Sintomas mais freqüentes de estresse pré-competitivo em atletas de futebol Síntomas más frecuentes de estrés precompetitivo en jugadores de fútbol |
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*Educação Física. Bacharelado, ULBRA **Educação Física. ULBRA, LAFIMED ***Educação Física. UFRGS, LAPEX ****Acadêmico Educação Física. UFRGS (Brasil) |
Diego Rafael da Silva* Luis Antonio Crescente** Marcelo Cardoso*** Marisa Mendes Götze** André Mendes Götze**** Osvaldo Donizete Siqueira** |
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Resumo O objetivo deste estudo foi verificar os sintomas mais freqüentes de estresse pré-competitivo em atletas do futebol, das categorias 1996-1997 e 2000-2001. Participaram da pesquisa 30 atletas do sexo masculino, sendo 15 de cada categoria. O instrumento utilizado foi a Lista de Sintomas de “stress” Pré-Competitivo Infanto-juvenil (LSSPCI), De Rose Jr. (1998). Os resultados apontaram que os sintomas mais freqüentes de estresse pré-competitivo, estavam relacionados aos sintomas cognitivos, referentes ao pensamento dos atletas. O fato de cometer erros e decepcionar as pessoas, foi identificado freqüentemente, seguidos pela empolgação e a responsabilidade de fazer parte de uma equipe, estes sintomas ocorreram provavelmente, devido à importância e indefinição quanto ao resultado da competição. Unitermos: Estresse pré-competição. Futebol. Sintomas.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 16 - Nº 156 - Mayo de 2011. http://www.efdeportes.com/ |
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Introdução
O estresse é uma reação do organismo, que envolve tanto questões físicas quanto psicológicas. Isso ocorre quando o indivíduo está frente a frente com situações de sua vida, que o atingem diretamente, tanto positiva, quanto negativamente. Determinadas situações podem o deixar feliz, triste, irritado, impaciente ou mesmo , amedrontado. (MARQUES et al., 2010 apud LIPP., 1984).
Cada vez mais se presencia uma demanda muito grande de crianças e adolescentes dentro de esportes de competição. Na maioria das vezes, por escolha sua ou determinação dos próprios pais, estes, impõem suas condições, intervindo no treinamento e rendimento do atleta, gerando uma pressão psicológica muito grande, levando os altos níveis de ansiedade no momento da competição.
O futebol por ser o esporte mais praticado e com grandes proporções econômicas e sociais, exige o melhor daqueles que o praticam.
Ser um atleta de alto rendimento pode ser uma condição desejada por muitos jovens, pois visualizam a possibilidade de uma ascensão social e financeira. No entanto, a carreira de um atleta exige dedicação aos treinos, às competições, viagens, compromissos, a pressão que têm que suportar para se manter na equipe ou na posição. Muitos conseguem lidar bem com estes fatores psicológicos, porém, outros possuem mais dificuldades em conduzir certas situações. (DE ROSE Jr.2004). A competição esportiva, por todas as questões que a envolve, e as cobranças que se apresentam durante o espetáculo, é considerada grande fonte de estresse.
Inicialmente, a física utilizou a palavra estresse, para representar o grau de deformidade que algum tipo de material sofria, quando era submetido a muito esforço. Após esse fato, em 1936, Hans Selye, um médico endocrinologista transpôs esse termo à medicina e à biologia e o estresse foi considerado uma síndrome de adaptação. (LEVY, 2008).
Para Melo e Laurentino (2006) apud Pinheiro (2004), o estresse, nada mais é do que a maneira como o organismo prepara-se para lidar com certas situações e a resposta que ele dá a um determinado estímulo e isso ocorre de modo diferente para cada indivíduo.
A reação de adaptação do corpo ao estresse possui 3 fases: na primeira ocorre uma reação à ativação do sistema simpático, na segunda, essa resistência do corpo está pronta para combater o desafio. Na terceira fase, caso o estresse ainda esteja presente, as reservas do corpo se esgotam e ocorre a exaustão (MYERS, 1999).
