Comportamentos de risco de um grupo de idosas. Análise de acordo com o nível de atividade física, índice de massa corporal e condições sócio-demográficas Conductas de riesgo de un grupo de mujeres mayores. Análisis de acuerdo con el nivel de actividad física, índice de grasa corporal y condiciones socio-demográficas |
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Graduado em Educação Física-Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia Pós-graduando em Educação Física Escolar- Universidade Católica de Brasília Professor da Secretaria de Educação do DF |
Wagner Barbosa Matias (Brasil) |
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Resumo O envelhecimento é um fenômeno natural, crescente mundialmente que atinge todos os seres humanos. Na atualidade está sendo creditado ao estilo de vida a principal responsabilidade pela situação que os indivíduos vão se encontrar na velhice ou por vivê-la de forma mais saudável. Com intuito de contribuir para a conquista da cidadania e conseqüentemente para a melhoria da qualidade de vida desta população surge cada vez mais iniciativas como a Associação de Amigos, Grupo de Convivência e Universidade Aberta à Terceira Idade (AAGRUTI) do qual faz parte o grupo de Idade Feliz. Nesse sentido, buscamos levantar as características dos sujeitos sociais que freqüentam este grupo e discutir a utilização dos comportamentos de riscos como elementos de elaboração de políticas públicas de saúde para a população, especificamente os idosos. Para tanto, foram entrevistadas vinte pessoas, todas mulheres, com média de idade de 66,4 ± 10,49 anos, peso médio de 61,24 ± 13,30 kg e estatua média de 1,54 ± 8cm. As informações foram coletadas na sede do grupo e utilizamos questionários semi-estruturado e o Questionário Internacional de Atividade Física (IPAC) versão 8. Análise dos dados foi feita a partir da estatística descritiva (média, desvio padrão e porcentagem), Os resultados indicam que 40% são inativos, outros 40% ativos e 20 % ativos. Em relação ao nível de massa corporal verificou que predominantemente que 55% estão normal e 35% acima do peso para a altura que possuem. A maioria dos idosos (50%) renda de 01 a 03 salários mínimos e em relação à escolaridade a maior parte com nível fundamental incompleto (55%). Fatores como baixa renda e níveis de baixa escolaridade podem está influenciando o estilo de vida/comportamentos de riscos de grande parte dos indivíduos, por isso, existe a necessidade de ampliação do foco das políticas públicas. Mas recomenda-se que mais estudos com um número maior de idosos sejam realizados para se obter informações suficientes para ratificar os resultados encontrados. Unitermos: Comportamentos de risco. Processo saúde doença. Terceira idade.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 16 - Nº 156 - Mayo de 2011. http://www.efdeportes.com/ |
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Apontamentos iniciais
A discussão realizada neste texto advém das inquietações existentes a cerca do ideário linear construído entre saúde e os comportamentos adotados pelos sujeitos sociais, especificamente os idosos, ou melhor, sobre a desvinculação dela das condições de vida dos indivíduos. Essa perspectiva ganha força á medida que os discursos utilizam o risco como elemento definidor e orientador das políticas públicas, das ações dos grupos sociais e dos hábitos dos seres humanos.
De uma forma objetiva e breve tentaremos abordar a complexidade que é o processo saúde-doença, comportamentos de risco, terceira idade e as diversas nuances que estão em torno deste debate. Para tanto, faz se necessário deixar claro que a construção do conhecimento não acontece isolado de uma concepção de sujeito- sociedade, portanto as reflexões elaboradas não são neutras. Além disso, para se construir uma nova perspectiva como bem lembra Almeida Filho (1992) faz se necessário questionar vigorosamente a base epistemológica e isso ocorre a partir da análise dos seus elementos conceituais mais importantes.
Espera-se que ao final de todas as discussões possamos traçar algumas características do grupo de idosos pesquisados e também as insuficiências e inconsistências da utilização dos comportamentos de risco ou seu antônimo estilo de vida como “determinantes da saúde” numa sociedade marcada pelas diferenças socioeconômicas e culturais. Para isso iremos problematizar os discursos sobre o risco, o processo saúde-doença, analisar os significados do aumento dos números de idosos e por fim, alguns hábitos e características daqueles que freqüentam o grupo de idade feliz.
Idoso, comportamentos de risco e saúde
A população idosa no Brasil como no mundo está em crescente, tal acontecimento é fruto de diversos fatores, dentre eles os avanços científicos e tecnológicos que vem contribuindo para o controle de uma série de doenças, principalmente as ligadas ao ambiente. No ano de 2020 a população idosa no país deve ultrapassar a marca dos 25 milhões (IBGE,2000) e pensando nas novas necessidades e no poder que este grupo populacional vem ganhando o Estado sentiu-se a na obrigação de formular uma política específica de afirmação e ampliação dos direitos do idoso-Estatuto do Idoso.
