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Influência da maturação e flexibilidade dos flexores do quadril sobre a

força/resistência abdominal de crianças e adolescentes fisicamente ativos

La influencia de la maduración y la flexibilidad de los músculos flexores de la 

cadera en la fuerza resistencia abdominal de niños y adolescentes físicamente activos

 

*Discente do Programa de Pós-graduação em Treinamento Desportivo

e Fisiologia do Exercício, Universidade Castelo Branco (UCB)

Licenciatura plena em Educação Física pelo Centro Universitário

da Cidade (UniverCidade), Rio de Janeiro, Rio de Janeiro

**Docente do Centro Universitário da Cidade (UniverCidade)

e da Universidade Castelo Branco (UCB)

Doutorado em Epidemiologia pelo Instituto de Medicina Social

Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Rio de Janeiro

Fabíola Conceição Martins*

Geraldo de Albuquerque Maranhão Neto**

billasynth10@hotmail.com

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          O estudo teve como objetivo verificar a influência da maturação sexual, flexibilidade dos flexores de quadril sobre a força/resistência abdominal de crianças e adolescentes fisicamente ativos. A amostra foi composta de 138 crianças e adolescentes com idades entre 8 e 17 anos. Foram empregados o teste de maturação sexual de Tanner, o Flexiteste e teste de abdominal em 1 minuto. Os resultados da correlação apontaram influência significativa da menor flexibilidade dos flexores de quadril sobre o aumento do número de repetições de abdominais em 1 minuto em meninos púberes.

          Unitermos: Maturação sexual. Flexibilidade. Força/resistência abdominal.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 16 - Nº 156 - Mayo de 2011. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    Nos últimos anos, profissionais de Educação Física têm recorrido à avaliação da Aptidão Física Relacionada à Saúde (AFRS) em crianças e adolescentes. O nível de AFRS é analisado através de dados normativos que estabelecem pontos de cortes em indicadores da de aptidão cardiorrespiratória, flexibilidade, força e resistência muscular (FARINATTI; FERREIRA, 2006). Melhores níveis de aptidão musculoesquelética (força e flexibilidade) previnem problemas posturais, articulares, minimizam o risco de lesões e otimizam a autonomia do indivíduo para atividades rotineiras (ibidem).

    O Teste de Abdominal em 1 Minuto tem sido amplamente utilizado no âmbito escolar (MORROW JUNIOR. et al., 2003) a fim de avaliar a aptidão muscular dos músculos abdominais de crianças e adolescentes (Bergmann et al., 2005; Borges, 2008; BRAGA et al., 2011; Guedes et al. 2002).

    Entretanto, são vários os indícios de que o desempenho no teste abdominal pode não estar associado somente à força/resistência local. Por exemplo, fatores como a maturação sexual, o nível de atividade física e principalmente o tipo de prática podem interferir no resultado (Guedes; Guedes, 2002; Malina, Bouchard; Bar-Or, 2004).

    Outra consideração importante é que como o teste exige o movimento de sentar, partindo da posição em decúbito dorsal, este poderia ser consideravelmente influenciado pela resistência e flexibilidade de flexores do quadril (iliopsoas) (Kendall; McCreary; Provance, 2007).

Objetivo

    Isto posto, o objetivo do presente estudo foi: verificar a influência da maturação sexual, flexibilidade dos flexores de quadril sobre a força/resistência abdominal de crianças e adolescentes fisicamente ativos.

Material e métodos

    O estudo se caracteriza como de temporalidade transversal por avaliar variáveis numa única vez; do tipo relacional devido à busca de relações entre as variáveis força/resistência e flexibilidade por estágio de maturação sexual (MARCONI; LAKATOS, 2007).

