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Considerações sobre a Educação Física escolar, 

o ato motor e a prática pedagógica na escola

Consideración sobre la Educación Física escolar, el acto motor y la práctica pedagógica en la escuela

 

Graduado em Educação Física pela Universidade Positivo

e pós-graduado em Psicomotricidade pelo Centro Universitário FAE

Trabalha atualmente como professor de Educação Física

com todas as séries de Ensino fundamental

e como pesquisador qualificado pelo CNPQ

Guilherme Valentim Mendes

gvm86ef@hotmail.com

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          Este trabalho consiste de análise bibliográfica a respeito de temas relativos ao desenvolvimento motor, a prática pedagógica e Educação Física Escolar. Para tanto, utilizou-se como referencias bibliográficas principais os livros: “Desenvolvimento Psicomotor e Aprendizagem” de Vitor da Fonseca, e “Educação Infantil: Desenvolvimento, currículo e organização escolar” de Teresa Lleixà Arribas. Para tais autores, o ato motor, a organização curricular bem estruturada e fatores internos como a socialização e o respeito à individualidade dos alunos são elementos essenciais para o aprimoramento de habilidades específicas e para o desenvolvimento educacional de alunos e professores.

          Unitermos: Desenvolvimento motor. Prática pedagógica. Educação Física Escolar.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 16 - Nº 156 - Mayo de 2011. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    A experiência motora amplia níveis de consciência intelectual e coletiva que integram programas educacionais de mediação e aprendizagem. Como sustenta Fonseca (pág. 40, 2008), o desenvolvimento da inteligência está inserido na contextualização social e histórico-cultural. Significa que as diversas interações e mediatizações as quais o indivíduo está inserido encerram um fim em seu aprimoramento pessoal. O que está fora se torna, por interação com os outros, incorporado.

    É inegável que a especificidade do trabalho motor com crianças envolve estratégia, planejamento, e maleabilidade. Há determinado direcionamento, levando em conta a estrutura de plano curricular, o que orienta o professor a adaptar as realidades alternativas para desenvolver um determinado tema. Compreende-se que a Psicomotricidade é uma ferramenta que auxilia o profissional da Educação a aprimorar seu trabalho.

    Compreender a prática pedagógica do professor de Educação Física é compreender basicamente a linha intencional da atuação psicomotora. Há particularidades, como as relações entre o biológico e o sociológico, a cultura e historicidade através do entendimento da relação corpo e mente, a função do movimento. O que presumidamente difere as disciplinas são os campos de atuação, sendo que é possível desenvolver um trabalho psicomotor específico para os diversos conteúdos programáticos da Educação Física Escolar.

    Partindo da premissa de que Psicomotricidade e Educação Física são disciplinas interligadas, e que a ideia de movimento encerra uma condição primordial de evolução no processo pedagógico das séries iniciais do Ensino Fundamental, busca-se compreender neste trabalho algumas considerações teóricas a partir do trabalho psicomotor e da prática pedagógica do professor de Educação Física.

Significação do ato motor: psicologia e formação

    Considera-se que o ato motor não haja involuntariamente em benefício do indivíduo. Para Wallon (1969), citado por Fonseca (pág. 41, 2008), a motricidade possui diferentes vertentes. A linguagem, o ato motor e o gesto não podem ser equacionados em aspectos exteriores, bem como não encontram necessidades ou motivações específicas de fins psíquicos que as justifiquem. A criança não pode encontrar o que não entende por si mesma. É preciso orientação e direcionamento correto das diversas atividades.

    Assim, compreende-se que o professor de Educação Física avalie o movimento como a relação social e biológica do ser humano com a intencionalidade psicológica e biofísica que compõem a estrutura do indivíduo. Torna-se imprescindível não somente a execução do ato motor, mas a compreensão da criança de que o movimento é a expansão de suas habilidades, de seu aprendizado, de seu sentido interno de valores e de criatividade e imaginação.

    A cultura do movimento idealiza a construção de socialização e autonomia das crianças. De acordo com Arribas (pág. 110, 2008), baseado em Ovide Decroly, argumenta que a atividade da escola infantil deveria preconizar a função da criança de exercer responsabilidades, utilizando ferramentas e técnicas do mundo adulto que as ajudassem a compreender mais significativamente a realidade a partir das diversas experiências e intercâmbios.