No entanto, o estresse é uma situação que também pode fornecer motivação e aumento de produtividade, quando fornecido em doses moderadas, porém, quando em doses excessivas, prejudica a qualidade de vida do indivíduo, além de seu desempenho. Na adolescência, por exemplo, o crescimento e a maturação sexual são aspectos físicos que compõem a puberdade, e é nessa fase que o indivíduo pode estar mais pré-disposto a vivenciar situações estressantes, tanto na vida pessoal e nas questões escolares, quanto na vida esportiva. (LIPP, 2003; LEVY, 2008).
Para Weinberg e Gould (2001) existem 4 estágios que compõem o estresse: no primeiro há uma demanda ambiental imposta ao indivíduo, que pode ser física ou psicológica, e um bom exemplo disso é quando um aluno precisa executar um fundamento de um determinado esporte recém-aprendido, na frente do professor, colega, ou mesmo dos pais. No segundo estágio existe uma percepção da demanda, onde, dois alunos, podem ver de maneiras diferentes, o fato de ter que executar um fundamento na frente de outras pessoas. No terceiro estágio há uma resposta ao estresse, que vai depender da maneira como o indivíduo irá reagir a ele, seja positiva ou negativamente. No quarto e último estágio apresentam-se as conseqüências comportamentais sobre essa situação.
Segundo Becker Jr. (2000), o estresse pode apresentar-se de forma diferente para cada indivíduo dentro do esporte, porém, vários estudos demonstram que o maior nível concentra-se em atletas jovens, do sexo feminino e com pouca experiência vivenciada.
O estresse pode ser visto de várias maneiras. O desempenho durante a competição vai depender da forma com que o atleta encara o agente estressor, seja ela negativa ou positiva, dependendo do nível de preocupação ou medo. A partir dessa situação, o organismo desencadeia várias reações, como alterações na freqüência cardíaca, na pressão arterial, problemas respiratórios e ainda são encontrados problemas dermatológicos. (BRANDÃO, 2004; LOURES, et al, 2002; BATISTA; DANTAS, 2003).
As alterações psicológicas mais visíveis nos atletas, sob o efeito dos agentes estressores, identificam-se a depressão, a euforia, a angústia e elevados níveis de ansiedade. (MARQUES et al, 2010).
Weinberg & Gould (2001) definem a ansiedade como um estado emocional negativo, que pode ser dividida em ansiedade cognitiva, onde o atleta apresenta um estado de preocupação e apreensão; e uma ansiedade somática, em que se evidencia um grau de ativação física percebida, com uma variação dos componentes de humor.
Dentre os fatores estressores encontram-se as preocupações com o desempenho das capacidades, tempo para o treino, insegurança em relação ao talento e experiências traumáticas fora do esporte. Inclui-se a importância do evento e a incerteza que cerca o resultado do evento, que são duas fontes situacionais importantes de estresse. (WEINBERG E GOULD, 2001).
O estudo justifica-se levando em conta o que foi postulado por De Rose Jr. (2005), que de uma forma geral, existem vários aspectos psicológicos, que podem influenciar os atletas em qualquer modalidade esportiva: como a motivação, a ansiedade, estresse, atenção, concentração e agressividade. Para o autor, estes fatores apresentam-se isolados ou combinados entre si. A forma como este atleta vai lidar com estas situações, depende de seu nível de habilidade, preparação, tempo de prática, experiência, idade e sexo.
Conhecer os sintomas de estresse pré-competitivos, em atletas de futebol, se constitui em uma tarefa relevante, evidenciando-se, a importância de um trabalho muldisciplinar junto à comissão técnica, compreendendo que para uma equipe esportiva, se desenvolver de forma positiva, deve ser levado em conta aspectos físicos, técnicos e psicológicos.
