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Aspectos psicológicos no treino do jovem atleta

Aspectos psicológicos en el entrenamiento del deportista juvenil

Psychological aspects in training the young athlete

 

*Instituto Superior de Ciências Educativas

**Escola EB 2,3 Professor Agostinho da Silva

(Portugal)

Hugo Estanque*

Valter Pinheiro* **

prof_valterpinheiro@hotmail.com

 

 

 

 

Resumo

          O objectivo deste estudo bibliográfico é estabelecer um conceito relacionado com o treino psicológico do jovem atleta e exemplificar algumas técnicas para estimular a sua motivação. Baseado em teorias existentes, este estudo pretende esclarecer e instrumentalizar todos os interessados no treino dos jovens.

          Unitermos: Treino psicológico. Motivação. Atletas jovens. Formação de atletas.

 

Abstract

          The objective of this bibliographic study is to concept the psychological young training and give examples of techniques which are capable to improve the athlete’s motivation. Based on existing theories, this study pretends to inform and instrumentalize all those interested in formation and training young athletes.

          Keywords: Psychological training. Motivation. Young athletes. Training children and youth. Formation.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 16 - Nº 156 - Mayo de 2011. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    O tema deste artigo debate o treino mental com as crianças e jovens. As pessoas que hoje são adultos passaram todos por uma etapa em que foram crianças e jovens e só chegaram àquilo que são hoje passando por experiências, em termos de aprendizagem, de aquisição de capacidades físicas, técnicas e das capacidades mentais, depois de realizarem um enorme trabalho para conseguirem chegar a este ponto.

    É comum no desporto de hoje em dia, jovens atletas não obterem os resultados desejados nas suas competições. Acredita-se que isto ocorre por muitos motivos, como o nível de maturidade dos atletas, a incoerente exigência e pressão por resultados positivos em detrimento da evolução como atleta, entre outros, por isso, cada vez mais procura-se enriquecer e desenvolver novas técnicas. Nessas dimensões, existe o treino psicológico, que se mostra, com o passar dos anos, uma ferramenta muito útil para a obtenção de resultados desportivos. Segundo Becker Júnior (2002), a utilização de técnicas de treino psicológico possibilitam aprender, variar e aperfeiçoar as capacidades cognitivas. Entre elas existe a motivação, um factor chave para o desenvolvimento do interesse e auto-estima do atleta. Segundo Roberts (1995), a motivação tem um papel muito importante na vida das pessoas, mas, lamentavelmente, um factor pouco entendido no meio prático.

    Uma criança ou um jovem, não sabe se vai ser bom em alguma coisa. Mas da forma como os outros os tratam e lhes respondem, se um treinador acredita neles e lhes mostra que acredita que eles são capazes, então eles ficam em condições de começar a desenvolver essa confiança, passando a acreditar em si e nas suas capacidades (Terry Orlick, 1999).

    Assim, este artigo pretende de forma analítica transmitir os aspectos psicológicos que marcam presença no treino e influenciam o jovem atleta e também justificar a relevância da implementação de programas de treino de competências psicológicas devidamente estruturados e conduzidos por profissionais sensibilizados e com formação específica para tal. Simultaneamente, também são debatidas algumas das principais competências psicológicas que normalmente devem ser desenvolvidas no jovem praticante.

Objectivos da iniciação e os seus aspectos psicológicos

    Um dos primeiros aspectos que há a referir quando se fala nos aspectos psicológicos no treino do jovem atleta, é a possibilidade real de modificar, através do treino, as competências psicológicas dos atletas (J. Vieira, 1998).

    No desporto são exigidas muitas capacidades dos atletas e infelizmente muitos profissionais ainda não têm o interesse em trabalhar o factor psicológico do atleta de uma maneira contínua, a fim de melhorar ainda mais sua performance. Segundo Weinberg e Gould (2001), por muitas vezes o treino psicológico é negligenciado por falta de conhecimento, percepção, falta de tempo ou de que as habilidades psicológicas são inatas ao ser humano e não podem ser treinadas. Becker (2002), indica que o treino psicológico e o treino físico deveriam desenvolver-se juntos, até à formação de uma unidade, sendo que os programas de treino dos atletas devem levar em conta e integrar ambas as formas de maneira bem distribuída.

