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Políticas públicas do lazer: um enfoque na formação

Políticas públicas de recreación y tiempo libre: un enfoque en la formación

 

Licenciado em Educação Física, Universidade do Estado do Pará, UEPA

Especialista em Lazer – UEPA; Mestrando em Educação

Universidade Federal do Pará- UFPA. Professor pesquisador

do Grupo de Formação Inicial e Continuada do Núcleo

de Educação Científica, Ambiental e Práticas Sociais – NECAPS

Prof° Esp. Gustavo Maneschy Montenegro

gustavomaneschy2011@hotmail.com

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          Este texto tem o objetivo de realizar uma análise teórica sobre a formação de profissionais para a atuação nas políticas públicas de lazer no Brasil, para em seguida, propor subsídios que possam orientar esse processo formativo. O problema: como tem sido realizada a formação de profissionais para a atuação nas políticas públicas de lazer no Brasil? Como resultados, aponto que a formação de profissionais para a atuação em políticas públicas de lazer deve buscar alternativas para além da transmissão de “receitas” de atividades, mas construir um processo formativo dialógico, crítico e criativo.

          Unitermos: Políticas públicas. Lazer. Formação.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 16 - Nº 156 - Mayo de 2011. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    Este artigo tem o objetivo de realizar uma análise teórica sobre a formação de profissionais para a atuação nas políticas públicas de lazer no Brasil e propor um conjunto de reflexões que se destinam a contribuir para o processo formativo destes trabalhadores.

    O tema das políticas públicas de lazer no Brasil encontra-se em constante debate, seja por meio dos veículos de imprensa - jornal, mídia, rádio e televisão - o que de fato tem sido impulsionado, haja vista que o país será a sede da próxima Copa do Mundo, em 2014, e dos Jogos Olímpicos, em 2016.

    É importante frisar também que este não é único meio de divulgação de tais questões, pois é possível constatar que a preocupação coma a discussão dessas políticas esta presente em encontros acadêmico-científicos, como conferências, seminários e congressos que se destinam a uma melhor compreensão do tema.

    Ressalto que o meu interesse pelo debate das políticas públicas no campo do lazer ocorre em decorrência de experiências profissionais que tive enquanto agente de esporte e lazer em 2008, ao atuar no Serviço Social do Comércio – SESC no município de Ananindeua/PA.

    Por essa ocasião, pude perceber que o tema do lazer não pode ser visto apenas enquanto diversão e entretenimento, mas deve ser encarado como possibilidades de vivências que valorizem sentimentos baseados na cooperação, na ludicidade, na criatividade e na crítica.

    Enfatizo que compreendo o lazer como um espaço de interação social que pode colaborar para que as pessoas tenham uma visão contestadora da ordem social vigente, o que se faz necessário tratá-lo enquanto um bem social, o que a meu ver, justifica a sua inclusão como política pública.

    Ao ter em vista aprofundar essa discussão, recorro aos estudos de Castellani Filho (2007), pois o autor nos mostra que as políticas públicas de lazer implantadas no Brasil tiveram uma predominância de caráter funcionalista, caracterizadas pela execução de projetos que visavam apenas “marcar” a presença em uma determinada comunidade com programas, quase sempre, de cunho assistencialista.

    Fundamentado em sua reflexão, é possível constatar que o lazer é abordado nas políticas públicas brasileiras enquanto “válvula de escape”, o que significa dizer que as ações governamentais procuram utilizá-lo para “mascarar” os problemas sociais.

    Penso que uma forma de alterar esse quadro esta relacionado à formação dos profissionais que atuarão nas políticas públicas de lazer, pois os mesmo são responsáveis pela organização, execução e avaliação dos programas, e, de certo modo, a concepção das ações esta diretamente relacionada com a perspectiva política e de sociedade desse atores sociais.

    A partir dessas reflexões, esse artigo apresenta a seguinte questão problema: como tem sido realizada a formação de profissionais para a atuação nas políticas públicas de lazer no Brasil?

    Esse texto esta estrutura nas seguintes etapas: primeiramente, procuro traçar uma relação histórica sobre a implantação das políticas públicas de lazer no Brasil e explicito os desafios dessas para ações que ultrapassem o mero assistencialismo. Em seguida, discuto os problemas constituídos na formação dos profissionais que atuam nesses espaços de lazer e proponho alternativas que possam balizar essa ação pedagógica.

