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Prevalência de doenças crônicas e seus fatores de risco em policiais

militares com 10 a 20 anos de serviço em Campo Grande, MS, Brasil

Predominancia de enfermedades crónicas y sus factores de riesgo en 

policías militares con 10 a 20 años de servicio en Campo Grande, MS, Brasil

 

*Profissional de Educação Física

Polícia Militar do Estado de Mato Grosso do Sul

**Docente do Instituto de Ensino Superior da Funlec – IESF

Escola de Saúde Pública de Mato Grosso do Sul – ESP/SES/MS

Odair Venério*

Joel Saraiva Ferreira**

falecomjoel@hotmail.com

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          O objetivo desta pesquisa foi analisar uma possível condição de morbidade entre policiais militares com 10 a 20 anos de serviço, lotados no município de Campo Grande/MS. Para tanto, Foram avaliados 35 profissionais, com idade de 31 a 47 anos, e que tivessem com 10 a 20 anos de serviço na corporação. Os participantes foram submetidos à avaliação de medidas antropométricas (estatura, massa corporal, perimetria da cintura e do quadril) e responderam um questionário sobre o estilo de vida, o qual incluiu o auto-relato de doenças crônicas clinicamente diagnosticas. Os resultados da avaliação antropométrica indicaram que a média do grupo de policiais militares pesquisados estava com sobrepeso e com risco moderado de desenvolvimento de doenças relacionadas ao acúmulo de gordura abdominal. Quanto ao estilo de vida, a população do estudo foi classificada, em sua maioria, como não fumante e praticante de atividade física. Contudo, este último item não atingiu níveis considerados satisfatórios para a manutenção da aptidão física relacionada à saúde, pois apenas 34% praticam tais atividades com a periodicidade mínima de três vezes semanais. Em relação às doenças crônicas auto-referidas, apenas 3% tinham diabetes e 9% hipertensão arterial. Com isso, conclui-se que a prevalência das doenças crônicas estudadas é considerada baixa e aceitável, mas as medidas antropométricas e o nível de atividade física desses indivíduos podem representar algum risco à saúde.

          Unitermos: Doenças crônicas. Antropometria. Policiais militares.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 16 - Nº 156 - Mayo de 2011. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    Atualmente a obesidade é considerada uma doença e alcançou um patamar de epidemia mundial e, com o acometimento dessa doença, surgem outros problemas de saúde, entre eles o diabetes e a hipertensão. Como na maioria das doenças, a prevenção à obesidade pode ocorrer de várias maneiras. Para tanto é necessário, primordialmente, que o indivíduo tenha um estilo de vida saudável (CHOPRA, GALBRAITH e DARNTON-HILL, 2002).

    Na literatura, a obesidade tem várias acepções e numa delas é caracterizada como uma condição de acúmulo excessivo de gordura nos adipócitos, de forma que possa prejudicar a saúde (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE - OMS, 2004). Porém, existem estudos que demonstram que a obesidade pode estar relacionada com diversos outros fatores, fatores estes de caráter sócio-culturais e biológicos, que interferem decisivamente na qualidade de vida das pessoas (BATISTA FILHO e RISSIN, 2003).

    Estas situações que corroboram para o surgimento da obesidade não são estranhas à maioria da população mundial atual, pois o estresse das grandes cidades, a tecnologia que altera a vida cotidiana, o ritmo de competição em todos os sentidos e fatores geneticamente transmitidos podem incidir sobremaneira na predisposição de outras doenças bastante prevalentes no século XXI (CHOPRA, GALBRAITH e DARNTON-HILL, 2002).

    A localização onde essa gordura é armazenada também influencia nas associações a outras doenças, chamadas comorbidades, sendo que entre os indivíduos obesos é diferente essa quantidade de gordura em excesso armazenada em cada região do corpo (OMS, 2004).

    Em geral, nas mulheres essa gordura tende a se armazenar na parte inferior do corpo, ao redor do quadril e das coxas, a chamada gordura genóide, que tem a forma comparada a uma pêra; enquanto que nos homens essa gordura tende a se acumular na parte superior do corpo, na região do abdômen, conhecida como gordura andróide, sendo essa gordura característica em forma de maçã (PANAGIOTAKOS et al., 2008).

