Análise funcional da simetria bilateral em jovens atletas de natação Análisis funcional de la simetría bilateral en nadadores juveniles |
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* Especialista em Biomecânica (UFRJ)**Head Coach do Davie Nadadores Swim Club (Estados Unidos) ***Mestre em Ciências da Atividade Física (UNIVERSO) ****Doutor em Ciências Fisiológicas (UFES) ***** Mestre em Ciências Fisiológicas (UFES) |
Bernardo Pereira* Alexandre Pussieldi** Fabio Venturim*** Washington Luiz Gonçalves**** Patrick Endlich***** |
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Resumo Introdução: Na natação a capacidade de desenvolver força depende de alguns fatores biomecânicos. O valor do pico de força é uma variável biomecânica eficiente no estudo da simetria do nado. Entretanto, poucos trabalhos são encontrados na literatura analisando esta variável em ações bilaterais ou unilaterais. Objetivo: Verificar os valores de pico de força médio entre os membros superiores de jovens atletas em todos os estilos da natação competitiva. Métodos: Para mensurar e analisar o pico de força médio na braçada foi utilizado o Aquanex® systems. A amostra foi constituída de 12 jovens atletas do sexo masculino com idade entre 16 e 21 anos, peso corporal (74 ± 11,08 kg), estatura (1,78 ± 0,07 m) e IMC (23 ± 1,86 kg/m2), com no mínimo quatro anos de treinamento competitivo. O protocolo experimental foi realizado por meio de bateria de testes. Cada atleta nadou o percurso de 20 metros quatro vezes, sendo uma vez de cada estilo, totalizando oito minutos de teste. Na análise estatística foi utilizado o teste t de student pareado. Os valores foram expressos como média ± desvio padrão (DP) e o nível de significância mínimo adotado foi de p £ 0.05. Todas as análises foram feitas no software Statemat 2.0. Resultados: A avaliação do pico de força médio nos estilos de nado encontrou diferença estatisticamente significativa apenas no nado borboleta, no qual o braço direito apresentou pico de força médio de 108 ± 23 N e esquerdo de 137 ± 35 N (p = 0,02). Conclusão: Considerando que o nado borboleta é um nado de característica simultânea, torna-se imprescindível a presença da simetria bilateral entre os membros, o que não foi verificado nesse estudo. Unitermos: Pico de força médio. Estilo. Membros superiores.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 16 - Nº 156 - Mayo de 2011. http://www.efdeportes.com/ |
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Introdução
Com a evolução do esporte de alto rendimento, tem aumentado o interesse de muitos técnicos e pesquisadores no aprimoramento da técnica desportiva, conseqüentemente podendo repercutir em melhores resultados dos atletas. Desta forma, torna-se crescente o interesse em avaliar variáveis que possam ser utilizadas para verificar os efeitos do treinamento ou para avaliação do desempenho durante a competição (CAPUTO et al., 2000). Entre estas, destaca-se a força muscular que é entendida como uma valência física fundamental para predizer o desempenho esportivo (POLOCK et al., 1998).
Na natação a capacidade de desenvolver força depende de alguns fatores biomecânicos, tais como a magnitude, direção e sentido com que são empregadas as forças de ambos os braços do nadador. Nos estilos alternados (crawl e costas), a alternância dos movimentos dos braços e a constância dos padrões biomecânicos ao longo da prova são de fundamental importância para o desempenho. Somada, a igualdade e manutenção de todas as variáveis biomecânicas constituem o que é chamado de simetria de nado (MORÉ et al., 2007). Se tratando de força a ausência de simetria, apresenta implicações como a rotação indesejada do eixo antero-posterior, subseqüentemente aumentando a resistência, levando a um desequilíbrio do nado, diminuindo consideravelmente o desempenho do atleta (MAGLISCHO, 1999)
O valor do pico de força é uma variável biomecânica eficiente no estudo da simetria do nado. Entretanto, poucos trabalhos são encontrados na literatura analisando esta variável em ações bilaterais ou unilaterais. Sendo assim, o objetivo desse estudo foi verificar os valores de pico de força médio entre os membros superiores de jovens nadadores em todos os estilos da natação competitiva.
Métodos
Amostra
A amostra foi constituída de 12 jovens atletas do sexo masculino com idade entre 16 e 21 anos, com no mínimo quatro anos de treinamento em natação competitiva. Todos os voluntários assinaram um termo de consentimento livre e esclarecido, no qual foram expostos os objetivos do trabalho para todos os participantes, sendo ainda garantidos o anonimato e a confidencialidade dos dados, em acordo com os padrões nacionais e internacionais para pesquisas em humanos (Resolução 196/96-CNS, Lei 6.638/79, Resolução Normativa 04/97 e complementares), sendo aprovado pelo Comitê Institucional de Ética e Pesquisa em Seres Humanos.
