Análise do índice de massa corporal: a questão do sobrepeso e da obesidade na adolescência Análisis del índice de masa corporal: el problema del sobrepeso y la obesidad en la adolescencia |
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Pós-graduada em Atividade Física Desempenho Motor e Saúde, UFSM Professora de Educação Física na rede municipal de ensino em Joinvile, SC (Brasil) |
Adriana Cavalheiri |
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Resumo Objetivo: Esta pesquisa tem por objetivo analisar o Índice de Massa Corporal (IMC) e a prevalência de sobrepeso e obesidade de escolares do ensino fundamental. Metodologia: A amostra foi composta por 79 indivíduos de ambos os sexos. Na coleta de dados foi utilizado o IMC, calculado a partir da divisão do peso da massa corporal pelo quadrado da estatura. Resultados: Com relação ao primeiro para o segundo semestre letivo, 23% dos estudantes reduziram o peso corporal e 77% obtiveram aumento; com relação à estatura 70% dos estudantes tiveram aumento e 30% não apresentaram nenhuma alteração, isto para ambos os sexos. Com o cálculo do IMC, 18% das meninas no 1ºsemestre estavam com sobrepeso, e no 2º semestre 16%. Não houve qualquer alteração no valor do IMC para os meninos, estando, portanto 15% deles com sobrepeso durante todo o ano letivo. Conclusão: Conclui-se que os estudantes apresentaram excesso de peso, porém num baixo percentual. Isto pode estar associado ao aumento de estatura que os mesmo obtiveram, uma vez que se encontram na fase da adolescência. Mesmo que os resultados demonstrarem que poucos alunos apresentaram excesso de peso através do cálculo do IMC, sugere-se uma maior conservação de hábitos alimentares adequados e prática regular de atividade física. Unitermos: Índice de Massa Corporal. Sobrepeso. Estudantes.
Abstract Objective: This study aims to examine the Body Mass Index (BMI) and prevalence of overweight and obesity in schoolchildren. Methods: The sample consisted of 79 individuals of both sexes. In the data collection was used BMI, calculated by dividing the weight of the body weight by the square of height. Results: Regarding the first to the second semester, 23% of students reduced body weight and 77% had increased, in relation to height 70% of students had increased to 30% showed no change, that for both sexes. With BMI, 18% of girls in the 1st half were overweight, and in the 2nd half 16%. There was no change in the value of BMI for boys, and is therefore 15% of them were overweight during the school year. Conclusion: We conclude that the students were overweight, but a low percentage. This can be associated with increased stature who had the same, since they are in adolescence. Even if the results show that few students were overweight by calculating BMI, suggesting a greater conservation of proper eating habits and regular physical activity Keywords: Body Mass Index. Overweight. Students.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 16 - Nº 156 - Mayo de 2011. http://www.efdeportes.com/ |
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Introdução
A qualidade de vida é resultante da prática de atividade física e o controle na alimentação. O contrário disso o que se percebe são indivíduos com sobrepeso ou obesidade além do desencadeamento de outras condições clínicas, como afecções cardíacas, hipertensão, moléstias do fígado e diabetes (COOPER, 1972).
No meio escolar, alunos com sobrepeso ou obesos sofrem preconceito podendo isto afetar o emocional, tendo a possibilidade de terem depressão (SUKIENNIK e colaboradores, 2000) e/ou até mesmo ficarem estressados (LIPP e colaboradores, 2002).
Segundo Filho (2003), a obesidade coincide no aumento de peso, porém existem exceções. Como é o caso de pessoas que possuem um grande peso corporal, mas isto devido a quantidade de massa magra, ou seja, massa muscular. Existem diversas maneiras de classificar e diagnosticar a obesidade. Uma das mais utilizadas atualmente é o cálculo do peso corporal com a altura. Onde, IMC (Índice de Massa Corporal) é a razão entre o peso do indivíduo (kg) e sua estatura elevada ao quadrado (m2) (FILHO, 2003).
IMC= Peso Corporal (kg) / estatura2 (m2)
De acordo com a AAHPERD (1980), existe um padrão saudável para cada faixa etária, neste estudo a referência são meninos e meninas de 5 a 18 anos de idade. O valor ideal para meninos de 13 a 14 anos é de 16-23 e 16-24 (Kg/m2) respectivamente. Para meninas nesta mesma faixa etária é de 15-23 a 17-24 (kg/m2), respectivamente. As regras do IMC podem implicar que quanto maior for o valor obtido, maior será o percentual de gordura. Exceto no caso já mencionado de indivíduos que possuem quantidades de massa magra (FILHO, 2003).
IMC (Body Mass Index, BMI), é um termo proposto por Keys e associados no ano de 1972. Após o ano de 1800 tem sido referido também como índice de Quetelet devido ao nome do seu criador considerado este o pai da Antropometria (COCETTI, 2001).