    O acúmulo de tecido adiposo na região acima da cintura, mais frequente nos homens, torna-se mais perigoso em relação ao acúmulo nos quadris e glúteos, identificados nas mulheres. As pessoas com a silhueta em formato de maçã têm maior predisposição para desenvolver comorbidades, como problemas cardiovasculares, pois a gordura visceral, ao contrário da subcutânea, dirige-se diretamente para o fígado antes de circular até os músculos esqueléticos, podendo causar resistência à insulina, levando à hiperinsulinemia, que são níveis elevados de insulina, aumentando assim o risco de diabetes mellitus tipo II, hipertensão arterial e doenças cardiovasculares (PANAGIOTAKOS et al., 2008).

    Para a OMS (2004), a localização anatômica da obesidade indica outro índice importante de ser observado em indivíduos obesos, pois o acúmulo da gordura abdominal pode evidenciar uma correlação de maior adiposidade com doenças associadas, principalmente no gênero masculino.

    Diante desse quadro é de suma importância que a população masculina, que está propensa a apresentar maior incidência de doenças relacionadas com a localização de gordura, devido aos homens ter mais tendências a esse tipo de gordura denominada de andróide, procure desenvolver hábitos de promoção da qualidade de vida, evitando a obesidade, e conseqüentemente, os riscos inerentes a ela.

    Quando é possível classificar a diferença entre obesidade e sobrepeso, consegue-se comparar dados dentro de uma população, identificando indivíduos e grupos que correm maior risco de morbidade e mortalidade, possibilitando que medidas sejam tomadas em níveis individuais e da comunidade, visando a solução do problema (JACOBY, 2004).

    O fato de classificar o indivíduo quanto a sua composição corporal, serve também para mostrar as diferenças do sobrepeso e da obesidade, pois a obesidade é caracterizada pelo excesso significativo de peso corporal e particularmente de massa do tecido adiposo. A diferença básica está no percentual de massa corporal no obeso (BOUCHARD, 2003).

    A forma mais utilizada para avaliar a adequação do peso corporal em adultos é o IMC (Índice de Massa Corporal), recomendado inclusive pela Organização Mundial da Saúde (OMS, 2004). Esse índice é calculado dividindo-se o peso corporal do indivíduo em quilogramas (Kg) pela sua altura, em metros, elevada ao quadrado (quadrado de sua altura). O valor assim obtido estabelece o diagnóstico da classificação do estado nutricional do indivíduo, conforme descreve Costa (2001), da seguinte maneira: baixo peso se o resultado for < 18,5 Kg/m²; normal se 18,5 a 24,9 Kg/m²; sobrepeso se 25,0 a 29,9 Kg/m²; obesidade I se 30,0 a 34,9 Kg/m²; obesidade II 35,0 a 39,9 Kg/m²; e, obesidade III se ≥ 40 Kg/m².

    Porém, somente a utilização do IMC como forma de classificar pode conduzir o avaliador a uma impressão distorcida da realidade, pois, eventualmente um indivíduo pode apresentar uma grande quantidade massa muscular magra e isso, em relação à sua baixa estatura, poderá classificá-lo como sobrepeso ou em outra situação não recomendada para uma boa qualidade de vida.

    Para tanto, é possível fazer uso de outro método de avaliação corporal para ratificar ou não essas informações. Um índice denominado RCQ (Relação Cintura-Quadril), que é obtido pela divisão da circunferência da cintura abdominal pela circunferência do quadril do indivíduo, pode resultar em quatro classificações quanto ao risco à saúde, sendo estas: baixo, moderado, alto, e muito alto. A classificação depende do número resultante da equação, bem como da idade e do sexo do avaliado (PETROSKI, 2003).

    Medidas localizadas de obesidade, entre as quais a circunferência da cintura ou a proporção entre as circunferências da cintura e do quadril (RCQ), são capazes de fornecer estimativa da gordura abdominal, que, por sua vez, está correlacionada à quantidade de tecido adiposo visceral (STEVENS, KATZ e HUXLEY, 2010).