    Um bom treino psicológico pode corresponder a uma percentagem extra de motivação para uma melhor realização dos objectivos. Não quer isto dizer que seja necessário ter um psicólogo na equipa. Acredito que esta função possa ser desempenhada pelo treinador no decorrer do treino geral. É possível faze-lo graças ao seu conhecimento do universo que rodeia o treino dos jovens, da paixão pelo jogo, da experiência e do conhecimento da mente humana.

    Certamente que este é um dos temas principais e mais polémicos quando se pretende abordar o desporto para crianças e jovens. Ou seja, trata-se basicamente de definir qual a orientação que deve ser seguida pelos programas desportivos de iniciação e formação desportiva. A participação numa actividade desportiva pode trazer vários benefícios: do ponto de vista físico, os aspectos positivos prendem-se com a melhoria e aprendizagem de competências desportivas e a promoção de saúde e forma física. Do ponto de vista psicossocial, é frequente associar o desporto com o desenvolvimento das competências de liderança, auto-disciplina, respeito pela autoridade, competitividade, cooperação, amizade e, por fim, a auto-confiança (Smith & Smoll, 1996). Igualmente, também a família do atleta pode beneficiar do facto do jovem praticar desporto, visto o seu envolvimento saudável nas tarefas desportivas pode promover e contribuir para a união e a força familiar.

Personalidade no desporto e no exercício

    Uma das questões que treinadores, professores, pais, dirigentes colocam frequentemente está relacionada com o facto de determinados atletas jovens apresentarem, quase sistematicamente, excelentes rendimentos nas competições, enquanto outros, apesar de possuírem boas competências e um bom potencial do ponto de vista físico e técnico falharem e terem rendimentos desportivos abaixo do esperado, principalmente em situações de maior pressão competitiva. Várias vezes, são os que acusam a pressão que mais preocupam os treinadores, colocando-os perante um dilema difícil de resolver, pois eles apresentam boas características para render e ter sucesso quando chegarem aos seniores ou quando tiverem ao mais alto nível, mas ficam aquém do esperado nas competições não se conseguindo assim tirar o máximo das suas potencialidades. Quando este mau rendimento se torna frequente, é normal começarem a surgir justificações de ordem psicológica a explicarem o problema, por exemplo: “ele é muito nervoso”, “o miúdo não se consegue concentrar”, “ tem erros infantis”, “não aguenta a pressão” ou ainda “ este miúdo é muito fraco psicologicamente”. No sentido de chegar a uma conclusão sobre estas situações, tem aparecido nos últimos anos um grande número de estudos que procuram analisar quais as competências psicológicas que diferem nos jovens atletas com sucesso, com bons rendimentos desportivos, dos outros que apresentam piores performances. Uma das questões que se procurou responder, dizia respeito à personalidade dos atletas, isto é, procurava-se chegar à conclusão se estas diferenças entre desportistas estavam relacionadas com as diferenças individuais no que diz respeito à sua personalidade. Os resultados não foram muito esclarecedores, sendo que, até hoje não se conseguiu encontrar perfis na maneira de ser que comprovassem os distintos rendimentos entre eles.

    Os dados seguintes apresentam as conclusões gerais e os principais dados dos estudos desta investigação (adaptado de Vealey, 1992; fonte: Cruz, 1996):

  • Não está comprovada a existência de qualquer “personalidade atlética”, ou seja o padrão de personalidade distinto entre atletas e não atletas.

  • Não esta comprovada a existência de diferenças na predisposição da personalidade entre subgrupos de atletas, isto é modalidades individuais em comparação com as colectivas e desportos de contacto comparados com os de não contacto.

  • O sucesso no desporto parece ser facilitado por uma saúde mental positiva, por auto-percepções positivas e por melhores competências cognitivas e comportamentais.

  • As estratégias de intervenção cognitivas promovem e facilitam o rendimento e a realização, e as competências de confronto, mas não tão eficazes na mudança nos traços (características constantes do individuo em situações variadas) ou disposições de personalidade.

  • A participação em práticas e actividades desportivas parecem não contribuir significativamente para a construção do carácter ou de atributos de personalidade valorizados socialmente.

  • O exercício e o treino de manutenção promovem o auto-conhecimento e reduzem estados afectivos negativos, mas têm pouca influência nos traços de personalidade.

