A influência da indústria cultural na formação da cultura corporal das estudantes do curso técnico de publicidade do Colégio de Aplicação Dr. Paulo Gissoni La influencia de la industria cultural en la formación de la cultura corporal de los estudiantes del curso técnico de publicidad del Colegio de Aplicación Dr. Paulo Gissoni |
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* Discente da Graduação em Educação Física da Universidade Castelo Branco (UCB/RJ) **Co-orientador Pós-graduado em Elaboração e Gestão de Projetos Sócio-Esportivos pela (UCB, RJ) / Graduado em Educação Física pela (UCB, RJ) Subcoordenador técnico do Instituto Muda Mundo Pesquisador do Grupo de Cultura Corporal Carioca da (UCB-RJ). *** Orientador Mestre em Ciência da Motricidade Humana pela (UCB, RJ) Licenciado em Educação Física pela UCB, RJ. Docente da (UCB, RJ) (Brasil) |
Ramdel Caldas* | Antony Menezes* João Paulo das Neves* | Guilherme Licar* Raissa Pompeu* | Wendel Sanches* Mauricio Fidelis** Sergio Tavares*** |
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Resumo Este trabalho procura verificar qual a influência da indústria cultural nas adolescentes do ensino técnico de publicidade do Colégio Dr. Paulo Gissoni em relação a sua cultura corporal e o papel da Educação Física neste conflito. Utilizamos a metodologia Ex-post-facto, com o Body Shape Questionnaire – 34, para avaliarmos o nível de preocupação com a imagem do corpo no grupo pesquisado em dois momentos. Entre eles houve um evento mostrando o lado capitalista da mídia e o lado educativo e informativo. Com a classificação e os dados tabulados conclui-se que houve mudança no modo de pensar do grupo pesquisado, estas mudanças geraram diferenças estatísticas significativas, ao nível de significância de 5%, antes e depois do evento de intervenção (p=0,012322843). Porém acreditamos que este tipo de intervenção de forma contínua possa gerar um espírito crítico nos jovens quanto ao tema. Unitermos: Cultura corporal. Indústria cultural. Indústria cultural e o corpo.
Abstract This paper aims to measure the influence of cultural industry on high school students from the Technical in publiciy degree of Colégio Dr. Paulo Gissoni, concerning their body culture, and the hole of physical education in this conflict. The methodology used was classified as Ex-post-facto, a survey was conduced with the Body Shape Questionnaire – 34, in order to evaluate the level of concern about body image. Two moments were created, segregated by an intervention event, which exposed both sides capitalist and educational/informative of the media. The research concluded that there was a difference in the perception of the group, however the variation was statistically substantial, to a significance level of 5%, before and after the intervention event (p=0,012322843). Nonetheless, we suggest that this kind of intervention might help students to become more critical towards this subject. Keywords: Body culture. Cultural industry. Cultural industry and body.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 16 - Nº 156 - Mayo de 2011. http://www.efdeportes.com/ |
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Introdução
A origem da publicidade perde-se no tempo. Antes de Cristo mensagens comerciais e políticas foram encontradas na Arábia. Papiros eram utilizados para produzir cartazes, originando cartas de venda no Egito. Em Pompéia (até 79 d.C.) havia tabuletas divulgando combates entre gladiadores, mas durante toda a Idade Média houve um avanço na comercialização entre os povos, onde a “publicidade” era em sua maioria realizada de forma oral, feita por pessoas que exaltavam as qualidades do seu produto: gado, escravo, etc., pois a escrita e a leitura eram somente dominadas pela burguesia. (BIJÓIAS, 2010)
Dando um salto no tempo, a revolução industrial no séc. XVIII, também influenciou a publicidade e a indústria cultural, termo esse que surgiria com Theodor Adorno (1903-1969) e Max Horkheimer (1895-1973) principais estudiosos da Escola de Frankfurt, fundada em 1924.