    Outra conseqüência da obesidade pode ser o surgimento de diabetes mellitus, que é uma doença caracterizada por distúrbios no metabolismo de carboidratos, lipídios e proteínas. Ocorre devido à combinação de fatores hereditários e ambientais que levam a falta de secreção da insulina, aumento da glicose no sangue e comprometimento do funcionamento de vários órgãos, principalmente os rins, a retina, o sistema nervoso e o sistema circulatório (GROSS et al., 2002).

    Segundo o Ministério da Saúde brasileiro, o diabetes também deve ser considerado como epidemia, pois já afeta milhões de pessoas no mundo, e especialmente em nosso país. Ainda em 2006 a prevalência estimada de diabetes na população adulta era de 11% (BRASIL, 2006).

    Para melhor compreensão do diabetes, se faz necessário saber que essa enfermidade tem duas classificações, conforme Gross et al. (2002)..

    No diabetes tipo 1, ou insulino-dependente, as células do pâncreas que normalmente produzem insulina, foram destruídas. Sendo assim, quando ocorre que pouca ou nenhuma insulina é produzida no pâncreas, as células e tecidos não conseguem absorver a glicose do sangue, aumentando a glicemia plasmática. Nesses casos há necessidade de aplicação subcutânea de insulina para normalizar a glicemia.

    No diabetes tipo 2 o fator hereditariedade tem uma importância bem maior do que no diabetes tipo 1. Embora exista uma conexão entre a obesidade e o diabetes tipo 2, a obesidade não leva, necessariamente ao desenvolvimento dessa outra doença. O motivo mais evidente que faz com que os níveis de glicose no sangue permaneçam altos está na incapacidade das células musculares e adiposas de aproveitarem toda a insulina secretada pelo pâncreas. Assim, muito pouco da glicose presente no sangue é utilizada por estas células.

    Ainda sobre doenças relacionadas à obesidade, existe a preocupação em relação ao desenvolvimento da hipertensão arterial ou pressão alta, que é uma das doenças mais conhecidas da população. E as perspectivas no Brasil não são das melhores, conforme declara Mano (2009) quando relata que a prevalência na população adulta brasileira, nos anos de 1995, estava na casa dos 13 milhões de hipertensos e destes, cerca de 50% não se sabiam portadores da doença.

    Esse desconhecimento acima citado pode ser determinante no agravamento do quadro de saúde de um indivíduo. Então, para um entendimento mais simplificado do que ocorre em nosso corpo, em relação à hipertensão arterial, podemos pensar que para que um líquido possa circular dentro de qualquer sistema é necessário que seja formada uma diferença de pressão no início e no final do trajeto. No corpo humano acontece a mesma situação e quem impulsiona o sangue inicialmente é o coração, que o lança na artéria aorta para que alimente todos os órgãos e tecidos. Porém, o coração não conseguiria com sua pressão inicial fazer todo o trabalho e, para isso, é auxiliado pela elasticidade das artérias, que ao se distenderem para receber o sangue, naturalmente tendem a retornar ao seu calibre normal.

    As causas da hipertensão arterial geralmente se classificam em dois tipos, que são a primária e a secundária. O primeiro tipo e que é mais comum, atinge a maior parte da população, e é assim chamado, quando após a realização de avaliação, não se consegue chegar a nenhuma causa conhecida. As secundárias são, portanto, resultantes de alguma doença, e as mais comuns responsáveis pela hipertensão secundária são as renais, cardíacas, hormonais, cerebrais, etc. (V DIRETRIZES BRASILEIRAS DE HIPERTENSÃO ARTERIAL, 2006).

    Para verificar uma possível co-existência dessas enfermidades descritas anteriormente, este estudo teve por objetivo verificar a prevalência de doenças crônicas em policiais militares do sexo masculino, com 10 a 20 anos de serviço, lotados em Campo Grande-MS.

    A escolha da referida população se deu pelo fato de que a carreira do policial militar pode contribuir com esse quadro nada saudável, pois esses profissionais lidam com situações extremas no dia-a-dia de sua atividade laboral, sendo sujeitados a constantes mudanças psico-fisiológicas. Desta forma, a rotina de trabalho pode ser um fator determinante ao surgimento de diversos males e esta pesquisa pretende contribuir nesse campo, verificando a possível existência de fatores de risco para a saúde dos policiais militares.

