Perfil dos estudantes da licenciatura em Educação Física da Universidade Federal de Goiás na modalidade a distância Perfil de los estudiantes de la licenciatura en Educación Física de la Universidad Federal de Goiás en la modalidad a distancia |
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*Graduada em Educação Física pela UFG Integrante do Labphysis e do GEPELC – FEF/UFG **Doutorando em Educação Física pela UFSC Docente da Faculdade de Educação Física da UFG Integrante do Labphysis e do GEPELC – FEF/UFG ***Doutora em Ciências Humanas Docente da Faculdade de Educação Física da UFG Coordenadora do Labphysis |
Fernanda Cruvinel Pimentel* Ari Lazzarotti Filho** Ana Márcia Silva*** (Brasil) |
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Resumo O presente texto é resultado de investigação sobre o perfil dos estudantes que ingressaram no curso de licenciatura em Educação Física na modalidade a distância da Universidade Federal de Goiás no ano de 2009. Foi aplicado um questionário a totalidade dos estudantes matriculados num total de 315 e desses responderam 268. Como resultados, destacamos: estudantes casados, com filhos, que trabalham mais de 30 horas semanais. As experiências com TIC apresentam-se entre os níveis insatisfatórios e básicos. Possuem experiências anteriores com as práticas corporais, principalmente com o esporte, destacando que a opção pelo curso foi principalmente decorrente do gosto/prazer com as práticas corporais. Unitermos: Educação Física. Educação à distância. Perfil dos estudantes.
Pesquisa financiada pelo Programa de Licenciatura da UFG. PROLICEN-UFG
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 16 - Nº 156 - Mayo de 2011. http://www.efdeportes.com/ |
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Apresentação
O presente trabalho é parte da pesquisa intitulada “Formação de Professores na Modalidade a Distância: Um estudo de caso do campo da Educação Física” (Pesquisa financiada pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, CNPq) e apresenta os resultados do trabalho de investigação sobre o Perfil dos estudantes ingressos no ano de 2009 no curso de Licenciatura de Educação Física da Universidade Federal de Goiás na modalidade à distância.
A compreensão do perfil do estudante que está ingressando nesse curso se faz necessária haja vista a especificidade e complexidade do campo da Educação Física, principalmente, no que tange aos elementos teórico-metodológicos do processo de formação de professores desta especialidade. Tais elementos, na modalidade à distância mediada pelas Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC), constroem contornos diferenciados daquilo que tradicionalmente vem sendo desenvolvido nos cursos presenciais.
Podemos inferir que tal fato decorre da tradição deste campo que o constitui no empirismo do saber fazer, da valorização da técnica, da tática, das habilidades físicas e da condição morfofisiológica. Ao mesmo tempo, a Educação Física tem no fazer, isto é, na experimentação corporal, nos conhecimentos historicamente construídos sobre a cultura corporal – sistematizados em formas de jogos, esportes, lutas, danças, ginásticas, entre outras – práticas culturais pelas quais o ser humano manifesta integralmente sua corporalidade numa dimensão lúdica – a centralidade de seu objeto de trabalho, sobretudo quando da formação e atuação de professores para a educação básica.
Compreendemos, então, que esse campo de conhecimento/intervenção tem nestas práticas corporais a constituição de parte significativa da sua identidade. Pensar na formação de professores que atuarão com a educação do corpo mediada por computadores, em espaço virtual, assume contornos diferenciados daquilo que tradicionalmente vem sendo feito, constituindo-se como um desafio que merece ser investigado.
