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As Olimpíadas e a Copa do Mundo no Brasil: será?

Los Juegos Olímpicos Olimpíadas y la Copa del Mundo en Brasil. ¿Será posible?

 

*Professora Doutora do Departamento de Educação Física

**Professora Mestre do Departamento de Educação Física

***Estudante de graduação do Departamento de Educação Física

Universidade Federal de Viçosa

(Brasil)

Marizabel Kowalski*

Daniela Gomes Rosado**

Karen Cristine Rodrigues Alves***

Janderson Pereira Machado***

Fernanda Resende Lobato***

danielagomesrosado@yahoo.com.br

 

 

 

 

Resumo

          O Brasil está passando por um momento de grande visibilidade internacional devido aos mega eventos esportivos que acontecerão no país nesta década. Mas será que o país está preparado para isso? O objetivo dessa pesquisa é justamente discutir e analisar a situação do Brasil. Para isso utilizamos a revisão bibliográfica como método de nossa análise. Através desse estudo entendemos que uma nação olímpica não se constrói apenas com estádios modernos e arrojados, nem só com uma infra-estrutura de serviços capaz de abrigar atletas, turistas e a mídia mundial. Essas condições são indispensáveis, mas insuficientes. Mais do que instalações capazes de fascinar o mundo com suas linhas modernas ou sua arquitetura revolucionária, um país olímpico só se forma quando milhares de centros esportivos são espalhados por sua geografia e quando são utilizados a partir de uma política de esportes abrangente, permanente e incentivadora.

          Unitermos: Mega Eventos Esportivos. Políticas públicas. Brasil.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 16 - Nº 156 - Mayo de 2011. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    Nessa década o Brasil receberá a copa do mundo de futebol, com jogos realizados por toda sua extensão territorial, e a olimpíadas, com sede no Rio de Janeiro. Esse são os dois maiores eventos esportivos do mundo, que atraem olhares constantes e críticos a sociedade que os recebem. Portanto, o Brasil está em foco no mundo. O nosso país terá a responsabilidade de receber turistas e atletas do mundo inteiro com simpatia, segurança e organização. Simpatia não falta ao brasileiro, mas e segurança e organização? Será que é uma questão apenas de reestruturação física ou também social? Temos condições para corresponder à expectativa mundial? São essas perguntas que vão nortear esse trabalho.

O Brasil é um país “sério”?

    Charles de Gaulle disse que o Brasil não é um país sério? A frase "Le Brésil n’est pas um pays sérieux". O Brasil não é um país sério - foi atribuída ao presidente francês Charles de Gaulle, quando surgiu uma crise política entre Brasil e França, nos anos 60. A apreensão de pesqueiros franceses que capturavam lagostas na costa brasileira teria irritado de Gaulle e o levado a dizer que o Brasil não era um país. Segundo a versão corrente o embaixador do Brasil em Paris, Carlos Alves de Souza, teria acrescentado o adjetivo sério, para amenizar a situação. A crise foi resolvida, mas o mal-estar sempre permaneceu apesar do general de Gaulle negar até a sua morte ter dito tal frase.

    O surpreendente foi que a frase caiu no gosto popular do Brasil. E os próprios brasileiros a adotaram como uma crítica a qualquer deslize que aconteça na política nacional. E como são muitos os escândalos de corrupção, a frase que de Gaulle teria dito, ou não, é uma das mais repetidas no nosso País.

    No comentário de: Berenice V. C. Santander [Visitante] Pergunta: Ele estava errado? Pelo que vemos "rolar" nos últimos 22 anos, e piorando nos últimos 6..., só posso dizer: De Gaulle é que estava certo! Assim como Pelé ao dizer: O brasileiro não sabe votar! É sério um país onde o presidente nunca sabe das "falcatruas" de seus amigos e filho? É sério um pais onde uma "sexóloga" é nomeada ministra do turismo – e o Brasil é o centro do turismo sexual infantil - (aliás esse governo tem mais ministros do que toda a Europa junta) ao perder as eleições, e depois do pior acidente aéreo da história do país, durante a crise aérea manda o povo RELAXAR E GOZAR!! Realmente..., "isso" não é um país sério... 23/10/08

    Pessoalmente, eu não acredito que De Gaulle tenha dito algo assim, seria emitir um preconceito generalizado e um político tarimbado como ele era não iria se expuser a tal ridículo. Se bem que, como se diz na França, o ridículo não mata e, no caso da chamada "guerra da lagosta" (que não foi guerra nem nada) o epíteto de "pays pas sérieux" caberia melhor à França que, como todos sabiam na ocasião, penetrava indevidamente em águas territoriais brasileiras para pescar lagostas para os restaurantes parisienses. Um país que rouba é sério? A França é um país sério? E o Brasil, então? Nenhum dos dois é o que se poderia ser chamado de "país sério" (isso existe?). Mas o grande problema do Brasil, ao contrário da França, é a falta de saber se dar ares de "país sério" diante da comunidade internacional. Voilà!

