Saúde vocal e nível de atividade física dos profissionais de Educação Física Salud vocal y nivel de actividad física de los profesionales de la Educación Física Vocal health and physical activity level of the professional Physical Education |
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*Fonoaudiólogo e Professor do curso de Medicina da Universidade do Oeste de Santa Catarina, Campus de Joaçaba Mestre e Doutor em Ergonomia pela Universidade Federal de Santa Catarina **Acadêmica do curso de Educação Física. Licenciatura e Bacharelado da Universidade do Oeste de Santa Catarina, Campus de Joaçaba, SC ***Professora do curso de Educação Física da Universidade do Oeste de Santa Catarina, Campus de Joaçaba, SC Mestre em Gerontologia pela Universidade Federal de Santa Maria |
Jovani Antônio Steffani* Viviane Cristina Bilibio Vieceli** Cláudia Elisa Grasel*** (Brasil) |
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Resumo A voz, para alguns profissionais, é um importante instrumento de trabalho. A fonação depende da coordenação pneumofonoarticulatória que por sua vez está relacionada à atividade física, e tem impactos diretos na qualidade de vida do profissional. O objetivo deste trabalho foi avaliar a qualidade de vida e vocal de professores de Educação Física e relacionar os resultados com o seu nível de atividade física. Este estudo epidemiológico de corte transversal foi realizado junto a 20 (vinte) professores de Educação Física do ensino fundamental e médio, sendo 09 do gênero masculino e 11 do gênero feminino. A qualidade de vida relacionada à voz foi mensurada pelo Protocolo de Qualidade de Vida e Voz (QVV), que é um questionário internacional padronizado, traduzido e adaptado do V-RQOL – voice-Related Quality of Life, e a atividade física foi mensurada através do IPAQ versão curta, que permite estimar o tempo semanal gasto em atividades físicas de intensidade moderada e vigorosa, em diferentes contextos do cotidiano. Os resultados dos scores de qualidade vida e voz não apresentaram normalidade em sua distribuição (p= 0,005). A mediana foi de 91,25, com primeiro quartil de 83,12 e terceiro quartil de 100, ou seja, 50% da amostra apresenta scores inferiores a 91,25. Os resultados denotam que para essa população estudada houve correlação direta quanto ao nível de atividade física e qualidade vocal, onde os indivíduos que apresentaram maiores níveis de atividade física apresentaram também escores melhores na auto avaliação relacionada a aspectos vocais. Unitermos: Qualidade de vida. Saúde do trabalhador. Atividade física.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 16, Nº 155, Abril de 2011. http://www.efdeportes.com/ |
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Introdução
De acordo com Dias e Hoefel (2005) a organização de uma atenção diferenciada à saúde dos trabalhadores surge no mundo ocidental no século XVIII, na Inglaterra com a Revolução Industrial. Pressionados pelos prejuízos econômicos, decorrentes dos altos índices de acidentes e adoecimento determinados pelas péssimas condições de vida e trabalho e pelas reivindicações dos trabalhadores por mudanças, industriais da época passaram a contratar médicos, atribuindo-lhes a responsabilidade de "cuidar" da saúde dos trabalhadores. Sob a égide da medicina do trabalho eram, e ainda são, desenvolvidas práticas assistenciais, de cunho biologicista, dirigidas essencialmente à seleção e manutenção da higidez da força de trabalho, com ações centradas no ambiente e no posto de trabalho, sendo o trabalhador apenas objeto dessas ações.
No Brasil a Constituição Federal de 1988 incorporou as questões de Saúde do Trabalhador ao enunciar o conceito ampliado de Saúde, incluindo entre seus determinantes – as condições de alimentação, habitação, educação, renda, meio ambiente, trabalho, emprego – e ao atribuir ao SUS à responsabilidade de coordenar as ações no país. Essa atribuição foi regulamentada, em 1990, pela lei 8.080 que definiu os princípios e a formatação do SUS. Consolidava-se assim, no plano legal e institucional, o campo da Saúde do Trabalhador (BRASIL, 1990).
Assim, 15 anos após a regulamentação da atribuição constitucional da atenção integral à saúde dos trabalhadores pela Lei Orgânica da Saúde 8.080/90 e das experiências implementadas na rede pública de serviços de saúde, pode-se dizer que o SUS ainda não incorporou, de forma efetiva, em suas concepções, paradigmas e ações, o lugar que o "trabalho" ocupa na vida dos indivíduos e suas relações com o espaço sócio-ambiental. Ou seja: o papel do "trabalho" na determinação do processo saúde/doença dos trabalhadores diretamente envolvidos nas atividades produtivas, da população em geral e nos impactos ambientais que essas atividades produzem (HOEFEL, DIAS & SILVA, 2005).
