Perfil nutricional de praticantes de ginástica aeróbica esportiva e ginástica artística de um clube do município de São Paulo Perfil nutricional de practicantes de gimnasia aeróbica deportiva y gimnasia artística de un club del municipio de Sao Paulo |
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*Alunas do Curso de Nutrição da Universidade Presbiteriana Mackenzie **Nutricionista, mestre em Nutrição Humana Aplicada (USP) Doutora em Saúde Pública (USP) Professora da Universidade Presbiteriana Mackenzie e do Centro Universitário São Camilo (Brasil) |
Bruna Teixeira de Medeiros* Carolina Santos Castro* Jéssica Raguza Pazin* Louise Lopes Amorim* Tânia Marsulo* Marcia Nacif** |
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Resumo Objetivos: Avaliar a alimentação e a composição corporal de atletas adolescentes praticantes de Ginástica Aeróbica Esportiva (GAE) e Ginástica Artística (GA) de um clube do município de São Paulo. Métodos: Trata-se de um estudo transversal, no qual foram avaliadas 24 atletas, com idade média de 14 anos, sendo 5 praticantes de GA e 19 de GAE. Para a avaliação antropométrica coletou-se os dados de peso, altura e dobras cutâneas (tríceps e subescapular). O consumo alimentar foi avaliado por meio da aplicação de um recordatório de 24h. Resultados: Pôde-se observar que 80% (n=4) das praticantes de GA e 73,70% (n=14) de GAE apresentaram eutrofia e 26,30% (n=5) atletas de GAE enquadraram-se na classificação de sobrepeso. Quanto à porcentagem de gordura, verificou-se que a maior parte das ginastas foram categorizadas como eutróficas, porém, 2 atletas apresentaram baixa porcentagem de gordura corporal. Quanto ao consumo alimentar grande parte das atletas, mostrou ingestão de carboidratos e energia abaixo da recomendada. Conclusão: Nota-se a importância de aliar a prática de ginástica à nutrição equilibrada, garantindo efeitos positivos sobre a saúde e desempenho esportivo das atletas. Unitermos: Alimentação. Composição corporal. Ginástica Aeróbica Esportiva. Ginástica Artística.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 16 - Nº 156 - Mayo de 2011. http://www.efdeportes.com/ |
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Introdução
A prática regular de exercícios físicos na infância e na adolescência é importante para favorecer o crescimento, o desenvolvimento, o aprimoramento da coordenação motora e o convívio social (NACIF; VIEBIG, 2009). Além disso, a atividade física pode trazer benefícios ao estado nutricional dos indivíduos e tem sido apontada como um dos mais importantes fatores de prevenção, reversão e controle de diversas enfermidades.
Nos dias atuais, as meninas estão cada vez mais envolvidas em atividades físicas, tanto para o lazer, como para a competição. As atletas engajadas em esportes como ballet, natação, ginástica e saltos ornamentais iniciam os treinos ainda na idade infantil (SANTOS; LEANDRO; GUIMARÃES, 2007).
Uma atenção especial deve ser dada às jovens atletas, já que nesta fase ocorre um rápido desenvolvimento fisiológico, neurológico e psicológico (TOFLER et al, 1996).
Em jovens atletas, a rotina de treinamento físico extenuante também induz alterações importantes nas necessidades nutricionais. Por essa razão, a dieta destas atletas, deve fornecer adequadamente todos os nutrientes, pois a carência destes, a utilização inadequada de suplementos e outras substâncias ergogênicas, afeta o equilíbrio energético, podendo resultar em graves consequências para a saúde como a baixa estatura, atraso puberal, deficiência de micronutrientes, desidratação, irregularidade menstrual, alterações ósseas, maior incidência de lesões e maior risco para o aparecimento de distúrbios alimentares (JUZWIAK; PASCHOAL; LOPEZ, 2000; GOMES et al 2009).
No caso da ginástica, principalmente a artística (GA), um esporte que exige da atleta uma composição corporal específica, já que a forma e a aparência são extremamente importantes, as preocupações e exigências estéticas muitas vezes levam as ginastas a desenvolverem hábitos e práticas alimentares incorretas (BALE; GOODWAY, 1990). Por isso, a preocupação com o estado nutricional das atletas é muito abordada, tanto para manutenção do estado de saúde, como para melhor rendimento e prevenção de distúrbios alimentares e problemas físicos (BORTOLETO et al, 2007).