À espera do sucesso dos filhos – a pressão psicológica dos pais

    Sendo por vezes obsessiva a cultura do desporto espectáculo, penso que ainda mais perigosa e destrutiva é a “mania” de se considerar como valor ético o conceito de que ganhar é tudo e de que uma pessoa não vale nada enquanto não for o número 1.

    Não vale a pena saber “como jogaste” pois apenas interessa saber se ganhaste!

    Se esta ideia de ganhar a todo o custo construiu universidades de algum nível desportivo, teremos de nos preocupar pelo facto deste mesmo conceito estar a penetrar cada vez mais também no desporto de crianças e jovens (Thomas Tutko e Williams Bruns, 1998).

    Investem horas dos seus dias nas actividades dos filhos, dão tudo por tudo para que eles sejam os melhores. Mas do apoio à pressão é “um piscar de olhos”. São muitos os pais que criam expectativas exageradas acerca do futuro dos seus filhos, projectando neles o que sonharam para si.

    Chegam às captações com o penteado à Cristiano Ronaldo ou David Luiz, as golas levantadas como Cantona, as botas iguais às de Messi, ou com o número e nome do ídolo estampado na camisola. São centenas e centenas de miúdos que todos os anos esperam horas para mostrar os seus dotes de futebolista nos treinos de captação dos grandes clubes.

    Empurrados por sonhos muitas vezes alimentados ou até criados pelos próprios pais, muitos acabam por viver grandes desilusões, que podem levar a situações de stress pessoal e familiar. Consciente ou inconscientemente, os pais exercem uma grande influência na formação desportiva dos filhos. Muitas vezes são os primeiros a incentivá-los a dedicarem-se a uma carreira desportiva. Apoiam financeiramente, dedicam bastante tempo para os acompanhar aos treinos e competições e às vezes fazem um sacrifício económico brutal. Tudo isto à espera de ter um campeão dentro de casa.

    Nalguns casos, os pais foram mesmo os primeiros técnicos a ensinar os primeiros passos aos seus filhos, como é o exemplo do pai das irmãs Williams ou da mãe de Martina Hingis, no ténis.

    Esta influência tanto pode revelar-se benéfica como negativa na vida dos filhos, dependendo da forma como é exercida. Como sabemos, existem pais que interferem de forma negativa na vida dos filhos, por exemplo criando expectativas exageradas, pressionando-os para ter sucesso, valorizando o princípio de que "vencer é tudo". Esses pais podem atrapalhar o desenvolvimento desportivo e psico-social dos seus filhos e prejudicar psicologicamente o seu desenvolvimento.

    Cada temporada que se inicia, um número enorme de crianças aparece para aprender algum desporto e, talvez, chegar a ser um atleta de alto nível. Elas são submetidas a uma autêntica “peneira”, sendo que, a grande maioria deles vão sendo dispensados, para se conseguir um grupo de qualidade. Isso não acontece apenas nas, cada vez mais procuradas, escolinhas de futebol, cujo interesse é manter um número máximo de crianças (e a mensalidade que o responsável paga) a qualquer preço.

    A preocupação dos que trabalham nas escolinhas, tem sido a de aperfeiçoar cada vez mais, a metodologia de avaliação das crianças, sem levar em conta o sentimento que cada uma delas vivencia no processo. Cratty (1983) diz que " raramente o impacto da luta competitiva nos jovens participantes é neutro, seja em seus corpos ou personalidades. Na verdade, o desporto competitivo compara o desempenho da criança frente a outras ou contra marcas (padrões). Essa comparação pode ser entre grupos de crianças. A criança faz comparações para ganhar mais informações a respeito do seu nível de capacidade. Neste sentido a criança tem muito mais informações sobre a influência dos seus remates no futebol e lançamentos no basquetebol, contra adversários, do que lançando uma bola à distância, sozinha. Por isso, a criança prefere competir com outras do mesmo nível de aptidão, para testar o seu valor. Muitas vezes isso não ocorre, o que pode implicar traumas mais severos para os que levam desvantagens, em geral os mais jovens e menores (Gelfand & Hartmann, 1978). Escolas com alunos muito pobres, com estatura inferior e habilidade menor, várias vezes são massacradas pelos resultados e pela humilhação, frente a escolas particulares (com melhores instalações, material e professores) de alunos mais desenvolvidos, com maior estatura e habilidade.