Materiais e métodos

    Este foi um estudo descritivo, quantitativo e de campo, conforme caracterização feita por Gil (1991). Participaram da pesquisa 35 policiais militares do sexo masculino, com 10 a 20 anos de serviço, lotados em duas unidades policiais localizadas na cidade de Campo Grande-MS, Brasil.

    Para proceder à coleta de dados, inicialmente, foi solicitada ao Comando-Geral da Polícia Militar do Estado de Mato Grosso do Sul a devida autorização, por escrito, para a realização dos testes e medidas. Após a obtenção da liberação, foi estabelecido um primeiro contato, nas unidades policiais pré-selecionadas no intuito de explanar a cada Comandante destas Organizações Policiais os objetivos e procedimentos metodológicos relativos ao projeto de pesquisa, e para o agendamento das datas dos testes e medidas.

    Antes da realização da coleta de dados os participantes assinaram um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, atendendo a Resolução 196/96 das Diretrizes e Normas Regulamentadoras de Pesquisa Envolvendo seres humanos, do Conselho Nacional de Saúde do Brasil.

    Os participantes da pesquisa responderam antes da realização dos testes antropométricos, a um questionário com indagações objetivas, preenchidas pelo pesquisador, com perguntas relacionadas ao estilo de vida do entrevistado.

    As características antropométricas foram analisadas com base nos resultados de medidas antropométricas de circunferência abdominal e do quadril, bem como do peso e da altura de cada sujeito pesquisado.

    A aferição da altura do individuo ocorreu com o pesquisado em pé, pés descalços e unidos, braços livres ao lado do tronco, com calcanhares, nádegas, parte superior das costas e região occipital encostadas na escala, com a cabeça posicionada no plano de Frankfurt. Depois de realizadas as medições essas foram anotadas em centímetros (cm). Cada mensuração foi realizada somente após a constatação do posicionamento correto do sujeito, e que o cursor tivesse tocado o ponto mais alto cabeça, e imediatamente ao final da inspiração máxima.

    Para a constatação desta variável foi utilizada uma fita métrica, com graduação em centímetros (cm), que junto à parede tinha seu ponto inicial fixado verticalmente distante a 1m (um) metro do nível do chão. E, ainda, como cursor, um esquadro metálico.

    Na avaliação do peso corporal, o procedimento técnico ocorreu com o pesquisado em pé e descalço, parado no centro da plataforma de uma balança com capacidade máxima de 130 Kg, com um afastamento lateral dos pés na largura do quadril de frente para escala da balança, braços livres ao longo do tronco, cabeça firme e olhos direcionados para frente, as medidas foram anotadas em quilogramas (kg). O pesquisado foi orientado para subir na balança colocando um pé de cada vez e que permanecesse parado durante a realização da medida, no sentido de evitar oscilações na leitura do resultado.

    Para a aferição do perímetro da cintura, ou circunferência da região abdominal, o ponto anatômico de referência foi a cicatriz umbilical, conforme sugerem Marins e Giannichi (2003), com a fita em um plano horizontal sobre o segmento corporal, exercendo uma leve pressão, sem, contudo, que comprimisse os tecidos moles.

    No perímetro do quadril a fita foi colocada de forma horizontal, posição indicada também por Marins e Giannichi (2003), tomando como ponto de referência a região de maior volume dos glúteos.

    No levantamento dos dados referentes aos perímetros foi utilizada fita métrica de material não flexível, com precisão de 1mm.

    As coletas de dados foram realizadas em diferentes períodos, entre os meses de julho e setembro de 2010, nas dependências dos locais de trabalho de cada policial militar entrevistado.

    Cada participante, após os testes e medidas recebeu informações sobre os dados colhidos e, quando necessário, algum comentário sobre o seu estado físico.

Resultados e discussão

    Os sujeitos deste estudo tinham média de idade de 39,4 ± 3,8 anos, variando de 31 a 47 anos. Em relação ao tempo de serviço, os resultados indicaram um valor médio de 15,6 ± 3,4 anos, variando de 12 a 20 anos.