    Participaram 82 meninas e 56 meninos de 8 a 17 anos (12,96 ± 3,51), perfazendo um total de 138 alunos regularmente matriculados no Colégio Cidade, instituição particular de ensino localizada no Rio de Janeiro. Previamente à coleta de dados, foi enviado aos pais ou responsáveis um termo de consentimento livre e esclarecido aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da Universidade Castelo Branco, parecer nº 30/2006, conforme definido na Resolução 196/96, com a descrição da finalidade da pesquisa e do procedimento dos testes que assegurava a participação dos sujeitos e desistência a qualquer momento.

    Atentando aos objetivos da pesquisa, foram selecionados três instrumentos para obtenção dos dados referentes às variáveis analisadas.

  1. Teste de Maturação Sexual proposto por Tanner (1962) a fim de determinar a idade biológica (nível de maturação) pela identificação do desenvolvimento de características sexuais secundárias através de um mapa contendo ilustrações correspondentes aos estágios maturacionais distribuídos numericamente em níveis de 1 a 5.

  2. Teste de Abdominal em 1 Minuto (GAYA; SILVA, 2007), que avalia a força/resistência abdominal mediante a quantificação do número de repetições do movimento de flexão de tronco realizados em 1 minuto compreendido entre 6 graus de força/resistência: muito fraco, fraco, razoável, bom, muito bom e excelência.

  3. Teste de flexibilidade do movimento de flexão de quadril através do Flexiteste de 20 movimentos proposto por Pável e Araújo (1980) que constituem escores de 0 a 4 correspondentes ao grau de amplitude máxima articular do movimento avaliado.

    Os dados foram coletados entre outubro de 2008 e março de 2009 e a descrição do protocolo de cada teste empregado se baseia nas informações dos respectivos autores, a seguir.

    O Teste de Maturação Sexual foi realizado com base nos estágios de classificação de Tanner (1962) em escalas de 1 a 5. Foi enviado aos pais ou responsáveis um folheto contendo ilustrações dos estágios maturacionais para posterior identificação do nível em que os avaliados se encontram, informações sobre o procedimento desta avaliação e os objetivos da pesquisa. A determinação do nível de maturação se deu com a avaliação do desenvolvimento dos seguintes indicadores: pêlos pubianos e genitais, para os meninos e; pêlos pubianos e mamas, para as meninas. Em seguida, classificaram-se os grupos em: Grupo 1 (G1) - pré-púbere; Grupo 2 (G2) - púbere e; Grupo 3 (G3) - pós-púbere.

    O Flexiteste de 20 movimentos consiste em avaliar o grau de amplitude máxima articular passivamente no hemicorpo direito do avaliado. Cada movimento deve ser executado sem aquecimento prévio e de forma lenta a partir da posição zero, conforme ilustrado no mapa de avaliação, até o ponto de aparecimento de dor ou grande restrição mecânica. Posteriormente, a amplitude alcançada pelo avaliado é comparada ao mapa que ilustra os graus de flexibilidade que variam de 0 (muito pequeno) a 4 (muito grande). Por não existirem valores intermediários, é dado o menor valor quando a amplitude do avaliado se encontra entre duas graduações.

    Ao realizar o Teste de Abdominal em 1 Minuto (GAYA; SILVA, 2007), inicialmente o avaliado deve permanecer em decúbito dorsal com joelhos flexionados a 90º, braços cruzados sobre o tórax e pés fixos ao solo com auxílio das mãos do avaliador. Dado o sinal, executam-se os movimentos de flexão do tronco até que os cotovelos toquem nas coxas e retornando à posição inicial, não sendo necessário contato com a cabeça no colchonete. O avaliado deve realizar o maior número de repetições e o resultado, a partir da contagem em voz alta pelo avaliador, é expresso pelo número de movimentos completos realizados em 1 minuto, sendo em seguida comparado a uma tabela contendo valores de referência para ambos os sexos de 7 a 17 anos.

