que esta linha passa sobre a coluna vertebral foi demarcado. Enquanto o indivíduo permanece na posição de ortostase, mensurou-se a distância entre os dois pontos demarcados através de um fita métrica. O avaliado então realizava a maior flexão de coluna vertebral e quadril possível sob a ação da força gravitacional, levando o tronco à frente e para baixo (os MNSS ficaram soltos com as mãos se aproximando ou tocando o solo e joelhos completamente estendidos). Nesta posição foi novamente mensurada a distância entre os pontos C7 e das EIPS (imagens “B” e “C”, figura 2). O escore de flexibilidade foi a diferença entre as duas medidas em centímetros.

F.     Flexibilidade lombar (FL): indivíduo em pé na posição de ortostase. Na região lombar identificaram-se as duas espinhas ilíacas póstero-superiores (EIPS) e traçou-se uma linha reta unindo as mesmas. O ponto em que esta linha passa sobre a coluna vertebral foi demarcado. A partir deste ponto, mensurou-se 10 centímetros acima sobre a coluna vertebral e demarcou-se este ponto. O avaliado realizou a maior flexão de coluna vertebral e quadril possível sob a ação da força gravitacional levando o tronco à frente e para baixo (os MMSS ficaram soltos com as mãos se aproximando ou tocando o solo e joelhos completamente estendidos). Nesta posição foi novamente mensurada a distância entre os pontos anteriormente demarcados, os quais se posicionam restritamente na região lombar (imagens “D” e “E”, figura 2).

    Todos os protocolos de teste de flexibilidade foram realizados seguindo orientações de ACSM (2002). O flexímetro utilizado foi da marca Sanny® possuindo a precisão de medida de 1,0 grau. Para a medida este é fixado a uma cinta a qual é fixada em dois pontos corporais conforme descritos anteriormente.

    Foi pedido aos voluntários que não modificassem suas atividades habituais durante o período do experimento e que também no dia anterior as testagens não realizassem esforço físico intenso de qualquer natureza.

Figura 1. Testes de flexibilidade para cadeia muscular posterior do tronco. Em “A” teste de sentar-e-alcançar bilateral, em “B” teste de sentar-e-alcançar

 unilateral, em “C” e “D”teste tóraco-lombar com fleximetro na posição final (em flexão da coluna vertebral e quadris com os joelhos estendidos).

 

Figura 2. Testes de flexibilidade para cadeia muscular posterior do tronco. Em “A” teste lombar com o flexímetro (posição final de leitura),

 teste tóraco-lombar com a fita métrica (posição inicial em “B”e final em “C”), teste lombar com fita métrica (posição inicial em “D” e final em “E”).

Tratamento estatístico

    Inicialmente foi testada a normalidade dos dados através do teste de Shapiro-Wilk e, posteriormente, aplicado uma estatística descritiva aos mesmos, escalonando-os em função da variável sexo e aquecimento. Posteriormente, aplicou-se a correlação linear de Pearson formando uma matrix correlacional. Foi aplicado a ANOVA two way (aquecimento e sexo) para medidas repetidas no primeiro fator. O tratamento estatístico foi realizado através do Software SPSS versão 15.0 e o nível de significância adotado foi de P<0,05.

Análise dos resultados

    Para análise dos resultados, inicialmente foi testado o conteúdo dos dados digitados verificando se não houve erro de digitação. Para tal utilizou-se o procedimento Frequency Stem and Leaf (“freqüência de tronco e folha”). Após a verificação de não ocorrência de valores discrepantes, foi testada a normalidade das distribuições através do teste de Shapiro-Wilk, demonstrando que todas as distribuições apresentavam-se normalizadas.

    Dando prosseguimento a análise, foi produzida a estatística descritiva e inferencial das variáveis analisadas. A tabela 01 apresenta valores de tendência central e de dispersão dos dados, juntamente com o valor “P” para o teste “t” de Student para amostras independentes aplicado aos dados.

Tabela 01. Resultados descritivos das variáveis antropométricas (n= 18 homens e n= 21 mulheres)

    Com relação às variáveis antropométricas, homens e mulheres divergiram estatisticamente (P<0,05) em todas as análises realizadas, com exceção do perímetro do quadril (homens = 98,1cm e mulheres = 97,5cm), sendo que os homens apresentaram-se mais altos, pesados e com maior perímetro abdominal. A variável mais heterogênea foi a massa corporal, variando em quase 20% entre os homens e acima de 11% entre as mulheres; e a estatura apresentou-se como a mais homogênea, com baixas variações de 3,28% e 2,96% entre homens e mulheres, respectivamente. Os homens foram sempre mais heterogêneos que as mulheres em todas as variáveis antropométricas estudadas.