    A seguir, são apresentados os demais dados deste estudo, os quais foram organizados em tabelas para melhorar a apresentação das informações.

    Na tabela 1 são apresentados os dados antropométricos do grupo.

Tabela 1. Medidas antropométricas de policiais militares com 10 a 20 anos de serviço em Campo Grande-MS, Brasil (n = 35)

    Na Tabela 1 nota-se que a média dos resultados obtidos na aferição do Índice de Massa Corporal (IMC) manteve-se na marca dos 28,8 Kg/m². Diante desta constatação e levando-se em conta que no início deste tópico revelou-se que a média de idade dos entrevistados perpassa por 39 anos de vida, verifica-se então, que de modo geral, o público que fora objeto de estudo está classificado como portadores de sobrepeso, conforme a indicação de Petroski (2003). No entanto, percebe-se também que houve a aferição máxima de 36,9 Kg/m² em algum(ns) pesquisado(s) e este fato, invariavelmente, nos faz refletir que a análise pela média simples dos valores obtidos, embora ligeiramente satisfatória, pode mascarar a informação de que alguns policiais podem estar adentrando a categoria nominada como obesidade I (30 a 34,9 Kg/m²) e que certamente algum(ns) apresenta(m) a obesidade II (35 a 39,9 Kg/m²).

    E esta última informação torna-se mais preocupante se relacionarmos esses dados com a média dos resultados do teste que verificou a Relação Cintura-Quadril (RCQ) dos entrevistados, que atingiu 0,9, classificando-o(s) com Moderado Risco à Saúde (PETROSKI, 2003), tendo em vista a faixa etária mediana. E, ainda, da mesma forma que o IMC também identificou a existência de algum(uns) pesquisado(s) que apresenta(m) RCQ na faixa classificatória como Muito Alto Risco à Saúde.

    Na tabela 2 há um detalhamento das classificações do IMC e da RCQ dos sujeitos pesquisados.

Tabela 2. Classificação do índice de massa corporal e da relação cintura-quadril de policiais militares com 10 a 20 anos de serviço em Campo Grande-MS, Brasil (n = 35)

    Observando a Tabela 2 fica mais clara a análise dos dados, pois ela demonstra a distribuição dos índices percentuais alcançados em valores absolutos, ou seja, apresenta o quantitativo de cada classificação que gerou o valor médio. Sendo assim, percebemos que, conforme restou evidente, parte majoritária dos pesquisados (58%) se encontram com sobrepeso, enquanto que outros (31%) estão apresentando um quadro de obesidade (obesidade I ou II), e apenas uma pequena parcela (11%) tem sua classificação como normal, tratando-se do IMC. Nota-se, também, que nenhum pesquisado está classificado como baixo peso.

    Ainda na tabela 2, a avaliação da RCQ apresenta resultados mais proporcionais, numericamente falando, e de forma mais explícita, favorecendo, assim, uma análise mais pormenorizada da situação.

    Não obstante, devemos analisar a informação de que enquanto a média da RCQ apresentada na Tabela 1 ficou estabelecida em 0,9, a Tabela 2 nos mostra que 43% estão correndo alto risco à sua saúde, e que 14% já apresentam um quadro de muito alto risco à saúde, e isso, indubitavelmente, em se tratando de doenças relacionadas ao acúmulo de gordura visceral, torna-se um dado relevante.

    E essa informação torna-se alvo de uma observação mais criteriosa ao lembramos que os sujeitos pesquisados têm, somente entre 10 e 20 anos de serviço, e que, invariavelmente, poderão ter ainda mais 20 ou 10 anos para encerrarem suas carreiras, respectivamente, uma vez que conforme legislação própria vigente, o policial militar do sexo masculino tem seu tempo de serviço fixado em 30 anos (MATO GROSSO DO SUL, 1990).

    Na tabela 3 são apresentados os dados que descrevem o estilo de vida da população investigada.