Devido ao aumento do esforço físico decorrente do exercício e à inadequação da dieta, é frequente aparecerem distúrbios orgânicos de todas as ordens. Entre as principais disfunções que acometem as ginastas estão os transtornos alimentares e a “Tríade da Mulher Atleta” (amenorréia, anemia e osteoporose) (DALY et al, 2000; NICKOLS-RICHARDSON et al, 2000; SMOLAK et al, 2000; WEIMANN, 2002; HULVER; HOUWARD, 2003). A origem destes distúrbios ainda é incerta, consequentemente investigações são conduzidas focalizando-se no baixo consumo energético, intenso treinamento físico, baixo percentual de gordura, alteração do perfil endócrino, ansiedade e estresse emocional (COMMITTEE ON SPORTS MEDICINE, 1989; WOLMAN, 1990; CLAESSENS et al, 1999; DEUTZ et al, 2000; ZETARUK, 2000).
Por isso, é importante conscientizar as adolescentes sobre hábitos alimentares saudáveis, evitando possíveis problemas como pouca concentração e baixa resistência imunológica e física (VITOLO, 2003). Desta forma, este estudo teve como principais objetivos avaliar a alimentação e a composição corporal de atletas adolescentes praticantes de Ginástica Aeróbica Esportiva e Ginástica Artística de um clube do município de São Paulo.
Metodologia
Trata-se de um estudo de caráter transversal, realizado em um clube localizado na zona oeste da cidade de São Paulo, durante o período de fevereiro a junho de 2010. Foram avaliadas 24 atletas do sexo feminino, voluntárias, das quais 19 eram ginastas integrantes da equipe de Ginástica Aeróbica Esportiva (GAE) e 5 da equipe de Ginástica Artística (GA). Os pais ou responsáveis pelas atletas que aceitaram participar da pesquisa assinaram um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.
A coleta de dados foi realizada por meio da aplicação de um questionário constituído por informações sobre dados pessoais, clínicos, antropométricos, histórico de atividade física, consumo alimentar e utilização de suplementos nutricionais.
Para a avaliação da composição corporal foram aferidos o peso (Balança digital Geom®), altura (fita métrica afixada em parede sem rodapé) e as dobras cutâneas de tríceps e subescapular (Adipômetro Clínico Sanny®).
A partir dos dados de peso e estatura calculou-se o Índice de Massa Corporal (IMC) que foi classificado pelas Curvas de Crescimento propostas pela Organização Mundial de Saúde (OMS) em 2007.
Para a análise do percentual de gordura corporal (%G), foram utilizadas as equações para cálculos específicos segundo sexo e raça, propostas por Slaughter et al (1988) e posterior classificação de Deurenberg et al (1990).
O consumo alimentar foi avaliado por meio da aplicação de um recordatório de 24 horas. Para cada tipo de alimento mencionado pelas atletas foram solicitadas informações adicionais sobre o tipo, o tamanho da porção, a quantidade consumida e os utensílios utilizados, sendo anotados em um formulário próprio.
As medidas utilizadas foram anotadas em medidas caseiras e, posteriormente, transformadas em gramas, utilizando-se a tabela elaborada por Pinheiro et al (2000). O valor calórico total da dieta e os macronutrientes foram calculados utilizando-se o software Avanutri® e avaliados segundo as recomendações da Sociedade Brasileira de Medicina do Esporte (SBME, 2009).
Os dados foram apresentados em medidas resumo (média e desvio padrão), e em tabelas de contingência (AGRESTI, 1990).
Resultados e discussão
Foram estudadas 24 atletas das modalidades de Ginástica Olímpica e Ginástica Aeróbica Esportiva de um clube da cidade de São Paulo. A idade média das participantes foi de 14 anos, sendo a idade mínima e máxima 11 e 19 anos, respectivamente.
Em relação ao estado nutricional constatou-se que 80,00% (n=4) das praticantes de GA e 73,70% (n=14) de GAE apresentaram eutrofia e 26,30% (n=5) atletas de GAE enquadraram-se na classificação de sobrepeso de acordo com os critérios descritos na metodologia do estudo. Apenas 1 (20,00%) ginasta da modalidade artística estava com o peso abaixo do recomendado (Tabela 1). A média do Índice de Massa Corporal (IMC) foi de 21,35 Kg/m² (DP = 2,38) entre as atletas de GAE e 17,22 Kg/m² na GA (DP = 1,61).
Tabela 1. Distribuição das ginastas segundo estado nutricional e modalidade, São Paulo, 2010
Estudo realizado por Viebig et al (2006) com ginastas rítmicas, cujo objetivo foi analisar o perfil nutricional das atletas, encontrou dados semelhantes aos do presente estudo. A maior parte das atletas (84,6%) avaliadas foi classificada como eutrófica.
