A influência da preferência hemisférica na coordenação motora de atletas de MMA La influencia de preferencia hemisférica en la coordinación motora de luchadores de MMA |
|||
Centro de Estudos da Academia Senna de Lutas – CEASL Rio de Janeiro, Rio de Janeiro (Brasil) |
Valécio Senna | Bruno Freitas Alisson Padilha de Lima | Fabrício Cardoso |
|
|
Resumo Este estudo teve por objetivo estabelecer uma possível relação entre a predominância hemisférica com o desempenho de atletas de MMA em tarefas cognitivas motoras específicas da própria luta, que exijam coordenação óculo manual e encéfalo caudal. Para a consecução do objetivo deste estudo os participantes inicialmente foram submetidos ao teste de predominância hemisférica CLEM, e posteriormente foram submetidos à avaliação da coordenação motora óculo manual e encéfalo caudal a partir do protocolo proposto por Leão (2008). Os resultados mostram que os atletas que obtiveram maior número de pontos nas duas avaliações apresentam predominância hemisférica esquerda, sendo seguidos pelos que apresentaram como predominância a bi-hemisfericidade, sendo os atletas que apresentaram a predominância hemisférica direita os que obtiveram os piores resultados nas avaliações motoras. Unitermos: Coordenação motora. Hemisfericidade. Atletas de MMA.
Abstract This study aimed to establish a possible relationship between hemispheric dominance with the performance of athletes in MMA specific motor cognitive tasks of the struggle itself, requiring manual eye coordination and brain flow. To achieve the objective of this study, participants were initially tested using the hemispheric predominance CLEM, and then underwent evaluation of motor coordination and manual door brain flow from the protocol proposed by Leão (2008). The results show that athletes with the greatest number of points in the two assessments show left hemispheric dominance, being followed by those who presented as the bi-hemispheric dominance, and the athletes who showed right hemispheric dominance to those who obtained the worst results in evaluations motor. Keywords: Motor coordination. Hemispheric. Athletes in MMA.
|
|||
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 16 - Nº 156 - Mayo de 2011. http://www.efdeportes.com/ |
1 / 1
Introdução
O conjunto de lutas que formam o MMA (Mixed Martial Arts) é um campo da Educação Física, dotado de várias intervenientes e áreas de atuação, sendo extremamente bem, especificamente no tocante às mudanças de comportamentos e atitudes, girando com maior amplitude na transformação completa do indivíduo. A prática do MMA, como um jogo, destaca-se numa visão global da experiência existencial do homem, atuando na inter-relação dos diversos campos em que ela se dá, da cultura e da arte, do desporto e da liberdade, da sociedade e da individualidade, integrando o corpo ao processo mesmo de aquisição da experiência formativa do ser humano (VAZ, 2001).
Considerado como sendo de grande teor espacial temporal, dependência em lógica e concentração, concordando em parte com Vygotsky (1988) e Rizzi e Haydt (1997) que afirma que o lúdico influência muito o desenvolvimento do individuo e que é através do jogo que este indivíduos é estimulado, ganha autoconfiança, desenvolve a linguagem, o pensamento, a concentração e aprende a agir. Este jogo possui, além do seu caráter emocional, um grande poderio para incrementos em socialização, autonomia e desenvolvimento de fatores sociais tais como integração ao grupo e outros fatores de igual importância.
Sob todos os aspectos, aprendizagem e cognição são fenômenos interligados e interdependentes. O desenvolvimento de um implica na evolução do outro. A dependência entre eles institui funções neurais também distintas, as quais se apresentam sob formas de processo (aprendizado) e produto (cognição). Em outras palavras, a forma do processo de uma aprendizagem constitui o produto cognitivo a ele referenciado, ou seja, é capacidade de um indivíduo processar informações (SILVA, RABELLO e CARDOSO 2006).
Tem-se assim a aprendizagem como a mudança de comportamento viabilizada pela plasticidade dos processos neurais cognitivos. Considerando que a aprendizagem motora é complexa e envolve praticamente todas as áreas corticais de associação, é necessário compreender o funcionamento neurofisiológico na maturação a fim de fornecer bases teóricas para a estruturação de um plano de ensino que considere as fases de desenvolvimento neural da criança, maximizando assim o aprendizado (MOTA et. al, 2010).
Considerando que a noção espacial, o controle óculo-motor e a consciência corporal têm papel importante na elaboração do plano e na execução do movimento pelo SNC (sistema nervoso central), a atenção pode influenciar no controle motor por estar associada ao estado de vigília e ao feedback constante do gesto. Desta forma, o déficit de atenção implica em insucessos e em respostas abaixo das esperadas (DANCKERT, SAOUD e MARUFF, 2004). Para Brunnia (1999), o comportamento antecipatório e a atenção para o movimento (preparação) são realizados pelos mesmos caminhos, enfatizando mais uma vez o papel da atenção no domínio motor, sendo totalmente influenciado pela dinâmica da predominância hemisférica do individuo.
