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Olhares sobre a estética masculina

Algunas miradas sobre la estética masculina

 

*Graduada em Educação Física Bacharelado

pela Universidade Estadual de Montes Claros – UNIMONTES

**Professor do Departamento de Educação Física e do Desporto

da Universidade Estadual de Montes claros – UNIMONTES

Laboratório do Exercício da Universidade Estadual

de Montes claros – UNIMONTES

Átila Regina de Souza*

Saulo Daniel Mendes Cunha**

Vinicius Dias Rodrigues**

viniciusdr26@hotmail.com

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          Em vários âmbitos como o religioso, o filosófico, o científico e até mesmo no âmbito da magia e no imaginário das pessoas, o corpo humano, desde tempos mais remotos, tem sido objeto de estudo e reflexão. As investigações sobre corpo atuam como objeto de pesquisa para melhor compreensão dos homens acerca desse assunto. A idéia de que a beleza no masculino se faz por trás de músculos bem definidos é antiga, podendo ser observada desde as estátuas dos heróis gregos e romanos e suas formas perfeitas, até se traduzir atualmente nas formas dos heróis do cinema, dos homens sarados expostos nas capas das revistas e até mesmo nos desenhos animados. Dessa forma, desde crianças, os garotos convivem com imagens de homens super-musculosos, passando pelos heróis da televisão, pelos soldadinhos de brinquedo, e crescem com a idéia fixa de que algum dia também irão ser assim. Quando adultos, em busca do desejo de possuir um corpo bonito e bem definido, eles invadem as academias e malham até a exaustão, interesse que muitas vezes ultrapassa o normal para se transformar em doença, como ocorre na vigorexia, na dismorfia muscular e nos distúrbios alimentares, que atingem também o sexo masculino. Dessa forma o objetivo desse trabalho foi realizar uma revisão bibliográfica para analisar a relação da estética corporal masculina no âmbito das academias de ginástica.

          Unitermos: Estética masculina. Corpo.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 16 - Nº 156 - Mayo de 2011. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    É relevante a importância dada à estética nos dias atuais. Para Novaes (2001), a beleza se tornou objeto de desejo e impulsiona o consumismo no mercado das necessidades do homem moderno. Eagleton (1993) considera a busca desenfreada pela beleza na pós-modernidade como um princípio orientador necessário à organização cultural da burguesia incipiente. Ressalta ainda que, além de guiar, a beleza age como um facilitador das relações humanas. De acordo com Adams (1977) citado por Saikali (2005) hoje, as pessoas julgadas como atraentes pelos modelos vigentes encontram maior facilidade para se sobressair na sociedade, em oposição às pessoas tidas como não-atraentes, que expostas à discriminação e a ambientes rejeitadores são desencorajadas a desenvolver habilidades e ascender socialmente.

    A extrema atenção dada à beleza nos dias de hoje, tornou a sociedade escrava de preocupações com medidas corporais, dietas drásticas, métodos de controle de peso não-saudáveis e compulsões alimentares. A grande exposição feita pela mídia de corpos perfeitos, esbeltos e “sarados”, como modelo de beleza a ser seguido, leva as pessoas a crerem que aquela é uma imagem fácil de ser conquistada e que para tal conquista vale a pena qualquer sacrifício, se o resultado de tudo for obter um abdômen bem definido, pernas grossas, glúteos avantajados e uma musculatura desenvolvida em membros superiores.

    Antes a grande preocupação com a imagem corporal era um problema que afetava em grande parte as mulheres, já hoje é possível perceber que os homens estão tão ou mais preocupados que elas no que diz respeito à estética corporal, mas essa preocupação ainda se esconde por trás de tabus como os que pregam que homens não devem se preocupar com a aparência. Em meio a essa obsessão pela beleza, Pope et al. (2000) consideram que nos dias atuais, mais do que nunca é possível perceber o grande número de homens insatisfeitos com a imagem corporal, passando pela mesma pressão à qual as mulheres são submetidas no que diz respeito a obter uma forma física impecável.

    Em todas as épocas a mídia e a sociedade ditaram os padrões de beleza a serem seguidos. Para o sexo masculino, o belo se traduz atualmente em corpos musculosos e malhados, como forma de afirmar poder e dominação e afirmar a masculinidade ameaçada pelas conquistas femininas na sociedade.