Este documento, sancionado em 2003 pelo presidente da república, apesar das merecidas críticas que vem recebendo constitui no principal documento elaborado pelo Estado, tendo o idoso tratamento igual aos indivíduos “produtivos” além de instituir penas aplicáveis a quem desrespeitar ou abandonar cidadãos idosos.
Na Bahia, segundo os dados do PNAD (2005) a população de idosos já atinge 9,2% e na cidade de Jequié/BA no censo de 2001 aqueles com acima de 60 anos chegava a 9,6% do total de habitantes. Números extremamente representativos para uma cidade que possui um PIB de R$637.765 mil reais e uma renda per capita de R$4.296 reais.
No Brasil, informações recentes mostram que a população idosa urbana (60 anos e mais) é mais feminina, declara-se mais da cor branca, é mais católica e, sobre tudo menos escolarizada – metade é atingida pelo analfabetismo funcional. No grupo de idosos que pesquisamos estes dados foram confirmados na medida em que, 25% eram analfabetos, 55% só possuíam o ensino fundamental incompleto e 10% tinham o ensino médio completo. Além disso, a maioria 50% possuía a renda 01 a 03 salários mínimos, 30% de até 01 salário mínimo, 20% de 03 a05 salários mínimos.
Sem dúvida, o que é ser idoso e o estado de saúde dos indivíduos estão diretamente á ligados às condições de vida. Mas, não podemos negar a participação dos hábitos diários, as nossas escolhas, na situação de saúde-doença da população. A tendência com o envelhecimento é diminuir as atividades físicas e o aparecimento das doenças crônicas não degenerativas, exemplo da obesidade. Fato que se confirma com as idosas do grupo Idade Feliz da cidade de Jequié, pois dentre as idosas entrevistadas o índice de inativas eram altos (40%), enquanto outras (40%) eram ativas e 20% muito ativas. Já em relação ao índice de massa corporal (IMC) 10% abaixo do peso, 55% normal, 35% acima do normal sendo, 10% com sobrepeso e 25% obesas.
Da mesma forma que é importante colocar que não podemos negar a contribuição dos estudos referentes aos comportamentos de risco para o controle de diversas doenças, é necessário alertar e questionar o papel que a utilização do risco vem promovendo para a confirmação de um ideário de alto-gerenciamento pelo sujeito dos seus comportamentos e do processo de saúde-doença. Chega a ser irônico diante das atuais contradições encontradas no cotidiano das pessoas, dizer que são elas as responsáveis por controlar os riscos e conseqüentemente seu futuro. Aceitar que o sujeito seja culpado pelo processo de adoecimento é reduzir o papel dos outros elementos presentes na realidade social, é diminuir o poder e o dever que o Estado tem de promover e garantir a vida.
Os estudos epidemiológicos normalmente reforçam isso ao realizar predominantemente estudos que estabelecem relação direta com a ocorrência de doenças e o estilo de vida adotada pelos indivíduos. Constantemente é exposto que o fumo, sedentarismo, bebidas alcóolicas etc., são nocivos à saúde. Algo verdadeiro que pesquisas neste sentido contribui, mesmo, para a prevenção de algumas enfermidades, contudo, este tipo de abordagem acaba por promove práticas exclusivamente individuais, recobertas de supostas intervenção coletiva (LUIZ; CONH, 2006).
O estilo de vida é usado como definidor do provável estado de saúde do indivíduo, e também como mecanismo orientador para a formulação de programas de controle dos hábitos das pessoas, que visam simplesmente à mudança do comportamento individual em oposição da necessidade de interferirem no conjunto de condições que possam promover a saúde. Ao apropriar somente da noção de comportamento de risco o Estado, as instituições e os pesquisadores estão estimulando um envolvimento individual mais ativo com a prevenção e imputando ao próprio indivíduo a responsabilidade por seu adoecer, gerando assim uma tendência de culpabilização da vítima (PALMA; ABREU; CUNHA, 2007).
Burnley (1998 apud Palma 2000 e Bragichevsky, Estevão e Palma2003) constrói a crítica a cerca da utilização do estilo de vida enquanto explicação para ausência de saúde do indivíduo. Para ele esta teoria (do “estilo de vida”), congruente com a ideologia dominante de saúde, sugere que a prevenção é uma responsabilidade pessoal, cujo foco de intervenção se dará sobre o controle dos fatores de risco individuais.