Tabela 2. Distribuição das ginastas segundo porcentagem de gordura corporal e modalidade. São Paulo, 2010
Em relação à porcentagem de gordura corporal, verificou-se que a maior parte das ginastas foi categorizada como eutrófica, porém, 2 atletas apresentaram baixa porcentagem de gordura corporal e apenas 1 apresentou (5,30%) valor excessivo (Tabela 2). No estudo de Viebig et al (2006), observou-se que apenas 38,50% das atletas apresentaram porcentagem de gordura corporal adequada, pois as demais participantes tinham níveis baixos de tecido adiposo. Nota-se assim a importância de se realizar o acompanhamento nutricional dessas adolescentes, uma vez que as mesmas se submetem a treinos intensos e necessitam de uma composição corporal adequada para que não haja prejuízos à saúde.
Ressalta-se que diversos fatores devem ser considerados na avaliação da composição corporal, principalmente quando o grupo estudado está na fase da adolescência. Nesta fase, os critérios de avaliação são muito complexos devido aos diferentes estágios de maturação sexual, o que torna ainda mais complicada a utilização de referências que levam em consideração a variação individual (VIEBIG; POLPO; CORRÊA, 2006; NACIF; VIEBIG, 2007).
Quanto ao consumo alimentar, a porcentagem de adequação foi bastante baixa (Tabela 3). Em relação à energia, a maioria das atletas, tanto de GAE quanto de GA mostrou ingestão abaixo da recomendada, com valores de 94,70% e 80,00%, respectivamente. A única atleta de GAE que ultrapassou a recomendação energética corresponde àquela que utiliza suplemento alimentar para aumentar o aporte calórico da dieta.
Dentre todas as atletas estudadas, apenas uma delas apresentou adequação quanto ao consumo de carboidratos, enquanto que a maioria das ginastas teve o consumo desse macronutriente abaixo do recomendado. Em relação às proteínas, verificou-se consumo acima do preconizado na maioria das atletas.
Quanto ao consumo de lipídios, 73,70% das atletas de GAE tiveram ingestão abaixo do recomendado, enquanto que entre as ginastas de GA, 80,00% apresentaram consumo acima do recomendado.
Tabela 3. Distribuição percentual das ginastas segundo adequação do consumo alimentar e modalidade. São Paulo, 2010
Ribeiro e Soares (2002) ao avaliar o consumo alimentar de ginastas, também verificaram baixo aporte de energia e carboidratos. Sabe-se que a baixa ingestão de carboidratos associada ao reduzido consumo energético pode acarretar redução nos estoques de glicogênio muscular, resultando em estresse adicional ao organismo e prejuízos no desempenho das atletas.
Segundo Vilardi et al (2001), meninas que praticam esportes que exijam baixa porcentagem de tecido adiposo, como as ginastas, normalmente fazem restrições na dieta a fim de perder peso. Vários estudos apontam um baixo consumo energético frente às demandas necessárias. Além disso, há um desequilíbrio na ingestão de macronutrientes e ingestão precária de vitaminas e minerais na dieta de muitas ginastas. Uma explicação viável para tal fato, talvez seja a falta de orientação e supervisão nutricional, que incentiva o seguimento de informações de pessoas leigas, treinadores ou revistas não especializadas.
Quanto ao consumo de suplementos alimentares e medicações, pôde-se observar que apenas duas atletas referiram o consumo destes produtos.
Tabela 4. Distribuição das ginastas segundo consumo de suplementos alimentares e medicamentos. São Paulo, 2010Estudo de Júnior (2007), que avaliou a ingestão de suplementos em adolescentes praticantes de atividade física, observou que 80,00% dos adolescentes utilizavam suplementos para perda de peso ou ganho de massa muscular. Tal dado diverge de nosso estudo no qual a ingestão de suplementos tem como objetivo o aumento do consumo de fibras e energia.
Conclusão
No presente trabalho verificou-se que a maioria das atletas estudadas apresentou-se eutrófica e com percentual de gordura corporal adequado. No entanto, algumas atletas apresentaram composição corporal inadequada.
Também se pode observar que a maioria das atletas consumiram dietas com baixo valor calórico, aumentando os riscos para deficiências nutricionais.
Portanto, considera-se pertinente a realização de outros estudos em relação à avaliação do estado nutricional e consumo alimentar de atletas de Ginástica Olímpica e Ginástica Aeróbica Esportiva. É imprescindível também que o esporte esteja sempre aliado à nutrição equilibrada, garantindo efeitos positivos sobre a saúde, hábitos alimentares e desempenho esportivo desse público.
Referências
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