    É verdade que crianças com mais habilidade podem oferecer um modelo para os menos hábeis e melhorar o seu desempenho mas, no momento de competir individual ou colectivamente, deve-se tentar equilibrar as forças. Vencer um adversário demasiadamente fraco não aumenta a auto-estima do vencedor, o derrotado fica humilhado e a sua auto-estima é reduzida. Observa-se, assim, a necessidade de colocar atletas e equipas semelhantes para as competições infantis. Se isso não ocorrer, haverá uma situação de stress, que pode prejudicar a criança na estruturação da sua personalidade.

O stress competitivo

    O stress é o resultado quando a criança percebe o desequilíbrio entre o seu nível de aptidão e as exigências do meio ambiente (Thomas, 1978). Essas condições impostas têm origem, geralmente, no treinador e na família. Estas exigências levam a um incremento no nível de ansiedade das crianças, com repercussões sobre as funções do ego como afecto (auto-estima), orientação, percepção e área motora (execução das acções). Um programa de educação física baseado em fortes competições desportivas, pode resultar em stress que irá prejudicar as crianças (Lintunen, 1985). Várias vezes isso tem ocorrido porque a competição é muito mais importante para o professor de Educação física do que para as crianças (Thomas, 1978). Se examinarmos objectivamente o desporto, poderemos verificar que a competição em si mesmo não é boa nem má, o que realmente importa são as circunstâncias do ambiente onde a criança compete.

    Há uma crítica muito forte, quanto às consequências das competições desportivas sobre a personalidade da criança. Algumas pesquisas, no entanto, mostram que, em geral, as competições desportivas determinam níveis médios de stress. Não podemos entretanto negar que outras actividades não desportivas, dentro da sala de aula, podem criar mais stress (Thomas, 1978).

    Alguns autores utilizaram questionários para a avaliação de perturbação emocional determinada pela competição (Skubic, 1965), abordando mudanças nos padrões de alimentação, sono e humor. O insólito é de que ele encontrou mais relatos de instabilidade emocional, na liga infantil de basebol, entre os vitoriosos. Por outro lado, Scanlan & Passer (1978,1979) avaliando os níveis de ansiedade antes e após as competições, verificaram que os dos vitoriosos eram menores do que os dos derrotados.

    Para verificar objectivamente, o stress imposto à criança pelo desporto, Hansen (1967), mediu a frequência cardíaca dos meninos que jogavam na liga infantil de basebol. Verificou que, antes de bater a bola enviada para ele, cada menino apresentava cerca de 166 batimentos cardíacos, em média, ou seja, 56 a mais que a média dos outros colegas que mostravam cerca de 110 bpm. Estes registos, entretanto, não significam que há prejuízo para as crianças submetidas a pressão deste tipo.

Os aspectos psicológicos devem ser tratados separadamente ou integrados no processo geral do treino do jovem atleta?

    A divisão do treino nos diferentes factores que o constituem, treino físico, técnico, táctico e psicológico, é um procedimento apenas aceitável quando é necessário compreender o funcionamento particular de cada uma destas dimensões.

    Embora seja evidente o papel desempenhado pela dimensão psicológica, não apenas na actividade desportiva mas em toda a nossa vida, é rara a inclusão de exercitação psicológica específica no processo de treino. Mas o treino psicológico deve estar presente em todos os exercícios. Quanto mais o treino simular o esforço e o ambiente de competição, mais específico é o treino psicológico. Semelhantemente às outras capacidades, é necessário realizar um treino isolado com o intuito de melhorar aspectos deficitários (J. Adelino, 1998).

A integração

    A integração é uma das fases mais importantes do treino mental, é aqui que se fortifica cada vez mais a relação entre os treinadores, os jogadores, os métodos, as filosofias e os objectivos, é no incutir claro, objectivo e decidido que se começa a preparar o atleta mentalmente e se começa a faze-lo identificar-se com o clube, algo que levará a uma maior entrega, querer e motivação.

O poder da palavra / feedback

    Saber em que situação tem o dever de elogiar ou criticar um jogador requer um conhecimento mais profundo de cada um, se existem jogadores que criticados dão uma resposta forte dentro do campo, outros quando confrontados com a mínima crítica desmoralizam completamente. A palavra bem usada, um correcto feedback na altura certa e no espaço certo é de extrema relevância a nível psicológico.

