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Futebol e identidade: apontamentos iniciais

sobre a mundialização dos jogadores brasileiros

Fútbol e identidad: apuntes iniciales sobre la mundialización de los jugadores brasileños

 

Mestrando em História Comparada (UFRJ)

(Brasil)

Nei Jorge dos Santos Junior

edfnei@hotmail.com

 

 

 

 

Resumo

          A prática do futebol desde sua gênese está diretamente envolvida por diversos fatores que a colocaram no status de maior modalidade esportiva mundial. Segundo o censo realizado pela FIFA em 2000, o futebol é apontado como o esporte mais praticado no mundo. Cerca de 250 milhões de pessoas, ou 4,1% da população mundial, são participantes do jogo de futebol de alguma maneira. Nessa mesma pesquisa, identifica que no Brasil, cerca de 170 milhões de pessoas, sem contar as crianças e os praticantes ocasionais participam desse jogo. Tendo em conta essas observações, esse trabalho tem um duplo objetivo: por um lado, fazer uma analise inicial sobre o conceito de identidade - e por outro, desenvolver uma discussão sobre o processo de mundialização do futebol brasileiro, sabendo das transfigurações produzidas neste esporte que sobrevém numa cultura cada vez mais internacionalizada.

          Unitermos: Identidade. Futebol. Mundialização.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 16 - Nº 156 - Mayo de 2011. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    Fenômenos relevantes têm marcado a sociedade contemporânea. Transformações socioculturais possibilitam traçar um novo panorama investigativo sobre a estruturação do futebol no quadro social contemporâneo. Para isso, percebe-se a necessidade de compreender os novos modelos que sustentam essa sociedade. Podemos chamar o que Schaff (1993) caracteriza como “sociedade informática”, o que também nos possibilita dizer que vivemos na “era da informação” (Dertouzos 1997) ou como afirma Negroponte (1997), quando a define com a “era dos bits”. Podemos ainda nos referir a ela como “sociedade globalizada” (Robertson 2000). No entanto, sabemos que as nuances figuradas vão apontar para qual aspecto está em foco na descrição, variando desde processos sobre informação à questão econômica, passando pela questão das identidades culturais (Hall, 2003).

    Todavia, seja qual for o conceito utilizado, a sociedade está inegavelmente adentrando um patamar mundializado. As nações não vivem mais isoladas devido às diversas configurações da geopolítica atual. Não há como se isolar sem riscos. Essa distensão do local para o global merece ser abordados por um fenômeno cultural é parte integrante da arena em que esses próprios conceitos são forjados ou questionados: o esporte, ou especificamente o futebol.

    O futebol enquanto espetáculo esportivo opera com mecanismos de linguagens que facilitam sua comercialização e aceitação mundializada. Essa aceitação é condicionada por representações simbólicas que permitem sua compreensão globalizada, tornando-as mundialmente inteligível.

    Essas representações que caracterizam o futebol desde sua gênese aristocrática, ocidental e masculina, dialogam com enorme visibilidade na democratização e aumento do seu público de praticantes e espectadores em todo mundo. Notadamente, não é espantoso o fato em que a FIFA1– entidade máxima no futebol – conta com a filiação de 208 países, enquanto a ONU2 possui 192 países filiados. O que representa uma significativa expansão da geopolítica do futebol.

    Nesse sentido, sua importância enquanto veículo de consolidação e afirmação de identidade nacional coloca-se como elemento-chave para compreensão desses mecanismos de diálogos que têm marcado a sociedade contemporânea, apoiado nas condições históricas, pautados pela penetrabilidade social que ambos transcrevem sob os signos da modernidade.

    Tendo em conta essas observações, esse trabalho tem um duplo objetivo: por um lado, fazer uma analise inicial sobre o conceito de identidade - e por outro, desenvolver uma discussão sobre o processo de mundialização do futebol brasileiro, sabendo das transfigurações produzidas neste esporte que sobrevém numa cultura cada vez mais internacionalizada.

Identidade: discussões e conceitos

    O conceito de identidade tem sido veemente discutido no âmbito das ciências sociais ao longo dos anos. A discussão tem gravitado em torno das análises filosóficas, antropológicas, psicológicas e sociológicas, e, com isso, suas definições têm apresentado um olhar multidisciplinar. Nas palavras de Gilroy (2007, p. 125), “a identidade nos ajuda a compreender a formação daquele pronome perigoso: “nós”, e a levar em conta os padrões de inclusão e exclusão que ela cria mesmo sem querer”.