    Este estudo justifica-se pela grande importância dada à estética nos dias atuais, a influência exercida por ela sob a vida das pessoas se tornou tão significativa que hoje, para muitos indivíduos, possuir uma bela aparência se tornou mais importante do que possuir um bom caráter. Outra justificativa é o fato de que atualmente a estética não é mais uma preocupação apenas das mulheres, hoje em dia, um número sem precedentes de homens procuram cuidar da forma física e da imagem, na tentativa de fazer com que seus corpos se enquadrem ao que é moda para os corpos masculinos no momento: músculos cada vez mais definidos.

    Dessa forma o objetivo desse trabalho foi realizar uma revisão bibliográfica para analisar a relação da estética corporal masculina no âmbito das academias de ginástica.

Gênero masculino e imagem corporal

    Entende-se por imagem corporal, a figura que formamos em nossa mente do nosso próprio corpo, ou seja, é o modo pelo qual o corpo se nos apresenta (SCHILDER apud SAIKALI et al., 2005, p.1).

    Thompson (1996) citado por Saikali et al. (2005, p.1) afirma que o termo imagem corporal é baseado em três componentes:o perceptivo, que se refere à percepção da própria aparência física, relacionando-se ao peso e tamanho do corpo;o subjetivo, que diz respeito à satisfação, ao nível de percepção e a ansiedade associados à imagem corporal e o comportamental, que traduz as situações evitadas pelo indivíduo por experimentar algum tipo de incômodo relacionado à aparência.

    Como se pode perceber o termo imagem corporal vem sendo usado com cada vez mais freqüência tendo como foco de pesquisa o corpo humano. Tavares (2003) diz que a definição de imagem corporal não é apenas uma questão de linguagem, se levado em consideração a subjetividade de cada indivíduo no que diz respeito ao corpo e a imagem.

    Segundo Becker (1999), as pessoas aprendem a analisar seus corpos através da interação com o ambiente, sendo sua própria imagem desenvolvida e reavaliada durante toda a vida, mas atualmente o que se vê são as necessidades de ordem social mascarando as necessidades individuais. Vivemos na era das imagens e, dessa maneira, estamos conhecendo uma série de signos no que diz respeito a ser o corpo ideal. Nessa nova onda, o corpo é sujeitado a escravo, o corpo real é deixado de lado em prol do desejado e sonhado. Hoje, no âmbito da imagem corporal, a valorização visual se impõe de maneira decisiva (FERREIRA et al., 2005, p.170).

    A indústria corporal através da mídia encarrega-se de atiçar os desejos das pessoas, enaltecendo imagens, padronizando corpos. Corpos que se vêem fora dos padrões de beleza, sentem-se desvalorizados. O apelo dos meios de comunicação em mostrar corpos perfeitos, sujeita a sociedade a se aventurar em busca da forma física ideal (RUSSO, 2005, p.2). Hoje vivemos uma espécie de ditadura da beleza.

    Não somente a mídia pode ser a responsável por desencadear essa moda de padronização dos corpos. Vilaça et al. (2007, p.3) abordam que alguns professores de educação física quando indagados sobre qual a característica do corpo que estaria sendo mais valorizada atualmente, apontaram para a valorização da padronização corporal ao afirmarem que hoje as mulheres devem ser magras e os homens devem ser fortes. Os mesmos autores ressaltam ainda que outro professor afirmou que, falar hoje em praticar exercício para proporcionar saúde é apenas um disfarce para ir em busca da estética. Opiniões como a desses profissionais mostram que a sociedade também pode influenciar a moda da busca por corpos perfeitos.

    Ferreira et al. (2005, p.171) abordam que freqüentemente pensava-se que as mulheres estivessem muito mais insatisfeitas com sua imagem corporal que os homens, mas na verdade, é possível perceber que muitos homens encontram-se tão infelizes com relação a imagem corporal quanto as mulheres. Para Pope et al. (2000, p.13) a preocupação com a aparência no sexo masculino, se tornou uma crise disseminada entre os homens. O mesmo autor ressalta que eles quase nunca falam sobre tal preocupação, mantêm o problema em sigilo, pois na sociedade em que vivemos os homens foram ensinados a não se preocupar com a aparência, mas debaixo de uma expressão tranqüila é possível observar sinais dessa crise, da obsessão por um corpo forte e musculoso.