    Por sua vez, em relação ao parágrafo anterior, admite-se que o professor de Educação Física pode integrar a Psicomotricidade em sua prática pedagógica explorando o mundo físico dos objetos e a relação das crianças com o meio social a partir da observação direcionada, da intencionalidade psicológica, da criatividade e imaginação.

    O professor é responsável por planejar corretamente as atividades do plano curricular. No que trata de desenvolvimento motor, os conteúdos são construídos sistematicamente, visando atingir objetivos por etapas, sem que a criança perca o prazer de explorar o universo infantil. De acordo com Tani (1988) citado por Daolio (pág. 18, 2004), o aprimoramento de habilidades motoras básicas permitirá à criança a aquisição futura de funções motoras mais específicas e amplas que a “cultura do movimento” oferece, considerando que há fases independentes e específicas de aprendizado que devem ser respeitadas.

A prática pedagógica nas séries iniciais

    A prática pedagógica do professor de Educação Física implica na compreensão do esporte como elemento cultural mediativo no aprendizado do ser humano, bem como uma prática de origem sócio-cultural, com pretextos e abordagens teóricas a serem analisadas criticamente.

    Primeiramente compreende-se a Educação Física Escolar como um campo de atuação com objetivos e parâmetros educacionais. De acordo com Bracht (1999), a Educação Física precisa ser entendida como um campo de conhecimento das práticas corporais que se sustenta por ser uma prática de intervenção social, tendo seus conteúdos embasados na cultura do movimento humano, colaborando no processo de formação de sujeitos críticos, criativos e emancipados.

    Assim, relata-se que a Psicomotricidade exerce influência direta na forma como o professor de Educação Física organiza o conteúdo programático. Considerando que há particularidades do trabalho motor que priorizam destrezas específicas, o repertório de atividades psicomotoras complementa a socialização e identificação cultural do sujeito com a sociedade. Há uma relação Intrínseca que funde o mundo físico a fantasia. É possível e necessário articular tais elementos.

    Para complementar a influência do trabalho psicomotor, Fonseca (pág. 76, 2008), baseando-se em Piaget, sustenta que as mudanças decorrentes do contínuo trabalho motor resultam da ativação mental de funções assimilativas da criança, decorrentes do ambiente e dos estímulos aos quais se propõe. A criança estabelece uma relação com o mundo exterior através da circularidade entre as percepções e as ações e é o conjunto de adaptações que, juntamente com o desempenho motor, transforma a inteligência prática e sensório-motora em reflexiva e gnósica.

    Quando não há sentido em realizar algo de valor relacionado ao ato motor, não há sentido em planejar ou operar repetitivamente diferentes atividades. É preciso descobrir, de acordo com a individualidade de cada um, o que melhor encaixa-se no perfil das diferentes classes. O movimento pressupõe a existência de significado, de avaliação crítica de potenciais explorados e não-explorados, e somente uma vivência múltipla de abordagens motoras específicas pode bem preparar o indivíduo para o contato com o mundo e com as pessoas no geral.

O desenvolvimento motor, o planejamento e a função da escola

    O professor é o mediador que interfere nas relações da criança com o ambiente e as pessoas. Mas a Escola propriamente integrada e estruturada exerce papel proeminente na formação inicial da criança. Como argumenta González (pág. 175, 2007), a Escola, enquanto agente social, não interfere apenas na transmissão do saber científico, culturalmente organizado, mas influi na socialização e individualização da criança desenvolvendo as relações afetivas, habilidade para participar nas situações sociais (brincadeiras, trabalhos em grupo, etc.), as destrezas de comunicação, o papel sexual, as condutas pré-sociais e a própria identidade pessoal (autonomia).

    Assim, o desenvolvimento motor implica uma relativa prática pedagógica coerente não somente com os princípios escolares somente, mas com questões sociais diversas que complementam culturalmente o aprendizado da criança. Em referência ao parágrafo acima, não há nenhuma novidade no que diz respeito à socialização e à individualidade da criança. Como complementa Fonseca (pág. 34, 2008), o eu da criança é modelado pelo meio ambiente, ou seja, pela consciência coletiva. A infância prolongada permite que a consciência pessoal da criança seja moldada pelos mais velhos, pela instituição de uma sociedade humana mais segura e estável.

    Da mesma forma que a escola procura adaptar a realidade as necessidades individuais e sociais de seus alunos, deve-se compreender que há limitações que muitas vezes o mal planejamento do conteúdo atrapalha o rendimento das crianças. Como implica González (pág. 177, 2007), a relação que a criança estabelece com o meio não é algo passível; pelo contrário, baseia-se na transmissão de seu modo de agir e pensar, ou seja, sua própria individualidade diante do grupo no qual se envolve. Esse grupo também influencia na aquisição de uma série de atitudes.