    Comentário de: Adhenauer Marshall Freiberg [Visitante] A Berenice está certa em sua colocação quando diz sobre o Brasil não sabe se mostrar como país sério diante da opinião internacional. Um país que postula ser membro permanente do Conselho de Segurança da ONU, jamais poderia ter o escândalo do mensalão apagado, obstruir a verdade sobre o assassinato de três prefeitos e três sindicalistas (todos do PT), que denunciaram manobras petistas na área de transporte, coleta de lixo e outras coisas, acolher um assassino e terrorista condenado a prisão perpétua, dar apoio a um ditador para que se reeleja indefinidamente, convidar um suspeito presidente do Irã a visitar o país, comprar um avião luxuoso no exterior, enquanto mandatários e reis de países do 1º mundo viajam em aviões de carreira e carregam suas próprias bagagens..., e outros milhares de fatos que denigrem a imagem do país como um membro permanente do CS da ONU. Todo povo tem o governo que merece! Afinal se a voz do povo é a voz de deus, o bêbado vagabundo é um enviado dos Céus! 28-03-10

O Brasil do sonho olímpico

    As lágrimas incontroladas de Maurren Maggi ao receber a medalha de ouro que conquistou no salto em distância refletem tanto a emoção da conquista do primeiro ouro de uma mulher brasileira numa prova individual de Atletismo em Olimpíada, quanto à dificuldade do país em formar atletas capazes de colocar o Brasil num lugar adequado no quadro de medalhas. Os poucos ouros e as raras medalhas de prata e de bronze são uma colheita pífia para um país de quase 200 milhões de pessoas. Entre os grandes países, o índice brasileiro de medalhas per capita só deve ser melhor que o da Índia.

    Para qualificar o desempenho de nossos atletas em Pequim, o termo mais sonoro e até mais verdadeiro talvez seja fracasso. Mas ele é cruel demais. Dizer apenas que o Brasil fracassou é ignorar, numa generalização injusta, os avanços em algumas áreas e a atuação individual de alguns atletas. O nadador César Cielo e a atleta Maurren Maggi fizeram o Brasil se emocionar. Eles e o Brasil choraram quando o “Ouviram do Ipiranga” ecoou no Cubo d’Agua ou no Ninho de Pássaro, as magníficas estruturas que a China ergueu para abrigar as competições. Suas histórias, no entanto, como a dos demais medalhistas brasileiros em competições individuais ou em esportes coletivos, são claramente exceções. É indesmentível que nossos representantes em Pequim estiveram aquém das expectativas do país, muito longe das pretensões olímpicas, com performances frustrantes para uma nação que se lançou candidata a sediar os Jogos Olímpicos de 2016.

Como se constrói uma nação Olímpica?

    Não basta equipar uma cidade com hotéis cinco estrelas, com aeroportos eficientes e com transporte coletivo funcional. Se quiser pensar como uma potência olímpica, um país como o Brasil terá que ter e dar condições físicas e estruturais para que escolas de formação básica, suas universidades e seus clubes se transformem em locais de estímulo à prática esportiva com incentivos aos atletas que permitam romper com a monocultura futebolística que domina o panorama dos esportes competitivos no país.

    A pobre safra de ouros, pratas e bronzes que colhemos em Pequim retrata a semeadura que NÃO fizemos. A colheita está na razão direta e inevitável do plantio que se fez. As lavouras são escassas e episódicas, tanto quanto escassos e episódicos são os pódios. Nosso país tem exemplos de sucesso esportivo que podem mostrar o caminho. Mas não basta que futebol, vôlei e handebol incentivados pelo profissionalismo e pelo mercado global, mostrem vocação para a excelência esportiva. Também não é suficiente que algumas dezenas de clubes promovam e desenvolvam esportes como natação, judô e ginástica e formar atletas de proezas escassas como as que permitiram pouco mais que uma dúzia de medalhas olímpicas brasileiras em Atlanta, Sydney, Atenas ou Pequim.

    É preciso muito mais do que isso. Um atleta de excelência não é resultado de uma decisão individual, por mais que eventualmente ocorra essa exceção que confirma a regra. Um atleta de qualidade é o resultado de um processo de valorização da atividade esportiva que ocorre quando há uma política nacional consistente neste sentido. Os exemplos mundiais são claros. A China como potência olímpica se consolidou em algumas dezenas de anos de preparação, favorecida, entre outras causas como, aliás, ocorreu na antiga União Soviética e em Cuba, por um maciço investimento governamental. Os Estados Unidos e os países europeus que figuram no topo do quadro de medalhas estimulam a vocação esportiva de seus jovens com a valorização do esportista e com a política de bolsas de estudo e de adequado acompanhamento técnico.