O Índice de Massa Corporal tem sido usado por diversas categorias de pessoas com respeito a sua aptidão física, o seu grau de obesidade (FILHO, 2003), à condição de vida de grupos populacionais (Guimarães apud Monteiro et al 2001), ao estado nutricional e inclusive pela grande praticidade e seu baixo custo (Silva apud Dietz, 2002).
Sendo o IMC um termo usado para analisar a aptidão física (A.F.) dos indivíduos é de primordial importância comentar mais sobre. Vários autores tentaram defini-la, e para Gonçalves & Campane (2005) a aptidão física refere-se estritamente à capacidade de realizar movimentos. Nesse sentido Howley e Ranks (1997), generalizam o conceito de A.F. considerando-a como a capacidade de alcançar uma ótima qualidade de vida, incluindo componentes intelectuais, sociais e espirituais.
Assim sendo o objetivo deste estudo é analisar o Índice de Massa Corporal e a prevalência de sobrepeso e obesidade de escolares do ensino fundamental.
Material e métodos
Caracterização do estudo
Trata-se de uma pesquisa descritiva experimental.
Amostra
Participaram do estudo 79 sujeitos, sendo 38 do sexo feminino e 41 do sexo masculino, com 13 a 14 anos de idade e estudantes do ensino fundamental na Escola Municipal Senador Carlos Gomes de Oliveira no município de Joinville estado de Santa Catarina – Brasil. Os sujeitos foram selecionados pelo método não probabilístico acidental, de modo que a amostra foi composta por um subconjunto de estudantes, formada pelos sujeitos que se disponibilizaram em participar do estudo.
Instrumento para a coleta dos dados
Avaliação antropométrica: para as medidas de massa corporal e estatura, utilizou-se a balança digital de marca Stampa, (capacidade de 150 Kg e divisão em 100g) e estadiômetro (200cm), respectivamente. O Índice de Massa Corporal (IMC) foi calculado mediante a divisão do peso corporal pela estatura ao quadrado.
Procedimentos para a coleta dos dados
Inicialmente foi feito o pedido de autorização para o (s) responsável (s) na participação no estudo, mediante a assinatura do Termo de Consentimento de acordo com o Ministério da Saúde nº 196/96 para pesquisas com seres humanos (Brasil, 2002). Posteriormente as avaliações antropométricas foram realizadas durante as aulas de Educação Física em horário regular da aula. Onde foi feita a aferição do peso corporal e a medida da estatura, com os resultados foi possível então realizar o cálculo do IMC.
Estatística
Utilizou-se a estatística descritiva com cálculos percentuais de correlação e análises de variância.
Resultados
Os dados descritivos de idade decimal, estatura e peso corporal para ambos os sexos são apresentados na tabela 1.
Tabela 1. Caracterização da amostra
|
Masculino (41) |
Feminino (38) |
Média |
Média |
|
Idade (anos) |
13,7 |
13,73 |
Estatura (cm) |
1,64 |
1,58 |
Peso Corporal (kg) |
55,65 |
53,57 |
A variância nos valores de peso corporal e de estatura, encontram-se no gráfico 1, isto relativo ao 1º e ao 2º semestre respectivamente, para ambos os gêneros.
Gráfico 1. Valores de peso corporal e estatura, relacionado ao 1º e 2º semestre, respectivamente
Com relação ao peso corporal (A), 23% dos alunos apresentaram perda. Sendo que o restante dos alunos 77% obtiveram aumento do peso corporal. Estes percentuais diferenciam quanto à estatura (B) destes alunos, uma vez que 30% dos estudantes mantiveram sua estatura e 70% aumentaram.
No gráfico 2, consta o percentual de alunos de ambos os sexos que se encontram com sobrepeso, com relação ao 1º e 2º semestre respectivamente.
Gráfico 2. Percentual de alunos com sobrepeso
Dezoito por cento (18%) das meninas estavam com sobrepeso no 1º semestre, já no 2º semestre este valor diminuiu para dezesseis por cento (16%). Diferente para os meninos que quinze por cento (15%) deles estavam com sobrepeso no 1º semestre e eventualmente mantiveram o valor no 2º semestre.
Discussão
Além dos estudantes de ambos os sexos aumentarem o peso corporal os mesmos também tiveram um aumento na estatura no decorrer do ano letivo. Evidentemente é na adolescência que ocorrem as maiores mudanças corporais em um indivíduo, caracterizando-se como uma das principais fases do desenvolvimento do ser humano. Este período é marcado por transformações biológicas, psicológicas e sociais. Trata-se de uma fase de transição onde ocorrem modificações físicas, mentais e emocionais, tornando-se importante principalmente, por tratar-se da transição entre a infância e a fase adulta (Pozzobon & Trevisan, 2003).