A idéia de que os dois hemisférios são especializados em diferentes modos de pensamento levou ao conceito de hemisfericidade. A hemisfericidade é uma forte tendência para a predominância de um dos hemisférios ou de um modo de processamento, independentemente do tipo de tarefa. Apesar dos hemisférios parecerem semelhantes, eles têm particularidades diferentes e fazem a diferença entre os indivíduos de acordo com a sua preferência de processamento e capacidade de balanceamento entre eles, podendo ser classificados em hemisférico esquerdo, hemisférico direito e bi-hemisférico, presume-se que esta utilização diferencial se reflete no “estilo cognitivo” do indivíduo, as preferências pessoais e a abordagem na solução (MARQUES, 2004).
A partir do comentando anteriormente este estudo teve por objetivo estabelecer uma possível relação entre a predominância hemisférica com o desempenho de atletas de MMA em tarefas cognitivas motoras específicas da própria luta, que exijam coordenação óculo manual e encéfalo caudal.
Metodologia
Tipologia do estudo
Nesta pesquisa se utilizou o método de uma avaliação de contexto que permitiu elaborar um estudo descritivo e correlacional acerca da predominância hemisférica e o desempenho cognitivo motor de atletas de MMA, especificamente, a referida avaliação define o meio ambiental concernente, descreve as condições reais e desejadas em relação ao referido ambiente, identifica as carências não supridas, e fornece informações para se planejar ações necessárias para a resolução dos mesmos.
Universo do estudo
O universo deste estudo foi composto por sete lutadores de MMA com idade compreendida entre 18 e 23 anos de idade, atletas da academia SENNA TEAM, da cidade do Rio de Janeiro.
Ética na pesquisa
O projeto desta pesquisa foi submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa envolvendo Seres Humanos da Universidade Castelo Branco (UCB/RJ) e aprovado sob protocolo nº 01/2009.
A coleta de dados se deu conforme a resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde do Ministério da Saúde. Assim, inicialmente foi solicitada autorização dos participantes para que o estudo fosse desenvolvido, por meio de um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido o TECLE.
Estratégias metodológicas
Para a consecução do objetivo deste estudo os participantes inicialmente foram submetidos ao teste de predominância hemisférica, o teste do CLEM, que apresenta uma organização pressuposta a analisar movimentos conjugados laterais dos olhos de um testado, que é registrado no modelo de sistema numérico de Borg (1983) “face de relógio”, para cada pergunta feita, através da utilização de uma câmera de vídeo para registrar estes movimentos. Os movimentos conjugados dos olhos são analisados como indicador da tendência de processamento hemisférico do mesmo. A base referencial da verificação está implícita na indicação dos olhos (conjugados) durante o processamento de questões pertinentes a natureza de cada hemisfério, ou relativamente à natureza bi-hemisférica do indivíduo sob teste, mostrado abaixo:
Problemas analíticos
Tenho 6 balas para dividir com 2 amigos. Com quantas balas ficará cada um?
Em um jogo de futebol uma equipe está vencendo por 3 X 1. Quantos gols a equipe que está perdendo deverá fazer para conseguir o empate?
No céu havia 8 pipas. Um vento forte levou 3 delas. Quantas ficaram voando?
Com 1 real consigo comprar 5 balas. Quanto custa cada bala?
Serão distribuídos 12 picolés entre 3 crianças. Quantos receberá cada criança?
Problemas espaciais
Uma pipa vermelha está voando no céu azul. De repente surge uma nuvem cinza e esconde a pipa.
Você está passeando numa floresta e encontra uma grande árvore caída. Por onde você passaria? Por baixo ou por cima dela?
Você está andando na rua no meio da multidão. Ao longe você vê o seu melhor amigo. Corra entre as pessoas até alcançá-lo.
Faça uma bola de chiclete crescer, crescer, crescer até que você possa entrar nela.
Você está chegando numa linda praia. Corra pela areia até a água e mergulhe.
Posteriormente os participantes foram submetidos à avaliação da coordenação motora óculo manual e encéfalo caudal a partir do protocolo proposto por Leão (2008), que avalia estas capacidades coordenativas a partir dos seguintes itens: Precisão do Movimento, Economia do Movimento, Fluência do Movimento, Elasticidade do Movimento, Regulação da Tensão, isolamento do Movimento e Adaptação do Movimento. Para cada item a ser avaliado o escore mínimo é de 0 pontos e o máximo é de 3 pontos.
Cabe ressaltar que por ser uma avaliação aberta os atletas foram avaliados a partir da realização de golpes específicos da própria luta de MMA.
Apresentação e discussão dos resultados
A partir da figura 1 pode-se perceber o desempenho dos atletas em relação à coordenação óculo manual onde o mínimo obtido por um atleta foi de nove pontos e o máximo foi de vinte pontos.