(...) parece que na atualidade estamos vivendo em uma época que o corpo e seu significado sócio-cultural tomaram dimensões inusitadas. A insistente transmissão pelos mais diversos e escorregadios meios de comunicação de imagens de corpos esbeltos (em mulheres) ou musculosos (em homens) unidas a mensagens de felicidade, êxito e auto-estima fixou, no inconsciente coletivo a idéia de que um corpo “perfeito” é sinônimo de vida perfeita. (...) a natureza inalcançável desse corpo perfeito o converte (...) em um “mercado eterno” a que se dirigem os mais variados e insuspeitados produtos. (IBIDEM apud ARAUJO e SCHEMES, 2008, p.1)
O espaço que a mídia vem dando para o corpo feminino, muito antes de representar uma valorização desse corpo e da mulher que o comporta, representa a continuidade de um modelo de mulher submissa, só que agora, não mais aos pais e maridos, mas aos meios de comunicação. (ARAUJO e SCHEMES, 2008)
A partir destes acontecimentos a pesquisa tratará da relação da indústria cultural e suas ferramentas midiáticas na influência da formação da cultura corporal das mulheres na sociedade.
Desenvolvimento
A partir dos objetivos perseguidos pelo presente artigo, buscamos traçar um paralelo entre teóricos que trataram da indústria cultural e as ferramentas de mídia que as suportam os teóricos que tratam da temática Educação Física e de como ela pode ser distanciada de sua essência, alienando a sociedade e principalmente adolescentes, neste estudo meninas, do ensino técnico do curso de publicidade.
Em um texto clássico “Dialética do Iluminismo”, Adorno e Horkheimer (1947) definem indústria cultural como um sistema político e econômico que tem por finalidade produzir bens de cultura como mercadorias e como estratégia de controle social.
Filmes e rádio não têm mais necessidade de serem empacotados como arte. A verdade, cujo nome real é negócio serve-lhes de ideologia. Esta deverá legitimar os refugos que o propósito produz. Filme e rádio se auto definem como indústrias, essas cifras publicadas dos rendimentos de seus diretores gerais tiram qualquer dúvida sobre a necessidade social de seus produtos. (Adorno e Horkheimer, 1947).
Por isso diz Adorno (1947) os veículos de comunicação não são instrumentos neutros: eles são ideológicos em seu conteúdo, ou seja, transmitem e criam ideologia, independendo do conteúdo que transmitam. Os procedimentos técnicos utilizados geram paralisia mental além de aceitação passiva do existente. (OLIVEIRA, S/D)
Na atualidade a palavra de ordem é comprar. E mesmo antes de aprender a ler as crianças são contaminadas com a crença de que, para ser, tem que se ter. Com o assédio da mídia os miúdos são capazes de reconhecer marcas e suas respectivas embalagens persuadindo de forma irrepreensível os pais para adquiri-las. É natural e sadio que as crianças manifestem esses desejos, mas precisam ser educadas para o consumo, ensinando a serem críticas ao que consomem. (BIJÓIAS, 2010)
A indústria cultural e a publicidade avançam à medida que evoluem os meios de comunicação, induzindo o consumo mesmo que desnecessário, pois dependendo da forma que lhe é apresentado algum produto, logo os indivíduos fazem uma associação com o sucesso, riqueza, beleza entre outros. (FILHO, 2006)
A mídia utiliza sempre modelos com corpos dito “perfeitos”, por ela mesma, criando assim uma ideologia para que a sociedade respire e vivencie este estereótipo .
“Até o corpo humano virou um cartaz ambulante para Adidas, Gucci, Benetton e Glória Vancergilt.” (RIES TROUT, p. 11, 1987)
São várias as teorias acerca do papel de persuasão e conformação da conduta humana a partir do impacto dos meios de comunicação em massa. Ciências humanas dedicaram-se a estudar, por meio de experimentação e na analise dos fatos históricos. A tecnologia de convencimento e indução de comportamentos é usada pelos órgãos de comunicação e publicidade, sendo o consumidor vulnerável. Desta análise crítica fica evidente a inexistência de autonomia do consumidor, que é condicionado pelo processo produtivo e cultural, sendo objeto manipulado pela indústria cultural. Muito maior é o poder de indução de comportamento em crianças e adolescente. (FERNANDES apud PEREIRA, 2008, p.4).
