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Correlação entre índice de massa corporal e indicadores antropométricos de distribuição de gordura corporal em idosas fisicamente ativas

Correlación entre el índice de masa corporal y los indicadores antropométricos
de distribución de grasa corporal en mujeres mayores físicamente activas
Correlation between body mass index and indicators anthropometric of distribution of fat body in elderly physically active

 

*Acadêmico de Fisioterapia, UEPA, Campus Santarém, PA

**Licenciado Pleno em Educação Física, UEPA, Campus Santarém, PA

***Pós-graduação em Fisiologia do Exercício, Faculdade de Anicuns, GO

Departamento de Morfologia e Ciências Fisiológicas, UEPA, Campus Santarém, PA

(Brasil)

Luiz Carlos Rabelo Vieira*

luizcrvieira@hotmail.com

Diego Sarmento de Sousa**

diego_ufpa@hotmail.com

M.Sc. Luiz Fernando Gouvêa e Silva***

lfgouvea@yahoo.com.br

 

 

 

 

Resumo

          O objetivo do estudo foi correlacionar índice de massa corporal (IMC), recíproco do índice ponderal (RIP), índice de relação cintura-quadril (IRCQ), circunferência da cintura (CC) e índice de conicidade (IC) de idosas fisicamente ativas. A amostra constou de 22 mulheres (65,95±4,4 anos de idade; 59,58±8,8 kg; 1,51±0,05 m), participantes do Projeto Agita Santarém (UEPA, Campus XII-Santarém). A coleta de dados ocorreu mediante a utilização dos protocolos avaliativos do IMC, RIP, IRCQ, CC e IC. Os resultados foram processados através de recursos da estatística descritiva, mediante utilização do programa Excel (Office 2007 para Windows). Aplicou-se o teste de Shapiro-Wilk para a normalidade dos dados. Posteriormente, foi utilizado o teste de correlação de Pearson, com p<0.05. O aplicativo utilizado foi o Bioestat® 5.0. Foram percebidas correlações do IMC com o RIP (r=-0,94; p<0.01), com a CC (r=0,87; p<0.01), com o IRCQ (r=0,51; p<0.01) e com o IC (r=0,50; p<0.05). Houve correlações do RIP com a CC (r=-0,77; p<0.01), com o IRCQ (r=-0,43; p<0.05), com o IC (r=-0,48; p<0.05). Além disso, a CC associou-se com o IRCQ (r=0,81; p<0.01), a CC com o IC (r=0,82; p<0.01) e o IRCQ com o IC (r=0,88; p<0.01). Conclui-se que o IMC apresentou as melhores correlações com o RIP e a CC, dentre os indicadores antropométricos de distribuição de gordura corporal analisados. Além disso, o IMC associou-se de modo interessante também com o IRCQ e o IC.

          Unitermos: Antropometria. Índice de Massa Corporal. Idosas.

 

Abstract

          The objective was to correlate the Body Mass Index (BMI), Reciprocal of Ponderal Index (RPI), Index Waist-Hip Ratio (IWHR), Waist Circumference (WC) and Conicity Index (CI) of elderly physically active. The study sample was consisted of 22 women (65,95±4,4 years old, 59,58±8,8 kg, 1,51±0,05 m), participants in Project Agita Santarém (UEPA, Santarém Campus). All signed a Term of free and informed consent for participation in research. The data collection occurred through the use of evaluative protocols of BMI, RPI, IWHR, WC and CI. The results were processed using descriptive statistics, by using the program Excel (Office 2007 for Windows). We applied the Shapiro-Wilk Test for Normality. Subsequently, we used the Pearson correlation Test, p <0.05. The application was used Bioestat® 5.0. Were perceived correlation between BMI and RPI (r=-0.94, p<0.01), with WC (r=0.87, p<0.01), with IWHR (r=0.51, p<0.01) and with CI (r=0.50, p<0.05). There were correlations of RIP with the WC (r=-0.77, p<0.01), with IWHR (r=-0.43, p<0.05), with CI (r=-0.48, p<0.05). In addition, WC was associated with IWHR (r=0.81, p<0.01), WC with CI (r=0.82, p<0.01) and IWHR with CI (r=0.88, p<0.01). We conclude that BMI had the best correlation with RPI and WC, among the anthropometric indicators of body fat distribution analyzed. Moreover, BMI was associated with an interesting way and also with the IWHR and CI.

          Keywords: Anthropometry. Body Mass Index. Elderly.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 16 - Nº 156 - Mayo de 2011. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    Com o envelhecimento, a idade passa a ser um fator de risco de aumento da prevalência de enfermidades. Nesse sentido, torna-se imprescindível um melhor conhecimento das doenças relacionadas à idade, ao estado nutricional, às modificações corporais entre outros fatores (NAJAS et al., 1994).

