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A relação entre o consumo máximo de oxigênio e o desempenho

no teste de sprints repetidos em jovens jogadores de futebol

La relación entre el consumo máximo de oxígeno y el rendimiento en el test de sprints repetidos en jugadores juveniles de fútbol

 

*Laboratório de Fisiologia do Exercício

Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte

**Professor da Escola de Educação Física,

Fisioterapia e Terapia Ocupacional

Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte

(Brasil)

Victor Augusto Lemos Ciminelli*

victorciminelli@yahoo.com.br

Daniel Barbosa Coelho*

Luciano Sales Prado* **

Emerson Silami-Garcia* **

danielcoelhoc@bol.com.br

 

 

 

 

Resumo

          A análise do perfil de atividades ocorridas em um jogo de futebol sugere este como um esporte com características intermitentes. Em uma partida, o jogador frequentemente realiza inúmeros esforços de alta intensidade intercalados com breves períodos de recuperação ou esforços de baixa intensidade. Dessa forma, o jogador necessita recuperar-se rapidamente para obter um bom desempenho ao realizar o esforço subsequente. O presente estudo tem por objetivo verificar a relação entre o consumo máximo de oxigênio (VO2máx) e os índices de desempenho no teste de sprints repetidos. Vinte atletas (18,3 ± 1,0 anos; 74,3 ± 7,0 kg; 178,1 ± 8,7 cm; 8,1 ± 1,4 % de gordura) da categoria sub-20 de um time da primeira divisão do futebol brasileiro participaram deste estudo. Eles realizaram dois testes de campo: o Yo-Yo Endurance Test Level 2, para a estimativa do VO2máx, e o Running-Based Anaerobic Sprint Test (RAST), para a medida da capacidade de sprints repetidos. Foi utilizado o teste de correlação de Pearson para verificar a relação entre o VO2máx e os índices de desempenho (índice de fadiga, tempo total e melhor sprint) do teste de sprints repetidos. Não foram encontradas correlações significativas entre os mesmos (r = -0,115; r = 0,003; r = 0,063, respectivamente). A partir dos resultados obtidos, o VO2máx parece não ser um bom determinante do desempenho em um teste de sprints repetidos envolvendo o protocolo do RAST para este grupo de atletas.

          Unitermos: Consumo máximo de oxigênio. Atividades intermitentes. Recuperação.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 16, Nº 155, Abril de 2011. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    O futebol é um esporte com características de exercício intermitente (BANGSBO, 1994a), marcado por inúmeras ações de curta duração e alta intensidade intercaladas por breves períodos de recuperação, durante um estendido período de tempo – 90 minutos (MECKEL et al., 2009). Nesse contexto, a ativação de ambos os sistemas de fornecimento de energia, o aeróbio e o anaeróbio, é necessária para atender às demandas energéticas musculares durante o jogo (EKBLOM, 1986; REILLY, 1997; REILLY et al., 2000; MECKEL et al., 2009).

    A produção de energia pela via aeróbia parece contribuir com mais de 90% do consumo total de energia (BANGSBO, 1994a). Entretanto, durante períodos de exercício intensivo de um jogo, a produção de energia pela via anaeróbia desempenha um papel essencial para o ótimo desempenho (BANGSBO, 1994a).

    Em uma partida de futebol, inúmeras atividades explosivas são requeridas, incluindo saltos, chutes, divididas, giros, sprints e fortes contrações musculares para manter o equilíbrio e o controle da bola frente à pressão do adversário (STOLEN et al., 2005). Mohr et al. (2003) relataram que jogadores de futebol de elite realizam entre 150 e 250 ações intensas de curta duração durante um jogo, indicando que a taxa de obtenção de energia anaeróbia é alta em certos momentos.

    O exercício intenso durante um jogo leva a uma alta taxa de degradação de creatina fosfato que, em certa medida, é ressintetizada em um posterior período de exercício de baixa intensidade (BANGSBO, 1994b).

    A capacidade para recuperar rapidamente é fundamental se séries subseqüentes de atividades são requeridas, como ocorre no futebol. Tem sido sugerido que adaptações associadas ao treinamento aeróbico poderiam melhorar a recuperação em exercícios intermitentes de alta intensidade (THODEN, 1991), indicando uma possível influência positiva do sistema aeróbio ao realizar tal tarefa. Além disso, Helgerud et al. (2001) relataram um aumento de 100% no número de sprints realizados por cada jogador durante uma partida de futebol, após oito semanas de treinamento aeróbico. Teoricamente, um aumento na capacidade aeróbia poderia melhorar o desempenho em esforços anaeróbios intermitentes pelos seguintes fatores: complementando a produção de energia pela via anaeróbia durante o exercício e provendo energia derivada do sistema aeróbico a uma taxa mais rápida durante o período de recuperação (TOMLIN & WENGER, 2001). Além disso, um fluxo sanguíneo aumentado, como resultado de adaptações associadas ao treinamento aeróbico, poderia auxiliar nos processos de remoção de lactato, dissipação de calor e tamponamento de íons H+ (TOMLIN & WENGER, 2001).

