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Efeitos do programa de exercícios físicos na melhoria da 

qualidade de vida de portador de fibromialgia: estudo de caso

Efectos de un programa de ejercicio físico en la mejora de la calidad de vida de un portador de fibromialgia: un estudio de caso

 

*Graduado em Educação Física pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN)

Pós-graduado Lato Sensu em Fisiologia do Exercício pela Universidade Gama Filho (UGF)

**Graduada em Fisioterapia pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN)

Pós-graduado Lato Sensu em Fisiologia do Exercício pela Universidade Gama Filho (UGF)

(Brasil)

James Fernandes de Medeiros*

Luciene Ferreira de Medeiros*

Sérgio Sandro Souza Barbosa*

Catalice Cavalcanti da Penha Silva**

jamesprof@gmail.com

 

 

 

 

Resumo

          Introdução: a fibromialgia é uma síndrome reumática de etiologia idiopática, caracterizada por dor musculo-esquelética crônica, ansiedade, distúrbios do sono, fadiga e incapacidade funcional. Objetivo: este estudo tem como objetivo elaborar um programa de exercícios físicos e verificar o impacto da intervenção sobre a capacidade funcional e na qualidade de vida de portador da síndrome. Metodologia: caracteriza-se como estudo de caso cuja amostra constituiu-se de uma mulher de 40 anos, sedentária havia dois anos e portadora de fibromialgia. Para avaliar a qualidade de vida da paciente utilizou-se o Questionário sobre o Impacto da Fibromialgia (QIF). Após a avaliação, a paciente foi orientada sobre a sequência do treinamento e utilização correta dos equipamentos. O programa constitui-se de exercícios aeróbios, força muscular e alongamentos cuja duração foi de oito semanas. Resultados: demonstram que houve melhora no escore do questionário (QIF). Por meio dos dados coletados pode-se constatar que a aplicação do programa de exercícios físicos demonstrou-se eficiente, gerando efeitos significativos na melhoria capacidade funcional e na qualidade de vida da paciente. Considerações finais: A prática de exercícios físicos habitual pode ser uma medida não-medicamentosa eficiente, capaz de atenuar o impacto da síndrome, melhorar a capacidade funcional e a qualidade de vida de fibromiálgicos. O exercício é uma importante intervenção no controle da fibromialgia - desde que prescrito por profissional especializado - pode melhorar a saúde e a qualidade de vida.

          Unitermos: Fibromialgia. Exercício físico. Capacidade funcional. Qualidade de vida.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 16 - Nº 156 - Mayo de 2011. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    A fibromialgia (FM) é uma síndrome de ordem reumática - de etiologia idiopática – cujas características principais são: dor musculo-esquelética crônica, ansiedade, distúrbios do sono e fadiga (Maldofsky, 1989; Wolfe et al, 1990). A síndrome está associada à sintomatologia existente e a presença de no mínimo 11 dos 18 pontos dolorosos e sensíveis à digito-pressão (Wolfe et al, 1990). A prevalência da fibromialgia alcança cerca de 0,5% a 6% da população em geral, a qual acomete sobretudo as mulheres quando comparado aos homens (Couto et al. 2008). Este síndrome afeta aproximadamente 6 milhões de pessoas nos Estados Unidos da América (Sprott, 2003).

    Na Espanha, estima-se que 2,4% da população com idade superior a 20 anos é acometida pela doença, com uma relação mulher/homem de 20/1 (Restrepo-Medrado et al., 2009). Além disso, a síndrome é associada à causa indireta ou direta de faltas ao trabalho ( Villanueva et al., 2004) e que requer atenção do serviço de saúde, quando comparada a outras enfermidades de similar sintomatologia (Boonen et al, 2005). No Brasil, a prevalência da FM na população adulta de baixo nível socioeconômico atendida pelo sistema de saúde do estado de São Paulo é de 4,4%, dado semelhante ao de outros estados brasileiros com diversidade socioeconômica (Assumpção et al., 2009).

    As formas de tratamento da FM devem ser sempre que possível abrangentes no tocante às diversas terapias existentes. O controle da síndrome é baseado na terapia multidisciplinar, por meio de intervenção farmacológica (ansiolíticos, analgésicos, antidepressivos, entre outros) e não-farmacológica, através de estratégias que visam à atenuação dos sintomas (Alentorn-Geni et al., 2008; Bálsamo e Simão 2005). Dentre todos os tipos de tratamentos não-medicamentosos pode-se elencar: fisioterapia, terapia ocupacional, acupuntura e terapia comportamental cognitiva e exercício físico.

    A inatividade física gera perda substancial na aptidão física, na capacidade funcional e na qualidade de vida dos portadores da FM. Por outro lado, a prática regular de exercícios físicos aumenta os níveis de aptidão física, capacidade funcional, e tem sido preconizada pelos estudos como uma das mais eficientes intervenções não-medicamentosas no controle da síndrome da fibromialgia. Portanto, o objetivo deste estudo é elaborar e propor um modelo de programa de exercícios físicos, prescritos com a finalidade de verificar o impacto do treinamento físico na capacidade funcional e na qualidade de vida de portador de FM.

