Comparação de variáveis antropométricas e de aptidão física entre adolescentes atletas da categoria mirim de handebol e não-atletas Comparación de variables antropométricas y de aptitud física entre jugadores adolescentes de balonmano y los no deportistas |
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*Mestrado/UFRGS – Porto Alegre, RS **Especialista/UFRGS – Porto Alegre, RS ***Graduado/UNIVATES – Lajeado, RS (Brasil) |
Carlos Leandro Tiggemann* Matias Noll* | Karli Heller** Jorge Augusto Petry*** |
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Resumo O objetivo deste estudo foi de identificar as variáveis antropométricas e de aptidão física, que possam diferenciar atletas (handebol) dos não atletas no âmbito escolar. Os procedimentos da coleta seguiram rigorosamente o modelo da bateria de testes propostos pelo Projeto Esporte Brasil (PROESP-BR). Foram utilizados o teste “t” e a análise da função discriminante para a análise estatística. Os resultados demonstraram que somente parte da aptidão física, foi capaz de diferenciar os grupos de atletas dos não atletas. Unitermos: Aptidão física. Perfil antropométrico. Adolescentes. Handebol.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 16, Nº 155, Abril de 2011. http://www.efdeportes.com/ |
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Introdução
Cada vez mais o esporte assume uma inegável importância na construção do perfil físico, dos hábitos e do comportamento na vida de crianças, jovens e adultos. Possibilitar a construção destas experiências de forma positiva e saudável é fundamental na construção do esporte para nossas crianças e adolescentes. Neste sentido, o esporte escolar possui uma importância ímpar, sendo o mesmo, na maioria dos casos, a primeira oportunidade em que os jovens têm o contato com o esporte e a competição esportiva. Mesquita1 diz que a “Educação Física e o desporto escolar não se podem esgotar no desenvolvimento das competências motoras e no fomento de valores e atitudes. Compete-lhes ainda, e não em menor importância, a função de promover nas crianças o gosto e o entusiasmo pela prática esportiva, enquanto atividade significante de um estilo de vida ativo.”
Assim, um bom desempenho neste âmbito esportivo pode representar uma continuidade de sucesso no futuro esportivo destes indivíduos. Garantir este sucesso é uma tarefa árdua e de inúmeras variáveis a serem consideradas. Vitassalo apud Silva e Maia2, considera que o conhecimento detalhado deste conjunto de traços e a sua interação são indispensáveis para o entendimento da performance global dos atletas, sendo, portanto, um fator condicionante para o êxito competitivo.
Embora sabendo destas inúmeras possibilidades envolvidas – medidas somáticas, composição corporal, análise somatotipológica, aspectos nutricionais, psicológicos, técnicos e táticos, entre outros, o objetivo deste estudo foi o de identificar quais são as variáveis antropométricas e de aptidão física, que podem discriminar os atletas dos não atletas, na faixa etária de 12 a 13 anos, do sexo feminino, no âmbito escolar.
Procedimentos metodológicos
A amostra foi selecionada de forma intencional, composta por 29 estudantes do sexo feminino, da categoria mirim (12 e 13 anos) do Instituto de Educação Cenecista General Canabarro (IECEG), do município de Teutônia no Rio Grande do Sul.
Os dados da amostra estão demonstrados na Tabela 1.
Foram consideradas atletas as estudantes que treinavam a pelo menos 6 meses e que participaram da etapa de handebol do IV JITEU (Jogos Interescolares de Teutônia).
Tabela 1. Distribuição da amostra conforme idades, categorias e condição atlética
Outro aspecto interessante de caracterização da amostra, quanto ao aspecto esportivo, é o desempenho desta equipe na referida competição, a qual ficou em primeiro lugar.
Para a coleta dos dados, foram realizados diferentes testes e procedimentos. Em relação a antropometria, as seguintes variáveis foram mensuradas: massa corporal, estatura, o cálculo do índice de massa corporal e envergadura. Quanto à aptidão física, as variáveis mensuradas foram: flexibilidade, força/resistência abdominal, força explosiva de membros inferiores, força explosiva de membros superiores, agilidade, velocidade de deslocamento e resistência aeróbia.
Os procedimentos da coleta seguiram rigorosamente o modelo da bateria de testes propostos pelo Projeto Esporte Brasil (PROESP-BR), descritos no Manual de Aplicação de Medidas e Testes Somatomotores detalhados na Revista Perfil3. As variáveis mensuradas, os testes utilizados e a respectiva unidade de medida estão expressos na TABELA 2.