    Chaves e Ferreira (2007, p.3) citam um labirinto de espelhos como metáfora para a sociedade atual obcecada por imagens. Consideram ainda que o “ser forte” é a imagem perseguida dentro desse labirinto nos dias de hoje, em que os homens, hipnotizados pelo mercado da aparência, são tomados por desejos sociais muitas vezes inatingíveis e transportados para um mundo de sonhos em busca da imagem padrão.

    Pope et al. (2000, p.52) afirmam que obsessão alimenta o descontentamento,ou seja, quanto mais uma pessoa se preocupa com a sua imagem corporal, mais insatisfeita ela tende a se sentir com o que vê. Homens que se encontram insatisfeitos com seus corpos apresentam menor auto-estima do que aqueles que se encontram satisfeitos. Os mesmos autores relatam que estudos indicam que a relação de rejeição à imagem corporal e baixa auto-estima é mais forte em homens do que em mulheres. Ainda assim, a mídia e a sociedade tendem a anunciar que a auto-estima de um homem baseia-se principalmente em sua aparência. A idéia de imagem corporal passada para o sexo masculino atualmente é que os corpos que eles possuem traduzem quem eles são como homens. Quando não conseguem atingir os padrões musculosos e definidos, se vêem deprimidos e voltam sua ansiedade e humilhação para dentro.

    O desconforto com a própria imagem corporal pode ser observado nos vestiários masculinos, quando muitos homens se sentem incomodados quando têm que se despir na frente de outros indivíduos do mesmo sexo. Esse desconforto só não é observado nos homens mais velhos de 40, 50 ou 60 anos de idade. A justificativa para isso pode ser encontrada no fato de que quando esses homens mais velhos estavam crescendo, a boa forma física e a musculatura não eram o principal ideal daquelas pessoas. Além disso, naquele tempo, poucas imagens eram divulgadas como propagandas de que a auto-estima de um homem deveria estar ligada à sua aparência, dessa forma, os mais velhos talvez nunca tenham tido, quando jovens, essa obsessão por seus corpos e, conseqüentemente, hoje não se sentem envergonhados ao serem vistos se despindo por outros homens (POPE et al. 2000, p.44-45).

    Segundo Chaves e Ferreira (2007, p.3) muitos rapazes, na tentativa de fugir da aparência franzina e alcançar um corpo forte e musculoso, optam pelo uso de esteróides anabolizantes. As transformações advindas do uso de esteróides, não se traduzem apenas por transformações físicas, para os usuários de anabolizantes, essas mudanças transmitem a noção de renascimento, acabando com a idéia de exclusão e invisibilidade perante a sociedade e atraindo os olhares femininos. A nova imagem seduz, muitas vezes levando a uma admiração extrema. A imagem no espelho começa a satisfazer os interesses do sujeito e favorece o surgimento do narcisismo.

    Narciso, o mais belo dos mortais, insultava e aviltava os deuses, por sua beleza singular, por isso era merecedor de punição. Sua mãe Liríope, temendo pelo futuro do filho, vai ao encontro de Tierésias, o mais célebre dos adivinhos, para saber se Narciso viveria muitos anos. De acordo com a sentença do adivinho, Narciso viveria longos anos desde que não se visse. A sentença aguardava para ser cumprida, mas Narciso ao aproximar-se da fonte de Téspias para beber água, viu-se refletido nas águas da fonte. Sua imagem o capturou e encantado com sua beleza, apaixonou-se (BRANDÃO, 2005 apud CHAVES & FERREIRA, 2007, p.4).

    Chaves e Ferreira (2007, p.4) fazendo uma analogia entre a água em que Narciso se viu refletido e os espelhos, afirmam que os homens de hoje estão cada vez mais próximos desse mergulho. Segundo Brandão (2005) citado por Chaves e Ferreira (2007), Narciso já despertava preocupação, pois na cultura grega, a beleza demasiada levava o mortal para a hýbris (excesso), fazendo-o ultrapassar o métron (sua própria medida).

    Como já previa a cultura grega, os narcisos de hoje se perdem no desejo de obter aquela imagem perfeita ainda não revelada pelo espelho. Descomedidos, se deixam levar por essa fantasia, mergulham ao encontro de suas imagens e se distanciam de si. Essa imagem que os leva ao mergulho é a mesma que se perde em seus devaneios de corpo perfeito (CHAVES & FERREIRA, 2007, p.4).