    No esporte olímpico, se a superação é exigência freqüentemente decisiva, a improvisação é uma doença fatal. A receita vale também para as nações. Se nosso país tiver pretensões olímpicas que vão além da insatisfatória performance obtida até hoje ou se quiser em 2016 um papel distinto do de anfitrião de uma criativa festa de abertura, não poderá deixar de elaborar e implementar, com urgência e decisão, uma política de efetivo estímulo aos esportes, se isso não acontecer, e caso o plantio seja de subsistência, ou seja, meros participantes, incorremos em realizar a grande festa olímpica para os convidados.

    Para a diretora da Faculdade de Educação Física da Universidade Federal da Bahia (UFBA), Celi Nelma Zulke Taffarel em entrevista para a Radioagência NP o panorama esportivo que se coloca para o país, os Jogos Olímpicos 2016 podem ser vistos como uma vitória para o Brasil.

    O Brasil apresentou uma candidatura, teve que responder a uma série de exigências estabelecidas pelo Comitê Olímpico Internacional (COI) para que realmente viesse a sediar os Jogos Olímpicos. Uma das questões importantes a considerar é que o Brasil respondeu a essas solicitações e se colocou à altura de outros países no que diz respeito à infra-estrutura para as Olimpíadas. O país mostra também que tem uma direção política que pretende investir, nos próximos anos, em esporte, demonstrando que é um país olímpico e pretende se colocar como potencia esportiva.

    Os maiores desafios que as Olimpíadas trazem para o país, do ponto de vista de um sistema nacional de esportes, nós ainda temos sérias deficiências. Um sistema integrado qualitativo de esporte ainda não se consolidou no país. Fizemos algumas investidas, conferências sobre o tema, mas faltam passos decisivos para que os governos federal, estadual e municipal possam demonstrar que temos laço para sustentar as Olimpíadas. Se pegarmos os dados a respeito de infra-estrutura, financiamento, legislação e recursos humanos para o esporte, há um desequilíbrio, veremos que falta muito a ser construído. Não tem como, por exemplo, sermos um país olímpico sem desenvolver conhecimento científico acerca das ciências do esporte.

Celi Taffarel volta a afirmar a existência de um esforço nacional... na avaliação da política esportiva no Brasil. Para a autora

    Temos pela primeira vez um Ministério do Esporte, isso aponta que existe uma política de esporte que tem uma prioridade: o resultado está aí, ganhou a candidatura para a Copa do Mundo em 2014 e para as Olimpíadas em 2016. Isso é resultado de uma política. Nesse sentido, o governo Lula foi exitoso. Mas um país olímpico não se faz só em investimentos para realizar competições internacionais - se faz pela base, pelas oportunidades, pelos laços nacionais, pelo padrão cultural esportivo da população. Não interessa ao povo apenas assistir belos espetáculos em belos estádios. Nós não podemos pensar em um país olímpico, com belos centros olímpicos e, ao mesmo tempo, com cidades inabitáveis, que estão um caos. Então as cidades terão de ser projetadas e pensadas para todos trabalhadores, para o lazer e esporte dos trabalhadores.

    São altos os investimentos previstos para os Jogos no Rio de Janeiro. Pode-se associar o fato de sediar as Olimpíadas com o desenvolvimento do país não significa necessariamente benefícios para a população, por isso temos que colocar a questão da realização de Olimpíadas no Brasil de uma maneira muito realista. Isso tem que estar situado dentro de um projeto de desenvolvimento da sociedade brasileira. Se dependesse de mim, eu exigiria que o governo demonstrasse que em todas as escolas tem espaço e professores de educação física.

    Nesta contradição de Taffarel o que não deixamos de observar e sentir na pele como profissionais e educadores físicos é a falta de projeto para a nação e uma solução seria uma alternativa para o povo brasileiro ter resultados com o investimento do dinheiro público. Se ao contrário, caso prevaleça a política que sustenta o beneficio dos poderosos, a apropriação privada dos bens públicos, não precisamos ter esperanças. As grandes redes hoteleiras já estão de olho nas construções das vilas olímpicas bem como estão próximos das negociações. Não vamos nos iludir. Portanto, daqui até 2016, para não repetirmos essa apropriação privada de bens públicos, a população brasileira precisa se organizar e agir. Isso significa trabalho de base a partir das escolas e organização de cada segmento. Senão vamos chegar em 2016, veremos belos espetáculos e vamos ver nosso dinheiro indo para o ralo e os estrangeiros ganhando medalhas em nosso solo.