    A literatura parece sugerir que um sistema aeróbio bem desenvolvido melhora o processo de recuperação em exercícios intermitentes de alta intensidade através de uma resposta aeróbia aumentada, isto é, uma maior participação dessa via nos processos de restabelecimento energético e remoção de produtos do metabolismo. Uma recuperação mais completa possibilitaria um potencial aumentado para gerar força e/ou manter a potência nos intervalos subseqüentes de exercício (TOMLIN & WENGER, 2001). Isso poderia refletir em um bom desempenho no futebol, visto que as características deste esporte exigem a realização de esforços de alta intensidade de maneira intermitente.

    Dessa forma, o objetivo do presente estudo foi verificar a relação entre o consumo máximo de oxigênio (VO2máx) e os índices de desempenho no teste de capacidade de sprints repetidos.

Materiais e métodos

Cuidados éticos

    Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (COEP) da Universidade Federal de Minas Gerais (COEP 291/09). Todos os voluntários assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, como recomendado pela resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde. Tendo em vista que alguns atletas eram menores de idade, a assinatura foi consentida pelo responsável. Antes do início da pesquisa todos os procedimentos, possíveis riscos e benefícios do estudo foram esclarecidos aos voluntários. Também foi informado aos voluntários que eles poderiam, sem constrangimento, deixar de participar da pesquisa quando desejado.

Amostra

    Participaram do estudo vinte atletas do sexo masculino da categoria de base (sub 20) de um time da primeira divisão do campeonato nacional, que treinavam regularmente e participavam de competições nacionais e internacionais reconhecidas pela Confederação Brasileira de Futebol. Os dados descritivos dos atletas estão apresentados na Tabela 1.

Procedimentos de avaliação

    Os testes foram realizados no meio de uma temporada competitiva (meses de setembro e outubro de 2009), no local e no campo onde geralmente são realizados os treinamentos. Além disso, os atletas usaram as vestimentas geralmente utilizadas no futebol e estavam familiarizados com os testes, visto que estes faziam parte do usual planejamento para a avaliação física dos atletas.

    Os testes realizados foram: medida da composição corporal (Jackson e Pollock, 1978), Yo-Yo Endurance Test Level 2 (Bangsbo, 1996), e RAST (Zacharogiannis et al., 2004). Entre os testes de Yo-Yo e RAST, os atletas tiveram um intervalo de, no mínimo, 72 horas. Entretanto, a rotina de treinamento dos atletas foi mantida.

    Antes de cada teste de corrida, os atletas realizaram dez minutos de atividades preparatórias comandadas pelo preparador físico do clube, consistindo de corridas com intensidades variadas e mudanças de direção. Após este procedimento prévio, um período de, aproximadamente, cinco minutos foi destinado à explicação dos testes e organização dos atletas pelos avaliadores

Avaliação da Composição Corporal

    Foram realizadas as medidas da massa corporal, estatura e dobras cutâneas. A massa corporal (kg) foi medida com os voluntários descalços e vestindo apenas um short, utilizando-se uma balança digital (Filizola®) com precisão de 0,02 kg. A estatura (cm) foi medida em um estadiômetro com precisão de 0,5 cm. As dobras cutâneas subescapular, tríceps, bíceps, peitoral, subaxilar, suprailíaca, abdominal, coxa e perna foram medidas com um plicômetro (Lange®), graduado em milímetros, de acordo com o protocolo proposto por Jackson e Pollock (1978). A avaliação das dobras cutâneas de todos os atletas foi realizada pelo mesmo avaliador.

Yo-Yo Endurance Test Level 2

    O teste, proposto por Bangsbo (1996), consiste de corridas de “ir e voltar” (shuttle runs) entre marcadores (cones) separados por vinte metros. Através de um sinal acústico, a velocidade de corrida entre os cones é controlada. O indivíduo deverá correr do cone inicial até o outro, chegando neste ao momento exato do sinal acústico. Ao voltar em direção ao primeiro, o mesmo procedimento deverá ser realizado. A velocidade inicial é de 11,5 km/h, com aumentos de 0,5 km/h em cada estágio, totalizando 14 estágios (velocidade do 14º estágio = 18 km/h). Cada estágio dura, aproximadamente, 1 minuto. Estes aumentos na velocidade são fornecidos através de um CD (programa Yo-Yo test - BANGSBO, 1996). Quando o participante falhar duas vezes seguidas em chegar aos cones no respectivo sinal, ou quando se sentir incapaz de completar a corrida na velocidade ditada, o teste é finalizado e o último estágio (distância) alcançado pelo participante considerado como o score do teste. A partir da distância registrada, o programa fornece o valor estimado do VO2máx.