    Os dados antropométricos de populações, no âmbito da saúde pública, geram informações importantes quanto à identificação de grupos que necessitam de intervenção nutricional, na avaliação dos resultados de intervenções e como instrumento de vigilância nutricional (WHO, 1995).

    Dentre os indicadores antropométricos de identificação de indivíduos em risco nutricional, o índice de massa corporal (IMC) é um dos mais simples (DEURENBERG et al., 1989; ALLISON et al., 2002). Embora apresente boa correlação com a quantidade de gordura corporal determinada pela densitometria óssea (WOMERSLEY, 1977), bioimpedância elétrica (NAGAYA et al., 1999), dobras cutâneas (WOMERSLEY, 1997; MICOZZI; HARRIS, 1999), relação cintura/quadril (LERARIO et al., 2002) e circunferência da cintura (CABRERA, JACOB FILHO, 2001), a aplicação do IMC aos idosos ainda é bastante questionada, por apresentar várias limitações (CERVI; FRANCESCHINI; PRIORE, 2005).

    Dentre as limitações do IMC, podem ser citadas a baixa correlação com a estatura e com a massa livre de gordura, principalmente nos homens, e desconsidera a influência da proporcionalidade corporal (GARN; LEONARD; HAWTHORNE, 1986). Além do mais, não expressa a distribuição de gordura corporal andróide e ginecóide (MCLAREN, 1987), não percebe a influência da sarcopenia, que é a perda da massa muscular com aumento da adiposidade relacionada à idade (SEIDELL; HAUTVAST; DEURENBERG, 1989), desconsidera a distribuição centrípeta da gordura (WILLETT; DIETZ; COLDITZ, 1999) e não distingui adequadamente massa gorda e massa magra (LANDI et al., 2000).

    De acordo com as limitações reportadas, o IMC não pode ser utilizado como única estimativa de obesidade ou massa corporal gorda em idosos (CERVI; FRANCESCHINI; PRIORE, 2005). Por conta disso, outros parâmetros relacionados ao acúmulo de gordura abdominal são reportados na literatura, como a circunferência da cintura (CC), o índice de relação cintura-quadril (IRCQ) e o índice de conicidade (IC).

    A CC é o método mais simples para medir e interpretar a concentração de gordura na região central do corpo. Além disso, apresenta boa associação com a mortalidade (WOO et al., 2002).

    O IRCQ indica a quantidade de gordura no dorso e reflete a proporção da obesidade na parte superior do corpo observada em relação à parte inferior (LOHMAN; ROCHE; MARTORELL, 1988). Para Folsom et al. (2000) e Cabrera et al. (2005), o IRCQ é o melhor preditor de mortalidade, principalmente entre as mulheres.

    O IC foi proposto no início da década de 90 para avaliação da obesidade e distribuição da gordura corporal. Este índice é baseado no conceito de que pessoas que acumulam gordura ao redor da região central do tronco têm a forma corporal parecida com dois cones com uma base comum, dispostos um sobre o outro. Já aquelas com menor quantidade de gordura na região central teriam a aparência de um cilindro (VALDEZ, 1991). Conforme Pitanga e Lessa (2004), o IC deve ser comparado aos demais indicadores antropométricos de obesidade e pode vir a ser utilizado para discriminar risco coronariano elevado.

    Outra medida pouco reportada na literatura é o recíproco do índice ponderal (RIP) ou índice de Sheldon (SMALLEY et al., 1990). De acordo com o modelo alométrico, esta relação possui uma melhor fundamentação matemática em comparação ao IMC, uma vez que o peso é uma variável de dimensão cúbica e a estatura uma variável de dimensão linear (ROSS et al., 1980).

    De acordo com o exposto, o objetivo do manuscrito foi correlacionar IMC, RIP, IRCQ, CC e IC de idosas fisicamente ativas participantes do Projeto Agita Santarém.

Metodologia

Amostra

    A amostra da pesquisa constou de 22 mulheres (65,95±4,4 anos de idade; 59,58±8,8 kg; 1,51±0,05 m). O estudo atendeu às normas regulamentadas para o desenvolvimento de pesquisa com seres humanos, conforme a Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde. Todas as participantes assinaram um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido para a participação na pesquisa.

Coleta de dados

    Os testes foram realizados pelo mesmo avaliador e ocorreram mediante a utilização dos seguintes protocolos avaliativos.