Notícias de Londres - os 600 dias 24/11/2010

Construção do Parque Olímpico

    Seria interessante acompanhar o que ocorre em Londres, sede das Olimpíadas de 2012. Recentemente, a capital inglesa fez um grande evento para marcar a distância "olímpica" de 1.000 dias da Cerimônia de Abertura, prevista para o dia 27 de julho, estando a Cerimônia de Encerramento já prevista para 12 de agosto. Serão apenas 16 dias de glória, apoteose, competições e dramas, mas um acontecimento que ficará para sempre registrado na história.

    Mas o que é que a comunidade olímpica esteve anunciando, nesses dias? Que a essas alturas, faltando menos de mil dias para a abertura dos próximos jogos de 2012, já há efetivamente a participação estimada de cerca de 15 milhões de cidadãos, no conjunto de atividades que precedem as Olimpíadas. Cinco milhões de pessoas, a quase 3 anos do início desse evento! Nossa, isso quer dizer alguma coisa!

    Entre as medidas adotadas pelo Comitê inglês estão uma série de ações de seleção e apoio de idéias e projetos que possam compor todo o sistema olímpico de Londres 2012, tanto no esporte quanto na organização e nas atividades econômicas e culturais. O "Inspire Program" e o "Get Involved", criando uma gigantesca rede toda capilarizada em torno das Olimpíadas. A participação intensa da população, das empresas, das instituições e das escolas. As pessoas são convidadas, incentivadas, treinadas, apoiadas, e também são avaliadas e cobradas. E de tudo isso já resultou a participação de 10 milhões de colaboradores. Um dado realmente impressionante.

    Toda Olimpíada procura criar uma identidade forte, além das competições, em todos os seus símbolos, e também em obras singulares, feitas especialmente para os jogos, mas que irão permanecer com a cidade. Obras importantes, que têm impacto sócio-cultural e mudam a vida das pessoas, vejam o exemplo a seguir.

    Londres e Paris decidiram se unir também através de uma ciclovia de 350 km, mais travessia de balsa pelo Canal da Mancha, unindo a Torre Eiffel à Torre de Londres através de uma "Avenida Verde" (ecológica). Os turistas poderão assistir aos jogos, ir e voltar entre Londres e Paris, de bicicleta. A ciclovia será lançada em 2012, como parte dos preparativos para os Jogos Olímpicos em Londres e Paris foi concorrente de Londres na escolha da cidade-sede. Essa ciclovia principal irá ainda ser ligada a outras ciclovias já existentes na rota entre Londres e Paris.

Rio 2016, Olimpíadas Maravilhosas

    Os jogos de 2016, serão no Rio de Janeiro e faz parte da "comunidade das sedes olímpicas” já é uma "host city". O próprio Comitê Olímpico Brasileiro fez questão de assumir essa posição, ao dizerem que a cidade já "bateu o recorde" de antecedência no início dos preparativos. Quer dizer, o Rio de certa forma já está ligado a Londres 2012. É o próximo competidor para quem será entregue o bastão, na "raia histórica". O Brasil é um país muito criativo e amadureceu bastante, então esse estudo dos projetos olímpicos se destina apenas a aumentar o conhecimento, a estudar todo o processo de uma sede olímpica, e também para criar tanto a continuidade desses eventos - a tradição, quanto para criar "descontinuidades" - a inovação.

    Já imaginaram a trilha sonora que o Rio pode produzir para as Olimpíadas? Outras cidades produziram belas trilhas musicais, lembro-me de Barcelona, Los Angeles, Atenas, e não seria esportivo dizer que o Rio "ganharia" delas na musicalidade. Diria então que é uma característica da cidade, está em sua natureza, "não há como evitar". Se Cartola, Jobim e Pixinguinha, entre tantos outros, compusessem a música das Olimpíadas, poderiam criar como resultado uma obra-prima do espírito olímpico, inspirados pela cidade do Rio de Janeiro. Mas será que não estão entusiasmados com isso, "estejam onde estiverem"? Quantos nomes poderiam ser acrescentados a essa lista, e quantos desses artistas ainda estão por aqui, e podem efetivamente contribuir para que, já de saída, a trilha sonora das Olimpíadas Rio 2016 torne-se uma grande première, um grande abre-alas do que está por vir.
Ufanismo? Só se for do bom e do melhor. Para não deixar dúvidas, pode-se mudar o prisma. É o nome da cidade mesmo: C-i-d-a-d-e M-a-r-a-v-i-l-h-o-s-a. É o nome dela, seu "apelido", que foi dado por toda a população brasileira, e é reconhecido em todo o mundo. Também, pudera, é só dar uma espiadinha aí em cima, ou dar uma voltinha por lá. Se as Olimpíadas são no Rio, então serão, sem sombra de dúvida, as Olimpíadas Maravilhosas.