Material e métodos

    Este estudo caracteriza-se como do tipo estudo de caso cuja amostra constituiu-se de uma mulher de 40 anos, sedentária havia dois anos, portadora de FM segundo os critérios do Colégio Americano de Reumatologia. A paciente foi encaminhada para tratamento da síndrome da fibromialgia por meio da prática de exercícios físicos regulares como alternativa de terapia não-farmacológica. Para avaliar a qualidade de vida da paciente foi utilizado o Questionário sobre o Impacto da Fibromialgia (QIF), em inglês Fibromyalgia Impact Questionnarie cuja sigla é (FIQ). Este instrumento de pesquisa envolve questões relacionadas à capacidade funcional, situação profissional, distúrbios psicológicos e sintomas físicos (Marques et al., 2006).

    O programa de exercícios teve duração de oito semanas. Nesse período, o questionário foi aplicado por três vezes durante o tratamento (a primeira avaliação no início da intervenção, a segunda após quatro semanas e a terceira ao término da oitava semana de treino), com a finalidade de melhor acompanhar a evolução da terapia. Ademais, dados antropométricos foram coletados conforme representados na tabela 1 (massa corporal, estatura e índice de massa corporal). Posteriormente, a avaliação da qualidade de vida, a paciente foi submetida a orientações sobre a sequência do treinamento físico e utilização correta dos equipamentos para realização do treino de força, do aeróbio e dos alongamentos. Daí então, foi dado início ao programa de exercícios físicos cuja duração foi de oito semanas, conforme descrita a seguir:

1.     Alongamentos

    A prática dos exercícios de alongamento, executada do início da sessão, foi a do tipo estática com duração de 15 segundos em cada posição. Realizados na posição bípede contemplados os principais grupos musculares, a saber: peitoral, dorsal, paravertebral, pescoço, trapézio, bíceps braquial, tríceps braquial, abdominal, isquiostibiais, quadríceps e panturrilhas.

2.     Exercício aeróbio

    A paciente realizou seu aquecimento geral com a atividade de caminhada em esteira, da marca Moviment (Brasil), a um nível de intensidade moderada cuja frequência cardíaca permaneceu variando entre 60% a 75% da frequência cardíaca máxima, intensidade recomendada de acordo com o Consenso brasileiro do tratamento da fibromialgia (Heymann et al, 2010). Segundo Pate et.al., (1995), a intensidade de nível moderado do exercício favorece a maioria dos benefícios para a saúde física e mental, e está efetivamente associada a maiores chances de adesão à prática de atividade física, quando comparada as atividades de alta intensidade. Consoante Valim (2006), na população fibromiálgica recomenda-se exercícios aeróbios de baixo impacto cuja modalidade da atividade deve ser aquela considerada na escolha do praticante. Além disso, a intensidade do treinamento na frequência cardíaca prescreve-se na zona alvo entre 65-70% da FCmáxima, ou 50-55% da FCreserva (Karvonen).

3.     Exercício de força muscular

    O treinamento de força muscular foi executado em máquina da marca Gerva Sport (Brasil), halteres e anilhas, que priorizaram, inicialmente, os grandes grupos musculares em exercícios multiarticulares, seguido dos monoarticulares, e alternado por segmentos corporais preconizado para iniciantes (Sforzo e Touey, 1996; Fleck e Kraemer, 2006; ACSM, 2009). Segundo Pate et al. (1995), a prática de atividade física de intensidade moderada (3 a 6 METs) favorece a maioria dos benefícios para a saúde física e mental, e está efetivamente associada a maiores chances de adesão à prática das atividades, quando comparada com as atividades de intensidade alta.

    Nas quatro primeiras semanas de treino, os exercícios consistiam em: Leg press horizontal, supino sentado na máquina, cadeira extensora, remada baixa, cadeira flexora sentada e abdominal sentado na máquina. Realizados com uma frequência de três vezes semanais, em dias não consecutivos, com 48 horas mínimas de recuperação entre as sessões. Sendo que nas duas primeiras semanas realizou-se duas séries de doze repetições e nas demais o volume foi aumentado para três séries de doze repetições. Para o ACSM (2002), é recomendado de duas a três séries por exercícios entre 12 a 15 repetições, a fim de evitar grandes números de repetições e séries extensas e intensidade em torno de 40 a 60% da carga máxima (1RM), isto é, um treino de resistência muscular.

    Aplicou-se neste estudo uma intensidade de 60% a 70% de 1 RM, com intervalos de recuperação entre séries de 60 a 90 segundos. O ajuste de carga ocorreu a partir do segundo mês, no qual a cada três sessões incrementou-se 10%. De acordo com o ACSM (2002), o percentual na progressão do treino deve ocorrer gradativamente, entre 2 a 10%, quando o praticante conseguir executar uma ou duas repetições a mais do que fora proposto no início. O treino prosseguiu com incremento de intensidade, volume e número de séries nas primeiras quatro semanas e incremento de exercícios nas demais, que foram: elevação frontal com halter (deltoides) e panturrilha sentada.

