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Prevalência de sobrepeso e obesidade em 

escolares surdos de uma escola de Belo Horizonte

La prevalencia de sobrepeso y obesidad en escolares de una escuela de sordos en Belo Horizonte

 

Centro Universitário de Belo Horizonte – UNIBH

(Brasil)

Erich de Oliveira Kutschera

Claudia Periard de Moraes

Daniela Sanches Machado

erichkutschera@hotmail.com

 

 

 

 

Resumo

          A surdez pode ser definida sob duas distintas concepções: clínica, sócio-antropológica. A disciplina Educação Física norteia-se na perspectiva da cultura corporal, objetivando não somente que os alunos surdos a conheçam e a vivenciem, como principalmente que façam parte de sua (re) construção contínua, imprimindo as marcas de sua cultura e identidade surdas. A atividade física voltada para o público surdo, ainda é uma temática pouco explorada e mistificada o objetivo deste estudo é avaliar a prevalência de obesidade e sobrepeso em alunos surdos com idade entre 14 e 18 anos em uma escola de Belo Horizonte, utilizando o Índice de massa corporal (IMC). Para determinar a prevalência de sobrepeso e obesidade utilizou-se a tabela de percentil da WHO, 2007 (WHO - Organização Mundial de Saúde). Os indivíduos com valores de IMC acima do número referente ao percentil 97, foram considerados obesos. Para o sobrepeso, de percentis foi de 85-97. Representando os valores de IMC considerados normais os indivíduos com valores aos percentis entre os intervalos 3-85 foram, avaliadas 30 adolescentes com idade entre 14 e 18 anos, sendo quatorze do sexo feminino (n=14) e do sexo masculino, dezesseis (n=16),conclusão: Houve uma prevalência de obesidade para o sexo feminino na população de estudantes surdos em relação aos estudantes surdos do sexo masculino, assim como uma prevalência de sobrepeso e obesidade para o gênero feminino na faixa etária de 15 anos.

          Unitermos: Obesidade. Surdos. IMC.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 16 - Nº 156 - Mayo de 2011. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    A surdez pode ser definida sob duas distintas concepções: uma clínica, que se refere à condição anátomo-fisiológica do indivíduo e a outra sócio-antropológica que se refere à sua identidade e cultura.

    Dentro da concepção clínica, a surdez está retratada no caput artigo 2o do Decreto 5626 de 22 de Dezembro de 2005 (BRASIL, 2005) “considera-se pessoa surda aquela que, por ter perda auditiva, compreende e interage com o mundo por meio de experiências visuais, manifestando sua cultura principalmente pelo uso da Língua Brasileira de Sinais – Libras”. O parágrafo único, por sua vez, informa que deficiência auditiva é a perda bilateral, parcial ou total, de quarenta e um decibéis (dB) ou mais, aferida por audiograma nas freqüências de 500 Hz, 1.000 Hz, 2.000 Hz e 3.000 Hz

    Skliar (2003) define a surdez como marca cultural. Pensar a deficiência como construção cultural não implica em negar a condição física e corporal que ela impõe sobre quem a possui, pelo contrário, a deficiência é vista como uma marca que tem o poder de situar pessoas dentro de determinados discursos e práticas, e que não reduz seu possuidor somente a ela (SKLIAR, 2003).

    Até meados da década de 1980, o corpo não era visto como expressão da cultura, o esporte era passatempo ou atividade com fins atléticos e não fenômeno político e a Educação Física considerada como área exclusivamente biológica, não correlacionada às ciências humanas (DAOLIO, 2004).

    A disciplina Educação Física norteia-se na perspectiva da cultura corporal, objetivando não somente que os alunos surdos a conheçam e a vivenciem, como principalmente que façam parte de sua (re) construção contínua, imprimindo as marcas de sua cultura e identidade surdas.

    A atividade física voltada para o público surdo, ainda é uma temática pouco explorada e mistificada, é normal associar à surdez “a incapacidade”, segundo Lima, Souza e Trevisan (2003). A educação física quando vivenciada pelos surdos possibilita trabalhar a sua consciência corporal e desenvolver as suas habilidades motoras. O surdo do ponto de vista clínico não possui nenhuma restrição a prática de exercícios físicos, pois seu desenvolvimento motor é equiparado a um indivíduo dito “normal” (LIMA, YOSHIOKA e MORAES, 2010). Apesar desta afirmativa, não se sabe ao certo se o número de oportunidades e vivências no campo motor tem sido semelhante ao de indivíduos ouvintes.