No contexto de saúde do trabalhador o imaginário nos remete imediatamente à saúde de trabalhadores de indústrias, em cujos ambientes laborais os riscos ocupacionais clássicos – riscos físicos, químicos, biológicos e ergonômicos – são evidentes. Porém, cabe ressaltar que quando se trata de saúde do trabalhador, tem-se que considerar todas as classes profissionais indistintamente, pois todas, de uma forma ou de outra estão expostas a riscos que podem gerar doenças de origem ocupacional.
Diante do exposto, destacamos a necessidade de considerar o profissional da educação física no contexto de saúde do trabalhador, que por seu turno, acaba expondo-se a riscos como qualquer outro profissional, como exemplo citamos a exposição ao ruído intenso comum nos ginásios de esporte, quadras poliesportivas, e outros, onde o profissional acaba tendo que se submeter a esforços vocais potencialmente lesivos ao seu aparelho fonador (laringe, pregas vocais, etc.), em função da necessidade de oferecer orientações vocais aos alunos durante as atividades esportivas, recreativas e outras, características de sua atividade pedagógica. É evidente, portanto, a exposição do professor de educação física a riscos ocupacionais como o ruído, esforço vocal, poeiras e riscos ergonômicos.
Além dos riscos ocupacionais a que estão expostos os profissionais de educação física ainda há que se considerar outros fatores determinantes do adoecimento, como por exemplo, falta condições ambientais adequadas (escolas e ginásios em más condições de conservação), salários defasados, sobrecarga laboral pois em muitos casos a jornada de trabalho é duplicada para que o professor possa complementar sua renda, fatores que segundo Alves (2003), devem ser considerados quando se estuda o processo saúde/doença, cujo entendimento não é possível através do enfoque estritamente preventivista, que vincula determinada doença a determinado agente ou grupo de agentes (bactéria, fungos, vírus), mas que se relaciona também a questões como as condições e modos de trabalho e de vida.
Para Penteado (2007) a qualidade de vida está relacionada à saúde vocal dos professores com implicações no processo ensino aprendizagem, entre professor e aluno. Com isso consideramos o uso da voz um dos principais recursos utilizados pelo professor, afinal é dessa forma que se dá a comunicação e expressão entre ambos.
Simões (2000) relata que os profissionais de Educação Física apresentam com freqüência perda de voz, dor de garganta e rouquidão, devido a grande demanda vocal e o uso inadequado da voz e em ambientes hostis.
Para Sataloff (1997), a adequada capacidade respiratória está associada à maior eficiência de voz e assim, no caso de indivíduos que utilizam a voz como instrumento de trabalho, devido ao decréscimo normal da função respiratória com a idade, torna-se essencial um melhor condicionamento não apenas respiratório, mas também físico e da musculatura abdominal, motivo pelo qual se justifica a necessidade de investigação do nível de atividade física destes profissionais, que juntamente com dados a respeito de sua condição de trabalho e qualidade da voz fornecem um panorama geral da condição de saúde para o exercício de sua atividade laboral.
O objetivo da presente pesquisa é avaliar a qualidade vocal de professores de Educação Física e relacionar os resultados com o seu nível de atividade física, pela importância da inter-relação destes dois aspectos para a vida do profissional e por serem fatores condicionantes importantes para a determinação do processo saúde/doença dos mesmos.
Métodos
Este é um estudo epidemiológico de corte transversal junto a 20 (vinte) professores de Educação Física do ensino fundamental e médio, sendo 09 do gênero masculino e 11 do gênero feminino.
Na estratificação do plano amostral, considerando a dificuldade de encontrar todos os professores de escolas públicas e particulares somente do município de Joaçaba –SC, procurou-se selecionar também a população de municípios vizinhos como Catanduvas e Herval D’Oeste.