    A tabela 02 apresenta os valores da Análise de Variância (ANOVA) two way para os fatores aquecimento (sem x com) e sexo (homens x mulheres) para medidas repetidas no primeiro fator.

    O fator “sexo” somente não foi significativo no comportamento de flexibilidade obtida nos testes de “fita métrica” (FTL e FL) e com o flexímetro no teste de FTL-flex, onde não houve diferenciação estatística (P>0,05) não sendo, portanto, estes testes sensíveis ao gênero quando avaliada a flexibilidade da musculatura da cadeia posterior. Em todos os demais testes o comportamento da flexibilidade dos homens foi inferior ao das mulheres. Isto ocorreu mesmo no teste FTL-flex sem aquecimento prévio (homens= 129,7cm e mulheres=137,4cm) e com aquecimento prévio (homens=135,0 e mulheres=139,8) onde a diferença não foi significativa estatisticamente.

Tabela 02. Dados referentes ao teste inferencial de ANOVA two way (efeitos principais de aquecimento e sexo) para medidas repetidas no primeiro fator

    O fator “aquecimento” somente não apresentou-se significativo no teste TSEAU-esq (p=0,071), particularmente ocorrido nas mulheres onde a variação foi de apenas 0,2 cm; e FL (p=0,240) onde a variação foi baixa (1,0º nos homens e 2,0º nas mulheres). Todos os demais testes foram sensíveis ao processo fisiológico de aquecimento. A interação entre aquecimento e sexo não apresentou-se significativa em nenhum dos testes analisados, isto é, o comportamento do aquecimento sobre a flexibilidade não foi diferente entre homens e mulheres.

    Percentualmente as modificações da flexibilidade após aquecimento foram maiores nos homens do que nas mulheres e estas apresentaram nível de flexibilidade maior que os homens.

Tabela 03. Matrix correlacional entre todos os testes de flexibilidade aplicados. Os valores superiores (sem o parênteses) representam 

os testes aplicados “Sem aquecimento” e os valores inferiores (com parênteses) representam os testes aplicados “com aquecimento”.

    Percebe-se na tabela 3, que os testes que apresentaram piores correlações foram os de medida linear com uso de fita métrica (FTL e FL). Tanto as medidas que usavam posições quantificando coluna tóraco-lombar, quanto somente lombar, apresentaram valores desde r=0,011 (FTL x TSEAU-dir, em indivíduos sem aquecimento) a r=0,259 (FTL x FL, em indivíduos com aquecimento). Mesmo entre os testes de “fita métrica” (FL x FTL), a correlação não subiu (r=0,145, em indivíduos sem aquecimento e r=0,259, em indivíduos com aquecimento).

    As maiores correlações ficaram entre os testes lineares usando o banco de Wells, os quais apresentaram sempre valores iguais ou superiores a r=0,943 (TSEAU-dir x TSEAU-esq), mas que baixaram significativamente ao correlacionarem-se com os demais testes.

    Os testes usando o flexímetro apresentaram correlações moderadas com os testes de Banco de Wells (variando de r=0,454 FTL-flex x TSEAU-esq), baixas com os testes de “fita métrica”, sendo que a FTL-flex apresentou correlações menores que a FL-flex em todos os pares correlativos.

    Quando correlacionou-se todos os testes em seus dados sem e com aquecimento, obteve-se valores elevados, todos acima de 0,900 (figura 3), demonstrando que apresentam consistência de medida.

Figura 3. Diagramas de dispersão apresentando correlações entre valores sem aquecimento (eixo y) e com aquecimento (eixo x) dos testes de TSEABi (r=0,967),

 TSEAUdir (r=0,953), TSEAUesq (r=0,943) gráfico superior, e FTL (r=0,966) e FL (r=0,926), gráfico a esquerda, FTL-flex (r=0,787) e FL-flex (0,907).

Discussão dos resultados

    Na análise antropométrica da amostra verificou-se que homens foram mais altos que a mulheres; este dado é concordante com a literatura em diversos estudos quando comparam indivíduos de uma população específica entre os gêneros (Moura, Junior Barros, Junior Cardoso et al., 2005). A maior massa corpórea do sexo masculino comparativamente com o feminino se faz também em função da maior estatura destes já que o “tamanho” corporal como um todo acompanha a estatura, neste sentido, maior deverá ser a sua massa absoluta (em quilogramas) óssea, muscular e residual. O único componente corporal que se apresenta, em tese, menor nos homens é a massa gorda já que estes apresentam-se com um percentual de gordura menor que as mulheres (Moura, Junior Barros, Junior Cardoso et al., 1995; Maestá, Cyrino, Junior et al., 2000). Assim, analisando as possíveis divergências quantitativas dos componentes corporais que constituem a MC torna-se fácil a explicação da maior variância desta variável.