    Segundo o protocolo da Fitnessgram (WELK; MEREDITH, 2008), aconselha-se o uso de uma cadência de até 3 segundos para a execução do movimento completo. Assim, minimizam-se as chances de produção de movimentos bruscos ou balísticos, levando à fadiga precoce da musculatura abdominal e à utilização prevalecente dos músculos flexores do quadril. Isso ainda descaracterizaria o teste por não objetivar a mensuração de potência muscular e a produção de força no menor espaço de tempo possível (BARBANTI, 1979). Ainda, Welk e Meredith (2008) o uso da cadência de 3 segundos facilita a concentração nos movimentos realizados e diminui a competitividade entre os avaliados.

    Quanto aos critérios de inclusão, foram aceitos para fins de investigação apenas crianças e adolescentes ativos fisicamente. O nível de atividade física (NAF) foi verificado mediante as recomendações para crianças e adolescentes do U.S. Department of Health and Human Services e U.S. Department of Agriculture (2005) ao estabelecerem a prática de atividade física com, no mínimo, 60 minutos de duração na maioria dos dias da semana ou, de preferência, diariamente para considerá-los ativos.

    A estatística descritiva foi empregada para caracterização da amostra e quantificação dos resultados através de valores de freqüência absoluta, tendência central e dispersão.

    Para o agrupamento de dados, os critérios muito fraco, fraco, razoável, bom, muito bom e excelência, referentes ao Teste de Abdominal em 1 Minuto foram classificados em 5, 6, 7, 8, 9 e 10, respectivamente. Deste modo, foi dado tratamento estatístico mediante o programa SPSS for Windows 15.0, através do qual foram calculados os coeficientes de correlação (r) e determinação de Spearman (r2) para verificar a influência do grau de flexibilidade dos flexores do quadril (FLQ) sobre o grau apresentado no Teste de Abdominal em 1 Minuto.

Resultados e discussão

    A tabela 1 demonstra os valores de freqüência, média e desvio padrão da idade cronológica em função do nível de maturação por sexo. Entre o grupo pré-púbere, as idades cronológicas eram de 8 e 9 anos em ambos os sexos; entre o pós-púbere, de 15 a 17 anos entre as meninas e de 16 e 17 anos entre os meninos; entre o grupo púbere, as idades compreenderam intervalos maiores e com diferenças entre os sexos, variando de 10 a 16 anos entre as meninas e de 12 a 17 anos entre os meninos.

Tabela 1. Valores de freqüência absoluta, média e desvio padrão da idade por sexo e grupo maturacional

    Segundo a literatura, é possível encontrar diferentes estágios de maturação entre indivíduos de mesma idade cronológica. O fato pode estar associado à influência de fatores biológicos como sexo e hereditariedade, de fatores ambientais como o nível sócio-econômico e o tipo de prática de atividade física, ou ainda pela interação destes fatores (Guedes; Guedes, 2002; Malina, Bouchard; Bar-Or, 2004, Weimann et al., 1999).

    Na tabela 1 é possível constatar maior variabilidade de faixa etária no grupo púbere, corroborando com Gallahue e Ozmun (2003) e Guedes e Guedes (1997) ao afirmarem que a fase púbere pode dar início dois anos antes nas meninas do que nos meninos por influência da hereditariedade.

    Conforme a tabela 2, os valores de correlação de Spearman (rs) (p ≤ 0,02) entre o teste de força/resistência abdominal e a flexibilidade de FLQ se revelaram negativos em meninos e meninas pós-púberes (G3), mas sem significância estatística; e em meninos púberes (G2) com relevância estatística (rs = -0,56; P=0,004). Assim, os coeficientes negativos sugerem que menor flexibilidade de FLQ reflete no aumento do número de repetições de abdominais por não resistirem à força da gravidade e de tração dos flexores do quadril.

    Já entre as meninas pré-púberes (rs = 0,49; P=0,02), maiores níveis de flexibilidade de FLQ acompanhou o aumento do número de abdominais, sugerindo ser o movimento de flexão não sofrer grande influência dos flexores do quadril.