    Na perspectiva dos estudos culturais, a identidade é relacional, está vinculada às condições sociais e materiais - a questão da inclusão e exclusão -, aos sistemas classificatórios, é fluida e polissêmica, é construída e sustentada pelos processos sociais e simbólicos e envolve reivindicações essencialistas.

    Segundo Woodward (2000), umas das discussões centrais relacionados à identidade polariza-se entre as perspectivas essencialistas e não-essencialistas. A primeira afirma ser a identidade unificada, imutável, fixa, que não se altera com o passar do tempo, como era o pensar Iluminista sobre o sujeito. Corroborando com o autor, Stuart Hall (2003, p. 10) aponta que "o sujeito do Iluminismo estava baseado numa concepção da pessoa humana como um indivíduo totalmente centrado, unificado”. Ainda de acordo com autor, a segunda, destaca-se pelo enfoque pós-moderno que afirma ser a identidade não permanente, mas uma realidade processada e transformada sistematicamente.

    O sujeito previamente vivido como tendo uma identidade unificada e estável está se tornando fragmentado; composto não de uma única, mas de varias identidades, algumas vezes contraditórias ou não-resolvidas. Correspondentemente, as identidades, que compunham as paisagens sociais 'lá fora' e que asseguravam nossa conformidade subjetiva com as 'necessidades' objetivas da cultura, estão entrando em colapso, com resultado de mudanças estruturais e institucionais. O próprio processo de identificação, através do qual nos projetamos em nossas identidades culturais, tornou-se mais provisório, variável e problemático (p. 12).

    A modernidade tardia, termo compartilhado por Giddens (1990) e Hall (2003) para referirem-se à sociedade atual, tem se caracterizado pelas seguintes palavras e idéias: "identidade" e "crise de identidade". Giddens (1990) optou pelo nome modernidade tardia para evitar os muito “pós” usados atualmente. Para Bhabha (1998), hoje em dia o prefixo “pós” é colocado indiscriminadamente à frente de tudo, sem que adquira necessariamente algum significado. Além disso, Giddens (1990) acreditava que ainda estivéssemos na modernidade, preferindo referir-se à dita fragmentação pós-moderna como a “difusão extensiva das instituições modernas”.

    No entanto, o autor considera que o fenômeno da globalização é um dos desestruturadores da identidade que também acabou por lançá-la em um contexto de crise. Woodward (2000, p. 20) diz que "a globalização envolve uma interação entre fatores econômicos e culturais, causando mudanças nos padrões de produção e consumo, as quais, por sua vez, produzem identidades novas e globalizadas".

    O processo de globalização aparece como um dos fatores responsáveis pelo processo de deslocamento dessa idéia de identidade nacional, uma vez que, diante de tal realidade, o nacional parece diluir-se (PEREIRA, 2004). Todavia, o nacional não são apenas as fronteiras: "uma cultura nacional é um discurso" (Hall, 2003, p.50). A nação, portanto, faz sentido porque tem seu sentido narrado por memórias capazes de conectar presente, passado e futuro. Assim percebe-se que a dinamização e a mudança contínua das sociedades modernas são aspectos peculiares que lhes distinguem das sociedades tradicionais. Nesta, exalta-se o passado e engrandecem os seus símbolos visto que os mesmos trazem em si a experiência de gerações e a tornam sucessivas. Nesse sentido, podemos nos debruçar sobre a valiosa contribuição do historiador Eric Hobsbawn para exemplificar esse discurso. Segundo o historiador, a tradição inventada permite uma identificação com algo que não seria tão tradicional, mas que se faz passar por tal e consegue organizar uma idéia e um discurso em torno de si. Essa tradição inventada (ou retorno simbólico ao passado) mobiliza as pessoas para que purifiquem suas fileiras e expulsem os outros que ameaçam a identidade nacional. Já nas sociedades modernas, as práticas sociais são processadas e reprocessadas à luz das novas informações repassadas que acabam por alterar seu caráter.

    Um exemplo da interferência direta da globalização nas identidades é o futebol. Configurado pela abertura do mercado global, os jogadores acabam por se espalhar pelo mundo gerando um forte impacto tanto em seus países de origem bem como sobre os países que os acolhem. O fenômeno da migração acaba produzindo identidades plurais e gerando um processo nada igualitário em relação ao desenvolvimento.