    Mas as Olimpíadas vêm e vão, se não for feito um trabalho de memória, de preservação, de registro e de incorporação desses poucos dias em que o Rio de Janeiro será o centro do mundo. Que bonito, hein? Além de ser uma das cidades mais bonitas do mundo, a "cidade maravilhosa", será, durante algumas semanas, o centro das atenções do mundo, e deverá, em contrapartida, apresentar um trabalho de nível olímpico. Estamos todos dispostos a colaborar para que o Rio 2016 seja inesquecível, e para que o mundo não veja a hora de voltar logo para lá.

    A quantidade, a qualidade, a dificuldade e a excelência do trabalho a ser feito até 2016 - lembrando sempre que há outros eventos muito importantes, e a Copa do Mundo de 2014, que já será outro grande acontecimento - abrem para a cidade a oportunidade de se organizar melhor e de se projetar na história e no mundo. O futebol, entretanto, mesmo sendo uma grande paixão brasileira, uma marca de seu povo e da história de nossa sociedade, fará a sua grande festa, a festa do futebol, em todo o país. Isto já é muita coisa, um enorme e raro privilégio.

    As Olimpíadas celebram, em última instância, a cidade, a cidade é o acontecimento, há um envolvimento maior das estruturas locais e da população. As Olimpíadas poderão dar a nova marca, a nova imagem do Rio de Janeiro. Toda a orla do Rio de Janeiro pode ser "definitivamente" conquistada pela cidade. Quer dizer, encher-se de pessoas, de organização, de bons serviços, de movimento e também de trocas econômicas organizadas. Pode ser em parte repensada, para que a partir desta década passe a haver um cenário renovado e estável, uma estrutura que encante e chame as pessoas e famílias do mundo inteiro, para conhecer e visitar o Rio de Janeiro.

    Para tanto, é preciso também que a sociedade carioca saiba dividir o trabalho, o dever e a recompensa desse enorme empreendimento, cuidando também para que os problemas mais graves e mais agudos da cidade sejam corretamente equacionados. É preciso haver um cuidado muito grande para que os benefícios olímpicos sejam "interiorizados" na cidade, e cheguem a todas as classes sociais. Para que haja uma grande festa e prevaleça essa nova imagem do Rio no Brasil e no mundo, será preciso também criar "novas visões" do Rio, e isto precisa ser concebido pelos próprios cariocas.

    Seis anos que passam rápido como a brisa, ao som de uma bela sinfonia clássica ou de um clássico da música popular, brasileiras as duas.

Ampliar as instalações e o acesso ao Esporte

    Esta não é uma crítica, mas um incentivo, um exemplo de como há campos enormes para que as condições do esporte em geral melhorem no Brasil, especialmente nas escolas brasileiras. Os lugares onde os jovens americanos fazem Educação Física, todo santo dia, as competições internas e interescolares que se sucedem o ano todo, todos os anos, e que mobilizam toda a escola, às vezes também suas famílias e toda a comunidade. Há mais de 30, 40 anos que as escolas americanas são assim.

    Em cidades com menos de 20 mil habitantes as escolas de Ensino Fundamental e Médio possuem em torno de 10 escolas com instalações desse nível: ginásios cobertos, piso de madeira, placar eletrônico, tabelas de vidro, arquibancadas retráteis, piscinas aquecidas e cobertas, equipamento para ginástica olímpica e diversos esportes, musculação, e pista de Atletismo sintética, etc. Em todas as escolas! Particulares? Não, a maioria é de escolas públicas!

    É como se fosse mais uma sala de aula, estão Dentro do prédio. Você abre uma porta e aparece um ginásio, uma piscina. Na verdade, essas instalações são divididas por um plano padrão para cada nível escolar, a Elementary, Junior High e High School, correspondendo mais ou menos às divisões brasileiras e as modalidades de Educação Física vão-se somando aos poucos (escolas separadas).

    A qualidade e o nível do acesso e das instalações fazem parte de outra realidade. Outra observação é a enorme área externa reservada a todas as escolas também há diversos campos, para os mais variados esportes. E têm vestiários completos, super-equipados, armários, etc. Parece até coisa de cinema, mas é a realidade. Será que nós não poderíamos fazer apenas um pouquinho disso? Dar os primeiros passos? Aqui no Brasil dificilmente se encontraria uma universidade ou cidade com as instalações que tem em cada uma das escolas americanas, mesmo nas cidadezinhas do interior. Realmente, temos algo a aprender com o que eles fizeram por lá.