Figura 1. Desempenho dos Atletas em relação à coordenação óculo manual
Ao observar a figura 2 percebe-se que em relação ao desempenho da coordenação encéfalo-caudal o resultado mínimo obtido pelos atletas foi igual a 7 pontos e o máximo foi igual a 17 pontos.
Figura 2. Desempenho dos Atletas em relação à coordenação encéfalo-caudal
A partir da figura 3 é possível observar a relação entre a preferência hemisférica dos atletas e os seus níveis de coordenação óculo-manual e encéfalo-caudal, nota-se que os atletas que obtiveram maior número de pontos nas duas avaliações apresentam predominância hemisférica esquerda, sendo seguidos pelos que apresentaram como predominância a bi-hemisfericidade, sendo os atletas que apresentaram a predominância hemisférica direita os que obtiveram os piores resultados nas avaliações motoras.
Figura 3. Relação da predominância hemisférica dos atletas com o desempenho cognitivo-motor
A partir de uma análise dos resultados mostrados anteriormente acredita-se que o grupo de atletas hemisféricos esquerdos sobressaíram-se melhor na performance motora, dada às características do hemisfério dominante, neste caso, o esquerdo, que está relacionado à atividade cognitiva-motora, em que, na tarefa executada, o indivíduo necessitava de percepção, rapidez, e agilidade, para concluir a tarefa (RIBEIRO, 2006; CARDOSO, 2007; SILVA, 2002).
Acredita-se que os resultados desta pesquisa parecem trazer significativas informações para o ensino na área de Educação Física e outras afins, uma vez que aborda um fenômeno já bem conhecido da mente humana no seu envolvimento com o aprendizado motor, Isto é, o fenômeno da hemisfericidade. A aproximação desta questão específica, com a da atividade cortical a ela associada, talvez possa servir de significativa ajuda para a compreensão de como um indivíduo aprende no domínio hábil-motor (CARDOSO, 2007; MARQUES, 2004).
Conclusão
Por fim pode-se concluir que apartir dos resultados apresentados anteriormente acredita-se que, as funções bio-operacionais do Sistema Nervoso estão implícitas no processamento mental humano, quando o cérebro e a mente se conjugam para elaborarem o pensamento (ação motriz), para que esta se concretize de uma melhor maneira é preciso que tenha uma integração hemisférica.
Referências
BRUNIA, C. H. M. Neural aspects of anticipatory behavior. Acta Psychologica, v. 101, n. 2-3, p. 213-242, 1999.
CARDOSO, F. B. A utilização do programa de potencialização cerebral para a melhoria no lançamento da bola de boliche para atletas da seleção juvenil colombiana B. Dissertação de Mestrado. Universidade Castelo Branco. Rio de Janeiro, 2007.
DANCKERT, J.; SAOUD, M.; MARUFF, P. Attention, motor control and motor imagery in schizophrenia: implications for the role of the parietal cortex. Schizophrenia Research, v. 70, n. 2-3, p. 241-161, 2004.
LEÃO, M. Adaptação cultural e contributo para a validação da bateria Movement ABC para a população Portuguesa, dos 11 aos 12 anos de idade. Mestrado em Ciência do Desporto, na área de especialização de Atividade Física Adaptada, pela Faculdade de Desporto da Universidade do Porto, 2008.
MARQUES, L. J. Padrão de atividades cortical ótima para a aprendizagem hábil-motriz e cognitiva. Dissertação de Mestrado. Rio de Janeiro: Universidade Castelo Branco, 2004.
MOTA, R. S., CONCEIÇÃO, T. M. A., SOARES, T. M. C., LIMA E SILVA, I., CARDOSO, F. B., BERESFORD, H. Uma avaliação acerca do perfil somatosensorial de indivíduos hemiparéticos, Motricidade, v. 6, n. 3, p. 13-19, 2010.
RIBEIRO, L. H. B. A eficácia da potencialização cerebral e controle da mente na performance de atletas de equipes de nado sincronizado e futebol. Dissertação de Mestrado. Rio de Janeiro: Universidade Castelo Branco, 2006.
RIZZI, L.; HAYDT, R. C. Atividades lúdicas na educação da criança. São Paulo: Ed. Ática, 1997.
SILVA, V. F. Treinamento neurogênico bio-operacional: Uma Perspectiva da aprendizagem motora. (Apostila da Disciplina Bases Neurais da Aprendizagem Motora) UCB - Rio de Janeiro, 2002.
SILVA, V. F.; RABELLO R.; CARDOSO, F. Especialização Hemisférica. CEMH Centro de Estudos em Metacognição e Hemisfericidade, Rio de Janeiro, 2006.
VAZ, A. F. Técnica, esporte, rendimento. Movimento, Porto Alegre, v. 7, n. 14, p. 87-99, 2001.
VYGOTSKY, L. S. A Formação Social da Mente. São Paulo: Martins Fontes, 1988.
Outros artigos em Portugués
Búsqueda personalizada
|
|
EFDeportes.com, Revista Digital · Año 16 · N° 156 | Buenos Aires,
Mayo de 2011 |