A qualidade de vida relacionada à voz foi mensurada pelo Protocolo de Qualidade de Vida e Voz (QVV), que é um questionário internacional padronizado, traduzido e adaptado por Gasparini (2005), do V-RQOL – voice-Related Quality of Life (Hogikyan 1999). O protocolo é composto por dez questões, abarcando dois domínios: físico e sócio-emocional. Os objetivos do instrumento são: análise dos aspectos de qualidade de vida relacionados à voz e a quantificação da influência da disfonia no dia-a-dia do indivíduo. Recentemente esse protocolo foi validado para a língua portuguesa e suas medidas psicométricas foram verificadas. Tal questionário refere-se a uma adaptação e tradução, para o Português, do instrumento (VRQOL - Voice-Related Quality of Life Measure), desenvolvido por Hogikyan e Seturaman (1999). O QVV vem sendo muito utilizado para a investigação das relações entre qualidade de vida e voz em professores e sujeitos com e sem alterações vocais e vem sendo apontado como importante instrumento para avaliar o impacto da disfonia sobre a vida de sujeitos que utilizam a voz como instrumento de trabalho, para avaliar a capacidade de percepção dos sujeitos quanto ao impacto da voz sobre sua qualidade de vida; para realizar o acompanhamento da evolução do atendimento clínico na área de voz e subsidiar o planejamento de ações para a promoção da saúde vocal docente (BEHLAU ET AL., 2001; PENTEADO E BICUDO-PEREIRA, 2003).
O QVV envolve dez itens e uma questão isolada (como avalia a sua voz) e relaciona qualidade de vida e voz envolvendo os domínios Físico (questões 1, 2, 3, 6, 7 e 9), Sócio-Emocional (4, 5, 8 e 10) e Global (questões de 1 a 10). Esta pesquisa utiliza o cálculo do domínio Global do QVV (envolvendo todas as questões) por ter sido esse avaliado, em pesquisas recentes, como o mais interessante e confiável dos domínios (Penteado e Bicudo-Pereira, 2003).
Para o cálculo do domínio global padronizado da QVV, foi utilizada a seguinte expressão, proposta na literatura (HOGIKYAN E SETHURAMAN, 1999; BEHLAU ET AL., 2001):
100-(Q1+Q.2+Q.3+Q.4+Q.5+Q.6+Q.7+Q.8+Q.9+Q.10-10) x 100
40
O domínio Global apresenta valores que variam entre zero e cem, sendo considerados piores os valores mais próximos de zero e melhores os mais próximos de cem; e um sujeito que tenha valor igual a cinqüenta para determinado domínio pode ser considerado mediano para esse domínio.
A versão brasileira do QVV mostrou-se confiável e válida. Em relação ao questionário adaptado por Gasparini (2005), utilizado no presente estudo, os autores fizeram apenas três mudanças na adaptação do texto para a Língua Portuguesa.
A coleta de dados ocorreu entre o dia 31 de março à 23 de abril de dois mil e nove.
Antes da aplicação do questionário, os professores foram informados sobre os objetivos da pesquisa, a instituição responsável e o caráter voluntário e sigiloso da participação de cada um.
As variáveis dependentes do estudo foram definidas como os piores escores do protocolo QVV total e nos domínios físico e sócio-emocional. Os escores do QVV são padronizados em uma escala de 0 a 100, sendo que quanto maior o número, melhor a qualidade de vida relacionada à voz. O período de referência do QVV são as duas semanas anteriores à entrevista.
O outro instrumento de coleta de dados utilizado foi o questionário de IPAQ versão curta onde verificamos quantos dias da semana realizam caminhadas, o tempo gasto nessas caminhadas, quantos dias realizam atividades moderadas e vigorosas e o tempo gasto com cada uma delas.
O IPAQ é um questionário que permite estimar o tempo semanal gasto em atividades físicas de intensidade moderada e vigorosa, em diferentes contextos do cotidiano, como: trabalho, transporte, tarefas domésticas e lazer. O questionário foi publicado na versão curta e na versão longa. A versão curta do IPAQ é composta por sete questões abertas e suas informações permitem estimar o tempo despendido, por semana, em diferentes dimensões de atividade física (caminhadas e esforços físicos de intensidades moderada e vigorosa).
Utilizou-se o programa Epi Info 3.3 (Centers for Disease Control and Prevention, Atlanta, Estados Unidos) para a entrada e análise descritiva dos dados.
As variáveis categóricas são apresentadas em freqüência absoluta e relativa. As variáveis numéricas foram submetidas a teste de normalidade Shapiro-Wilk e quando obedeceram os pressupostos foram apresentadas em média e desvio padrão ou mediana, primeiro e terceiro quartil.