Tabela 3. Dados relacionados ao estilo de vida de policiais militares com 10 a 20 anos de serviço em Campo Grande-MS, Brasil (n = 35)

    Se as tabelas anteriores trouxeram à baila os resultados das medidas antropométricas e suas respectivas classificações, a tabela 3, por sua vez, apresenta o extrato das respostas obtidas do questionário realizado. Sendo assim, podemos entender o porquê não casualmente os números do IMC, bem como da RCQ, demonstraram em suas médias elementos bastaste significativos, do ponto de vista de risco à saúde.

    Algumas constatações chamam a atenção, em virtude dos dados explicitados na tabela 3. Inicialmente, a constatação de que a despeito dos pesquisados, em grande maioria, se apresentam com não fumantes (74%) e que dos demais (26%) apenas 4 destes (11%) continuam com o vício. Sobre o consumo de bebidas alcoólicas, 54% declararam não fazer uso desse tipo de substância, 34% afirmaram consumir raramente e apenas 11% admitiram o consumo diariamente.

    O fato da maioria (54%) assumir a condição de praticante de atividade física, também é um destaque, pois, destes, somente 34% o fazem por mais de 3 vezes semanais. Ou seja, dos 35 pesquisados apenas 12 realizam atividades físicas 3 ou mais de 3 vezes por semana.

    A tabela 3 demonstra também que, segundo declarações dos próprios pesquisados, quase a totalidade destes não apresentam diabetes mellitus (34 dos 35 entrevistados, ou seja, 97%) e somente 1 indivíduo é acometido desta doença.

    O quadro é parecido em se tratando da análise da prevalência da hipertensão arterial, 91% não sofrem com ela, porém o número de portadores é um pouco maior, cerca de 9%, o que representa as características de 3 sujeitos do total entrevistado.

    Bem verdade que atualmente, em razão de exigência por parte da Corporação, os policiais se submetem semestralmente a exames de saúde, como condição sina qua non, para realização de Teste de Aptidão Física (TAF), que consiste em teste de corrida, flexão de braços e/ou na barra fixa, além de exercício abdominal, daí podermos crer que as declarações da não prevalência das doenças elencadas, podem ser tomadas como fonte confiável.

    Porém, conforme demonstrado nas tabelas anteriormente apresentadas, apesar das condições clínicas dos entrevistados estarem com a média semelhante à população brasileira, o fato de não cultivarem o hábito de praticar atividade física mais de 3 vezes semanais, a revelia da recomendação da OMS e, que sugere, pelo menos, 150 minutos dessas atividades durante o período de 7 dias, é que pode sim, ser um agravante nestes quadros diagnosticados no presente estudo, e, ainda, no surgimento de alguma morbidade que esteja relacionada ao acúmulo de peso.

Considerações finais

    Em função dos resultados demonstrados por meio da análise dos dados, apesar dos números parcialmente satisfatórios, evidenciou-se que não há, pelo menos por meio de estudos transversais, como alegar associação entre acúmulo de gordura visceral com diabetes mellitus e/ou hipertensão arterial nos entrevistados.

    Para entanto, seria necessário um acompanhamento longitudinal e em um número maior de pesquisados, pois a Corporação tem nas duas Unidades escolhidas para realização da pesquisa, aproximadamente, 65 indivíduos com as características pré-determinadas para o estudo, e cerca 5.900 (cinco mil e novecentos) de outros integrantes, entre homens e mulheres, de várias faixas etárias; para que por meio de outros protocolos existentes, além de laudos médicos, pudéssemos corroborar com a existência de alguma relação entre a atividade laboral destes Policiais Militares e a prevalência de qualquer patologia que esteja correlata a obesidade.

    Talvez o fato de serem obrigados a realizarem exames médicos para executarem o TAF seja um regulador positivo, mas, infelizmente, não há a mesma obrigação pra que realizem atividades físicas dentro das prescrições da OMS.

    Com as informações geradas com este estudo, espera-se fornecer informações relevantes para a reflexão sobre a condição de saúde dos participantes e contribuir na tentativa de ampliar os atuais níveis de conhecimento da qualidade de vida dos policiais militares. Espera-se, também, que os resultados aqui encontrados possam servir de referencial, devido à falta de dados sobre o tema abordado e auxiliar em futuros estudos.

Referências

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