    Em busca da estética corporal, o mercado da aparência do corpo masculino está em expansão. Hoje, os homens gastam bilhões em tratamentos cosméticos como implantes de cabelo, lipoaspiração, cirurgias plásticas, implantes de silicone, etc. Despendem tempo e dinheiro em academias de ginástica e aparelhos de musculação, investem na compra de revistas sobre saúde e exercícios, gastam em suplementos nutricionais que prometem queimar gordura e construir a musculatura, tudo isso para conseguir as formas musculosas e definidas expostas pela mídia e padronizadas para os corpos masculinos (POPE et al. 2000, p.53-54). Mas, quantos desses corpos sedutores, existem realmente longe da luz de ângulos corretos e dos programas de computador?

    O importante é que sejam esses corpos, reais ou não, concretos ou virtuais, o mercado da imagem é dominador, nos invade e nos torna prisioneiros daquilo que nós mesmos construímos (CHAVES & FERREIRA, 2007, p.3).

    Espelho, espelho meu, existe alguém mais forte do que eu? Chaves e Ferreira (2007, p.2-3) comparando a história de Narciso com o dia-a-dia dos homens atuais, afirmam que esta indagação profética é muitas vezes repetida pelos narcisos de hoje em seus templos de halteres, locais onde a beleza é perseguida sob o signo de força, de músculos. Guardiões da verdade, o espelho assume um papel que o aproxima do sagrado. Através de espelhos, os homens procuram enxergar-se, conhecer-se, ostentando o próprio corpo, já que é a imagem deste corpo que lhes dará visibilidade, distinção e onipotência na sociedade.

    Pope et al. (2000, p.30) na tentativa de responder sobre o porquê dessa obsessão masculina por músculos, relatam que nossos avôs não pareciam se preocupar se estavam musculosos antigamente e não freqüentavam academias para obter um corpo mais definido, razão para isso – eles não eram tão submetidos à exposição em massa de imagens de “supermachos”, ao contrário do que acontece atualmente.

    Stice (2002) citado por Saikali et al. (2005) explica tal atitude a partir do pressuposto de que as pessoas vivem hoje, um processo denominado modelagem, que se trata da situação em que o indivíduo observa os comportamentos dos outros e tende a imitá-los.

    Vários foram os artistas que, ao longo dos anos, tentaram representar a beleza inigualável de Adônis, semideus, máximo em beleza masculina na mitologia grega. O corpo dele pintado por um artista de séculos atrás, provavelmente não apresentará o mesmo porte físico se pintado por um artista atual. O Adônis mostrado por Ticiano, no século XVI, parece gordo se comparado com as imagens de corpos masculinos expostas pela mídia nos dias de hoje (POPE et al., 2000, p.23).

    Voltando a atenção para a televisão, nos anos 30, 40, 50, os homens mais masculinos de Hollywood (John Wayne, Clark Gable, Gregory Peck) pareciam magrelas se comparados com os modernos homens musculosos dos filmes de ação (Arnold Schwarzenegger, Sylvester Stallone, Jean-Claude van Dame). Atualmente os homens são sujeitados a muitas dessas imagens hercúleas, estando elas relacionadas ao sucesso social, financeiro, sexual (POPE et al., 2000, p.31). Ainda meninos, os homens são colocados a conviver com imagens de homens fortes, com corpos “sarados”, começando pelos heróis dos desenhos (Super-Homem, Batman), até chegar aos brinquedos como o soldado Falcon, os quais foram com o passar dos anos se tornando cada vez mais musculosos, da mesma maneira que a equivalente feminina boneca Barbie foi se tornando cada vez mais magrinha (POPE et al., 2000, p.63). Dessa forma, a pessoa já cresce com a idéia de um estereótipo de imagem a ser seguido.

    A preocupação masculina com a estética nos dias atuais é de grande relevância. Os homens cresceram tão acostumados com as imagens hercúleas expostas pela mídia, que não se submetem mais a questioná-las, simplesmente aceitam essas imagens como fiéis representações da beleza masculina, subestimando a sua auto-estima, e adotam atitudes para tornar seus corpos parecidos com o padrão (POPE et al. 2000, p.46). Muitas vezes, nessa tentativa, uma simples preocupação pode se transformar em obsessão levando o sujeito a um quadro patológico. É o que acontece, por exemplo, na dismorfia muscular, na vigorexia e nos distúrbios alimentares. Situações que comprometem toda a vida do indivíduo.