Metodologia
Este estudo pode ser caracterizado como um estudo de caso no curso de licenciatura em educação física na modalidade à distância. Trata-se de uma pesquisa social de nível explicativo, dedicando-se à obtenção de novos conhecimentos relativos a um determinado aspecto da realidade. Como técnica de coleta de dados, foi aplicado questionário presencial à totalidade dos estudantes matriculados nos nove polos: São Simão, Cidade de Goiás, Formosa, Alexânia, Mineiros, Goianésia, Uruana, Inhumas e Iporá. Este questionário buscou responder ao perfil socioeconômico, as experiências com as tecnologias de informação e comunicação e, as experiências com as práticas corporais. Foram respondidos 268 questionários dos 315 aplicados, alcançando um percentual de 85,07% de respostas.
Podemos conhecer melhor estes polos a partir da apresentação do número de habitantes de cada polo; a renda do PIB per capita; e ainda a distância deste polo até a capital Goiânia. Estas características ajudam a localizar e contextualizar o local em que se oferece o curso.
Quadro 1. Dados: Número de habitantes (IBGE, Senso 2000); PIB (IBGE, 2007)
Como parte do processo de análise dos dados, utilizamos o google docs enquanto ferramenta para agrupar os dados e gerar gráficos e aplicamos o teste de associação de palavras: estereótipos e conotações (BARDIN,2010).
Apresentação, descrição e análise de dados
A partir da aplicação dos questionários, descrevemos através de tabelas, figuras e quadros, os dados que revelam o perfil dos estudantes no que competem a seus aspectos gerais, experiências com as TIC, e experiência com as práticas corporais. Estes estudantes, sujeitos de pesquisa, são ingressantes do curso de licenciatura em Educação Física na modalidade a distância, da Universidade Federal de Goiás, vinculados aos 9 (nove) polos: São Simão, Cidade de Goiás, Formosa, Alexânia, Mineiros, Goianésia, Uruana, Inhumas e Iporá.
Aspectos gerais
No que se refere aos aspectos demográficos e sócio-econômicos dos estudantes, detectados enquanto resposta a partir dos questionários, a Tabela 1 apresenta as seguintes características:
Tabela 1. Características demográficas e socioeconômicas dos estudantes de Licenciatura em Educação Física UFG
De acordo com os dados, divididos por cidade/polo, as únicas cidades que apareceram com mais de 50% de estudantes do sexo feminino foi: Uruana e São Simão.
Os polos de Uruana, São Simão e Goianésia foram os municípios que apresentaram o maior percentual de estudantes acima dos 26 anos e que também, permaneceram mais de 3 (três) anos sem estudar. Já os municípios de Formosa, Mineiros e Cidade de Goiás, em relação ao tempo de permanência sem estudar, assim como a média de idade dos estudantes, foram os que apresentaram o menor percentual. Porém, o polo de Iporá foi quem apresentou a menor média de idade.
A situação que se revela nos municípios/polos citados (São Simão e Uruana), cuja qual se refere ao predomínio de estudantes que ficaram maior tempo sem estudar antes de procurar este curso a distância, tem grande probabilidade de encontrar justificativa no fato destes municípios, juntamente com Alexânia, não serem contemplados com universidades e nem faculdades em seus municípios, fazendo com que a população, que não tem condições de estudar em outra cidade, finalize seus estudos ao término do segundo grau.
Em contrapartida, este fato já não acontece nos municípios de Formosa, Inhumas e Mineiros, tendo em vista que estes municípios apresentam opções de cursos no ensino superior para a população, tanto por instituições públicas quanto particulares.
O quadro a seguir mostrará a quantidade de licenciaturas oferecidas pelas universidades existentes nos municípios, não considerando os outros cursos que não tem o objetivo de formação de professores. Neste quadro poderemos visualizar a ausência de cursos de formação superior nos municípios de Alexânia, São Simão e Uruana.
Número de licenciaturas oferecidas pelos municípios
Quadro 2. Número de cursos superiores em Licenciatura oferecidas pelas Universidades e Faculdades públicas e privadas dos municípios
Em relação ao estado civil e a prevalência de estudantes com filhos, revela-se uma porcentagem de 47,3% para os estudantes casados e 45,4% para os solteiros, como nos mostra a Figura 1. E para quem já tem filhos o percentual é de 51,1% e 48,1% para quem não tem filhos. Predomina, deste modo, estudantes casados e com filhos. As figuras a seguir nos mostram que Uruana, São Simão, e Alexânia novamente se destacam.