Por trás desta concepção individualista, existe o fenômeno da mercadorização da saúde que como aponta Lefévre (1991 apud Bagrichevisky, Estevão e Palma, 2006) vem ocorrendo ao longo do processo histórico de expropriação e de perda de sua condição de premissa existencial humana, transformando em algo apenas recuperado e recuperável no mercado de bens de consumo.
Contrapondo esta tendência hegemônica dos comportamentos de riscos como determinantes do estado de saúde das pessoas e de toda a coletividade, Palma (2000) aponta que já existe uma série de estudos que vem incorporando novas perspectivas para a análise do processo saúde-doença, inclusive orientados pelo conceito saúde da VIII Conferência Nacional de Saúde que rompe com a perspectiva apresentada pela Organização Mundial de Saúde, pois diz que:
Saúde é resultante das condições de alimentação, habitação, renda, meio ambiente, transporte, emprego, lazer, liberdade acesso e posse da terra e acesso aos serviços de saúde. E, assim, antes de tudo, os resultados das formas de organização social da produção as quais podem gerar grandes desigualdades nos níveis de vida (MINAYO, 1992, p. 10).
Nesta perspectiva desloca-se o foco da saúde do plano individual para o coletivo e assim, fixa a concepção de que ela está diretamente ligada às relações que os indivíduos entre si e com a natureza. Como coloca Czeresnia (2003) a percepção de que os principais determinantes de saúde são exteriores ao sistema de tratamento e ao indivíduo (biológico) não é novidade e sua difusão fortalece a perspectiva das políticas públicas voltada para a promoção da saúde/vida.
É necessário alertar que promoção da saúde está sendo vista neste momento com um amplo conjunto de estratégias que busca aumentar a saúde e o bem estar geral, transformando as condições de vida das pessoas através do trabalho intersetorial (CZERESNIA , 2003; AYERES 2002). Esta perspectiva só pode consolidar a partir do momento que rompe com o paradigma biomédico/comportamentos de risco e isso ocorre quando, por exemplo, adota o conceito de saúde apontada pela VIII Conferência Nacional de Saúde.
Ao buscar os comportamentos de risco dos idosos do grupo Idade Feliz e também informações sobre as condições de vida (escolaridade e nível socioeconômico) o intuito foi justamente foi fortalecer a visão de que as políticas públicas de maneira geral e especificamente as de saúde voltadas para os idosos devem tê-los em sua totalidade. Por tanto, realizar a crítica às insuficiências e inconsistências da concepção de comportamentos de risco, estilo de vida para a explicação da saúde é um dos pontos fulcrais para a consolidação de uma nova perspectiva que compreenda o ser humano, especialmente o idoso em sua complexidade.
Referências
ALMEIDA FLHO, N. A Clínica e a Epidemiologia. Salvador: Apce/ABRASCO,1992.
AYRES, J.R.C.M. Epidemiologia, promoção da saúde e o paradoxo do risco. Revista brasileira de epidemiologia, v. 5, supl. 1, p. 28-42, 2002.
BAGRICHEVISKY, M.; ESTEVÃO, A; PALMA, A. (ORG.). A saúde em debate na educação física. Blumenal: Edibes, 2003.
BAGRICHEVIKY, M.; ESTEVÃO, A; PALMA, A. (ORG.). A saúde em debate na educação física-volume 2. Blumenal: Nova letra 2006.
CHAIMOVWICZ, Flávio. Epidemiologia e o envelhecimento no Brasil. In: FERITAS, Elizabete Viana de, et all. Tratado de geriatria e gerontologia. 2ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2006.
CZERESNIA, D. O conceito de saúde e a diferença entre a prevenção e promoção. In: Czeresnia, Dina: Freitas, Carlos Machado de. Promoção da saúde: conceitos, reflexões, tendências. Rio de Janeiro: FIOCRUZ, 2003. PAG. 39-53.
IBGE. Censo demográfico 2.000. Disponível em: www.ibge.gov.br. Acesso em: 03/12/2007.
IBGE. Pesquisa por amostra de domicílio-2005. Disponível em: http://www.ibge.gov.br/cidades. Acesso em: 03/12/2007.
LUIZ, Olinda do Carmo e COHN, Amélia. Sociedade de risco e risco epidemiológico. Cadernos de saúde Pública, v. 22, n. 11, p. 2339-2348, 2006.
PALMA, Alexandre. Atividade Física, Processo Saúde-Doença e Condições Sócio-Econômicas: uma revisão de literatura. Revista Paulista de Educação Física. São Paulo, 14(1): 97-106, jan/jun, 2000.
PALMA, A.; ABERU, R. A.; CUNHA, C de A. Comportamento de risco e vulnerabilidade entre estudantes de Educação Física. Rev. Bras. Epidemiol. V. 10 n.1 São Paulo mar. 2007.
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