    A socialização e a cultura procedentes do trabalho educacional são fenômenos que norteiam o trabalho de Educação Física Escolar e da Psicomotricidade. Sustenta-se que o professor, independentemente do planejamento e da organização curricular, exerce tais fenômenos em aula, bem como respeita a autonomia de seus alunos. Tal referência destaca Freire (pág. 59, 2008), ao incitar que o respeito à autonomia e à dignidade de cada um é um imperativo ético e não um favor que podemos conceder uns aos outros.

Considerações sobre as programações curriculares

    A prática pedagógica, independente da disciplina, necessita de excelente estrutura curricular, de forma a organizar adequadamente o currículo, bem como sugerir possibilidades de intervenção e flexibilidade no decorrer do trabalho. Arribas (pág. 30, 2004) aponta para alguns requisitos que uma boa programação deve cumprir:

  1. Previsão: para programar algo é preciso prever o que ocorrerá, aquilo que deseja fazer a partir de uma reflexão a priori sobre os processos postos em prática.

  2. Operacionalidade: a programação curricular não deve ser vista como um assunto administrativo a ser armazenado para atender as exigências burocráticas, mas sim como instrumento para ser utilizado em sala de aula.

  3. Flexibilidade: Fatores e circunstâncias diferentes podem forçar obrigatoriamente o professor a alterar seu planejamento, como questões de ambiente ou de alunos com dificuldades específicas.

  4. Objetividade: A programação deve ter uma abordagem clara e objetiva. Assim, há intenção real de planejamento e de destaque em circunstâncias especiais.

  5. Realismo: Considera o grupo de alunos a serem expostos aos projetos e diferentes vertentes de conteúdo. Não tornar o conteúdo abstrato ou inaplicável em aula.

    Considerando os aspectos acima citados, fica claro que uma programação estruturada e flexível facilita a prática pedagógica do professor. Trata de modelos de adaptação que, por sua vez, implicam uma educação democrática, flexível, preparada. Especificamente, o professor de Educação Física age como agente da prática epistemológica, evidenciando a cultura do movimento e a prática esportiva como elementos essenciais ao aprendizado e, em nível maior, da condição social humana de crianças e adolescentes.

Conclusão

    O complexo trabalho educacional exige preparação sólida, eficiente e flexível do profissional. No que trata de desenvolvimento motor, fica evidente a partir das questões evidenciadas a importância de organizar a programação do conteúdo visando particularidades específicas dos diferentes elementos, desde a cultura até a socialização.

    As séries iniciais exigem planejamentos específicos apontam para o diagnóstico da turma, os materiais e recursos necessários, as atividades complementares e critérios de avaliação que indicam as probabilidades de execução de projetos e atividades afim, tal é a importância da organização e da flexibilidade nos diferentes parâmetros.

    O professor de Educação Física, como já citado antes, atua como um agente do conhecimento, proporcionando através do movimento a ampliação do universo da criança, seja através da fantasia, da imaginação criadora, da curiosidade e dos elementos psicomotores que expandem pedagogicamente o fenômeno esporte na escola.

    O fundamental é que professores assumam postura crítica a respeito do próprio desenvolvimento e da observação no processo de aprendizagem dos educandos. Tal posicionamento decorre da prática pedagógica pautada em autonomia e conhecimento de si mesmo e do mundo, seja através do movimento, do esporte ou da aplicação específica do trabalho psicomotor.

Bibliografia

  • ARRIBAS, T. L. Educação Infantil: Desenvolvimento, currículo e organização escolar. 5 ed. Porto Alegre: Artmed, 2004.

  • BRACHT, V. Esporte na escola e esporte de rendimento. Revista Movimento, nº 12, v. IV, p. XIV-XXIV, 2000/2001.

  • DAOLIO, J. Educação Física e o Conceito de Cultura. Campinas: Autores Associados, 2004.

  • FONSECA, V. Desenvolvimento Psicomotor e Aprendizagem. Porto Alegre: Artmed, 2008.

  • FREIRE, P. Pedagogia da Autonomia. 37 ed. São Paulo: Paz e Terra, 2008.

  • GONZÁLEZ, E. Necessidades Específicas Educacionais: Intervenção psicoeducacional. Porto Alegre: Artmed, 2007.

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