Figura 1. Porcentagem de estudantes matriculados, casados
Figura 2. Porcentagem de estudantes matriculados, com filhos
Deparamo-nos assim com a discussão iniciada anteriormente quanto à inexistência de cursos superiores nos municípios de Uruana, São Simão e Alexânia, tais quais ligam diretamente com um percentual também maior de estudantes casados e com filhos. Já Formosa, Inhumas e Mineiros foram os municípios que apresentaram o maior número de solteiros, e sem filhos.
Os municípios de Uruana, São Simão e Alexânia, também foram quem apresentaram o maior percentual de estudantes casados e com filhos, enquanto Formosa, Inhumas e Mineiros foram os municípios que apresentaram o maior número de solteiros, e sem filhos. Contudo, totalizando os dados, identifica-se que há uma predominância geral de estudantes casados e com filhos.
Os municípios de Uruana, São Simão e Alexânia, foram os que apresentaram os maiores índices de estudantes que estudaram integralmente ou a maior parte do ensino médio em escolas da rede pública. Estes municípios são relativamente pequenos, e apresentam poucas escolas da rede particular. Estes também foram os que apresentaram os mais baixos percentuais de estudantes já formados em cursos superiores.
Em relação à escolaridade, 73,8% se apresentaram sem formação superior e 25,3% com curso superior completo, sendo que 21 estudantes já possuem curso de especialização e 2 já possuem curso de mestrado. Identificamos entre os dados, ainda que 86,9% estudaram integralmente ou a maior parte em escolas públicas.
A grande maioria destes estudantes está empregada, trabalham durante o período diurno, com uma carga horária com mais de 30h semanais, em instituições públicas, moram em casa própria, a menos de 50 km do polo, ganham menos de R$1.000,00 por mês e devem utilizar carro próprio para se deslocar até o polo.
Entre a grande maioria dos estudantes que optaram por cursar o curso de licenciatura em Educação Física a distância, poucos são os que têm empregos relacionados com a área. Foram identificados 32 professores da rede escolar, sendo que, nem todos são propriamente da área, e nem todos são devidamente licenciados para exercer a profissão. Lembrando que, com excessão de Goianésia que fornece formação parcelada/emergencial em Educação Física, nennhum dos outros municípios fornecem cursos superiores na área.
As profissões identificadas pelos estudantes foram diversificadas, como se observa a seguir: Auxiliar de educação infantil; Assistente de creche; Coordenação; Personal trainer; Professor de ginástica; Professor de dança; Instrutor de musculação; Cabeleireiro; Eletricista; Pintor automotivo; Comerciante; Motorista; Serviços Gerais; Vendedor; Segurança; Vigilante; Recepcionista; Secretária de dentista; Secretária geral; Serviços gerais; Atendente; Caixa de supermercado; Operadora de caixa; Consultora de vendas; Fazendeiro; Radialista; Leiturista urbano; Músico; Bibliotecário; Estoquista; Serrante; Empregada doméstica; Gari; Merendeira; Mecânico; Gerente; Auxiliar de agente administrativo; Técnico; Fatiador industrial; Vendedora de cosméticos; Agente de correio; Agente prisional; Agente administrativo; Agente de saúde; Agente de endemias; Agente educacional; Secretária de educação; Coordenadora de saúde pública; Militar/bombeiro; Militar/aeronáutica; Policial militar; Guarda municipal; Cirurgiã dentista; Advogado/professor universitário; Analista de logística; Contabilidade; Educador ambiental; Administrativo; Bancário; Técnico em contabilidade; Escrivão; Escrevente judiciário; Fisioterapeuta; Técnico em eletrônica; Técnico de informática; Intérprete de libras; Assessor parlamentar; Operador industrial; Funcionária ECT; Operadora de ETA; Chefe de departamento de contas; Estética canina e felina; Empresário no ramo esportivo.