Políticas Públicas de lazer no Brasil: questões históricas, dilemas atuais

    Para Suassuna (2007) as políticas públicas diferenciam-se das políticas de estado, uma vez que as primeiras são caracterizadas por ações focais, em uma determinada área – como a educação, a saúde, o lazer - nas quais não há continuidade de governo para governo.

    Já a segunda, destaca-se por agregar ações de natureza mais amplas, o que faz existir continuidade após o fim de um governo. Como exemplo, destaco as campanhas de vacinação.

    A autora indica que é de responsabilidade do poder governamental as ações quanto ao planejamento, à execução e a avaliação de políticas públicas, sendo que as mesmas devem ser discutidas junto à população que será beneficiada.

    Portanto, trata de conceber que as ações de lazer, necessitam ser discutidas com a comunidade e não implantadas de forma arbitrária e desarticuladas com os seus interesses.

    No entanto, o Estado tem sido omisso nessa sua responsabilidade, haja vista que o modelo Neoliberal prevê uma diminuição de investimentos públicos em áreas sociais - como saúde, educação, lazer, transporte - permitindo que dessas áreas se façam grandes fontes de lucro e renda para a iniciativa privada. (MELO, 2005).

    No neoliberalismo, o lazer é visto como uma grande mercadoria, principalmente pela descoberta deste fenômeno como um promissor mercado, capaz de gerar lucros significativos para aqueles que detêm e controlam os espaços e equipamentos para o usufruto do tempo disponível das pessoas, refletindo padrões meramente consumistas, alienante e acrítico no lazer (WERNECK, 1998).

    Ajudando-nos a refletir sobre o assunto, posso destacar os estudos de Pinto (2008), o qual estabelece uma relação histórica dessas políticas no Brasil. A autora aponta que durante as décadas de 30 e 40, durante o Estado Novo de Vargas, as ações foram marcadas por significativos avanços nas leis trabalhistas.

    Com a implantação da Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT) foi gerada a elaboração e a execução de políticas públicas recreativas - de caráter assistencialista e corporativista, privilegiando apenas o grupo social dos trabalhadores - com o propósito de ocupar o seu tempo de não-trabalho legalmente regulamentado. Deu-se inicio a implantação dos “pacotes” de atividades que até hoje são práticas de alguns governos.

    Já nas décadas de 60 e 70, durante o regime militar, as políticas de lazer foram baseadas no mérito, na seletividade e na ação burocrática. Deram-se início as Campanhas de rua de Recreio, que:

    Mobilizou a promoção de atividades esportivo-recreativas em ruas e praças das cidades. As ruas de recreio, posteriormente chamadas de Ruas de Lazer, foram difundidas de tal forma nas décadas seguintes que até hoje representam o modelo de política pública de lazer da maioria dos municípios de estados brasileiros. (IBID., p.83-4 grifos da autora).

    É importante que possamos perceber o aspecto assistencialista dessas ações, que visavam mascarar as contradições como a miséria, a falta de educação de qualidade e o autoritarismo do governo militar.

    Além do mais, é de se destacar o importante papel da educação física nesse processo, alicerçada pelo Decreto n. 69.450. de 1971, que dispôs sobre a obrigatoriedade da mesma como prática esportivo-recreativa em todos os níveis escolares, ajudando a massificar o esporte e lazer de um lado, e trabalhar para o esquecimento dos problemas do outro.

    Para Draibe (1990) as políticas públicas nesse período foram elitistas, pois priorizavam segmentos já privilegiados da sociedade, e “[...] assistencialistas e tutelares quando direcionadas aos segmentos populares empobrecidos da população”. (PINTO, 2008, p. 84).

    Já a década de 80 foi marcada pelo reconhecimento do lazer como força econômica do Brasil, influência na propagação do lazer como mercadoria a ser comprada como forma de entretenimento e diversão, iniciando um processo denominado de Mercolazer1. (MASCARENHAS, 2007).