    Os homens apresentarem menor flexibilidade que as mulheres esta totalmente concordante com a literatura corrente (Alter, 1999). O teste de sentar-e-alcançar apresenta fidedignidade, objetividade e validade segundo Marins e Gianninchi (1996) é utilizado na mensuração da flexibilidade em vários estudos (Guedes e Guedes, 1997). porém algumas limitações técnicas são citadas por Pollock e Wilmore já em 1993 porém Chagas e Bhering (2004) projetaram um avanço na interpretação da limitações do teste as quais fazem com que o este teste possa apresentar resultados não reprodutíveis sistematicamente. Segundo o autor, a protusão dos ombros somado a diferentes comprimentos de membros superiores e inferiores podem gerar escores de flexibilidade diferentes mas que na realidade poderiam ser similares. Kawano, Ambar, Oliveira et al. (2010), também identificaram que o ângulo do tornozelo entre dorsiflexão e flexão plantar também influencia no escore do teste, todavia, esta influência é controlada através da padronização vertical do Banco no ponto de colocação dos pés mantendo o ângulo entre perna e pé a 90º.

    Indivíduos com membros superiores elevados (grande envergadura) podem levar o índice de flexibilidade para mais alto ao empurrar o taco de medida do Banco de Wells mais à frente do que um indivíduo com mesmo nível de flexibilidade porém com menor envergadura. Isto ocorre em função de o tronco realizar um determinado avanço à frente (flexão da coluna vertebral) permitido pela flexibilidade muscular, mas um avanço adicional pode ser feito empurrando o taco à frente somente por um comprimento de MMSS maior.

    Contrariamente, poderá ocorrer com indivíduos de alto comprimento de membros inferiores que poderão apresentar baixo índice de flexibilidade no teste, pois devido ao elevado comprimento de MMII o tronco ficará mais afastado do banco, e por conseqüência, afastando cintura escapular e, principalmente, membros superiores o que tornará o escore de flexibilidade menor. Estes fatores ocorrem devido ao fato de que o critério de balizamento do teste ficar na “sola” dos pés, ou seja, quanto mais comprido MMII mais longe o Banco estará e quanto menos comprido mais próximo estará. Tais análises relativas ao teste de Sentar-e-alcançar não são salientados em várias obras literárias referentes ao tema de avaliação (Marins e Gianninch, 1996; Alter, 1999; Clarkson, 2002).

    Nos testes de flexibilidade com uso de fita métrica e/ou medida angulares como no flexímetro, as considerações anteriores não devem ser consideradas como fatores de inexatidão das medidas. Protusão do ombro, MMSS ou MMII mais longos não alteram tais medidas, haja vista que, os pontos de aferição da medida restringem-se ao tronco (coluna vertebral) no caso de testes de fita métrica e angulações de movimentação no caso do flexímetro.

    Com o flexímetro fixado ao tórax (FTL-flex) a movimentação da coluna em sua região torácica é a que determinará o ângulo apontando de movimentação. No movimento exigido no presente estudo para análise da flexibilidade a movimentação torácica é somada a movimentação da região lombar. Portanto, parece bem claro que as angulações de movimentos de tórax (FTL-flex) são maiores que as lombares (FL-flex) sendo os únicos fatores biomecânicos e cinesiológicos envolvidos na mensuração da flexibilidade, através deste procedimento, a elasticidade muscular e a mobilidade articular da coluna vertebral.

    Os testes que utilizaram o Banco de Wells para quantificar a flexibilidade apresentaram ótimas concordâncias de resultados, com correlações altas. Por outro lado, testes de quantificação por fita métrica não apresentaram concordância entre os seus valores e nem com os demais testes. Assim, os testes de fita métrica necessitam de maiores estudos e com grande profundidade de análise para investigar esta falta de concordância (correlações baixíssimas).

    Quando correlacionado o mesmo teste de flexibilidade em situações de sem aquecimento e com aquecimento (figura 2) todos apresentaram valores superiores a 0,90 demonstrando que os testes são consistentes e reproduzem resultados equiparáveis estando os indivíduos com ou sem processo prévio de aquecimento. Este é um ponto positivo a todos os testes analisados, porém a sensibilidade destes ao fator aquecimento não é o mesmo a todos os testes como descritos anteriormente.

Conclusões

    Através das análises realizadas, conclui-se que os testes lineares de flexibilidade utilizando o banco de Wells, apesar das várias limitações colocadas na literatura, apresentam maior consistência de medida da musculatura de cadeia posterior, sendo os mais sensíveis a fatores que influenciam a flexibilidade como sexo e aquecimento prévio para realização dos testes.

    Por outro lado, os testes de fita métrica (FTL e FL) foram os testes que apresentaram menor sensibilidade às variáveis sexo e aquecimento e menor associação com os demais testes. Sendo assim, não apresentam boa capacidade de medida da musculatura de cadeia posterior.

Referências

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