    O feedback não é uma técnica de treino psicológico propriamente dito, porém pode ser direccionado para este fim, além de ser uma alternativa muito eficaz na detecção de várias sensações percebidas pelos jovens atletas nas vivências desportivas. Williams (1991), define o feedback como uma ferramenta para obter informações sobre a qualidade da execução da actividade. O feedback é muito interessante porque é uma troca de informações dos dois lados, do técnico para o atleta e do atleta para o técnico. Um feedback bem realizado revela emoções, preferências e descontentamentos dos atletas, e nos possibilita detectar o seu nível de motivação para posteriormente ser prestado um atendimento mais próximo e mais efectivo. Para Williams (1991), o feedback é o factor mais eficaz para o controle da aprendizagem e, que, sem ele não existe aprendizagem.

    Quando um feedback mostra uma melhoria de rendimento do atleta, mesmo sendo pequena, já serve como uma técnica de motivacional. Weinberg e Gould (2001), definem a importância do chamado “feedback motivacional” destas três maneiras. Serve para dar uma referência de óptimo rendimento. Um reforço, estimulando sentimentos dos atletas e serve como controlo de metas, (se elas estão a ser alcançadas).

Constante acompanhamento

    Fundamental também é o jogador sentir que está a ser acompanhado, acarinhado e valorizado.

    Aqui os treinadores têm que ter “1000 olhos”, “1000 vozes”, os treinadores tem que parecer que estão em todos os lados. Desta interactividade podemos ganhar jogadores mais motivados, mais confiantes, mais confortáveis, importante para combater de imediato pequenas frustrações momentâneas, que poderiam tornar-se rotineiras. Fortifica também a relação do atleta com o treinador.

A unicidade

    Cada jogador é único, logo cada jogador é fundamental, uma equipa não pode ser a soma de um nome mais os restantes, mas sim a soma de todos os nomes.

    É na competitividade saudável interna que poderá estar a chave para uma evolução mais rápida de todos, o pensamento tem que ser este, “ Tenho que trabalhar para provar que sou a melhor opção para o lugar, caso passe para a melhor opção tenho que trabalhar para manter, porque quem foi colocado na segunda opção seguindo este pensamento ira tentar provar o mesmo”, é neste seguimento saudável de trabalho, nesta “luta”, neste querer, que se ganham as oportunidades e que se faz crescer uma equipa.

Pós-competição

    Aprender com os erros e com as conquistas, levantando a cabeça e olhando em frente, é a grande solução, mas em muitos casos os erros deixam marcas no jovem atleta, cabe ao treinador tentar minimizar os efeitos e aos poucos ultrapassar as dificuldades, as frustrações e as quebras motivacionais do jovem atleta.

Estudos sobre o treino psicológico

    Num estudo científico, Scalon (2004), concluiu que o treino mental (uma das técnicas de treino psicológico) é uma variável importante tanto para a melhoria da performance, quanto para a aquisição de habilidades motoras. O treino mental deve, também, ser planificado e bem planeado, respeitando a individualidade biológica e psicológica de cada atleta.

    Segundo Becker (2002) o treino psicológico proporciona ao atleta a aprendizagem, manutenção e aperfeiçoamento psicofísico. Fundamental para um bom desenvolvimento do jovem. Para Perez (1995), o objectivo do treino psicológico é melhorar as habilidades psico-fisiológicas que influenciam o rendimento desportivo, bem como os protagonistas do meio (desportistas, treinadores, etc.). Essas habilidades são: Organização da carreira desportiva, a auto-motivação, o confronto de situações stressantes, o controlo da tensão e a adaptação às cargas de treino e mudanças ambientais.

    (Becker, 2002) afirma: “o objectivo e a meta do treino psicológico é a modificação dos processos e estados psíquicos (percepção, pensamento, motivação), ou seja as bases psíquicas da regulação do movimento. Essa modificação será alcançada com a ajuda de procedimentos psicológicos”.

    Através de medidas psicológicas de treino, os objectivos finais podem ser alcançados. Estes objectivos são (Becker, 2002): a auto-regulação da actividade; influência sobre a habilidade; manejo da auto-imagem; recuperação e reabilitação do atleta; e por último, mas não menos importante a motivação.