    Ampliou-se a propagação de bens de serviços como colônia de férias, parques entre outros, e também da oferta de empregos ligadas ao lazer, como recreadores, gestores etc. Portanto, o:

    Lazer despontou como um mercado emergente, em pleno crescimento, que gerou expressiva atividade econômica, passando a exigir mão-de-obra diversificada e qualificada para atender aos novos empreendimentos e demandas. O capitalismo provocou a disseminação do lazer veiculado pela indústria cultural, tratando os indivíduos como potenciais consumidores de mercadorias lúdico-culturais. (PINTO, 2008, p. 85).

    Com isso, gerou-se um diferenciado acesso aos espaços e equipamentos de lazer, na qual, as camadas populares da sociedade encontraram-se excluídas do acesso e das práticas culturais do lazer, formando uma gama de pessoas e jovens sem-lazer. (MASCARENHAS, 2007).

    Os anos 90, a meu ver, foram caracterizados por uma profunda contradição no que diz respeito ao lazer, pois nessa década, presenciamos o avanço do neoliberalismo por meio das seguidas privatizações das empresas estatais, diminuição dos investimentos públicos, aumento da exploração da classe trabalhadora e consolidação do lazer como mercadoria.

    Entretanto, houve um significativo avanço de leis que garantiam o lazer como direito de todos, a começar pela própria constituição de 1988 e como bem nos mostra, pode-se notar que a integração do direito ao lazer esta contemplada na Política Nacional para a integração das Pessoas com Deficiência, sob a lei 3.298; na lei 8.080, Título I, art. 3°, o lazer é tratado como um dos fatores determinantes da saúde de toda a população; na lei 10.216, art. 4°, dispõe sobre as pessoas com transtornos mentais e indica que o lazer é um serviço obrigatório no tratamento dos mesmos; no Programa Nacional de Apoio a cultura (PRONAC) inclui no seu capítulo I, que o lazer é um dos seus objetivos, tendo em vista salvaguardar a sobrevivência e o florescimento dos modos de criar, de lazer e de viver da sociedade brasileira. (Pinto, 2008)

    Apesar desse animador quadro sobre o lazer no que diz respeito à legalidade, devemos nos perguntar: isso realmente existe? As camadas populares estão tendo acesso ao lazer? As políticas de lazer atendem de fato a população? A realidade é que existe um significativo distanciamento entre a legalidade e a consolidação de tais ações.

    E nesse caminho, as políticas públicas acabam sendo destinadas a pessoas com um maior pode aquisitivo, são marcadamente assistencialistas, com um consumo acrítico de atividades descontextualizadas no lazer e construídas sem a participação popular.

    Mas o que podemos fazer? isso é um quadro fixo e estável, nos restando aceita-lo passivamente? que caminhos devemos seguir para possibilitar o lazer como um direito social de fato e modificar esse quadro? Isso é possível?

    Para isso precisamos entender as políticas públicas de lazer como um direito a cidadania e um componente da cultura historicamente situada, em que a população tenha de fato o acesso a um espaço crítico, criativo e democrático para uma vivência digna do mesmo. (TAFFAREL, 2003).

    A autora aponta a necessidade de se ter processos ampliados e participativos, com base em levantamentos de aspirações e reivindicações dos diferentes segmentos das diferentes regiões em relação ao lazer. Trata-se de construir políticas com a população, levando em consideração as suas demandas e necessidades para vivência desse bem social.

    Outro aspecto a destacar nas considerações da autora é a busca de uma inter-relação de secretarias para compreendermos tanto a política de educação, de saúde, de esporte e lazer, de planejamento urbano, ou seja, construir uma prática intersetorial, na qual, as secretarias deveriam partir de um eixo articulador único, para depois iniciar ações focais, buscando superar ações isoladas e desarticuladas.

    Considero que as aprendizagens nessas políticas devam seguir na linha da solidariedade, da cooperação, da diversificação, da criatividade e da emancipação, em que se possa garantir a Lazerania, a qual procura:

    Expressar a possibilidade de apropriação do lazer para a liberdade, o exercício da cidadania, uma sociedade cujo direito ao lazer tem seu reconhecimento alicerçado a princípios como a democracia, a transformação, a justiça, a solidariedade etc. (MASCARENHAS, 2007, p. 35).

    É importante para que tais reflexões possam ocorrer, uma sólida formação dos profissionais que irão trabalhar nas políticas de lazer, sendo um importante meio para uma mudança na compreensão das mesmas.