Procedimentos e protocolo experimental
Inicialmente, foi aferido o peso corporal (kg) e a estatura (cm) dos jovens nadadores em uma balança com estadiômetro (Filizola®, Campo Grande-MS, Brasil).
Para mensurar e analisar o pico de força médio na braçada foi utilizado o Aquanex® systems (Swimming Technology Research Inc. USA), que contém duas células de carga denominadas Type A sensor (1.25 x .75 x 1) e um conversor A/D, denominado de Interface ligados a um computador através de um cabo USB. Realizada à aquisição do sinal, esse é transportado até o conversor A/D no qual converte a onda mecânica acarretada pela distensão da célula de carga em um sinal elétrico que é enviado para o computador, onde o sinal é recebido pelo software Aquanex® 3.7 que por sua vez processa, interpreta e tabula as informações coletadas (HAVRILUK, 1988).
O protocolo experimental foi realizado por meio de bateria de testes com todos os indivíduos no mesmo dia. Cada jovem atleta da amostra nadou o percurso de 20 metros quatro vezes, sendo uma vez de cada estilo na seguinte ordem: borboleta, crawl, costa e peito, totalizando oito minutos de teste. O protocolo de teste foi executado em três fases, conforme descrito a seguir:
1° Fase –
2° Fase –
3° Fase –
Análise estatística
Inicialmente foi realizada pelo software Statemat® 2.0 (GraphPad, San Diego, CA, USA) a estimativa ideal para amostra com poder de teste de 90% e erro de alfa de 0.05, que indicou n= 12 atletas (voluntários). Os dados foram obtidos, durante as três fases do estudo, e foram convertidos de Libras (lbs) para Newton (N). Em seguida os dados foram tratados por meio de análises estatísticas, a normalidade dos dados foi testada pelo teste de Shapiro-Wilk, em seguida foi utilizado o teste t de student para amostras dependentes (pareadas). Os valores foram expressos como média ± desvio padrão (DP) e o nível de significância mínimo adotado foi de p £ 0.05.
Resultados
Na tabela 1 estão apresentadas medidas antropométricas de atletas jovens de natação.
Tabela 1. Características antropométricas da amostra
Na avaliação do pico de força médio nos estilos de nado foi verificada uma diferença significativa (p = 0,02) apenas no nado borboleta, no qual o braço direito apresentou pico de força médio de 108 ± 23 N e o braço esquerdo de 137 ± 35 N (Fig. 1A). Entretanto, nos outros estilos de nado avaliados (crawl, costas e peito) não foram encontradas diferenças significativas, conforme apresentado na figura 1.
Figura 1. Determinação do pico de força médio (N) para verificação da simetria nos braços direito e esquerdo em um teste de velocidade máxima nos nados borboleta (painel A), crawl (painel B),
costas (painel C) e peito (painel D). Valores expressos como média ± desvio padrão (DP). Teste t para amostras dependentes. Diferenças significativas estabelecidas em ** p < 0,05.
Discussão
A simetria bilateral significa que ambos os lados do corpo servem como espelho um do outro (PEETERS e DEVRIENDT, 2006). Logo, quando um dos lados não serve de espelho para o outro classificamos esse fenômeno de assimetria bilateral. Na natação a assimetria pode ser detectada de três formas, uma delas é utilizando os parâmetros de força das braçadas (MORÉ et al., 2007).
Considerando apenas o parâmetro do pico de força médio das braçadas, o presente estudo teve por objetivo verificar se há diferença nos valores de pico de força médio entre os membros superiores de jovens nadadores em todos os estilos da natação competitiva. O resultado do trabalho revelou que houve apenas diferença estatística significativa entre os picos de força médio dos membros superiores no nado borboleta.
Maglischo (1999) destaca que na natação, o desempenho é influenciado pela capacidade de gerar força propulsora e minimizar a resistência ao avanço no meio líquido. Isto acontece com a melhora da técnica, do padrão biomecânico e da condição física do nadador, incluindo a composição corporal e a força. Fomitchenko(7) acrescenta que os componentes da força, relacionados ao rendimento na natação, são dependentes da idade e do nível do nadador.