Tabela 2. Variáveis mensuradas e respectivas siglas, testes utilizados e a unidade de medida
Para o tratamento dos dados, inicialmente procedeu-se a um estudo exploratório cujo objetivo foi o de avaliar os pressupostos essenciais da análise paramétrica. A normalidade das distribuições foi verificada pelo teste de Shapiro-Wilks. A homogeneidade das variâncias foi testada com o teste de Levene. Para a análise descritiva foram utilizadas a média e o desvio padrão. A comparação entre os grupos (atletas e não-atletas) foi feita através da utilização do teste “t” para amostras independentes.
Para verificar a contribuição e magnitude de cada variável (antropométrica e motora) para a separação dos grupos utilizou-se a Análise da Função Discriminante, tendo como ponto de corte o valor de 0,3 (para considerar relevância de um indicador), além de reclassificar os indivíduos em relação aos seus grupos originais.
Os dados foram tratados por meio do pacote estatístico SPSS18.0 utilizando um nível de significância de 5%.
Resultados
Serão apresentados os respectivos valores de n, média e desvio padrão das variáveis mensuradas, bem como a apresentação do nível de significância de cada variável entre os grupos de atletas e não atletas.
Como podemos observar nos dados encontrados nesta categoria (TABELA 3), nas variáveis antropométricas, as meninas atletas apresentaram médias superiores às não-atletas embora sem diferenças estatisticamente significativas. Quanto as variáveis de aptidão física, o grupo de atletas apresentou desempenho superior em todos os testes, sendo os mesmos significativos no de FMI, FMS, AGI e RES.
Tabela 3. n, média, desvio padrão e nível de significância das variáveis antropométricas e motoras de atletas e não-atletas do sexo feminino na categoria mirim
Na análise de função discriminantes quatro variáveis apresentaram valor igual ou superior a 0,3, AGI, RES, FMS e FMI, sendo a AGI que apresentou maior poder discriminatório entre os grupos (TABELA 4).
Tabela 4. Valores da Matriz de Constructos da categoria mirim feminino
Na reclassificação dos grupos, a combinação linear das variáveis analisadas permitiu classificar corretamente 92% dos casos em seus grupos originais, conforme TABELA 5. Através desta análise, com as variáveis estudadas, verificamos que apenas dois indivíduos poderiam ser reclassificados, um do grupo de atletas poderia ser classificado como não-atleta e outro passaria de não-atleta para atleta.
Tabela 5. Reclassificação dos grupos em valores absolutos e percentuais da categoria mirim feminino
O esporte a nível escolar é normalmente, a primeira, e quem sabe, a mais importante experiência esportiva da criança e do jovem. Desta forma, identificar este jovem esportista como um indivíduo diferenciado, é muitas vezes identificá-lo como um talento. Segundo Gaya et al.4, o talento esportivo é um indivíduo atípico no seio de sua população, possuindo um desempenho superior ou atípico, e ainda, uma elevada estabilidade deste desempenho. Sendo assim, o talento desportivo depende do talento motor”, ou seja, indivíduos com aptidão física diferenciada de seu grupo5.
Na análise do perfil antropométrico, em nenhuma das variáveis estudadas (MCO, EST, IMC e ENV) houve diferenças entre os grupos de atletas e não atletas. Nos estudos de Malina apud Garlipp6 e Nariyama et al.7, os jovens envolvidos com diferentes esportes demonstraram não haver diferenças de estatura entre os grupos de atletas e não atletas. Também, em outro estudo Malina et al. apud Garlipp6, ao analisarem três grupos seguidos longitudinalmente, não encontraram diferenças significativas, nos dois sexos, entre indivíduos ativos e não ativos, na estatura e peso corporal. Ainda Keogh et al.8 comparando dois grupos de meninas atletas de hockey, equipe regional e local, não encontrou diferenças na peso e na estatura.