Segundo Adorno para a formação de adolescentes críticos, o principal papel dos educadores diante da televisão é o ensinar a assisti-la dando a eles, instrumentos e formas de criticar, programações relevantes, fazendo reflexões sobre o assistido em casa e na Escola. (SILVA, 2003).
É primordial que os educadores tenham conhecimento da ideologia existente na sociedade, e como ela se articula na indústria cultural sempre tratando este assunto com uma educação significativa, relevante e democrática. (SILVA, 2003)
A indústria cultural está fortemente fincada na Educação Física escolar, deturpando valores e difundindo a moral burguesa. O esporte-espetáculo é outra forma da indústria cultural atingir os alunos, gerando um ambiente de aula de alto rendimento lucrativo ocasionando a competitividade exagerada, tirando o ideal educativo do esporte que vê na competição princípios humanos de cooperação. (MELO, 2006)
O educador precisa ser uma pessoa sensível e consciente para promover em suas aulas, o permanentemente exercício da cidadania, o que significará a apropriação crítica da indústria cultural também por parte de seus alunos, de forma a estimular sua sensibilidade estética e seu caráter subversivo. O educando é decisivo para a mudança do modelo neoliberal e imposto pela indústria cultural. (MELO, 2006)
Logo com toda a força da indústria cultural, como os futuros técnicos publicitários do Colégio de Aplicação Dr. Paulo Gissoni se comportam e comportarão fazendo parte deste contexto.
Metodologia
Nossa pesquisa utilizará o método Ex-post-facto, que segundo Fonseca (2002), tem por objetivo investigar possíveis relações de causa e efeito entre um determinado fato identificado pelos pesquisadores e um fenômeno que ocorre posteriormente. A principal característica deste método e a coleta de dados após a realização do evento.
Realizaremos a inferência no Colégio de Aplicação Dr. Paulo Gissoni, situado no Estado do Rio de Janeiro, na cidade do Rio de Janeiro no bairro de Realengo com um N= de 45 alunas do Curso Técnico de Publicidade do ensino médio, utilizamos um questionário composto de 34 perguntas, como ferramenta, aplicando-o antes de termos qualquer contato com o grupo.
Este questionário classificará os alunos em: com nenhuma preocupação com o corpo, (atingindo pontuação < 80), preocupação ligeira com o corpo, (atingindo pontuação entre 80 e 110 inclusive), preocupação moderada com o corpo, (atingindo pontuação entre 111 e 140 inclusive) e preocupação acentuada como o corpo (atingindo pontuação acima de 140).
Após os resultados realizaremos um evento utilizando duas salas, uma com imagens e comerciais ligados ao corpo, que tenha por objetivos alienar os espectadores em relação ao tema e a outra com imagens e comerciais também ligados ao corpo, mas que sejam informativos e educativos.
Em ambas as salas terão duas pessoas do grupo: uma que defenderá o material apresentado sob a ótica da indústria cultural capitalista e a outra o seu papel educativo e instrutivo.
Após o evento será aplicado o mesmo questionário com algumas adaptações. As adaptações não foram feitas no primeiro momento para não torná-lo tendencioso a respostas politicamente corretas. Neste momento avaliaremos se houve ou não mudança, no grupo estudado, após a intervenção.
O questionário utilizado será o Body Shape Questionnaire (BSQ-34) que foi criado por Cooper, PJ, Taylor, MJ, Cooper, Z & Fairburn, CG (1986), o desenvolvimento e a validação do BSQ-34 International Journal of Eating Disorders 6 :485-494.
Resultados
Como o explicado na metodologia, o grupo estudado foi submetido a duas avaliações, com uma intervenção feita entre elas.
Após todos os procedimentos metodológicos fizemos a totalização e classificação dos integrantes do grupo em: nenhuma preocupação com o corpo, ligeira preocupação com o corpo, moderada preocupação com o corpo e acentuada preocupação como o corpo.