Materiais e métodos
O objetivo do estudo foi verificar os sintomas mais freqüentes de estresse pré-competitivo, em atletas do futebol. Para isso, utilizou-se a pesquisa do tipo descritiva. A amostra foi composta de 30 atletas do sexo masculino, sendo 15 do grupo 1, que corresponde à categoria 1996-1997 e 15 do grupo 2, que corresponde à categoria 2000-2001. A coleta dos dados foi realizada no mês de Setembro de 2010. O instrumento utilizado consistiu na Lista de Sintomas de “stress” Pré-Competitivo Infanto-Juvenil (LSSPCI), De Rose Jr. (1998), composta por 31 questões, numa escala Likert de 1 a 5. 1 (nunca), 2 (poucas vezes), 3 (algumas vezes), 4 (muitas vezes) e 5 (sempre). A questão 3 foi considerada nula. Para o tratamento estatístico utilizou-se o cálculo percentual com o emprego do software SPSS – DATA EDITOR, versão 15.0 for Windows.
Resultados e discussão
Realizou-se um agrupamento em dois níveis de resposta da escala de medida do questionário: consideradas a ocorrência de sintomas nunca e poucas vezes (respostas 1 e 2) e considerados os sintomas que ocorrem com mais freqüência (respostas 4 e 5). As respostas no valor da escala Likert correspondente a algumas vezes (3) foram consideradas neutras (missings).
Tabela 1. Sintomas que ocorrem nunca ou poucas vezes no grupo 1 (1996-1997)
Tabela 2. Sintomas que ocorrem nunca ou poucas vezes no grupo 2 (2000-2001)
Nas tabelas 1 e 2, identificou-se que as questões menos valorizadas, referem-se aos sintomas somáticos, constituindo-se em uma reação corporal ou fisiológica sentidas pelos atletas. Questões como “bebo muita água” e “sinto muita vontade de fazer xixi”, além de “suo bastante”, não tiveram valorização expressiva.
Tabela 3. Sintomas que ocorrem com mais freqüência no grupo 1 (1996-1997)
Tabela 4. Sintomas que ocorrem com mais freqüência no grupo 2 (2000-2001)
As questões mais valorizadas, representadas pelas tabelas 3 e 4, são de sintomas cognitivos, evidenciando qual é o pensamento dos atletas durante a pré-competição. Os itens “fico empolgado”, “não vejo à hora de competir”, “tenho medo de cometer erros na competição” e “falo muito sobre a competição” identifica-se em ambas as categorias.
Na tabela 3 destacaram-se também as questões “no dia da competição acordo mais cedo que o normal”, “fico ansioso” e “sinto que as pessoas exigem muito de mim”. Para Weinberg e Gould (2001) a competição pode ser considerada uma fonte situacional de estresse. Marques et al (2010) citam que esta pode provocar as mais diversas reações no organismo dos atletas como: ansiedade, medo de competir mal, agressividade, além de altos níveis de cortisol. A euforia, a angústia e a irritação também são alterações visíveis sob o efeito de agentes estressores.
Na tabela 4 foi possível identificou-se com freqüência, as questões “sinto-me mais responsável”, “fico aflito” e “fico impaciente”. Samulski (2002) relaciona o estresse pré-competitivo ao medo, temor e ansiedade.
De Rose Jr. et al (2000) desenvolveram um estudo com 723 jovens (363 meninos e 360 meninas) de 10 a 17 anos. Os resultados mostraram que as meninas possuem um nível muito mais elevado de estresse do que os meninos. As questões cognitivas foram as que mais prevaleceram, em ambos os sexos.
Palhano et al (1996) avaliaram os sintomas de estresse pré-competitivo em 301 atletas, sendo que 152 eram meninos e 149 eram meninas. Todos foram subdivididos em 3 faixas etárias: 12, 14 e 16 anos. Os resultados demonstraram que não houve muita diferença entre as idades, porém, dentre os sexos, o feminino apresentou níveis maiores de estresse.