    Há escolas para surdos em que as séries inciais são efetuadas em dois anos cada. Como consequência disto, muitos surdos terminam o ensino fundamental com idade mais avançada em relação aos ouvintes. Isto pode fazer com que comecem a buscar atividades remuneradas ainda cursando o ensino fundamental e/ou médio. Há também surdos que possuem na escola duas aulas consecutivas de Educação Física em um único dia por semana.

    Pesquisar sobre os índices de obesidade e sobrepeso na população surda pode ser relevante não somente para identificar como se encontram os mesmos, como também para levantar hipóteses que poderiam explicar esta possível condição. Em outras palavras, poder-se-ia futuramente questionar, se as peculiaridades culturais e educacionais desta população determinariam alterações no IMC dos mesmos.

    A Organização Mundial de Saúde (OMS) define a obesidade como um acúmulo excessivo de gordura corporal que representa risco para a saúde do indivíduo1. Quantificar a gordura corporal com o menor erro possível torna-se fundamental, fato que tem levado pesquisadores a desenvolverem e validarem diferentes técnicas para estimá-la, tais como: pesagem hidrostática, antropometria, impedância bioelétrica, absortometria de raio-X de dupla energia entre outras. Devido ao alto custo de algums destes metodos o IMC tem sido recomendado pela OMS (11) como um indicador da gordura corporal, por ser obtido de forma rápida e com custo reduzido em relação as outras técnicas existentes. Através do IMC pode-se obter a prevalência de sobrepeso e obesidade (ACMS 2010).

    Em 1995, estimava-se 200 milhões de adultos obesos, sendo que para o ano 2000, este número aumentou para 300 milhões em todo o planeta. No Brasil, dados epidemiológicos fornecidos pela Associação Brasileira para Estudo sobre a Obesidade - ABESO das regiões sudeste e nordeste, demonstraram que 39% das mulheres e 38,5% dos homens adultos, encontravam-se em sobrepeso ou obesidade

    A prevenção de sobrepeso e obesidade deve ser iniciada em escolares, possibilitando maior capacidade de ações preventivas, devido à possibilidade maior de inserir bons hábitos contra a obesidade e intervir por meio da escola e família. (Oliveira et al 2010)

    Dessa forma, um diagnóstico antropométrico objetivando identificar a prevalência de sobrepeso e obesidade pode fornecer informações relevantes para elaboração de projetos públicos e/ou privados que possam atender de maneira adequada à realidade do surdo.

    Portanto, o objetivo deste estudo é avaliar a prevalência de obesidade e sobrepeso em alunos surdos com idade entre 14 e 18 anos em uma escola de Belo Horizonte, utilizando o Índice de massa corporal (IMC).

Metodologia

Amostra

    Para este estudo foram avaliadas 30 adolecentes com idade entre 14 e 18 anos, sendo quatorze do sexo feminino (n=14) e do sexo masculino, dezesseis (n=16), amostra foi escolhida aleatoriamente, tendo como critério de inclusão apenas a idade. Para coleta de dados, foi previamente solicitada uma autorização para a direção da escola, para que os alunos realizassem a pesquisa. Foi entregue um termo de consentimento livre e esclarecido (TCLE) para os participantes maiores de idade e para os pais e/ou responsáveis dos alunos menores de idade foi entregue uma autorização e o (TCLE) para participação na pesquisa. Os participantes da amostra foram informados que poderiam retirar seu consentimento ou interromper sua participação no estudo em qualquer fase da pesquisa, assim como o caráter voluntário e anônimo da mesma.

Instrumentos e procedimentos

    A coleta foi efetuada no horário entre sete e onze horas da manhã, em um único dia da semana, onde estão reunidas todas as turmas de Educação Física da instituição. Os dados considerados para obtenção do IMC foram: a medida de estatura em centímetros, e a massa corporal em quilogramas. Para realização destas medidas foi utilizada uma balança com precisão de 0,1 quilos com estadiômetro acoplado, com precisão de 0,5 centímetros, marca Balmak, O voluntário foi posicionado de costas, sobre a balança, com os pés unidos, para realização da medida da massa corporal, voltando o olhar para o horizonte e realizando uma inspiração máxima, para realização da medida da estatura. A pesagem foi realizada em um local plano, utilizando as próprias roupas dos alunos (o próprio uniforme da escola) sendo solicitada apenas a retirada do tênis, antes das aferições. Diantes das medidas da estatura e massa corporal foi calculado o índice de massa corporal, utilizando o cálculo proposto por Queletet, IMC (peso/altura2) e para determinar a prevalência de sobrepeso e obesidade utilizou-se a tabela de percentil da WHO, 2007 (WHO - Organização Mundial de Saúde).