No primeiro momento ao aplicar o protocolo obtivemos o resultado de 42.3%, 35.5%, 15.5% e 6.7% respectivamente já após a intervenção, e a reaplicação do mesmo a classificação foi de 66.7%, 17.8%, 15.5% e 0% respectivamente. Conforme explicito abaixo.
Os dados nos dão uma primeira impressão de que houve mudanças nos resultados, mas para sugerir esta afirmação, calculamos a média, desvio padrão, mínimo, máximo, o intervalo nos dois momentos e o teste t pareado para analisarmos estes dados.
Confrontando os dados, a pesquisa nos sugere que há a redução da média após a intervenção e nos mostra que houve uma diminuição no desvio padrão, além de reduzir também o mínimo e o máximo da classificação e seu intervalo.
Com todas as reduções indicadas pela pesquisa e a análise do teste t pareado nos faz concluir que em média, houve diferença estatística significativa, ao nível de significância de 5%, antes e depois do evento de intervenção (p=0,012322843).
Conclusão
A pesquisa nos mostra que a indústria cultural e suas ferramentas midiáticas, influenciam na cultura corporal das jovens pesquisadas. A Educação Física, pode sim esclarecer e tornar os educandos mais críticos em relação ao que é exposto pela mídia.
Como se procurou sugerir neste trabalho, é possível mudar este quadro de influência através de intervenções contínuas, pois com apenas uma ocorreram mudanças, logo acreditamos que se acontecer de forma permanente, estas intervenções poderão trazer diferenças significativas para o tema. Desta forma, sugerimos, aprofundarmos mais o assunto com novas pesquisas nesta mesma linha para gerar outras possibilidades e chegar a uma conclusão mais precisa sobre o tema.
Referências
ADORNO, Theodor W.; HORKHEIMER, Max. Almeida, Guido de Dialética do esclarecimento. São Paulo: Jorge Zahar, 1985. 224 p.
ARAUJO, Denise Castilhos de e SCHEMES, Claudia. O corpo e a mídia: análise de uma campanha publicitária. EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Nº 118, 2008. http://www.efdeportes.com/efd118/o-corpo-e-a-midia.htm
BASH. Body Shape Questionnaire, 1993. Disponível em: http://psyctc.org/tools/bsq/translations/malay/BSQ_Translation_into_Malay_Language.pdf. traduzido para o inglês em: http://www.aedweb.org/AM/Template.cfm?Section=Research_Practice_Guidelines&Template=/CM/ContentDisplay.cfm&ContentID=1925. Acessada em 2 nov. 2010 às 18:40.
BIJÓIAS, Maria. A evolução da publicidade, S/D. Disponível em: http://www.ruadireita.com/publicidade/info/a-evolucao-da-publicidade/. Acesso em: 9 out. 2010 às 22:50.
BIJÓIAS, Maria. A influência das crianças nas marcas, S/D. Disponível em: http://www.ruadireita.com/publicidade/info/a-influencia-das-criancas-nas-marcas/. Acesso em: 9 out. 2010 às 22:30.
FILHO, Elivazio Ferreira. A influência da publicidade na formação e na vontade do consumidor. Jus Vigilantibus, 12 out. 2006.
MELO, Igor Alves de. As relações sócio-educativasentre a industrai cultural e a educação física no 2° segmento do ensino fundamental, 2006. Disponível em: http//www.sanny.com.br. Acessado em 20 out. 2010 às 16:00.
MORA & RAICH, 1993. Body shape questionnaire. Disponível em: www.forma-te.com/.../5786-bsq-body-shape-questionnaire.html. Acessado em 2 nov. 2010 às 15:20.
OLIVEIRA, Paulo César de. Educação e emancipação: Revista eletrônica de filosofia volume 1 edição 1 2009.
PEREIRA JR., Antônio Jorge. Impacto da violência midiática na formação da criança e do adolescente, 2008. Disponível em: http//www.univforum.org. Acessado 18 out. 2010 às 21:30.
SILVA, H. L. F. Indústria cultural e educação infantil: o papel da televisão. Revista da UFG, Vol. 5, No. 2, dez 2003.
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