Running-Based Anaerobic Sprint Test (RAST)

    O teste, proposto por Zacharogiannis et al. (2004), consiste em seis sprints de 35 metros, com 10 segundos de recuperação entre eles. Entre outras variáveis, o teste possibilita estimar a potência máxima (Pmáx), média (Pméd) e mínima (Pmín) desenvolvida pelos participantes, além da redução percentual do desempenho (índice de fadiga), o melhor sprint (sprint mais rápido) e o tempo total (soma dos tempos dos seis sprints). As variáveis mencionadas acima podem ser calculadas através das seguintes equações:

Potência (W) = Peso (kg) x Distância2 (m) / Tempo3 (s)

Pmáx = maior valor de potência

Pméd = média dos seis valores de potências

Pmín = menor valor de potência

IF = (Pmáx – Pmín / Pmáx) x 100

    Duas fotocélulas, com precisão de 0,001s, foram colocadas nos pontos 0 e 35 metros, ambas conectadas a um computador com software específico (multisprint®) para determinar o tempo de cada sprint. Foi pedido aos atletas realizarem esforço máximo em todas as seis tentativas e não desacelerarem antes de cruzarem a linha final. Cada sprint foi iniciado a partir do ponto (0 ou 35 m) onde eles haviam finalizado o sprint anterior. A saída para cada sprint foi realizada a partir da posição de pé, com os sujeitos parados e posicionados a 40 cm atrás da linha de acionamento do cronômetro das fotocélulas. Nos pontos 0 e 35 metros, foram colocados dois avaliadores para cronometrar o tempo de 10 segundos de recuperação, utilizando cronômetros manuais. As variáveis Pmáx, Pmín e IF foram calculadas através das equações acima mencionadas. O melhor sprint e o tempo total também foram registrados.

    Alguns estudos (AZIZ et al., 2000; MECKEL et al., 2009) tem utilizado o IF, o tempo total e o melhor sprint como índices de desempenho em testes de capacidade de sprints repetidos. No presente estudo, estes índices também foram utilizados com o mesmo fim.

Análise estatística

    O tratamento estatístico foi realizado utilizando-se o programa SigmaStat 3.5. Para determinar o índice de correlação entre as variáveis VO2máx e de desempenho do teste de capacidade de sprints repetidos (RAST), foi utilizado o teste de correlação de Pearson com nível de significância de p<0,05. Todos os dados estão apresentados como média ± desvio padrão.

Resultados

    Os resultados dos testes de capacidade de sprints repetidos (RAST) e consumo máximo de oxigênio (Yo-Yo Test) estão apresentados na Tabela 2.

    Não foram encontradas correlações significativas entre o consumo máximo de oxigênio (VO2máx) e quaisquer índices de desempenho do teste de capacidade de sprints repetidos (Tabela 3).

    A figura 1 ilustra o resultado da correlação (r = -0,115) entre o VO2máx e o índice de fadiga (IF).

Figura 1. Correlação entre o VO2máx e o índice de fadiga (IF). n = 20

    A figura 2 ilustra o resultado da correlação (r = 0,003) entre o VO2máx e o tempo total dos seis sprints.

Figura 2. Correlação entre o VO2máx e o tempo total dos seis sprints. n = 20

    A figura 3 ilustra o resultado da correlação (r = 0,063) entre o VO2máx e o tempo do melhor sprint.

Figura 3. Correlação entre o VO2máx e o melhor sprint. n = 20

Discussão

    O principal achado do presente estudo foi a fraca e não-significativa correlação (r = -0,115) entre o consumo máximo de oxigênio (VO2máx) e o índice de fadiga (IF) neste grupo de atletas.