Analise estatística

    Para tratamento dos dados utilizou-se o software Microsoft Excel 2010. Para o teste Qui - Quadrado de proporção utilizou-se o pacote estatístico SPSS 18.0, com o nível de significância p < 0,05.

Resultados

    Para determinar a prevalência de sobrepeso e obesidade utilizou-se a tabela de percentil da WHO, 2007 (WHO - Organização Mundial de Saúde). Os indivíduos com valores de IMC acima do número referente ao percentil 97, foram considerados obesos. Para o sobrepeso, o intervalo no gráfico de percentis foi de 85-97. Representando os valores de IMC considerados normais, foram enquadrados os indivíduos com valores correspondentes aos percentis entre os intervalos 3-85, conforme a tabela.

    Houve diferença significativa de p = 0,08 para obesidade em relação ao sexo feminino

    Na amostra observada, os sujeitos do sexo feminino obtiveram um maior sobrepeso, 10% para sobrepeso em relação ao sexo masculino. O predomínio de obesidade foi de 18%, no sexo feminino em relação ao sexo masculino (tabela1).

    A tabela 2 pode-se observar a idade em que houve uma diferença significativa tanto para sobrepeso, quanto para obesidade, foi a de 15 anos, sendo somente para o sexo feminino.

Discussão

    Os individuos do sexo feminino obtiveram índice de obesidade diferente aos do sexo masculino. Pereira et al. (2004) em sua pesquisa encontrou um índice de obesidade maior em adolescentes do sexo feminino do que no sexo masculino. Ao observarmos estudo realizado em escolas particulares de Recife, a prevalência de sobrepeso nas mulheres foi de 27,0% e 22,0% em relação aos homens, somente os dados de obesidade do estudo. MELENDES et. al. (2004) no estudo intitulado Epidemiologia do sobrepeso e da obesidade e seus fatores determinantes em Belo Horizonte (MG), encontrou obesidade em mulheres da faixa etária de 18-25 anos. Sabe-se que quanto maior o nível sócio-econômico, maior a prevalência de obesidade, segundo Simon et al (2009). Neste estudo os autores encontraram uma prevalência de obesidade em crianças do sexo feminino em relação as do sexo masculino.

    Contradizendo estes estudos em que o sexo feminino teve uma prevalência de obesidade em relação ao sexo feminino, o estudo de Zlochevsky et al. (1996) , achou uma prevalência de nível de obesidade em crianças do sexo masculino, comparando a crianças sexo feminino. Orsine et al. (2010) em seu estudo de prevalência de sobrepeso e obesidade em crianças escolares de instituiçoes privadas, encontrou uma prevalência de obesidade e sobrepeso em crianças do sexo masculino em relação ao sexo feminino na faixa etária de 3 a 6 anos.

    Na comparação dos dados deste estudo com os achados de outras pesquisas, as dificuldades foram encontradas devido à diferença de método empregado ou referencial para comparação utilizado (diferentes curvas de percentis), ou faixa etária que descaracterizada a amostra deste estudo.

    Os estudos supracitados se atentaram para questões de gênero, correlacionadas com faixas etárias determinadas. Sabe-se que na instituição de ensino a que os alunos avaliados encontram-se regularmente matriculados, existem especificidades educacionais, como as séries iniciais que são efetuadas em dois anos cada, tendo como conseqüência uma idade mais avançada ao final do ensino fundamental, se comparada aos alunos de uma escola regular (não especializada em atender somente pessoas surdas). Como já descrito, há também aulas geminadas de Educação Física, em um único dia da semana. Tais fatores parecem não ser determinantes para os valores encontrados neste estudo, o que confere mais uma vez uma maior equiparação do ensino dos surdos ao dos ouvintes, dentro do contexto da Educação Física. Poder-se-ia também questionar a quantidade e a qualidade das informações que atingem a população surda, em relação às questões sobre obesidade, uma vez que mesmo tendo a mídia como relevante divulgadora do tema, não se sabe ao certo o impacto que isto proporciona nos surdos. Embora saibamos que estes fatores peliculares (culturais e educacionais) são relevantes no estudo em questão, os mesmos parecem não terem sido determinantes para o nível de prevalência de obesidade e sobrepeso desta população.

Conclusão

    Houve uma prevalência de obesidade para o sexo feminino na população de estudantes surdos em relação aos estudantes surdos do sexo masculino, assim como uma prevalência de sobrepeso e obesidade para o gênero feminino na faixa etária de 15 anos.

Referências

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