No estudo de Garganta e Maia9 com dois grupos de voleibolistas, de elite e não elite portuguesa, na faixa etária dos 14 aos 17 anos do sexo feminino, foi constatado que tanto a estatura como o comprimento de membros superiores e inferiores, apresentavam diferenças significativas entre os dois grupos. Para Cercel apud Garaganta & Maia9 jogadores de handebol de nível mais alto apresentam o peso e a estatura diferenciados aos não atletas. Gonçalves da Silva e Gaya5, em estudo que comparou atletas de handebol e escolares do sexo masculino, na faixa etária dos 14 aos 16 anos, constataram que a estatura, a envergadura e o peso são estatisticamente superiores no grupo de atletas. Também Loko et al.10, ao compararem meninas fisicamente ativas com sedentárias, encontraram estaturas superiores e IMC inferiores, dos 11 aos 16 anos de idade a favor do primeiro grupo.
Enfim, quanto as variáveis antropométricas, acreditamos que, quando tentamos distinguir grupos de atletas de não atletas com um grande diferencial técnico entre eles, estas variáveis podem não apresentar uma diferença significativa entre eles. Também, devido ao número reduzido de alunos existentes no educandário, por categoria, dificilmente encontraríamos vários sujeitos com um mesmo perfil diferenciado, por exemplo, mais altos, mais obesos, que pudessem diferenciar a média de um ou outro grupo (atletas e não atletas), tendo assim, alguma vantagem ou desvantagem. E por fim, a não distinção dos grupos pelo aspecto antropométrico, pode ter sido compensada por uma maior distinção da aptidão física entre os dois grupos, como discutiremos a seguir.
No que se refere aos resultados obtidos quanto à aptidão física, identificamos que a FLE não demonstrou nenhuma diferença significativa em nenhum grupo; por outro lado, as variáveis FMI e AGI foram significativamente superior em todos os três grupos de atletas. Garganta e Maia9 identificaram maiores valores de FMI em voleibolistas de elite quando comparados as de não-elite. No estudo de Gonçalves da Silva e Gaya5, as variáveis FLE, RML, FMI, FMS e AGI, foram superiores no grupo de atletas masculinos de handebol em relação ao grupo de escolares. Também Silva e Maia11, comparando dois grupos de meninas voleibolistas do escalão de iniciados de Porto, na faixa etária de 12 a 14 anos, sendo um grupo A formado por meninas que possuíam 1 e 2 anos de experiência com o voleibol, e o grupo B com 3 e 4 anos, identificou que o grupo B apresentava valores superiores nas variáveis FMI, FMS, AGI, RML e VEL. Os autores ainda ressaltam o poder discriminatório da AGI, VEL e FMS, considerando-as aptidões de grande relevância nas características energético-funcionais do jogo. Loko et al.10 comparando meninas fisicamente ativas com sedentárias, na faixa etária dos 10 aos 17, encontraram valores superiores em todas as idades em testes de VEL, FMI e FMS. Também Keogh et al.8 comparando dois grupos de meninas atletas de hockey, equipe regional e local, verificaram valores significativamente maiores na VEL, AGI, RML e RES em favor do primeiro grupo.
Para Smith et al. e Morrow et al. apud Garganta e Maia9 a velocidade é uma variável que diferencia jogadores de nível mais elevado. Tourinho Filho e Tourinho12 dizem que pré-púberes de elite atlética apresentam um consumo máximo de oxigênio (RES) de 15 a 20% maior que o consumo máximo de seus companheiros não atletas.
Carvalho13 fala dos diferentes tipos de força - dinâmica, explosiva e de resistência – e da implicação dela com as demais qualidades físicas, como a velocidade e a agilidade. Também ressalta da importância do treinamento de força e bons níveis desta qualidade a todos os jovens, em especial aos jovens desportistas, para assegurar um desenvolvimento muscular equilibrado e com isso se acautelarem contra o risco de lesões. Além disso, menciona que, quando jovens possuem robustez física obtêm naturalmente maior sucesso das técnicas e habilidades motoras exigidas na prestação desportiva.
Ainda Carvalho13, relata que muitos desportos dependem da força e da potência muscular, sendo intuitivo admitir que jovens mais fortes possam ter melhor rendimento, contudo, ressalta que são poucos os estudos que suportam tais pretensões. Em nossos estudos, as variáveis ligadas à qualidade força – FMI, FMS, RML, AGI e VEL – apresentaram como sendo um grande diferencial na distinção entre o grupo de atletas e não atletas.