Barros e De Rose Jr. (2006) investigaram 216 atletas, de ambos os sexos. O estudo demonstrou, que as atitudes dos pais e técnicos, além do ambiente competitivo, foram grandes geradores de estresse, interferindo no desempenho dos mesmos.
Conclusão
O estudo que teve por objetivo verificar os sintomas mais freqüentes de estresse pré-competitivo, em atletas do futebol, identificou que estes estavam relacionados com o pensamento destes jovens. Ainda assim, constatou-se que os sintomas cognitivos estavam presentes em ambas as categorias.
A pressão sofrida pelos jovens, tanto pela parte do treinador e colegas, quanto dos pais, contribui e muito para que esses sintomas de estresse e ansiedade estejam presentes. A importância do evento, a incerteza diante dos resultados da competição e a fase de desenvolvimento que se encontram estes atletas, provavelmente, tenham contribuído para que estes sintomas fossem identificados na pesquisa.
Recomenda-se que novos estudos sejam realizados e assim, repensada a importância de um trabalho muldisiciplinar, junto à comissão técnica, onde cada profissional, dentro de sua especialidade, mas trabalhando de forma conjunta, possa contribuir, para o desenvolvimento da equipe esportiva e obter os resultados almejados para o esporte.
Referências
BARROS, J. C. T. S.; DE ROSE JR., D. Situações de stress na natação infanto-juvenil: atitudes de técnicos e pais, ambiente competitivo e momentos que antecedem a competição. Revista brasileira Ciência e Movimento, v.14, p.79-86, 2006.
BATISTA, M.R.; DANTAS, E.H.M. Yoga no controle do stress. Revista Fitness e performance, v.1, 2003
BECKER JR, B. Manual de psicologia do esporte & exercício, Porto Alegre, Nova Prova, 2000.
BRANDÃO, M. R. F. O lado mental do futebol. In: Ciência do Futebol, Barueri, Manole, 2004.
DE ROSE JR. D. Lista de sintomas de ‘stress’ pré-competitivo infanto juvenil: Elaboração e validação de um instrumento. Revista Paulista de Educação Física e Esportes, v.12, n.2 p.126-133, 1998.
DE ROSE JR. D. et al. Sintomas de estresse pré-competitivo em jovens brasileiros. Revista de Psicologia do esporte, v.9, n12, p.143-157, 2000.
MELO, E. E.; LAURENTINO, G. Estresse competitivo na adolescência, 2006. Disponível em www.recantodasletras.com.br/arquivos. Acessado em 14/11/2010
LEVY, G.C.T.M. O adolescente e o stress. Rede psicologia, 2008. Disponível em www.redepsi.com.br/portal. Acesso em 16/10/2010
LIPP, M. E. N.; Modelo quadrifásico do stress. In: Mecanismos neuropsicofisiológicos do stress: teoria e aplicações clínicas, São Paulo, Cãs do psicólogo, 2003, p.17-21.
LOURES, D. L., et al. Estresse mental e sistema cardiovascular. Arquivos Brasileiros de Cardiologia, v.78, n.5, p.525-530, 2002.
MARQUES, R.S., et al. Os níveis de estresse pré-competitivo de atletas classificados segundo a tipologia dos esquemas de gênero. Revista Motriz, v. 16, n. 1, p.59-68, jan/mar.2010.
MYERS, D. Introdução à psicologia geral, 4ª edição, Rio de Janeiro, Livros técnicos e científicos, 1999.
PALHANO, C. et al. Comparação da frequencia de ocorrência dos sintomas de stress pré-competitivo em atletas infanto-juvenis. Instituto da USP/GEPPE-EEFUSP. P.49, 1996.
PAPALIA, D. E.; OLDS, S. W. Desenvolvimento humano, 7ª edição, Porto Alegre, Artes médicas Sul, 2000.
SAMULSKI, D. M. Psicologia do esporte. São Paulo, Manole, 2002.
WEINBERG, R. S.; GOULD, D. Fundamentos da psicologia do esporte e do exercício, 2ª edição, São Paulo, ArtMed, 2001.
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