Em relação ao percentual de estudantes que moram a menos de 50 km do polo, obteve-se, com exceção de Iporá e Inhumas (que apresentaram menor expressão), um elevado percentual de estudantes que moram próximos ao polo, atingindo o ideal da EAD em atender estudantes que não tem condições, ou tempo, para estudar presencialmente.
Os municípios de Inhumas e Iporá apresentaram consideráveis percentuais de estudantes que utilizam ônibus como meio de transporte, tendo que Alexânia foi o município que apresentou o maior índice. Os municípios mais populosos foram os que apresentaram maior percentual de estudantes que utilizarão carro como meio de transporte.
O período do dia mais apropriado para participar dos encontros no polo e estudarem sozinhos em casa é definitivamente à noite, e estes pretendem estudar em média (67,9%) mais de 4h semanais.
A grande maioria dos estudantes pretende cursar uma pós-graduação após a conclusão do curso, apresentando um baixo percentual para os estudantes que pretendem trabalhar na rede escolar, mas ainda assim este percentual se mostrou maior que o das academias e clubes esportivos e de lazer. Contudo, o fato destes estudantes terem como primeira opção cursar uma pós-graduação e não demarcar como opção trabalhar na rede escolar relaciona diversos entraves sociais como, por exemplo, a possibilidade de melhores salários. No entanto, a primeira opção não exclui a segunda, e a justificativa deste curso ter sido criado é a formação de professores.
(...) o curso de Licenciatura em Educação Física da UFG na modalidade de ensino à distância ora proposto se justificam pela grande demanda por professores de Educação Física que atuem na Educação Básica da rede pública no interior do Estado de Goiás. Há uma deficiência de professores de Educação Física na rede pública de ensino estimada em 400 vagas, ao mesmo tempo em que a demanda por profissionais formados para os campos de atuação no esporte e no lazer nos pólos atendidos amplia (PPPEADEF, p.3).
Experiências com as tecnologias de informação e comunicação
O segundo bloco de questões, diz respeito ao conhecimento destes estudantes sobre as tecnologias de informação e comunicação, que inclusive, a princípio, é peça chave na modalidade de ensino a distância.
Os dados coletados demonstram que dentre os estudantes que procuraram este curso, 79,1% possuem computador em casa, e ainda assim, apresentam nível básico quanto aos conhecimentos na área de informática, o que pode ser explicado devido à média de idade, e/ou tempo disponível para fazer cursos nesta área. Sendo assim, as ferramentas escolhidas que serão utilizadas para desenvolver este curso deverão ser necessariamente simples e explicativas. Lembrando que 77,9% nunca tiveram experiências em EAD.
Os estudantes deste curso apresentaram um nível de conhecimento sobre internet e o uso de processadores de texto básico, enquanto o nível de conhecimento sobre softwares de edição de imagens e criação de páginas oscilou entre básico e insatisfatório.
Entretanto, apesar destes estudantes apresentarem níveis médios e insatisfatórios quanto ao uso de ferramentas tecnológicas, o fato de muitos estudantes terem computadores em casa já deverá facilitar o desenvolvimento das atividades acadêmicas em ambiente virtual, já que as atividades do curso poderão ser desenvolvidas em casa, para grande maioria.
Experiências com as práticas corporais e expectativas profissionais
Com relação às experiências anteriores ou atuais com a Educação Física e as práticas corporais, apresentaremos os dados do terceiro bloco de questões.
A grande maioria dos estudantes vivenciou uma Educação Física regular no ensino fundamental e médio, sendo que, 83,0% se identificaram enquanto estudantes que mesmo sem habilidades motoras participavam das aulas ou se destacavam por elas. Somente 3,7% não costumavam participar das aulas de Educação Física (13,0% não informaram nenhuma resposta).