Índice de Massa Corporal - IMC (WHO, 1997)

    O peso corporal foi medido com as voluntárias utilizando vestimenta mínima, posicionadas no centro da plataforma, eretas e com o olhar num ponto fixo à sua frente em cima da balança (WELMY®). Já a estatura foi medida com o estadiômetro da própria balança, estando as voluntárias em inspiração máxima. A balança possuía capacidade para 150 kg e precisão de 100 g para o peso corporal e de centrímetros para a estatura.

    O IMC foi calculado através da equação abaixo:

IMC = Peso (kg) / Estatura (m)2

    Foram utilizados, como critério de diagnóstico do estado nutricional, os pontos de corte propostos pela Organização Mundial da Saúde (WHO, 1997).

Recíproco do Índice Ponderal - RIP (SMALLEY et al., 1990)

    O RIP foi calculado pela equação abaixo:

IMC = Estatura (cm) / Peso (kg)1/3

Circunferência da Cintura - CC (LOHMAN; ROCHE; MARTORELL, 1988)

    A CC foi medida com a voluntária em posição ortostática, com abdômen relaxado, no ponto de menor circunferência entre o tórax e o quadril. Para tanto, foi utilizada uma fita métrica metálica inelástica (SANNY®), com precisão em centímetros.

Índice de Relação Cintura-Quadril - IRCQ (LOHMAN; ROCHE; MARTORELL, 1988)

    O IRCQ foi calculado através da razão entre a circunferência da cintura e do quadril, conforme a equação a seguir:

IRCQ = Circunferência da Cintura (cm) / Circunferência do Quadril (cm)

Índice de Conicidade - IC (VALDEZ et al., 1993)

    O IC foi calculado através da equação abaixo:

IC = Circunferência da Cintura (m) / 0,109 x [Peso (kg) / Estatura (m)]1/3

Análise estatística

    Primeiramente, os dados foram tratados através de recursos da estatística descritiva, mediante utilização do programa Excel (Microsoft para Windows – 2007). Aplicou-se o teste de Shapiro-Wilk para a normalidade dos dados. Como as variáveis apresentaram distribuição normal, foi utilizado o teste de correlação de Pearson, com p<0.05. O aplicativo utilizado foi o Bioestat® 5.0.

Resultados e discussão

    Nota-se, conforme a tabela 1, que a amostra da pesquisa apresentou peso corporal médio de 59,58±8,81 kg e estatura de 1,51±0,05 m.

Tabela 1. Características antropométricas da amostra da pesquisa (n=22)

    Quanto às variáveis antropométricas, foram encontrados valores médios de 25,99±2,91 kg/m2 para o IMC, 38,84±1,44 cm/kg1/3 para o RIP, 86,50±8,44 cm da CC, 0,85±0,05 para o IRCQ e 1,27±0,06 para o IC.

    Em estudo similar, Sampaio e Figueiredo (2005), ao investigarem 222 idosas (69,90±6,30 anos), encontraram resultados de IMC de 27,30±4,80 kg/m2, CC de 89,50±10,80 cm e IRCQ de 0,92±0,08. Nota-se que os valores médios encontrados pelos autores foram maiores que os encontrados na corrente pesquisa, possivelmente pela faixa etária maior e pelo menor nível de atividade física, pois foram selecionadas em um ambulatório, enquanto que a da presente pesquisa faz parte de um grupo de idosas que praticam regularmente exercícios físicos.

    A tabela 2 apresenta os resultados absolutos e relativos encontrados das idosas com valores de CC e IRCQ superiores ao recomendado, segundo o estado nutricional determinado pelo IMC (WHO, 1997).

Tabela 2. Freqüências dos sujeitos com valores de CC e IRCQ

superiores ao recomendado segundo estado nutricional

    De acordo com a tabela acima, percebe-se que 22,7% das idosas eutróficas apresentaram acúmulo de gordura abdominal segundo a CC, enquanto apenas uma idosa (4,5%) apresentou a mesma classificação conforme o IRCQ. Quanto às mulheres com sobrepeso, 54,5% e 45,5% apresentaram acúmulo central de gordura, conforme as classificações da CC e do IRCQ, respectivamente. Notou-se também que apenas 4,5% das mulheres obesas valores de CC e IRCQ superiores ao recomendado.

    Os resultados observados na presente pesquisa não foram similares aos achados de Sampaio e Figueiredo (2005), pois as autoras perceberam que quase metade (49,3%) das mulheres idosas eutróficas analisadas apresentaram acúmulo de gordura abdominal segundo a CC, já na presente pesquisa a maior porcentagem foi observada nas idosas com sobrepeso, tanto para o CC como para o IRCQ. Outra observação foi que as mulheres idosas (25,0%), com diagnóstico de magreza, já apresentavam acúmulo de gordura abdominal segundo a IRCQ, o que não foi notado neste estudo.