Uma possível saída: a formação

    O debate sobre a formação de profissionais para o campo do lazer tem sido fomentado por áreas diferentes, dentre as quais, destaco a Educação Física, o Turismo, a Pedagogia e a Administração, o que nos revela o seu caráter multidisciplinar.

    No entanto, ao consultar a literatura existente na área, identifiquei que a preocupação com a formação destes já podia ser vista em meio as primeiras décadas do século XX, com destaque para a Escola de Educação Física do Exército (1933) e a Escola Nacional de Educação Física e Desportos (ENEFD) na Universidade do Brasil (1939). (MELO, 2003)

    De acordo com o pesquisador, a principal preocupação com a capacitação de alunos voltada para esse campo de intervenção dava-se em meio à necessidade de profissionais que pudessem atuar nas “Praças de Esporte” e nas “Ruas de Lazer”, políticas públicas de lazer características das décadas de 20 e 30.

    O autor indica que esse processo de formação obedecia duas lógicas principais: a tradição histórica, que muitas vezes ainda confunde a atuação no âmbito do lazer com o simples oferecimento de uma série de atividades; a compreensão simbólica de que trabalhar na área é simples e que qualquer um pode atuar, bastando ter algumas características de personalidade (ser divertido, ter carisma) e saber muitas brincadeiras. (IDEM, 2007)

    Nesse caminho de reflexões, os estudos de Isayma (2002) apontam para a característica “prática” da formação desses profissionais, ou seja, o processo formativo, que deveria fornecer fundamentos que valorizassem uma atuação criativa e autônoma, privilegia conhecimentos ligados ao fazer, estando a teoria deslocada para um segundo plano.

    Montenegro (2010) afirma que essa forma de pensar a formação contribui para que os profissionais tenham uma atuação baseada no senso comum, no “tecnicismo”, o qual entende o lazer enquanto um simples atenuante das desigualdades sociais.

    Penso ser necessário redimensionar essa perspectiva da formação, e sim, buscar subsídios que possam orientar a atuação do profissional nas políticas de lazer.

    Isayama (2004) enfatiza que uma nova proposta de formação esta articulada com a construção de conhecimentos baseados na cultura e na crítica, ao concretizar-se por meio da edificação de saberes, na qual docentes e discentes passam a ser sujeitos desse processo. Ela é alicerçada com um novo olhar para a área, no qual o lazer pode contribuir para uma sociedade mais justa e mais humana.

    Para o pesquisador, a formação desses profissionais:

    Deve possibilitar o domínio de conteúdos que tem de ser socializados, por meio do entendimento de seus significados em diferentes contextos e articulações interdisciplinares. Deve, ainda, promover o conhecimento de processos de investigação que auxiliem no aperfeiçoamento da ação do animador cultural no gerenciamento do próprio desenvolvimento de ações educativas lúdicas, críticas e criativas. (IDEM, 2010, p. 13)

    Ao apropriar-me dessa reflexão, vejo que a formação na área para além da dimensão “tradicional” dar-se-á em meio à construção de saberes técnicos, científicos, políticos, filosóficos, pedagógicos e no conhecimento crítico da realidade.

    Em minha percepção, não se trata de negar a importância do saber técnico do profissional que atuará no lazer, haja vista que, em sua ação pedagógica nas políticas públicas, será demandado certo conhecimento de repertório de atividades lúdicas. (MARCELLINO, 2000)

    Em contrapartida, ao atuar, o profissional necessita de conhecimento sobre diferentes faixas etárias (crianças, idosos, adultos), de organização e planejamento de eventos, o que exigirá do mesmo uma complexidade de saberes que ultrapassam o mero “fazer”.

    Um exemplo a ser dado, é quando um grupo de crianças, em determinada comunidade, vivenciam os seus jogos favoritos. Nessa atividade, temos que reconhecer que se trata de uma experiência carregada de valor cultural, uma vez que os jogos são formados a partir de experiências lúdicas, construídas socialmente em diferentes locais, com diferentes denominações, carregando saberes e linguagens próprias. Mas ao mesmo tempo, trata-se de algo marcadamente biológico, pois esse corpo, ao brincar, obedece a comandos cerebrais, põe em movimento órgãos e o nosso corpo.