Resultados

Tabela 1. Dados antropométricos coletados na paciente avaliada, portadora da síndrome da fibromialgia

    Conforme dados antropométricos da tabela 1, pode-se observar que não houve diferença significativa na massa corporal, nem consequentemente mudança expressiva no índice de massa corporal (IMC). O programa de exercícios não foi capaz de diminuir o IMC, embora não fosse esse o objetivo deste estudo, acredita-se que o ganho de massa corpórea deve-se aos picos de ansiedade característicos de ocorrerem nos pacientes com fibromialgia.

Tabela 2. Dados do questionário sobre o impacto da fibromialgia constituído de informação sobre a capacidade funcional, situação profissional, distúrbios psicológicos e sintomas físicos da síndrome

    Ao analisar a evolução da paciente, ao longo do programa de exercício, através do QIF, constatou-se que houve efetividade do protocolo de exercícios. Este provocou uma queda no escore total do questionário que é de 114 pontos. Neste instrumento de pesquisa, à medida que reduz o escore há indicativo de aumento da capacidade funcional e da qualidade de vida. Na primeira avaliação a paciente totalizou 63 pontos, na segunda 53 pontos e na terceira 35 pontos, que representa respectivamente 55,3%, 46,5% e 30,7%, demonstrando uma melhora significativa na qualidade de vida e na realização das atividades rotineiras.

Discussão

    A avaliação da qualidade de vida ocorreu por meio do QIF, instrumento de pesquisa adotado neste estudo. Através do qual analisou-se os dez aspectos da capacidade funcional e qualidade de vida aferidos pelo questionário, que inclui ainda situação profissional, distúrbios psicológicos e sintomas físicos. Dentre as terapias de controle dos sintomas da fibromialgia, o exercício físico é uma intervenção não-medicamentosa de baixo custo que pode promover saúde, ao melhorar a capacidade funcional, reduzir a dor difusa e a fadiga, além de favorecer melhoria na qualidade de vida (McCain et al., 1988; Nichols e Glenn, 1994).

    Os exercícios aeróbios de baixo impacto são descritos na literatura como a intervenção de reabilitação física que gera maior ganho na regressão do impacto dos sintomas da fibromialgia (Valim, 2006). Por outro lado, acredita-se que um programa de condicionamento físico, ao contemplar na mesma sessão exercícios aeróbios, alongamento, força e resistência muscular, pode ser capaz de gerar melhores ganhos nas aptidões físicas relacionadas à saúde (Robergs e Roberts, 2002), quando comparado a sessões de exercícios que têm apenas os aeróbios, porém para confirmar esta hipótese são necessárias mais investigações científicas.

    Este estudo corrobora com os achados de Rooks et al. (2002), que realizou uma investigação aplicando um programa de exercícios aeróbios e de força muscular cuja amostra constitui-se de 15 mulheres com fibromialgia. Esses pesquisadores evidenciaram que o treinamento cardiovascular e de força muscular pode ser seguro e eficiente na melhoria da condição física e funcional nas pacientes com a síndrome.

    Esta investigação científica corrobora com a pesquisa de Sabbag et al. (2007), que aplicou um programa de condicionamento físico constituído de caminhada, atividade muscular localizada e relaxamento, de modo supervisionado, sobre 18 mulheres portadoras de fibromialgia com média de idade de 46,4±5,8 anos. Nessa pesquisa, o programa de exercícios provocou melhora na capacidade funcional, no alívio da dor e melhoria na qualidade de vida das participantes.

Considerações finais

    A prática de exercícios físicos realizada de modo regular é considerada medida não-medicamentosa eficiente que atua no organismo como fator benéfico na melhoria das aptidões físicas relacionadas à saúde (flexibilidade, capacidade cardiorrespiratória, composição corporal, força e resistência muscular). Os exercícios podem ser protetores contra diversas doenças crônico-degenerativas, como: hipertensão arterial, dislipidemias, diabetes mellitus, osteoporose, obesidade e cardiopatias. É capaz ainda de atenuar sobre o impacto da fibromialgia, melhorando a capacidade funcional e a qualidade de vida dos pacientes com a síndrome.

    Há duas décadas, os programas de exercícios físicos são utilizados como terapia de intervenção não-medicamentosa importante no controle de doenças reumáticas. Conforme ocorre com a fibromialgia cuja intervenção por meio do exercício físico é relatado por diversos estudos científicos como sendo capaz de melhorar a capacidade funcional, aliviar a dor (principal sintoma), elevar o padrão de saúde e da qualidade de vida.

    Por meio da análise dos constatou que a aplicação do programa de exercícios físicos foi eficiente, gerando efeitos significativos na melhoria da capacidade funcional e na qualidade de vida da paciente com síndrome da fibromialgia. No entanto, para atingir resultados salutares - de modo seguro - é necessário que a prescrição dos exercícios seja realizada sob supervisão e orientação de um profissional preferencialmente especializado em exercícios físicos aplicados às doenças crônicas e reumáticas.

Referências bibliográficas

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