    Nesse processo as identidades acabam sendo modeladas e localizadas em lugares diferentes, fazendo surgir assim novas identidades que em hipótese alguma podem ser admitidas como não desestabilizáveis e não desestabilizadoras. Para Gilroy (2001), algumas dessas identidades destituídas de "pátria" e não provenientes de uma única fonte são melhores compreendidas quando observadas a partir do conceito de diáspora, que esta acaba por produzir uma hibridização cultural.

    Sob a idéia-chave de diáspora, nós poderemos ver não a "raça", e sim formas geopolíticas e geoculturais de vida que são resultantes da interação entre sistemas comunicativos e contextos que elas não só incorporam, mas também modificam e transcendem. (p. 25)

    Ainda de acordo com o autor, os cruzamentos de fronteiras acabam por produzir deslocamentos contestadores e produtores de identidades. Assim, a diáspora seria uma representação simbólica das lutas políticas que objetivam definir as comunidades locais como distintas e inseridas em contextos históricos de deslocação.

Uma seleção brasileira global

    A prática do futebol desde sua gênese está diretamente envolvida por diversos fatores que a colocaram no status de maior modalidade esportiva mundial. Segundo o censo realizado pela FIFA em 20003, o futebol é apontado como o esporte mais praticado no mundo. Cerca de 250 milhões de pessoas, ou 4,1% da população mundial, são participantes do jogo de futebol de alguma maneira. Nessa mesma pesquisa, identifica que no Brasil, cerca de 170 milhões de pessoas, sem contar as crianças e os praticantes ocasionais participam desse jogo.

    Para entender esse crescimento, é preciso reconhecer que o futebol se constitui de um campo de concorrência no interior, onde antes restritos a praticantes e aos espectadores presenciais, alcançaram as massas quando esses eventos, através dos meios de comunicação de massa, se transformaram num produto midiático. Esse cenário presente representa a passagem de um esporte praticado em círculos sociais restritos; otimizado pela máxima do amadorismo, para um esporte espetacularizado, com produção profissional especifica e destinado ao consumo de massa. (BOURDIEU, 1983)

    O sociólogo Richard Giulianotti (2000), aponta três estágios específicos para compreensão do futebol enquanto fenômeno, que podem ser caracterizados como: tradicional, moderno e pós-moderno.

    Quando discuto o ‘tradicional’ estou falando sobre o ‘pré-moderno’, onde vestígios da era pré-industrial ou pré-capitalista são ainda muito influentes. De modo geral, isso envolve a aristocracia ou a classe média tradicional, que exerce sua autoridade muito mais por convenções do que por meios racionais ou democráticos. A ‘modernidade’ está relacionada à rápida urbanização e ao crescimento demográfico e político da classe trabalhadora. Estabelece-se uma divisão entre espaços masculinos (público, produtivo) e espaços femininos [privado, reprodutivo]. [...] O crescimento dos meios de comunicação de massa, as melhorias de infra-estrutura e a criação de programas de bem-estar social também servem para suscitar sentimentos unitários de identidade nacional. [...] Em matéria de lazer e de recreação, a divisão entre burguesia e classes trabalhadoras é reproduzida por meio de uma diferenciação entre alta cultura ‘legitimada’ e baixa cultura ‘popular’. A ‘pós-modernidade’ é marcada pela dimensão crítica ou pela rejeição real da modernidade e de suas propriedades definidas. [...] As identidades sociais e culturais tornam-se cada vez mais fuidas e ‘neotribais’ em suas tendências de lazer. [...] A globalização dos povos, da tecnologia e da cultura dá origem a uma cultura híbrida e uma dependência econômica das nações em relação aos mercados internacionais. (p.09-10)

    A seleção brasileira é um forte exemplo desse processo. A tradição em exibir jogadores excepcionais, transforma a seleção num objeto de contínuo fascínio popular, por suas conquistas e pelo grande numero de jogadores atuantes nas mais variadas ligas internacionais, transformando-a num símbolo global.