    Diante dos dados apontados, julga-se necessária a combinação do IMC com outras variáveis antropométricas. Isto é corroborado por Rezende et al. (2010), os quais consideram importante, na avaliação do estado nutricional de homens adultos, a associação desse índice com a CC, já que a obesidade abdominal também é constatada nos indivíduos que não são diagnosticados como obesos pelo IMC.

Tabela 3. Resultado do r de Pearson entre as variáveis antropométricas

    Na tabela 3 observa-se a correlação do IMC com o RIP (r=-0,94; p<0.01), com a CC (r=0,87; p<0.01), com o IRCQ (r=0,51; p<0.01) e com o IC (r=0,50; p<0.05). Houve associação do RIP com a CC (r=-0,77; p<0.01), com o IRCQ (r=-0,43; p<0.05) e com o IC (r=-0,48; p<0.05). Verificou-se também entre a CC com o IRCQ (r=0,81; p<0.01) e com o IC (r=0,82; p<0.01) e entre o IRCQ com o IC (r=0,88; p<0.01).

    O IMC apresentou correlação positiva e alta apenas com a CC, positiva e média com o IRCQ e o IC. Associação negativa e alta ocorreu entre o IMC e o RIP. O RIP apresentou correlação negativa e média-alta com CC e média negativa com IRCQ e IC. Além disso, ocorreram correlações de forma positiva e alta entre a CC e IRCQ, CC e IC e entre IRCQ e IC.

    Os resultados da presente pesquisa são, em parte, semelhantes aos encontrados por Goodman-Gruen e Barrett-Connor (1996), onde notaram forte correlação entre o IMC e a CC, tanto em homens (r=0,86; p=0.0001), quanto em mulheres (r=0,81; p=0.0001). Já entre o IMC e o IRCQ observaram correlação mais fraca (r=0,22; p=0.001) nas mulheres idosas.

    Os resultados deste manuscrito também corroboram com os resultados observados por Sampaio e Figueiredo (2005), onde demonstraram forte correlação entre o IMC e a CC (r=0,86, p<0.001), e com o estudo de Santos e Sichieri (2005) que também notaram forte correlação entre o IMC e a CC (r=0,80; p <0.001) em mulheres entre 70 e 79,9 anos de idade. Contudo, Sampaio e Figueiredo (2005) não observaram correlação entre o IMC e o IRCQ (r=0,34), resultado diferente ao encontrado neste estudo.

    Em mulheres de 60 a 80 anos, Gomes et al. (2006) perceberam bons valores de correlação entre o IMC e a CC, tanto na análise da gordura corporal total (IMC, r=0,73; p<0.01 / CC, r=0,61; p<0.05) como da gordura de tronco (IMC, r=0,71; p<0.01 / CC, r=0,64; p<0.05) avaliada através do exame de Absortometria e Raio-X de Dupla Energia (DEXA). Conforme os achados, os autores recomendam a utilização do IMC, da CC e do IC na identificação de risco à saúde em mulheres idosas. Isto é reforçado nos achados de Sarno e Monteiro (2007), os quais perceberam associação positiva entre o IMC e o ponto médio entre as últimas costelas e a crista ilíaca com a ocorrência de hipertensão arterial.

    Em alguns estudos também é discutida a eficiência dos indicadores antropométricos em predizer resistência à insulina (RI), em virtude da economia e acessibilidade. Com isso, Vasques et al. (2010), após revisão bibliográfica, notaram que a CC apresenta melhor capacidade preditiva para RI, com resultados mais consistentes. Já o IC, embora apresente resultados positivos, necessita ser consolidado com mais estudos como preditor de RI. Por outro lado, resultados mais inconsistentes foram notados quando são utilizados o IMC e o IRCQ.

    Importante frisar que, em relação à aferição da CC, são encontradas distintas descrições na literatura especializada. Com essa ausência de consenso entre os pesquisadores e protocolos publicados, criam-se conflitos no momento da tomada da medida (VASQUES et al., 2010). De fato, Wang et al. (2003), ao realizarem comparações entre as medidas de CC tomadas em quatro locais (menor cintura; imediatamente abaixo da última costela; ponto médio entre a crista ilíaca e a última costela e imediatamente acima da crista ilíaca) em 111 sujeitos, notaram que em ambos os sexos, foram encontradas diferenças, mostrando que os quatro locais não são idênticos.

Conclusão

    Com base nos achados da presente pesquisa, conclui-se que o IMC apresentou as melhores correlações com o RIP e a CC, dentre os indicadores antropométricos de distribuição de gordura corporal analisados. Além disso, o IMC associou-se de modo interessante também com o IRCQ e o IC.

Referências

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