Segundo a OMS (1975) a adolescência é um período que se estende dos 10 anos de idade até os 19 anos, 11 meses e 29 dias sendo, desta forma, um critério prático que procura delimitar esta fase. Fase esta que se torna diferente para cada indivíduo, onde para alguns o processo é precoce e para outros é tardio e ao mesmo pode ser breve ou brando. Isto vem ao encontro dos resultados deste estudo onde 23% dos alunos diminuíram o peso corporal no ano letivo, tendo em vista que aumentaram sua estatura. Outro dado importante a ser discutido é que 30% dos alunos mantiveram a estatura, fato este que justifica a diferença no desenvolvimento de cada indivíduo.
Através do cálculo do IMC, pode-se verificar e analisar o percentual de alunos que estavam com sobrepeso, desde então, as meninas diminuíram o valor do IMC com relação ao primeiro e segundo semestre letivo, respectivamente. Os meninos mantiveram o valor como consta nos dados do gráfico 2.
No entanto, o que mais chama a atenção é que neste estudo 77% dos alunos de ambos os sexos tiveram aumento de peso corporal, supostamente acredita-se que este ganho de peso, esteja relacionado com o aumento da estatura, já que 70% dos mesmos obtiveram ganho, e a outra suposição é que pode ser devido a quantidade de massa magra destes alunos, onde a qual não foi mensurada. Estes dados deixam claro que o cálculo do IMC possuí limitações, pois ele não determina se o excesso de peso se deve à obesidade ou à hipertrofia muscular, forma óssea ou outros fatores (OLIVEIRA, 2000).
Por outro lado deve-se considerar o aumento alarmante de obesos em países desenvolvidos e em desenvolvimento (World Health Organization, 1998), que pode ser explicado pelo maior consumo energético. Além do mais, o consumo alimentar dos adolescentes não obedece ao recomendado, com gordura total e saturada acima do ideal, ingestão deficiente de certas vitaminas e minerais e redução ou não realização da prática de atividade física.
Para as meninas, apesar do índice de sobrepeso ter diminuído com relação ao 1º e 2º semestre respectivamente, tudo indica que o ganho de peso corporal possa estar relacionado com o advento da menarca (primeira menstruação) sendo que para Eckert (1993), com o advento da menarca, são notadas nos indivíduos, variações no desenvolvimento do peso corporal e estatura, embora tais variações possam ser esperadas, com bases em diferenças regionais e de status socioeconômico.
No que diz respeito à obesidade no Brasil, inquéritos populacionais vêm demonstrando um aumento substancial na prevalência de sobrepeso/obesidade em todas as faixas etárias e regiões (ANJOS, 2001). Além de esta epidemia global afetar a parte física dos indivíduos (problemas articulares, limitação de movimentos), ela está ligada também com os distúrbios psicossociais (Luiz e colaboradores, 2005; Silva e colaboradores, 2002), isolamento e rejeição pelos colegas (Silva e colaboradores, 2002), dificuldades comportamentais, interferindo assim no relacionamento social, familiar e acadêmico do aluno (Luiz e colaboradores, 2005).
Atualmente há uma recomendação considerada internacional que todos os indivíduos devem acumular 30 minutos ou mais de atividade física de intensidade moderada na maioria, preferencialmente todos os dias da semana. Atividade moderada entende-se como aquela que se gasta em torno de 200Kcal em 30 minutos (PATE et al, 1995). Essas recomendações são para a população em geral e não especificamente para obesos que têm um objetivo de aumentar ou melhorar sua aptidão física.
Para finalizar David Rodrigues e organizadores (2008) no livro intitulado como Os valores e as atividades corporais, cita que em lugar da prática esportiva tradicional têm se incrementado as práticas que promovem os “cuidados consigo”, ou seja, as práticas corporais realizadas pelo prazer, originalidade, promoção da saúde como conceito global de qualidade de vida, e não mais pelo corpo “produtivo” e de alto desempenho. Assim, a recomendação na verdade é de que os indivíduos se movimentem, não importando como, mas sim de uma forma espontânea e prazerosa.
Conclusão
Os resultados demonstraram que os estudantes apresentaram excesso de peso, porém num baixo percentual. Importante levar em conta que isto pode estar associado ao aumento da estatura que os mesmos obtiveram, uma vez que, encontram-se na fase da adolescência período marcado pelas diversas transformações físicas, mentais e emocionais.
Mesmo através dos resultados demonstrarem que poucos alunos apresentaram excesso de peso por meio da medida do IMC, sugere-se uma maior conservação de hábitos alimentares adequados e prática regular de atividade física prazerosa, aquisição de comportamento preventivo, visando assim controlar os níveis de sobrepeso e inclusive o desencadeamento da obesidade nos estudantes.
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