Motivação no desporto

    Que motivos levam o jovem atleta a alcançar o seu objectivo ou em se empenhar mais?

    Essa é uma questão muito individual e deve ser tratada como tal. Um treino psicológico, voltado para a motivação, pode ser a chave para que o atleta se auto-motive. Este trabalho motivacional só acontece com a boa vontade do atleta e a boa estruturação das sessões de treino, de preferência, individualizada. (Becker, 2002).

    Alguns autores ressalvam questões referentes à motivação:

  • Perez, (1995): “Estar motivado é querer obter um bom rendimento e fazer o máximo possível para consegui-lo.”

  • Roberts, (1995): “...a motivação refere-se a factores de personalidade, variáveis sociais ou cognitivos que entram em jogo quando uma pessoa realiza uma tarefa a qual está a ser avaliada, entra em competição com outros e tenta expressar um certo nível de exigência.”

  • Becker (2004): “...factor muito importante na procura de qualquer objectivo.” “...assim sendo, a motivação é um elemento básico para o atleta seguir as orientações do treinador e praticar diariamente as sessões de treino.”

  • Heckhausen (2004): Motivação é um processo que procura melhoria ou manutenção da própria capacidade em todas as actividades, nas quais existe uma norma de qualidade (onde se pode medir qualitativamente o próprio empenho) e a execução pode levar ao sucesso ou fracasso.

    A motivação é um dos pontos determinantes para o sucesso ou o fracasso de uma carreira desportiva. O jovem atleta com motivação elevada, treina com mais entusiasmo, obtém modificações positivas nos gestos motores, ganha confiança em si mesmo e, consequentemente, tem mais probabilidade de sucesso do que outros atletas despreparados física e mentalmente. Ganhando, o atleta volta a motivar-se e treina com mais entusiasmo, começando tudo outra vez. A partir deste pensamento, podemos visualizar a seguinte imagem:

Figura 1. Circulo de motivação

    Algumas das técnicas mais utilizadas no meio desportivo para o aumento de motivação.

Auto-motivação

    Segundo Samulski (citado por Rubio, 2000): “Sobre técnicas de motivação compreende todas aquelas medidas que uma pessoa aplica assumindo o controlo sobre o seu próprio comportamento, para regular o seu nível de motivação”.

    O treino de Auto-motivação divide-se em três técnicas: cognitivas, motoras e emocionais.

Técnicas Cognitivas (Rubio, 2000)

    Abrange as funções psíquicas como a percepção, imaginação e memória. Por meio de processos avaliativos, determinações de metas pessoais, atribuição de causas e auto-afirmações, os praticantes modulam seu estado motivacional actual.

Técnicas Motoras (Rubio, 2000)

    Alguns atletas actuam contra o desânimo e a falta de motivação utilizando processos de movimentação. Noutros casos, a participação na organização e realização do treino também é uma técnica motivadora para alguns.

Técnicas Emocionais (Rubio, 2000)

    Alguns atletas estimulam-se por meio de emoções positivas durante o exercício e até por estímulos musicais para criar um estado emocional agradável.

Estabelecimento de metas

    Esta técnica consiste em traçar as metas verdadeiras de cada atleta, para que o mesmo tenha sempre em mente seus objectivos, permanecendo focado e motivado nas actividades desportivas por mais tempo. Segundo Perez (1995), além de se traçar os objectivos, o treinador e o atleta poderão direccionar o trabalho para alcançar de maneira mais eficaz as metas pretendidas.

    Segundo Weinberg e Gould (2001), as pessoas não tem dificuldade para traçar objectivos, mas, sim, em estabelecer metas efectivas, realistas e criar um programa para atingi-las. Neste caso, temos três tipos de metas objectivas:

  1. Metas de resultado: focalizam-se normalmente em resultados competitivos de eventos, bem como vencer um torneio, uma corrida ou ganhar uma medalha. Nesse caso, o resultado não depende só do atleta mas sim, dos adversários e de outros factores externos imprevisíveis.

  2. Metas de desempenho: são metas que dizem respeito somente ao atleta sem levarem em consideração outros factores como, adversários. É a típica comparação do desempenho próprio, onde se compara os resultados anteriores do atleta, como por exemplo, em treinos.