    A relevância do sistema aeróbico para manter a potência (desempenho) durante atividades intermitentes foi avaliada no presente estudo pela análise do coeficiente de correlação entre o índice de fadiga (IF) no teste de sprints repetidos (RAST) e os valores de VO2máx dos participantes. A suposição de que o sistema aeróbico é um determinante importante na taxa de recuperação e, portanto, auxilia na manutenção da potência durante o teste de sprints repetidos, baseia-se no fato de que a ressíntese de creatina fosfato (CP) e a remoção de fosfato inorgânico (Pi) ocorrem, principalmente, por processos oxidativos (HARRIS et al., 1976; YOSHIDA & WATARI, 1997; MCLESTER, 1997). Entretanto, os resultados de estudos anteriores têm sido inconsistentes com esta idéia ao reportarem correlações não-significativas a moderadas (entre -0,16 e -0,60) entre o VO2máx e a redução de desempenho em tipos de atividades intermitentes. (AZIZ et al., 2000; Wadley & Le Rossignol, 1998; BISHOP et al., 2003; MECKEL et al., 2009; GLAISTER et al., 2006). Portanto, o primeiro resultado do presente estudo encontra sustentação em estudos anteriores.

    Embora os protocolos utilizados nos estudos citados acima se propõem a medir a capacidade de sprints repetidos, diferenças metodológicas entre eles dificultam a comparação e possíveis conclusões acerca dos resultados. Por exemplo, Aziz et al. (2000) não encontraram correlações significativas (r = -0,16) entre o VO2máx relativo e o índice de redução de desempenho durante oito sprints de 40 metros. Similarmente, Wadley e Le Rossignol (1998), em um estudo com jogadores de futebol australianos, não reportaram correlações significativas entre o VO2máx e a redução de desempenho em um teste envolvendo 12 sprints de 20 metros. Bishop et al. (2003) também reportaram resultados similares utilizando 5 sprints de 6 segundos em cicloergômetro. Em um outro estudo, Meckel et al. (2009) examinaram a relação entre a capacidade aeróbia (VO2máx) e os índices de desempenho em dois protocolos distintos para medir a capacidade de sprints repetidos. Um protocolo consistindo de sprints mais longos (6 x 40 metros) e outro consistindo de sprints mais curtos (12 x 20 metros). Os autores reportaram uma correlação negativa significativa (r = -0,602) entre a redução de desempenho no protocolo de sprints mais curtos e o VO2 pico. Entretanto, não foi encontrada uma correlação significativa (r = -0,322) entre a redução de desempenho no protocolo de sprints mais longos (6 x 40 metros) e o VO2 pico calculado.

    Como relatado acima, o estudo de Meckel et al. (2009) utilizou um dos protocolos de teste para medir a capacidade sprints repetidos (6 x 40 metros, com 30 segundos de recuperação) similar ao do presente estudo (6 x 35 metros, com 10 segundos de recuperação). Os autores também não encontraram correlações significativas entre o VO2máx e a redução de desempenho neste protocolo. Uma explicação para estes resultados pode residir no fato de que o tempo total de exercício (somatória do tempo total dos sprints com os períodos de recuperação) no presente estudo (aproximadamente 80 segundos) e no estudo de Meckel et al. (2009) (aproximadamente 185 segundos) podem ter sido muito curtos a ponto de não promoverem uma grande demanda pelo sistema aeróbio. Meckel et al. (2009) confirmam essa suposição através do resultado da correlação significativa entre o VO2máx e a redução de desempenho no protocolo de 12 sprints de 20 metros com 20 segundos de recuperação, que apresentou um tempo total de exercício consideravelmente maior (aproximadamente 259 segundos). Sustentando tal hipótese, Gaitanos et al. (1993) sugeriram que a contribuição do sistema aeróbico para o fornecimento de energia total aumentou e foi mais significativa para a manutenção do desempenho quando mais séries de sprints repetidos foram realizadas.

    Gaitanos et al. (1993) também sugeriram que séries repetidas de exercício em intensidade máxima de curta duração são abastecidas predominantemente pelo ATP derivado da degradação de creatina fosfato (CP). Adicionalmente, estudos que mediram a concentração de lactato sanguíneo ([La]) após o teste de sprints repetidos (MECKEL et al., 2009; BISHOP et al., 2003) reportaram valores acima de 10,5 mmol.L-1. Esses achados sugerem que a demanda anaeróbica durante o teste seja consideravelmente alta.

    A forte correlação (r = 0,829) entre o melhor sprint e o tempo total dos sprints encontrada no estudo de Wadley e Le Rossignol (1998) (12 sprints de 20 m, com 20 segundos de recuperação) demonstra que os atletas mais rápidos em uma única série obtiveram também um menor tempo total; a partir desta informação, os autores sugeriram que tanto em uma única série quanto em séries repetidas de exercício de alta intensidade a demanda seria pela mesma capacidade. No mesmo estudo também foi verificado uma forte correlação (r = -0,722) entre o melhor sprint e a redução de desempenho no teste, indicando que os atletas mais rápidos em uma única série obtiveram também maiores níveis de fadiga. Somado a isso, Hirvonen et al. (1987) relataram que corredores mais rápidos depletaram uma proporção maior dos estoques de CP, quando comparados com corredores mais lentos. Essas evidências possibilitam sugerir que em um teste de sprints repetidos o metabolismo anaeróbico é o principal aporte energético e um dos possíveis determinantes do desempenho.