    Vocês poderiam dizer, bem, mas é só para os atletas, só para "os bons". Não, todo mundo pode participar de todos os treinos de todos os times da escola, em suas categorias de idade, feminino, masculino ou misto. E isso é incentivado por todos, todo mundo é "bom", ninguém é deixado de fora, não há barreiras. Apenas na hora da competição é que logicamente entram em campo os que estão mais preparados. Mas isso explica, por exemplo, porque é que nos EUA existem tantos atletas em igualdade de condições, e um grande número deles poderia representar o país em competições de alto nível.

O Conhecimento Esportivo

    O americano Christian Cantwell, atual campeão mundial de 2009 em Berlim, com 22,02 m, e medalha de prata em Pequim e o polonês Thomasz Majewski, campeão olímpico que fez um arremesso de 21,51 m, ganhando a primeira medalha de ouro daqueles jogos, no atletismo.

O incentivo dos esportes e modalidades individuais

    A "bolinha" que arremessam tem 12 cm de diâmetro, é feita de bronze, ferro e chumbo, e pesa 7,26 kg. Essa modalidade está presente nas Olimpíadas desde os primeiros jogos da era moderna, que foram disputados em Atenas, 1896. Foi inventada pelos escoceses, que praticavam um arremesso muito parecido, nos Highland Games (A terra do "Highlander", no nordeste da Escócia, onde existe também a famosa lenda do "monstro do Lago Ness"). O recorde mundial é considerado "antigo", desde 1990, e foi batido por Randy Barnes, um americano campeão olímpico em Atlanta, que pesava 137 kg e tinha 1,93 m de altura, e fez um arremesso de 23,12 m. Mas há uma nota muito triste sobre ele. Foi pego no exame anti-doping duas vezes, por uso de esteróides-anabolizantes, e não pôde mais participar de competições oficiais. O doping é um fantasma que está sempre rondando o esporte, e tem de ser evitado a qualquer custo pelos atletas. O caso mais famoso de doping foi o de Ben Johnson, um canadense recordista mundial dos 100 m rasos - prova que aponta a mulher e o homem mais velozes do mundo, que foi desclassificado em Seul e perdeu a medalha de ouro para Carl Lewis, o vencedor "dentro das regras".

    Se você conseguir arremessar a 23,13 m, será o novo recordista mundial. Pratiquei esse esporte olímpico na escola, e nunca passei dos 10 e pouquinho, aos 15 anos de idade., quando o peso é de 5 kg. Mas foi muito bom para mim. Além de conhecer os programas de treinamento americanos (estava num intercâmbio de estudantes nos EUA), e a seriedade com que é encarado o esporte e a competição, mesmo na escola, consegui curar um problema que tinha nos ombros, que inflamavam e destroncavam com facilidade.

    O campeão da pequena cidade onde morei, Farmington, na grande Detroit, era Mark Brozek, um "adolescente" de 15 anos com cara de 20, quase 2 m de altura, tão forte quanto um armário, e pivô do time de basquete, que arremessava a mais de 12 m. Coisa de país "vitaminado" e de grande tradição esportiva.

    No feminino, e disputa medalha nos campeonatos de atletismo e nas Olimpíadas, com um peso um pouco menor e de 4 kg. A recordista mundial é a russa Natalya Lisovskaya, com um arremesso de 22,63 m.

    Este é um campo bastante amplo que se abre, se um país se decidir a explorá-lo a partir da colaboração de vários setores. Vai desde a Filosofia do Esporte até o conhecimento das competições em si. O Brasil, por exemplo, tem um domínio excelente do conhecimento sobre o futebol, isto é lugar comum. Seus atletas se preparam desde criança, conversam com psicólogos e treinadores, preparam não apenas o corpo, mas também a mente, e tentam ainda cuidar de seu futuro, pois a carreira de futebolista não é tão longa quanto às profissões mais comuns.

    Contudo, o Brasil detém um conhecimento muito limitado do esporte olímpico, isto é, do esporte em geral. A formação esportiva é muito importante para se aprender a jogar, e a vida é um jogo. Isto vale tanto para os esportistas em ação, quanto para as torcidas. Se estas não conseguem ou não querem se comportar, isto é um sintoma de que há problemas mais graves e mais profundos na base da sociedade, ou talvez nas bases da Educação, da formação dos cidadãos, e que precisam ser corrigidos. Mas o esperado é que todos saibam se comportar de acordo com os regulamentos, de acordo com as regras do jogo, dentro ou fora de campo. Isto é que leva à maturidade tanto no esporte quanto na vida. E os faltosos estarão sujeitos às penalidades do juiz. Este é o jogo. Mas cuidemos do conhecimento esportivo, em si, da preparação para as competições.