  3. Metas de processo: São acções praticadas durante o desempenho para actuar bem. É como se fosse uma mini meta, com o fim de alcançar um objectivo maior. Um nadador, por exemplo, pode pensar em manter a propulsão de pernas fortes para ter mais velocidade no nado.

    Existem também as chamadas “Metas Subjectivas”, que são as metas globais do indivíduo. Estas metas são muito importantes porque alguns atletas têm muitas aspirações e querem realizar muitas coisas ao mesmo tempo. Porém, traçando metas subjectivas ou globais eles seleccionam as prioridades visando o objectivo maior, sem perder tempo com outras metas menos importantes.

Conclusão

    Conclui-se que o treino psicológico, de uma maneira geral, serve muito para um aumento do rendimento de várias habilidades psicológicas e físicas, porém, desde que sejam levados em consideração vários factores, como a própria decisão do atleta em participar num programa de treino desse tipo e a boa preparação do profissional que o acompanha.

    Mais especificamente, o treino psicológico voltado para a motivação traz muitos resultados positivos e ajuda muitos jovens atletas a “sobreviverem” neste mundo competitivo, stressante, mas apaixonante. O treino psicológico é uma área que precisa ser mais difundida a nível do desporto jovem e mais incentivada no meio científico, para que todos evoluam no melhor sentido e beneficiem dos seus vitoriosos resultados.

    Importante referir o papel dos pais, pois a pressão psicológica e falta de apoio emocional por parte destes podem produzir filhos stressados, ansiosos, emocionalmente desequilibrados, inseguros, com problemas de auto-estima e autoconfiança, entre outros. Esses estados psicológicos negativos acabam por influenciar de igual forma a performance dos atletas, deixando-os frustrados e infelizes.

    Treinar crianças e jovens providencia uma excelente oportunidade para os influenciar, positivamente, nas suas vidas. Este facto é extremamente importante, quando o treinador e/ou professor, compreende o desenvolvimento das crianças em relação às suas capacidades desportivas, vê as crianças como únicas e individuais, e interessa-se constantemente pela evolução dos processos de ensino e aprendizagem.

    Finalmente, ser um treinador ou professor de sucesso com crianças é continuar a aprender em cada treino e com cada criança, tornando-se cada dia, num treinador melhor.

    Ser treinador de crianças e jovens não é, unicamente, ter noções metodológicas do treino. Ser treinador de jovens e crianças é muito mais do que isso. Implica ter conhecimentos acerca do desenvolvimento da criança, compreender o seu pensamento e a sua cognição. Saber que as crianças e jovens que dirige e auxilia no desporto percepcionam-no como um modelo social a seguir e a respeitar.

    Não se esqueçam da seguinte frase: pensem sempre em termos de longo prazo, quando estiverem a trabalhar com jovens (Tudor Bompa, 1999).

Referências bibliográficas

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  • Becker Júnior, Samulski, D (2002). Manual de treinamento psicológico para o esporte. 2.ed. Erechin, Fevale.

  • Cruz, JF. (1996). Características, competências e processos psicológicos associados ao sucesso e ao alto rendimento desportivo.

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  • Marques, A. (1998). Seminário Internacional Treino de Jovens: comunicações, Lisboa.

  • Marques, A. (2004). O desporto como modelo educativo. Uma pedagogia do esforço, uma cultura da exigência. In Educação pelo Desporto. Realidade ou utopia. Lisboa: Instituto Nacional do Desporto.

  • O melhor da revista Treino Desportivo / Centro de Estudos e Formação Desportiva ; dir. António Fiúza Fraga. (2000) Lisboa.

  • Orlick, Terry; Botterill, Cal. (1975) Every kid can win, Nelson Hall, USA

  • Pérez, G; Cruz, J. e Roca, J. Psicología y deporte. Madrid: Alianza Editorial, 1995

  • Rúbio, Kátia (2000). Encontros e Desencontros: Descobrindo a Psicologia do Esporte. São Paulo: Casa do Psicólogo.

  • Seminário Internacional Treino de Jovens, Os caminhos do sucesso, Lisboa, Novembro 1999 / dir. de António Fiúza ; coord. de Jorge Adelino, Jorge Vieira e Olímpio Coelho.

  • Weinberg, RS, Gould, D (1996). Fundamentos de psicologia del deporte y el ejercicio físico. Barcelona: Editorial Ariel, S.A.

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