    Destarte, me parece equivocada a idéia de considerar que a atuação na área é simples, mas sim, vejo que a formação dos profissionais do lazer voltada ao trabalho nas políticas públicas requer uma sólida construção teórica, a qual implica na articulação de saberes científicos, pedagógicos, históricos, culturais, políticos e biológicos.

    Marcellino (2010) destaca que a o processo de formação dos profissionais deve incluir, sobretudo, a discussão que envolva os conceitos e as concepções de lazer; conhecimentos em políticas públicas e repertório de atividades socioculturais.

    Werneck (1998, p. 7) apresenta uma proposta mais ampliada, pois a pesquisadora compreende que a atuação nas políticas públicas do lazer envolve a pesquisa.

    Sendo assim, ela diz que a formação deve “[...] buscar inovações em termos do trabalho científico e da pesquisa colaborativa, superando assim a sistemática das estruturas tradicionais”. A meu ver, essa concepção proporciona um entendimento desse profissional como um pesquisador, como um agente crítico-reflexivo.

    Entendo que a atuação dos profissionais nas políticas de lazer esta ligado a possibilidades de democratização da cultural, com a oferta de vivências corporais que valorizem a convivência, a cooperação, a justiça a crítica e a criatividade.

    Para isso, compreendo que a formação desses profissionais deve fundamentar-se na interação entre a:

    Competência Técnica: conhecimento acerca de repertório de atividades, planejamento de ação de lazer em comunidades, gerenciamento de projetos e políticas públicas, administração em secretarias, atuação em brinquedotecas etc; Competência Científica: aqui caracterizar-se-ia pela prática da pesquisa na produção de conhecimento na área, assim como ter subsídios teóricos que possam orientar a atuação de um profissional pesquisador, crítico-reflexivo e compromissado com as camadas populares; Competência Política: visa permitir que o profissional possa ter clareza dos fins da sua atuação pedagógica, que o mesmo possa estar orientado por uma práxis docente baseada na ação-reflexão, e que o seu propósito esteja articulado com a construção de uma nova sociedade, mais justa, mais humana e mais solidária. (MONTENEGRO, 2010, p. 25 grifos meu)

    Caminhar nessa perspectiva é de se reestruturar a perspectiva essencialmente didático-metodológica, mas buscar articular esses aspectos com vista a construir um conhecimento crítico da realidade, na qual o lazer possa ser visto enquanto um direito social, como política pública e não apenas como bem de consumo.

Considerações finais

    Após essa discussão, penso que se faz necessário ampliarmos e aprofundarmos o debate sobre as políticas públicas de lazer e realizá-las junto à comunidade e ao Poder Público, com vista a emancipação humana, além de fortalecer a participação popular na construção de tais ações. Assim, temos de agregar esforços com vista a discutir e legitimar o lazer como um direito social de fato.

    De modo a redimensionar a maneira de implantação e organização dessas ações governamentais no Brasil, a qual assume historicamente uma perspectiva “assistencialista”, compreendo que a formação dos profissionais adquire uma posição central nesse caminho.

    Vejo que o trabalho profissional na área requer uma sólida construção teórica, em que, sobretudo, é necessário incluir debates sobre conhecimentos que discutam aspectos ligados a organização e planejamento de políticas públicas, bem como a articulação de saberes científicos, culturais, históricos, biológicos e políticos relacionados às práticas de lazer.

    Para a constituição de um repertório de atividades, concebo que a formação deve oportunizar aos futuros profissionais a criação refletida e crítica de um acervo de jogos e brincadeiras, o que pode colaborar para a substituição da “reprodução” acrítica e descontextualizada das atividades de lazer.

    No decorrer desse texto, não procurei fornecer uma receita ou um manual das etapas em que a formação deve seguir, mas sim, a partir da minha experiência profissional no campo do lazer e nos estudos que tenho realizado sobre esse tema, busquei contribuir com a minha visão sobre a questão.

    Para finalizar, entendo que a formação deve levar em consideração questões específicas de cada região, o que também pode contribuir para a valorização da cultura historicamente construída pelos diferentes atores sociais que compõe o nosso país.

Notas

1.     Para Mascarenhas (2007), o “Mercolazer” caracteriza-se pala transformação do lazer em mercadoria, em bem de consumo, e não em direito social.

Referências

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