    Esse símbolo global proporcionou entre contratos de patrocínio, cotas de amistosos e vendas de direitos de transmissão, cerca de 35 milhões de dólares em 2006 nos cofres da CBF. É o equivalente a cinco vezes o faturamento registrado em 1994. (Revista Exame, 04/ 2006)

    Mais da metade da receita anual da seleção brasileira é garantida por quatro grandes contratos de patrocínio; Nike, cervejaria Ambev, telefonia celular Vivo e o Banco Itaú. Outra fatia importante do faturamento vem das cotas pagas ao time pelos amistosos disputados no exterior. Nesse caso, vem sendo também registrado aumento substancial de valores ao longo dos últimos anos. De acordo com a Revista Exame publicada em abril de 2006, o jogo mais caro da história aconteceu em março 2006, quando a federação russa pagou 1,5 milhão de dólares para ver as estrelas comandadas pelo até então técnico Carlos Alberto Parreira enfrentar a seleção local, no Lokomotiv Stadium, em Moscou. É quase o equivalente ao cachê de um show de estrelas do rock, como os Rolling Stones e o U2.

    A freqüência de amistosos no exterior, mais notadamente na Europa, sempre com estádios lotados e grande apelo publicitário, mostram o grande poder de espetacularização que a seleção proporciona. Como quase todos os jogadores atuam no velho mundo, torna-se mais viável marcar um jogo naquele continente e ter a liberação por parte dos clubes mais facilitada ou menos dificultada, além do lucro garantido. E cabe ao torcedor brasileiro - que não vive na Europa, ou seja, a grande maioria - ligar sua televisão e ver o jogo na sala de sua casa. Notadamente, especula-se que aqueles que costumam ir ao estádio, acabam por não criar com a seleção, o mesmo vínculo que cria com seu clube de coração, já que fica impossibilitado de acompanhá-la.

    Todavia, Canclini (2006) chama atenção que esses atletas “não deixam de estar inscritos na memória nacional, os consumidores populares são capazes de ler a citações de um imaginário multilocalizado que a televisão e a publicidade reúnem”. (p. 68). Ou seja, é preciso compreender que “a cultura nacional não se extingue, mas se converte em uma fórmula para designar a continuidade de uma memória história instável, que se reconstrói em interação com referentes culturais transnacionais.” (p. 46).

    Esses apontamentos revelam o futebol com business e, como tal, passa a transcender a nação da qual faz parte. Portanto, cotidianamente estamos resignificando novos valores mundializados, expresso por um mecanismo que reorienta a organização das sociedades contemporânea, onde o futebol enquanto fenômeno sociocultural incorpora essas expressões pelo poder de penetrabilidade social que o concebe, atraindo olhares significativos de todas as companhias do mundo.

    Entender o processo de mundialização da cultura brasileira através desse fenômeno esportivo mostra-se de suma importância por possibilitar uma leitura da representação da vida social, sob um enorme apreço popular, tendo a necessidade de um olhar global, pois dificilmente, sua compreensão enquanto fenômeno poderá ser respondido somente no âmbito da esfera nacional.

O sonho do futebol europeu: bye bye Brasil

    Em meio à crise mundial, o Manchester City – clube adquirido em 2008 pelos investidores do Abu Dhabi United Group – ofereceu ao Milan 120 milhões de euros (R$ 365 milhões), para contar com o meia-atacante Kaká na temporada 2009. Kaká receberia equivalente a 19 milhões de euros (R$ 58,5 milhões) por temporada. O jogador, apesar da grande quantia, optou pela não transferência, por não ver o clube inglês como grande potência no cenário Europeu, além dá não classificação do clube inglês para principal competição Européia – Champions League –, sendo negociado, meses depois por 65 milhões de euros (cerca de R$ 178 milhões), para o clube espanhol Real Madri de acordo com informação divulgada pelo jornal espanhol Marca (Marca, 02/06/2009).

    Esse caso corriqueiro nos principais clubes da Europa ajuda a entender um discurso tão presente nos jogadores brasileiros, o sonho de fazer sucesso e consegui estabilidade financeira no futebol do exterior. Esse discurso atrelado à desigualdade econômica entre o futebol europeu e o futebol nacional reflete no número de transferências de jogadores brasileiros nos últimos anos para o mercado internacional.

    No mundial de 2002 apenas treze jogadores, o que significa menos de 2% do total de inscritos na competição atuava no Brasil. Nos mundiais de 2006 e 2010 o caso acentuou-se: apenas três inscritos, o que significava menos de 1% do total jogavam em clubes nacionais. Sob essa ótica, percebemos que o Brasil transformou-se claramente num grande exportador de jogadores, onde segundo dados da CBF4 somente em 2008, foram registradas1176 transferências de jogadores, para clubes de 95 países5.