Simon e Ferris (2008) sugerem que a assimetria de força entre os membros ocorre devido a aspectos neurais e com menos freqüência relacionado a aspectos mecânicos. Em um estudo realizado com ciclistas, foi identificado assimetria entre os membros inferiores apenas no grupo não-treinado. Os dados desse trabalho sugerem que a assimetria pode estar relacionada à capacidade física do indivíduo (CARPES, 2009). O mesmo autor ainda menciona que o atleta que está iniciando um programa de treinamento e que apresenta assimetria entre os membros, pode alcançar a simetria com o próprio treinamento. Contudo, embora os aspectos neurais sejam citados como possíveis fatores intervenientes na simetria, os estudos revisados não destacam como estes podem influenciar na assimetria de força entre os membros.
Outro estudo, concluiu que os nadadores apresentaram, em sua maioria, assimetria nos valores de pico de forças entre os membros superiores e que essa assimetria não é causada pelo movimento de respiração lateral do nado crawl (MORÉ et al., 2007). Já Carpes (2009) indica que as assimetrias de força poderiam ser dependentes de fatores externos referentes à execução da tarefa, o nível de atenção do atleta durante o desempenho, ou talvez aspectos mecânicos referentes a equipamentos.
Risch e Castro (2007) analisaram o pico de força e o correlacionaram com o desempenho de nadadores universitários no nado crawl e chegaram a conclusão de que há uma correlação significativa entre o pico de força e o desempenho dos nadadores. Magel (1970) mensurou o pico de força em todos os estilos da natação competitiva. Ao final da pesquisa o autor constatou que os nados peito e borboleta foram os nados que apresentaram maiores picos de força. Já no presente estudo os maiores picos de força médio registrados estão relacionados aos nados borboleta e crawl.
Conclusão
Os resultados demonstraram haver uma diferença significativa apenas entre os picos de força médio dos membros superiores no nado borboleta. Considerando que o nado borboleta é um nado de característica simultânea, torna-se imprescindível a presença da simetria bilateral entre os membros, que não foi verificada nesse estudo. A partir desses achados, faz-se necessário uma avaliação mais criteriosa e detalhada desta variável por parte dos treinadores, devido a sua influência efetiva no desempenho do nado, logo, acarretando melhores resultados dos atletas.
Referências
CAPUTO, F.; LUCAS, R.; GRECO, C.; DENADAI, B. Características da braçada em diferentes distâncias no estilo crawl e correlações com a performance. Rev Bras de Ciên e Mov. 2000; (8) 3: 7-13.
POLLOCK, M.L. et al. The recommended quantity and quality of exercise for developing and maintaining cardiorespiratory and muscular fitness, and flexibility in healthy adults. Med Sci Sports Exerc. 1998; 30: 975-991.
MORÉ, F.C.; CARPES, F.P.; CASTRO, F. A. de S. Simetria das forças no nado crawl: influência da respiração. In: XII Congresso Brasileiro de Biomecânica, 2007, São Pedro. Anais do XII Congresso Brasileiro de Biomecânica. São Paulo; TEC ART; 2007. p. 518-23.
MAGLISCHO, E.W. Nadando ainda mais rápido. São Paulo; Manole, 1999.
HAVRILUK, R. Validation of a criterion measure for swimming technique. Jour Swim Res. 1988: (4) 4:11-16.
PEETERS, H.; DEVRIENDT, K. Human laterality disorders. Eur J Med Genet. 2006; 49: 349–362.
FOMITCHENKO, T.G. Relationship between sprint speed and power capacity in different groups of swimmers. In Keskinen, K., Komi, P. & Hollander, A. (eds.) Biomechanics and Medicine in Swimming VIII. Jyväskylä, Department of Biology of Physical Activity, University of Jyväskylä, Finland. 1999. p. 209-211.
SIMON, A.M.; FERRIS, D.P. Lower limb force production and bilateral force asymmetries are based on sense of effort. Exp Brain Res. 2008; 187: 129-138.
CARPES, F.P. Relação entre simetria bilateral e aspectos neuromusculares e de treinamento dos membros inferiores. Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Tese de Doutorado, 2009.
RISCH, O.; CASTRO, F. A. de S. Desempenho em natação e pico de força em tethered swimming. In: XII Congresso Brasileiro de Biomecânica, 2007, São Pedro. Anais do XII Congresso Brasileiro de Biomecânica. São Paulo; TEC ART; 2007. p. 441-46.
MAGEL, J.R. Propelling force measured during tethered swimming in the four competitive styles. Res Quart. 1970; 41: 68–74.
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