Discussão
Quanto ao gênero 55% (n=11) dos indivíduos são do sexo feminino e 45% (n=9) do sexo masculino, com tempo de trabalho total como professor de educação física variando entre 2 e 28 anos de profissão, com média de 16,4 anos e com idade variando entre 25 a 51 anos de vida, com média de 38,9 anos. A amostra foi mista em relação à trabalhadores dos setores público e privado, pelo fato de o número de profissionais de educação física na região pesquisada (3 municípios da região do meio Oeste do Estado de Santa Catarina) ser muito reduzida. Não foram incluídos outros municípios da região devido a grande heterogeneidade quanto a diversos aspectos (sociais, econômicos, condições das escolas, etc.) que poderiam proporcionar muitos vieses ao estudo. Os três municípios incluídos no estudo representam uma área geográfica de aproximadamente 582 km2 e uma população de 52.110 habitantes.
A carga horária de trabalho variou entre 14 e 60 horas semanais, sendo que 7 indivíduos desempenham sua função também em outra escola além das horas trabalhadas nas escolas pesquisadas.
Em relação à questão número um do questionário de qualidade de vida e voz (QVV), que se refere a dificuldades em falar forte (alto) ou em ser ouvido em ambientes ruidosos, 65% dos professores relataram que sentem algum grau de dificuldade, bem como 35% deles relatam que o ar acaba rápido precisando respirar muitas vezes enquanto fala, quesito avaliado pela questão dois do QVV, ou seja, avaliaram estes quesitos como um problema moderado a ruim.
O aparelho fonador não é um sistema anátomo-funcional estabelecido exclusivamente para a realização desta função, é sim, resultante da adaptação de algumas estruturas e órgãos que pertencem a outros sistemas fisiológicos, como por exemplo, os pulmões que geram a pressão subglótica para a vibração das pregas vocais que pertencem originalmente ao sistema respiratório, a boca e a faringe que servem como cavidades de ressonância para a voz e que pertencem originalmente ao sistema digestório. Assim, para que se possa produzir a voz e a articulação das palavras para a comunicação verbalizada, o organismo precisa realizar alguns ajustes fisiológicos e promover a concatenação funcional de algumas estruturas de vários sistemas. Este alto percentual das queixas destes professores em relação aos dois primeiros aspectos avaliados denota a falta de coordenação penumofonoarticulatória que é imprescindível para uma boa qualidade vocal bem como para evitar lesões do “aparelho fonador”. Estes índices revelam a falta de preparo vocal destes profissionais que fazem uso profissional da voz.
Segundo Behlau et al. (2001), a emissão com adequada coordenação pneumofonoarticulatória é uma necessidade do uso profissional da voz docente, pois ela transmite ao ouvinte a sensação de estabilidade, domínio e harmonia; e a incoordenação pneumofônica pode gerar compensações como a hiperfunção laríngea que leva à fadiga vocal, assim como pode chegar a comprometer a inteligibilidade da fala. Em caso de persistência desses ajustes compensatórios haverá o desencadeamento de doenças relacionadas à voz citando-se como mais comuns os nódulos (calos), pólipos e edema das pregas vocais.
Na terceira e quarta questões, os indivíduos foram questionados quando à sua segurança em como sua voz iria ser produzida, ou seja, se sabiam como a voz iria sair quando começassem a falar e se ficavam ansiosos ou frustrados por causa da voz, onde 30% dos professores, número igual de respostas para ambas as questões, relatam que esses aspectos lhes são um problema, com o grau variando entre moderado e ruim. A falta de segurança em relação a como a voz será produzida, denota que em algum momento de uso da mesma, a produção da voz pela vibração das cordas vocais ou a própria ressonância vocal esteve prejudicada, porém os entrevistados não têm a auto-percepção da importância da voz como instrumento de trabalho, pois quando questionados em relação a problemas que tiveram para desenvolver seu trabalho em decorrência de problemas vocais (questão 7 do QVV) somente 20% dos professores referiram que sim e avaliaram, assinalando o escore 2 ou 3, que significam respectivamente: “acontece pouco e raramente e é um problema” e “ acontece às vezes e é um problema moderado”, valendo considerar que nenhum professor assinalou os escores 4 e 5, que relacionam-se a condições de ocorrência e de problemas para si ainda maiores.
A observação de que os professores não têm a auto-percepção da importância da voz como instrumento de trabalho, é reforçada ainda quando consideradas as respostas obtidas para a questão 6 (tenho dificuldades ao telefone por causa de minha voz) e para a questão 9 (tenho que repetir o que falo para ser compreendido), onde 25 e 30% respectivamente, dos professores assinalaram os escores de 2 a 4. Ou seja, essa porcentagem de professores relata tais dificuldades porém conforme descrito anteriormente, quando questionados em relação a problemas que tiveram para desenvolver seu trabalho em decorrência de problemas vocais (questão 7 do QVV) somente 20% dos professores referiram que tiveram problemas, como também as respostas à questão 10 do QVV que relacionava-se com o quanto o individuo se percebia menos expansivo em decorrência das dificuldades de projeção vocal, somente 10% assinalaram que isso os afetava pouco ou raramente.