Ano de transferência a partir de 1989

Total de jogadores transferidos 6

1989

132

1990

136

1991

137

1992

205

1993

321

1994

207

1995

254

1996

381

1997

556

1998

530

1999

658

2000

701

2001

736

2002

659

2003

858

2004

857

2005

804

2006

851

2007

1.085

2008

1.176

    Este crescimento desmedido na transferência de jogadores para o exterior configura uma nova realidade no mercado socioeconômico do futebol brasileiro. Esta nova configuração tem afetado profundamente a sobrevivência dos clubes brasileiros, restando apenas a função de formadores de “pés de obra” para serem oferecidos ao mercado internacional. (ALVITO, 2006)

    Para tomar como exemplo, após um excelente Campeonato Carioca pelo Botafogo F.R. sendo eleito o melhor jogador do campeonato. O meia Maicosuel foi vendido ao Hoffenheim da Alemanha por 4,5 milhões de euros (R$ 12,8 milhões). O clube carioca se esforçou em cobrir a oferta, mais percebeu que a negociação era desigual comparada à situação financeira dos clubes nacionais. A justificativa do jogador Maicosuel esta presente na grande maioria dos jogadores: buscar melhores condições salariais para fazer o “pé de meia”. (O Globo, 22/05/09)

    Para tornar explícita a desigualdade financeira que ronda os clubes nacionais comparados aos clubes europeus, buscamos analisar duas pesquisas referentes aos dez maiores salários de jogadores de futebol no Brasil e no continente Europeu. A primeira, realizada pelo site português Futebol Finance aponta os dez maiores salários no futebol Europeu com base na temporada 2009/ 2010, a segunda pesquisa realizada pela Revista Placar em junho de 2010 indica os dez maiores salários no futebol brasileiro.7

#

Jogador

Clube

Mensal

Anual

1

Cristiano Ronaldo

Real Madrid CF

1.083.000 €

13.000.000 €

2

Zlatan Ibrahimovic

FC Barcelona

1.000.000 €

12.000.000 €

3

Lionel Messi

FC Barcelona

875.000 €

10.500.000 €

4

Samuel Eto’o

Internazionale

875.000 €

10.500.000 €

5

Ricardo Kaká

Real Madrid CF

833.000 €

10.000.000 €

6

Emmanuel Adebayor

Manchester City

708.000 €

8.500.000 €

7

Karim Benzema

Real Madrid CF

708.000 €

8.500.000 €

8

Carlos Tevez

Manchester City

666.000 €

8.000.000 €

9

John Terry

Chelsea FC

625.000 €

7.500.000 €

10

Frank Lampard

Chelsea FC

625.000 €

7.500.000 €

Fonte: futebolfinance.com8

 

#

Jogador

Clube

Mensal

1

Ronaldo

Corinthians

R$ 1.800.000,00

2

Deco

Fluminense

R$ 550.000,00

3

Deivid

Flamengo

R$ 475.000,00

4

Fred

Fluminense

R$ 460.000,00

5

Kléber

Palmeiras

R$ 373.500,00

6

Neymar

Santos

R$ 305.000,00

7

Roberto Carlos

Corinthians

R$ 300.000,00

7

Felipe

Palmeiras

R$ 300.000,00

7

D’Alessandro

Internacional

R$300.000,00

7

Rafael Sóbis

Internacional

R$ 300.000,00

Fonte: Revista Placar setembro de 2010

    Percebemos que a desigualdade econômica reflete diretamente no destino dos principais jogadores brasileiros. Onde, dos quase US$ 250 bilhões que esse mercado movimenta ao longo do ano, a parte brasileira não chega a 3%. Escasso, se comparado com os resultados e prestígio obtidos dentro de campo.

    Nesse sentido, podemos apontar diversos fatores que pode nos ajudar a entender esse processo escasso, um deles seria que entre os 20 clubes mais ricos do mundo, apenas três deles tem modelo semelhante ao dos times brasileiros, mostrando a necessidade de modernização do futebol brasileiro, motivo real pela perda precoce dos seus principais jogadores. Notadamente, mesmo com o fato de a seleção brasileira ser a única pentacampeã do mundo, o campeonato brasileiro foi somente o quinto principal campeonato do mundo em 2008, segundo o ranking realizado pela IFFHS9, o que mostra a fragilidade na organização da principal competição nacional.

Considerações finais

    De fato, esse caminho percorrido pelos clubes brasileiros salientou a venda de jogadores como principal fonte de receita dos clubes, o que ocasionou a falta de identificação com o público, ao ponto de não lembramos o clube brasileiro que o jogador havia defendido antes de sua venda.