Temos ainda que, 60,0% destes estudantes costumavam participar dos jogos escolares (JEB´s) e 9,3% já foram ou ainda são atletas profissionais.
A afirmativa anterior acerca da relação do curso com o campo do esporte comprova-se na pergunta (presente no questionário) sobre qual prática corporal mais gostavam. O resultado obtido foi que, 67,5% dos estudantes tinham preferência pelos esportes, em detrimento das demais práticas corporais, tais como, lutas, capoeira, ginástica e práticas corporais orientais.
Os estudantes, em sua maioria (51,0%), relataram também que atualmente realizam alguma prática corporal mais de duas vezes por semana. Apenas 25,7%, classificaram-se como quem não realiza nenhuma prática corporal regular.
Em relação aos motivos da escolha do curso de Licenciatura em Educação Física à distância, temos que a maioria escolheu devido o gosto/prazer pelas práticas corporais, ficando em segundo colocação o motivo de escolha a identificação desta como uma área importante e em crescimento. Apenas 2,6% disseram que a escolha se deu por falta de outro curso. Este resultado confirma a influência das práticas corporais, principalmente do esporte como fator decisivo na escolha do curso superior em Educação Física. A grande maioria não se eximiu em mencionar quanto à importância de se ter aulas práticas durante o curso a distância.
Para compreender como que a Educação Física marcou a história destes estudantes, suas representações e estereótipos formados a partir da experiência com a Educação Física escolar, foi aplicada a seguinte questão: “Se você tivesse que expressar com uma palavra sua história com a Educação Física escolar, qual seria”? A questão ajuda a compreender os motivos que levaram os estudantes optarem pelo ingresso nesse curso e conseqüentemente pela profissão de professor de Educação Física.
Sendo assim, é a partir da experiência trazida da vida, aqui especificamente como estudantes de Educação Física, que encontra-se o que Bourdieu (2002) chama, de predisposição para uma pratica, no caso específico da docência.
Pensar o que marcou a experiência dos atuais estudantes de Educação Física na modalidade a distância poderá nos trazer importantes pistas para a sua formação, pois o que marcou corporalmente, o que formou esses estudantes enquanto uma disciplina na escola são também expressões do próprio campo e do seu poder de retradução e inculcação. Em outras palavras, no âmbito da experiência estão dadas as possíveis opções a esses estudantes como conhecimento, valores e normas, âmbito este que terá repercussão na sua vida como estudantes e poderá ser ressignificada, ampliada, modificada ou simplesmente afirmada na formação inicial.
Para a análise dos dados foi aplicado o teste de associação de palavras: estereótipos e conotações, de acordo com Bardin (2010), com as devidas adaptações com a realidade estudada. Assim, as palavras obtidas enquanto respostas foram sendo ordenadas em planilha dentro de categorias que representam a Educação Física.
Durante a análise das representações, percebendo a ocorrência de aspectos psico-comportamentais, aliados a níveis de ansiedade, motivação, estresse, aspirações, autoconceito, auto-estima, atitudes, interesses, traços de personalidade e outros atributos construímos seis categorias representativas a partir das respostas: Atributos do saber fazer; Referências ao Esporte, Atributos da Saúde, Ludicidade, Valorações Positivas e Valorações Negativas.
A valoração positiva com a freqüência de 91 respostas é a principal representação da experiência em Educação Física, marcando uma representação da Educação Física escolar como boa. No entanto, o seu contraponto de valoração negativa aparece com a freqüência de 46 respostas. Com 33 ocorrências, os atributos do saber fazer aparecem como a terceira representação da Educação Física Escolar. Os atributos de saúde aparecem com 20 respostas, as referências ao esporte aparecem com 15 respostas e a ludicidade com 14 respostas.