    Em foco, um esporte olímpico pouco conhecido, mas muito antigo, e que envolve uma preparação tão séria e completa quanto qualquer outra modalidade, apenas para servir de ilustração para esta matéria: o arremesso de peso. O Brasil, se determinado e decidido a realmente tornar-se um país olímpico, e não apenas por ocasião, "da boca pra fora", "fogo de palha", como se diz no interior, precisa ter um bom nível de projeção de seus atletas, mesmo nos esportes que não são praticados de forma massiva pela população. Deveríamos passar a saber, por exemplo, quem são os grandes arremessadores de peso do Brasil. Deveria haver diversas competições, estímulos, prêmios, divulgação, para que aumentassem o número de praticantes e de competidores, fazendo crescer também o número de atletas que treinam nessa modalidade, e o número de técnicos e centros de treinamento que convoquem os potenciais "campeões", para o treinamento intensivo do esporte de alto nível. A partir de determinado nível de competição, o patrocínio, os prêmios e a divulgação deveriam ser práticas constantes.

    Assim, todo brasileiro que gosta de esportes e gosta de se informar sobre eles, saberia quais são os grandes arremessadores de peso, quais são as principais competições, em que canal pode assistir a esses jogos, como fica sabendo, e passará a ter também seus favoritos, entre os atletas que disputam essa competição. Este seria um enorme apoio para o esporte em qualquer modalidade, e é essencial para a construção de um país olímpico.

A vida esportiva aumenta a riqueza (PIB) do país

    O Dream Team original que jogou nas Olimpíadas de Barcelona em 1992, e a Seleção Brasileira tricampeã no México em 1970 são considerados os dois melhores times de todos os tempos, em qualquer esporte. O esporte americano já era um enorme gerador de riquezas econômicas, e o esporte brasileiro também poderia seguir o mesmo caminho.

    Tudo que um país produz durante um ano, a população inteira trabalhando, todas as empresas, a todos esses produtos e serviços os economistas chamam de "riqueza" produzida, e tem um nome: é o famoso PIB, uma sigla para o Produto Interno Bruto, geralmente o de um ano (PIB de 1998, de 2005, etc.). Ficam fora disso os pequenos trabalhos caseiros e artesanatos, que se estima (calcula) à parte, e se chama de economia informal (bolos para festas, pequenas costuras, pequenos "bicos", etc.), mas a não ser em períodos muito especiais, em grandes crises ou transições de épocas, não alteram muito o valor total do PIB, a produção da "economia formal".

    Quando a atividade esportiva se desenvolve bastante, e passa a ser praticada intensamente e de modo organizado, com patrocínio, premiação e divulgação pela mídia, o que acontece? Todos esses jogos, campeonatos e informações que surgem passam a representar valor de troca no mercado, por exemplo, patrocínio de roupas esportivas, turismo para assistir eventos esportivos, apoio cultural de grandes empresas, e a própria transmissão e publicação do jornalismo esportivo, quer dizer, onde antes não havia nada, passa a haver riqueza.

    Para que entendam melhor esse fenômeno, vamos citar alguns exemplos: a Liga Nacional de Basquete americano, a multimilionária NBA, em que hoje atuam alguns brasileiros, como o Nenê, aqui de minha cidade, que joga no Denver Nuggets. Os campeonatos da NBA (National Basketball Association) nos Estados Unidos giram provavelmente bilhões de dólares todos os anos, pagam muitíssimo bem aos atletas, um salário de sonho para os esportistas brasileiros, semelhante aos grandes craques internacionais de futebol, mas o caso é que na NBA a "riqueza" é até mais antiga, eles organizaram muito bem as Ligas locais, regionais e estudantis de basquete, para que novos valores continuem chegando aos times principais todos os anos.

    Quer dizer, jogar bem alguma coisa pode gerar muito dinheiro para a economia de um país. Mas há também o caso da NASCAR, a série de automobilismo americano, ou as ligas de futebol americano, também milionárias - e os times dão lucro, são comprados e vendidos quase como empresas. Mas há vários outros exemplos de sucesso e riqueza conseguidas a partir do esporte, como os grandes campeonatos europeus de futebol.

    Isto significa que o Brasil deveria investir mais nos esportes, mesmo dentro das escolas, no período normal de aulas, nos campeonatos estudantis, mirins, juvenis, etc. Com isso, o país certamente passaria a gerar mais riqueza, passaria a movimentar mais investimentos, patrocínios, salários, haveria mais canais e publicações sobre esporte, e o Brasil se desenvolveria mais.

    Nos Estados Unidos, mesmo atletas olímpicos têm patrocínios muito bons, quer dizer, as Olimpíadas e os esportes olímpicos também podem gerar mais PIB para o Brasil.