    Contudo, ao traçar uma discussão sobre esse processo de mundialização do futebol brasileiro, percebe-se a capacidade de penetrabilidade social na resignificação de novos valores de uma cultura internacional-popular, atraindo olhares significativos de todas as companhias do mundo.

    É importante salientar a contribuição dos avanços tecnológicos dos meios de comunicação de massa, sobretudo, a mídia televisiva que socializa valores atrelados à indústria do consumo, na transformação da prática de futebol em business e seus personagens – jogadores de futebol – em verdadeiras estrelas hollywoodianas.

Notas

  1. Féderation Internationale de Football Association.

  2. Organizações das Nações Unidas.

  3. Dados retirados do site oficial da FIFA referente ao censo realizado pela entidade em 2000.

  4. Confederação brasileira de futebol.

  5. Dados retirados do site oficial da CBF, disponível em www.cbf.com.br

  6. Dados retirados do site oficial da CBF, disponível em www.cbf.com.br

  7. As listas produzida pela Placar levam em conta todos os rendimentos que os jogadores e os técnicos recebem. O cálculo é feito com a soma de salários, direitos de imagem, luvas, receitas geradas com publicidade e outros pagamentos. Com base nesses valores, faz-se uma média dos rendimentos mensais de cada jogador.

  8. Salários referentes à temporada 2009/2010 publicado pelo site português Futebol Finance, disponível em www.futebolfinace.com

  9. International Federation of Football History & Statistics.

Referências

  • ALVITO, M. A parte que te cabe neste latifúndio: o futebol brasileiro e globalização. Análise Social, v.41, n. 179, p.451-474, 2006.

  • BHABHA, H. K. O local da cultura. Tradução de Myriam Ávila, Eliana Lourenço de Lima, Gláucia Renate Gonçalves. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 1998.

  • BOURDIEU, P. Como é possível ser esportivo. In: ________. Questões de sociologia. Rio de Janeiro: Marco Zero, 1983.

  • CANCLINI, N. G. Consumidores e cidadãos: conflitos multiculturais da globalização. Traduzido por: Maurício Santana Dias. 6. ed. Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 2006.

  • DEBORD, G. A sociedade do espetáculo. Traduzido por: Estela dos Santos Abreu. 7. impressão. Rio de Janeiro: Contraponto, 2006.

  • DERTOUZOS, M. O que será: como o novo mundo da informação transformará nossas vidas. São Paulo: Cia das Letras, 1997.

  • GIDDENS, A. As conseqüências da modernidade. São Paulo: Unesp, 1990

  • GILROY, P. O Atlântico Negro. Modernidade e dupla consciência, São Paulo, Rio de Janeiro, 34/Universidade Cândido Mendes – Centro de Estudos Afro-Asiáticos, 2001.

  • __________. Entre campos: nações, culturas e o fascínio da raça. São Paulo: Annablume, 2007.

  • GIULIANOTTI, R. Sociologia do futebol: dimensões históricas e socioculturais do esporte das multidões. São Paulo, Nova Alexandria, 1999.

  • GURGEL, A. Futebol S/A: a economia em campo. São Paulo, Saraiva, 2006.

  • HALL, S. A identidade cultural na pós-modernidade. Rio de Janeiro: DP&A Editora, 2003.

  • HOBSBAWN, E.A Invenção das Tradições. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1997.

  • MENDES, K. Marcas em campo. Estado de Minas, Minas Gerais, p.6. 27 Mai. 2007.

  • NEGROPONTE, N. A vida digital. São Paulo, Companhia das Letras, 1997.

  • PEREIRA, H. R. A crise da identidade na cultura pós-moderna. Mental. 2004, vol.2, n.2, pp. 89-100.

  • SCHAFF, A. A sociedade informática. 4 ed. São Paulo: Editora Brasiliense, 1993.

  • SEIBEL, F. Máquina de ganhar dinheiro. Revista Exame, São Paulo, p. 12. Abr. 2006.

  • SILVA, T. T. (org.); WOODWARD, K.; HALL, S. Identidade e Diferença: A Perspectiva dos Estudos Culturais. São Paulo: Vozes, 2004.

  • ROBERTSON, R. Globalização: teoria social e cultura global. Petrópolis: Editora Vozes, 2000.

  • WAGG, S. Anjos de todos nós? Os treinadores de futebol, a globalização e as políticas de celebridades. Análise Social, v.41, n. 179, p.347-369, 2006.

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