Tabela 2: Valores dos coeficientes de correlação (r) e de determinação de Spearman (r2) entre o teste de 

força/resistência abdominal e de flexibilidade do movimento de flexão do quadril por sexo e grupo maturacional.

    Em relação ao coeficiente negativo do grupo de meninos púberes (r= -0,56), o grau de flexibilidade é semelhante até os 6 ou 7 anos de idade, sendo os indivíduos do sexo feminino a partir desta faixa etária mais flexíveis que do sexo masculino em função da atividade hormonal. Entre os meninos a atividade hormonal acarreta maior aumento da força muscular em comparação às meninas (ALTER, 2001).

    Ademais, o movimento de levantar e sentar do teste de força/resistência abdominal empregado é feito principalmente pela contração do reto abdominal e dos oblíquos externos durante os primeiros graus de flexão de tronco e realizado posteriormente pela ação dos flexores do quadril (HAMIL; KNUTZEN, 1999; KENDALL; McCREARY; PROVANCE, 2007; WELK; MEREDITH, 2008). Isso ocorre durante os exercícios de abdominais feitos com as pernas fletidas ou estendidas quando os pés estão presos ou fixos, aumentando a tração dos FLQ no sentido da anteversão pélvica (lordose lombar). A tração é aumentada se os músculos abdominais forem fracos, sendo o movimento de levantar e sentar realizado predominantemente pelos FLQ (ibidem).

    Quando o eixo do movimento ou o centro de gravidade se encontra na articulação do quadril, o peso da parte superior do corpo aumenta em relação ao peso dos membros inferiores, causando “um deslocamento do fêmur na direção da coluna e não, da coluna em direção ao fêmur, como deveria, fazendo com que os pés percam contato com o solo” (CAMPOS, 2006, p. 95). E isso passa a não ser detectado quando os pés se encontram presos ou fixos.

    Ainda no que diz respeito à execução da flexão de tronco no Teste de Abdominal em 1 Minuto, o movimento deve respeitar os limites máximos permitidos pela coluna, atentando para que não ocorra a hiperextensão lombar e a flexão do quadril. Assim, a coluna lombar não deve perder contato com o solo, pois “o eixo do movimento sai da coluna e passa para a articulação do quadril, favorecendo a ação isotônica do iliopsoas e reto femural” (ibidem).

    Em relação à posição dos braços, o autor ainda preconiza que estes devem estar cruzados sobre o tórax, conforme o procedimento do Teste de Abdominal em 1 Minuto. Desta forma, o peso dos braços está mais próximo do eixo do movimento, ou seja, próxima da articulação onde a gravidade deve exercer força para que o movimento de flexão de tronco seja realizado predominantemente pelos músculos abdominais. Com as mãos atrás da cabeça, o centro de gravidade se desloca em direção à parte superior do corpo, dificultando o movimento inicial de levantamento de tronco e sobrecarregando a coluna torácica pela necessidade de aumento da curvatura cifótica para iniciar o movimento.

Conclusões

    Com base nos dados apresentados, a maturação e o sexo se mostraram como fatores que influenciaram o resultado do teste de força/resistência abdominal e de flexibilidade do movimento de FLQ nesta amostra.

    O grau de retesamento dos flexores do quadril pode influenciar a execução de abdominais desde o início do movimento ou ao entrar em fadiga os músculos abdominais. Logo, isso refletiu o elevado número de repetições no Teste de Abdominal em 1 Minuto entre os meninos púberes, que apresentaram menores níveis de flexibilidade de FLQ, corroborando sua influência sobre o resultado do teste de força/resistência abdominal.

    Sendo a amostra do estudo fisicamente ativa, sugere-se ainda que a prática de atividade física seja orientada no sentido de serem melhores trabalhados componentes a força abdominal e a flexibilidade dos membros inferiores para que possam ser alcançados níveis satisfatórios de aptidão músculo-esquelética e prevenir lesões e problemas articulares e musculares.

Referências

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