Dismorfia muscular

    A dismorfia muscular foi descrita e compreendida pela primeira vez em 1993 pelo psiquiatra Harrison Pope Jr. e sua equipe da Harvard Medical School, com o nome de anorexia reversa. No entanto, como essa patologia não se trata de um distúrbio alimentar e sim de um problema quanto à percepção da imagem corporal, o termo anorexia reversa foi mais tarde substituído por dismorfia muscular (FALCÃO, 2007, p.2-3).

    Conhecida também como bigorexia (uma derivação do verbo em inglês, Bigger, que quer dizer Grande), ou vigorexia cuja etiologia significa: vigor (força) + “rexia” (prefixo do grego órexis que quer dizer, apetite), ou seja, apetite de ficar forte (www.priberam.pt/dppo apud SOARES, 2007).

    A dismorfia muscular é denominada por muitos autores de Complexo de Adônis, mas segundo Pope et al. (2000, p.23-24), esses termos não são sinônimos, já que Complexo de Adônis não é um termo médico oficial, foi a denominação utilizada por eles para designar um conjunto de preocupações com a imagem corporal que aflige, ainda que silenciosamente, milhões de rapazes e homens em todo o mundo e muitas vezes pode ultrapassar o limite de uma insatisfação possível de controlar, para se transformar em um sério distúrbio psiquiátrico.

    De acordo com Falcão (2007, p.3) o termo vigorexia é em muitos países europeus, e em países com idiomas derivados do latim (Espanha, Portugal, Itália) sinônimos de dismorfia muscular, e nesse texto será utilizada como tal.

    Segundo Dias (2007), a vigorexia é a prática de exercícios de forma compulsiva e sem limites, em grandes volumes, desrespeitando-se os intervalos para descanso e conseqüente recuperação do organismo. Assunção (2002) afirma que a grande característica da dismorfia muscular é a preocupação de um indivíduo de que seu corpo seja fraco, quando na verdade é forte e musculoso. Esse sintoma está ainda atrelado a uma dieta rigorosa, rica em proteínas, sem contar os diversos suplementos alimentares à base de aminoácidos ou substâncias para otimizar o rendimento físico.

    Olhar-se compulsivamente no espelho e se ver franzino, faz com que o vigoréxico invista horas e horas em exercícios para aumentar a musculatura (DIAS, 2007). Muitas vezes, a prática de atividade física chega a ocupar 4 a 5 horas por dia e as atividades aeróbicas são evitadas para impedir a perda da massa muscular adquirida com longas sessões de musculação (ASSUNÇÃO, 2002). Segundo Dias (2007) as pessoas acometidas por esse tipo de distúrbio, se pesam várias vezes durante o dia e estão constantemente se comparando com outros companheiros de academia. A doença vai progredindo de tal forma, até chegar a um ponto em que o indivíduo se sinta frustrado, e assim, abandone suas atividades rotineiras para se isolar em uma academia.

    Para Ballone (2005) citado por Falcão (2007, p.5) esse problema tem início na adolescência, fase de transição e de muitas mudanças, tanto físicas, quanto psicológicas, o que pode levar o adolescente a se sentir insatisfeito com alguma parte de seu corpo. Essa insatisfação leva os jovens a se renderem aos ditames culturais e nessa fase, existe uma pressão para as garotas se manterem magras e para que os garotos fiquem fortes e musculosos. A importância da identificação da vigorexia precocemente tem como meta impedir que os adolescentes em busca dos resultados almejados, se comportem de maneira inadequada e façam uso de drogas como os anabolizantes.

    Dentre os portadores de vigorexia, podemos encontrar pessoas em busca da forma física perfeita, esportistas em busca dos melhores resultados, mas atualmente, tem-se visto bastante entre os vigoréxicos, pessoas de personalidade introvertida, cuja timidez e retraimento social, leva à busca do corpo perfeito como forma de compensação para o sentimento de inferioridade. Essas pessoas apresentam auto-estima baixa, dificuldades para integrar-se socialmente e podem rejeitar ou aceitar com dificuldade a própria imagem corporal. É um fenômeno parecido com o que ocorre na anorexia nervosa (DIAS, 2007).