    O estudo de Cooke et al. (1997) relatou ausência de diferenças significativas na taxa de ressíntese de CP ao comparar indivíduos do grupo classificado como alto VO2máx (média de VO2máx: 64,4 ± 1,4 mL/kg/min) com indivíduos do grupo baixo VO2máx (média de VO2máx: 46,6 ± 1,1 mL/kg/min). Além disso, Hoffman (1997) reportou que a taxa de recuperação, em exercícios de alta intensidade, está relacionada à capacidade aeróbica em soldados cujo VO2máx está abaixo da média da população, mas não em soldados que apresentam valores acima da média, como também pode ser considerado o grupo do presente estudo.

    Adicionalmente, em um grupo de atletas que demonstram grande homogeneidade nos valores de VO2máx como o do presente estudo, é improvável que pequenas diferenças no VO2máx teriam um grande efeito na taxa de recuperação (remoção de metabólitos anaeróbicos e ressíntese de CP) entre cada sprint. Bishop et al. (2003) também levantaram esta hipótese em seu estudo. Além disso, o intervalo de recuperação entre os sprints (10 segundos) pode ter sido tão curto para que pequenas diferenças no VO2máx tivessem um significante efeito na taxa de ressíntese de CP e, consequentemente, no desempenho. Glaister et al. (2006), sugeriram que a magnitude da associação entre VO2máx e índice de fadiga pode ser amplamente determinada pela duração da recuperação. Os autores reportaram uma correlação fraca (r = -0,18) entre o VO2máx e o índice de fadiga no protocolo que fez uso de recuperações mais curtas (10 segundos), e uma correlação considerável (r = -0,34) entre estas variáveis para o protocolo que fez uso de recuperações mais longas (30 segundos). Ambos os protocolos foram compostos por 20 sprints de 5 segundos.

    No presente estudo, foi encontrada uma correlação fraca e não-significativa (r = 0,003) entre o VO2máx e o tempo total dos seis sprints. Resultados similares (WADLEY & LE ROSSIGNOL, 1998; MECKEL et al., 2009) e correlações moderadas, porém significativas (AZIZ et al., 2000) também foram reportadas na literatura. Como já relatado, o tempo total de exercício pode ter sido muito curto a ponto de não promover uma grande demanda pelo sistema aeróbio que, somado às exigências anaeróbias do teste (demanda por uma rápida produção de energia) pode ter contribuído para o resultado dessa correlação.

    O presente estudo também reportou uma correlação fraca e não-significativa (r = 0,063) entre o VO2máx e o melhor sprint (sprint mais rápido). Resultados similares foram reportados por estudos anteriores (AZIZ et al., 2000; MECKEL et al., 2009). Este resultado não é surpreendente, uma vez que a participação do metabolismo aeróbico para o fornecimento de energia durante uma única série de exercício em intensidade máxima parece ser insignificante (GAITANOS et al., 1993; HIRVONEN et al., 1987). Por exemplo, Gaitanos et al. (1993) examinaram a dinâmica do metabolismo muscular durante um protocolo de exercício máximo intermitente consistindo de 10 sprints de 6 segundos em um cicloergômetro, com 30 segundos de recuperação. Neste estudo, os pesquisadores obtiveram biópsias musculares em intervalos críticos ao longo do experimento. Foi demonstrado que ambos, a degradação de CP e a glicólise, contribuíram similarmente (50% e 44%, respectivamente) para a demanda energética total durante o primeiro sprint. Além disso, Parolin et al. (1999) relataram que, durante os primeiros 6 segundos de um sprint de 30 segundos, a contribuição média do sistema aeróbio para a ressíntese de ATP quantificou, aproximadamente, 9% da energia total produzida. Portanto, o VO2máx parece não ter um impacto significativo no desempenho em uma única série de sprint.

Conclusão

    O VO2máx parece não ser um bom determinante do desempenho em uma atividade de sprints repetidos envolvendo o protocolo do RAST para esse grupo de atletas.

    Mais estudos são necessários para se obter informações conclusivas sobre a magnitude da participação do sistema aeróbico durante testes de sprints repetidos em jovens jogadores de futebol.

Referências

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