O Trabalho Voluntário

    Persiste ainda um pouco do espírito diletante das Olimpíadas, de generosidade e amor pelo evento, pelo esporte, pela cidade que quer fazer bonito nos jogos, no trabalho dos voluntários, desde jovens estudantes até pessoas já bastante idosas. Mas não o amadorismo. Um rigoroso programa de seleção e treinamento precede os jogos, para que durante o período olímpico nada de errado ocorra com a organização, e para que haja um número mínimo de imprevistos, fazendo com que a organização possa dar uma solução adequada e imediata a estes também.

    Em Pequim foram 100 mil voluntários, mais de um milhão de candidatos, cerca de 70 mil cuidando dos jogos principais, e 30 mil cuidando das Paraolimpíadas. Segundo as informações da página da embaixada chinesa no Brasil, houve ainda 400 mil voluntários trabalhando na cidade de Pequim, em 550 estações de atendimento aos turistas. Impressionante, hein?

A fase de preparação

    Copenhagen, capital da Dinamarca, onde o Brasil foi escolhido como sede das Olimpíadas de 2016, é conhecida como a "cidade das bicicletas". Em um dia comum, mais da metade da cidade poderá ir para o trabalho pedalando. Se não tiver a sua, há postos repletos de bicicletas em toda a cidade, e você pode pegar qualquer uma depositando uma simples moeda. Na Dinamarca, um país de área pequena se comparado ao Brasil, estão em operação mais de 10.000 km de ciclovias.

Divulgação, Transmissão e Premiação a qualquer tempo.

    O sucesso de um grande projeto olímpico brasileiro depende não apenas de uma preparação específica para as Olimpíadas de 2016, no Rio de Janeiro, mas depende também da implantação de uma nova filosofia do esporte no país. A estrutura, o nível, a intensidade e o apoio que o esporte tem no Brasil, precisam desenvolver-se em novos projetos integrados, novos programas de treinamento, competições e premiação, lógico, estes são os incentivos principais para o esportista, no mundo contemporâneo. E não apenas isso, mas também ser divulgado, conhecido e reconhecido, quer dizer, as formas de cobertura da mídia também precisam mudar.

    Os horários, as alternativas de programação, talvez até novos canais de transmissão e informação específica sobre o mundo do esporte, e não mais apenas alguns eventos localizados. É uma grande oportunidade que se abre para o país. Para a renovação, atualização e aperfeiçoamento de seus sistemas, de sua cultura e da sociedade brasileira. Um novo plano de integração entre veículos da mídia e patrocinadores pode ser posto em prática, nessas bases. Uma nova economia poderá surgir das práticas esportivas ampliadas de modo permanente no Brasil.

O Rio Olímpico

    Confesso que tinha sérias dúvidas. Sempre fui a favor da Copa do Mundo no Brasil. O nosso país é a casa do futebol mundial, o povo é apaixonado pela bola rolando e tudo o que for construído vai ser utilizado depois… Mas, falando em Olimpíadas, quanto mais eu debatia com amigos e outros jornalistas, mais eu ficava na dúvida. Entretanto, Londres 2012 – a Inglaterra pode ser considerada o berço do esporte, mas também não é aquela potência Olímpica e, acima de tudo África do Sul nunca foi campeã mundial de futebol e, no entanto, é sede em 2010.

    Bem, agora está decidido e confesso que a primeira reação é de muita felicidade. Muito orgulho. É bacana ver o nosso país – e seu principal cartão postal – em lugar de grande destaque. É ótimo receber os parabéns de quem descobre que, quando estamos lá fora, somos brasileiros – o país das Olimpíadas 2016.  Também me emocionei com as imagens do clipe com a incrível multidão em Copacabana e a alegria de algumas das nossas figuras mais ilustres presentes à Dinamarca. Mas, botando a cabeça no lugar, agora é hora de trabalho. Muito trabalho. Este pode ser um divisor de águas na história brasileira.

    O que escrevi aqui sobre a Copa eu repito agora – com muito mais ênfase em relação às Olimpíadas, e quem já esteve nestas duas competições sabe que não há nem comparação. A organização de Olimpíadas são incrivelmente difícil e de complexidade extremosa. É hora de trabalhar. Meio minuto depois de comemorar a escolha é preciso trabalhar, trabalhar e trabalhar até o apagar da chama simbólica. Se você era a favor ou contra, agora pouco importa. Este momento já passou. O certo é que estamos agora diante de um desafio histórico, que vai ser visto e cobrado pelo mundo todo. Um desafio que vai muito, mas muitíssimo além do esporte.

    Se a pergunta a ser respondida aqui e agora – Se o Brasil é um país olímpico – agora É.

Referencias

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EFDeportes.com, Revista Digital · Año 16 · N° 156 | Buenos Aires, Mayo de 2011  
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