Desta forma, uma melhor aptidão física, representa um ponto crucial na distinção entre sujeitos atletas e não atletas. Uma boa aptidão leva a um melhor desempenho físico em quadra, bem como, uma melhor execução técnica dos fundamentos exigidos pelo esporte em questão. Uma ressalva importante, diz respeito à qualidade física flexibilidade, que não se mostrou diferente entre os dois grupos, talvez podendo ser explicada, pela especificidade da articulação mensurada.
Em relação ao poder discriminatório entre os grupos, constatamos que nenhuma variável antropométrica teve poder de discriminar os grupos. Por outro lado, na aptidão física, 4 variáveis apresentaram poder de discriminação entre os grupos (AGI, RES, FMS e FMI). Importante ressaltar, que nesta forma de interpretar os dados, as variáveis que discriminam os grupos sempre são relacionadas ao total de variáveis do próprio estudo, sendo que a sua interpretação com outros estudos deve ser feita de forma muito cuidadosa.
Em estudo de Gonçalves da Silva e Gaya5, as variáveis que apresentaram poder de discriminação foram ENV, EST e MCO no perfil antropométrico, e a FMS, FMI e AGI na aptidão física, tendo um percentual de reclassificação correta de 93,8%. Conforme Garganta e Maia9, as medidas de estatura, comprimento de membros superiores e inferiores, bem como, a impulsão vertical, tiveram poder discriminatório nos grupos comparados, sendo que a reclassificação correta apresentou um percentual médio de 89% de precisão.
Importante ressaltar nestes estudos, que todos apresentam tanto variáveis antropométricas como de aptidão física como índices de discriminação, dado este não encontrado em nossos estudos, podendo indicar que, em atletas escolares, o componente antropométrico não tenha tanta importância como a aptidão física em sua seleção.
Referências
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Silva S, Maia J. Análise dos Aspectos relacionados com a Performance Desportiva-Motora de Voleibolistas Femininas dos 12 aos 14 anos. Mesuita I, Moutinho C, Faria R. Organizadores. Investigação em Voleibol - Estudos Ibéricos. Porto Saúde e Sá - Artes Gráficas; 2003; 220-227.
CENESP/UFRGS - Setor de Pedagogia do Esporte. PROESP-BR - Projeto Esporte Brasil. Indicadores de saúde e fatores de prestação esportiva em crianças e jovens. Manual de Aplicação de Medidas e Testes Somatomotores. Revista Perfil, 2002;6:9-34.
Gaya A, Gonçalves da Silva G, Cardoso M, Torres L. Talento Esportivo - Estudo de Indicadores Somatomotores na Seleção para o Desporto de Excelência. Revista Perfil, 2002;6: 86-96.
Gonçalves da Silva G, Gaya A. Talento Desportivo: Um Estudo dos Indicadores Somáticos e Motores na Seleção de Jovens Escolares Masculinos para o Handebol. Revista Perfil, 2002; 6: 97-102.
Garlipp D C. Estabilidade do Crescimento Somático em Crianças e Adolescentes: Estudo Longitudinal da Cidade de Parobé – RS. Monografia (Fisiologia do Exercício) Porto Alegre: Escola de Educação Física - UFRGS; 2004.
Nariyama K, Hauspie R C, Mino T. Longitudinal growth study of male Japanese junior high school athletes. American Journal of Human Biology, 2001;3(13):356-364.
Keogh J W L, Weber C L, Dalton C T. Evaluation of Anthropometric, Physiological, and Skill-Related Tests for Talent Identification in Female Field Hockey. Canadian Journal of Applied Physiology, 2003;3(28); 397-409.
Garganta R, Maia J. Avaliação dos indicadores de selecção em voleibol. Aplicação de um modelo estatístico multivariado de classificação em voleibolistas do sexo feminino em escalões de formação. Mesquita, I.; Moutinho, C.; Faria, R. organizadores. Investigação em Voleibol - Estudos Ibéricos. Porto Saúde e Sá - Artes Gráficas, 2003; 202-209.
Loko J, Aule R, Sikkut T, Ereline J, Viru A. Age differences in growth and physical abilities in trained and untrained girls 10-17 years of age. American Journal of Human Biology, 2003;1(15):72-77.
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Carvalho C. Treino de Força em Crianças e Jovens: Questões, Controvérsias e Orientações Metodológicas. Gaya A, Marques A, Tani G. Organizadores. Desporto para Crianças e Jovens - Razões e Finalidades 1ª. Porto Alegre UFRGS, 2004: 353-412.
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