Ao categorizarmos as representações da experiência foi possível identificar que a Educação Física escolar para esses estudantes foi marcada por um saber fazer que indicou uma predominância para as experiências com o esporte, aliado a idéia de saúde. Também aparece como uma categoria que marca a Educação Física escolar que é a ludicidade, pois essa disciplina diferencia-se das demais na escola por apresentar componentes de liberdade e rompimento com um tipo de conhecimento cognitivo e tradicional. Novamente aparecem as valorações, tanto as positivas quanto as negativas. É possível identificar que as valorações positivas são mais representativas.
A predisposição para a escolha do curso de Licenciatura de Educação Física são as experiências positivas com a Educação Física escolar, pois o quadro de valores positivos são superiores aos negativos. Mas os extremos estão presentes, como podemos observar na Figura 5 onde se identifica que a representação da Educação Física através da valoração Boa está no ápice enquanto que a valoração negativa de Ausência aparece com menos ocorrência. No entanto as duas podem estar associadas por uma experiência positiva e outra por não ter sido oportunizado essa experiência. A ausência pode ser o dispositivo de busca da Educação Física, agora no curso superior e posteriormente como professor possibilita a presença de uma Educação Física escolar não presente na sua história como estudante do ensino básico e fundamental.
A Figura 5 demonstra as representações das experiências com a Educação Física Escolar dos estudantes de Educação Física na modalidade a distância com as palavras e freqüência de ocorrência através do gráfico denominado por Bardin (2010) de constelação de atributos, com os 20 mais representativos.
Figura 3. 20 atributos mais representativos sobre a expressão, em uma palavra, de história de vida dos estudantes com a Educação Física
Argumentamos que o habitus no campo da Educação Física apresenta um componente que dá qualidade e especificidade a sua prática, que é a experiência com as práticas corporais, ou experiências sociocorporais. Essa experiência marca, conforma e mantém uma especificidade que por mais que esteja em mudança, ainda está fortemente presente na vida dos estudantes do curso de Licenciatura em Educação Física.
Esta questão nos permitiu perceber os níveis de simbologia e representatividade da Educação Física, ao deixar enfática a associação da Educação Física aos sentidos de esporte, movimento, prática, saúde, diversão e ludicidade.
Embora o Coletivo de Autores (1992) enfatize que a Educação Física é uma disciplina que deve trabalhar com todos os elementos da cultura corporal (esporte, jogos, dança, lutas e ginástica, entre outros), percebemos em nossa pesquisa que não há referências consideráveis, por parte dos estudantes, para além do esporte. Houve apenas duas ocorrências para lutas e uma para jogos.
O aprendizado em Educação Física não aparece como um componente importante da experiência no processo de escolarização. O saber fazer é a marca preponderante e sim ela é componente da escolarização, talvez o que diferencia das demais disciplinas escolares.
Sayão (2009, p.2) avalia que o esporte, historicamente, vem se tornando quase que conteúdo único das aulas de Educação Física, sendo este, resultado de um processo em que esporte passa a ser confundido com a própria Educação Física, tornando-se quase que um sinônimo. Segundo Bracht (2000), em um primeiro momento, a visão hegemônica da Educação Física incorpora o esporte como um instrumento útil na busca dos seus objetivos: o desenvolvimento da aptidão física e a formação de caráter.
No entanto Betti (2005, p. 186) considera que este não pode ser o único componente da Educação Física, para ele
tomar a cultura corporal de movimento como objeto da Educação Física implica avançar do fazer corporal para um saber sobre o movimentar-se do ser humano, o qual deve ser incorporado pela Educação Física (na escola) como um saber a ser transmitido (aos estudantes).
Bourdieu (2004) apresenta a idéia de como se dá a interiorização da exterioridade e exteriorização da interioridade em campo, onde o grau de codificação é fraco, as regras do jogo estão em jogo e, portanto o campo (Educação Física) está aberto e propenso as interferências externas de campos fortes como é o caso do campo esportivo.