    O fisiculturismo é um dos esportes mais afetados por esse tipo de transtorno, o que não quer dizer que todos os fisiculturistas possuam vigorexia. Os vigoréxicos praticam esporte, ginástica sem se importarem com condições climáticas, limites físicos e fisiológicos, inadequações circunstanciais e quando não podem realizar tais atividades se sentem culpados e incomodados. A dismorfia muscular é uma espécie de subdivisão de um quadro mais complexo conhecido como Transtorno Dismórfico Corporal, tido como uma preocupação com algum defeito na aparência física de uma pessoa com aparência física normal. A dismorfia muscular é, portanto, uma alteração do esquema corporal, específica da musculatura e da estética muscular (DIAS, 2007).

    Segundo Pope et al. (2000,p.302-303) os principais critérios diagnósticos para dismorfia muscular são: a preocupação com o fato de que o corpo não é magro e musculoso o bastante,leva o indivíduo a longas jornadas de levantamento de peso e a excessiva atenção com a dieta, para cumprir o esquema de exercícios, ele abandona atividades sociais, ocupacionais ou recreativas. As situações nas quais o corpo é exposto a outros, são evitadas ou enfrentadas com completo desconforto. O indivíduo continua a malhar, a fazer dieta, a utilizar substâncias ergogênicas, apesar de conhecer as conseqüências adversas. A insatisfação com a musculatura corporal se torna clinicamente significativa e leva a prejuízos nas áreas de atividade social, ocupacional e outras áreas importantes.

    De acordo com Assunção (2002) citado por Falcão (2007, p.4), as conseqüências da vigorexia são reações semelhantes às do estresse como: insônia, falta de apetite, irritabilidade, desinteresse sexual, fraqueza, cansaço constante, dificuldade de concentração, entre outras. Dias (2007) afirma que a dieta pobre em gorduras e rica em proteínas, sobrecarrega o fígado. Além disso, podem surgir problemas físicos como a desproporção displásica, também entre o corpo e a cabeça, problemas nas articulações devido ao excesso de peso, falta de agilidade e encurtamento de músculos e tendões. Na busca por “melhores resultados”, os vigoréxicos passam a fazer uso de esteróides e anabolizantes, o consumo dessas substâncias aumenta o risco de doenças cardiovasculares, lesões hepáticas, disfunções sexuais, diminuição do tamanho dos testículos e maior tendência ao desenvolvimento de câncer de próstata.

    Não há dúvida sobre a influência sociocultural no desenvolvimento da dismorfia muscular, mas parece que essa patologia está relacionada também a desequilíbrios de vários neurotransmissores do sistema nervoso central, mais precisamente da serotonina (DIAS, 2007).

    Não se pode afirmar com certeza qual o melhor tratamento para esse distúrbio, por se tratar de uma patologia recente, cujos estudos científicos ainda não foram publicados. Além disso, grande parte dos homens que apresentam os sintomas da dismorfia muscular não costuma procurar tratamento médico, situação parecida com os casos de anorexia nervosa. Até mesmo os homens acometidos pelos casos mais graves estão ocupados demais com seus exercícios e suas dietas para ir em busca de tratamento, dessa forma, na dismorfia muscular, o mais difícil é convencer o indivíduo a procurar ajuda de um profissional. Ainda assim, um dos tratamentos indicados é a terapia comportamental cognitiva, tratamento eficiente que ajuda os pacientes a mudarem sua visão distorcida da aparência, a resistirem à tentações como olhar-se constantemente no espelho e a pararem de evitar situações como eventos sociais. É recomendado ainda o uso de fármacos antidepressivos, eficazes no combate aos transtornos obssessivo-compulsivos (POPE et al., 2000, p.130).

    Para Dias (2007), os transtornos advindos da exacerbada preocupação com o corpo estão se convertendo em verdadeira epidemia. A vigorexia é um dos resultados de uma sociedade para a qual “uma imagem vale mais que mil palavras”. Desejar fervorosamente uma imagem perfeita não implica sofrer de uma doença mental, mas aumenta as chances de que esta apareça. Mesmo que existam hipóteses biológicas para estes transtornos, os fatores sócio-culturais e educativos têm grande influência em sua incidência, e para os homens portadores de dismorfia muscular, por mais treinamento que façam, por mais músculos que desenvolvam, eles sempre se acharão fracos, raquíticos e sem nenhum atrativo físico.

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EFDeportes.com, Revista Digital · Año 16 · N° 156 | Buenos Aires, Mayo de 2011  
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