Considerações finais
O perfil dos estudantes do curso de Educação Física da modalidade a distância é materializado por estudantes mais velhos, casados, do sexo masculino, com filhos, casa própria, que trabalham mais de 30 horas semanais, não dispondo de tempo e nem oportunidade de estudar presencialmente. Estudaram integralmente ou a maior parte em escolas públicas e a maioria ficou mais de 3 anos sem estudar antes de ingressar neste curso. Temos que ¼ destes estudantes já possuem curso superior em alguma área e alguns deles já possuem experiência com EAD. Quase 50% destes estudantes utilizam o carro como meio de transporte para se deslocar até o polo. A grande maioria dos estudantes possui experiências anteriores com as práticas corporais, principalmente com o esporte, tendo em vista, que a opção por cursar uma graduação à distância em Educação Física é decorrente do gosto/prazer com as práticas corporais, e estes concordam, em quase unanimidade, que deveria haver aulas práticas durante o atual curso. Ainda, a maioria destes estudantes mantém como hábito incorporado no seu cotidiano alguma prática corporal mais de 2 vezes por semana.
Ao menos em sua percepção, os estudantes se mostram mais maduros e seguros do curso que escolheram, estando prontos para desenvolvê-lo com disciplina e autonomia e de forma a cumprir todos os prazos, apesar do pouco tempo que provavelmente terão para se dedicar aos estudos.
Também identificamos que as representações e estereótipos da Educação Física Escolar estão marcadas por uma predominância de adjetivos positivos e negativos, os quais, aliados a representação de um saber fazer na especificidade da manifestação esportiva, podem ter sido determinados pelas próprias experiências de vitória (positivo) e derrota (negativo), sobressaindo-se as adjetivações positivas responsáveis pela tomada de decisão para a escolha do curso de Educação Física. Destacamos que o aspecto da ludicidade aparece como forte componente da experiência desses estudantes com a Educação Física escolar e pode ser associada a sua especificidade.
Referências bibliográficas
BARDIN, L. Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70, 2010.
BETTI, M. Educação Física como prática científica e prática pedagógica: Reflexões a luz da filosofia da ciência. Rev. Bras. Educ. Fís. Esp., São Paulo, v.19, n.3, p.183-97, jul./set. 2005.
BOURDIEU, P. Esboço de Uma Teoria da Prática, Precedido de Três Estudos de Etnologia Cabila, Oeiras: Celta Editora, 2002.
___________Os usos sociais da ciência: por uma sociologia clínica do campo científifico. Trad. Denice B. Catani. São Paulo: Ed.. Unesp, 2004.
BRACHT, V. Esporte na escola e esporte de rendimento. Movimento, Porto Alegre, n.12, p. XIV-XXIV, jul. 2000.
COLETIVO DE AUTORES. Metodologia do Ensino da Educação Física. São Paulo: Cortez. 1992.
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. Instituto Nacional de estudos e pesquisas educacionais Anísio Teixeira. A Educação Básica e a Nova Capes. 2005. MEC/INEP 2005.
_____________________________. Instituto Nacional de estudos e pesquisas educacionais Anísio Teixeira. Resultados do censo educacional 2008. MEC/INEP Brasília-DF, Junho de 2006.
MOON, B. O papel das novas tecnologias da comunicação e da educação à distância para responder à crise global na oferta e formação de professores: Uma análise da experiência de pesquisa e desenvolvimento. Revista Educação e Sociedade. Vol.29. , n. 104 - Especial, p.791-814, out. 2008.
UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS. Projeto Político-Pedagógico do curso de licenciatura em educação física na modalidade de ensino à distância. Ministério da Educação. Faculdade de Educação Física.
SAYÃO, M. N. O esporte no currículo da formação de professores. Anais do XVI Congresso Brasileiro de Ciências do Esporte e III Congresso Internacional de Ciências do Esporte. Salvador – Bahia, 2009.
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