O resultado denota que os professores, apesar de identificarem algumas dificuldades ou problemas no uso da voz, ainda têm dificuldades em relacioná-los ao seu trabalho e em perceber o impacto deles na profissão, apesar da voz ser um dos mais importantes recursos do trabalho docente, o número de sujeitos que identificou problemas no uso da voz foi maior do que aquele que reconheceu o impacto da voz no trabalho/profissão. Isto indica a importância de se fomentar a reflexão em torno da relação entre voz e trabalho docente, bem como a necessidade dos profissionais da área da saúde do trabalhador, principalmente o médicos do trabalho, em investirem esforços quando de seus exames admissionais ou periódicos (conforme recomendado pela Norma Regulamentadora nº 7 do Ministério do Trabalho e Emprego) junto a essa gama de profissinais, pois pouco ou nada se tem feito em termos de proteção e controle da saúde do trabalhador que utiliza a voz como instrumento do trabalho.
Os resultados dos scores de qualidade vida e voz não apresentaram normalidade em sua distribuição (p= 0,005). A mediana foi de 91,25, com primeiro quartil de 83,12 e terceiro quartil de 100, ou seja, 50% da amostra apresenta scores inferiores a 91,25, enquanto que 25% apresentou scores de 83,12 e 75% apresentou scores inferiores a 100.
O nível de atividade física dos indivíduos que foi analisada pelo Ipaq, e categorizados como: ativos, irregularmente ativos A e irregularmente ativos B, sendo considerados ativos: indivíduos que realizam atividade vigorosa em três dias ou mais por semana com duração de 20 minutos ou mais por sessão; ou atividade moderada ou caminhada em cinco dias ou mais por semana de 30 minutos ou mais de duração por sessão; ou qualquer atividade somada (caminhada, moderada ou vigorosa) que resulte numa freqüência igual ou maior que cinco dias por semana e com duração igual ou maior que 150 minutos por semana. Os irregularmente ativos: indivíduos que realizam algum tipo de atividade física, porém, não o suficiente para serem classificados como ativos por não cumprirem as recomendações quanto à freqüência ou a duração, foram classificados em dois grupos: • irregularmente ativos A: os que atingem pelo menos um dos critérios da recomendação: (a) freqüência: cinco dias na semana ou (b) duração: 150 minutos por semana e os irregularmente ativos B: aqueles que não atingiram nenhum dos critérios da recomendação (freqüência ou duração). Nesta análise a mediana para os ativos foi de 95,00, para os irregularmente ativos A foi de 83,75 e para os irregularmente ativos B foi de 85,00, demonstrando numericamente que os scores de qualidade de vida e voz para os ativos é melhor em relação aos irregularmente ativos, e entre os irregularmente ativos, foi melhor os A em relação aos B – gerando a hipótese de que quanto maior o nível de atividade física melhor é o nível de qualidade de vida e voz.
Sengundo Ramig e Verdolini (1998) e Orlova et al. (2000) os distúrbios vocais causam estresse psicoemocional, depressão e frustração, afetando negativamente as relações sociais e profissionais, causando um impacto significante na qualidade e na eficiência do trabalho do indivíduo, afetando diretamente sua produtividade por isso a importância de se avaliar de modo adequado o trabalhador com vistas ao tipo de função ou trabalho a ser desenvolvido em relação à sua profissão.
Conclusão
Os resultados desta pesquisa denotam que para essa população estudada houve correlação direta quanto ao nível de atividade física e qualidade vocal, onde os indivíduos que apresentaram maiores níveis de atividade física apresentaram também escores melhores na auto avaliação relacionada a aspectos vocais.
A maioria dos professores não tem a informação necessária com ralação ao uso da voz e aos cuidados preventivos com a mesma. Normalmente só se conscientizam no momento em que o problema acontece, dando sinais de perda de voz ou falha vocal, a rouquidão, dores de garganta entre outros problemas.
Os resultados apresentados na discussão foram sugestivos também de que os próprios professores de educação física (a despeito de atualmente atuarem também na área de saúde do trabalhador através dos programas preventivos de LER/DORT por meio de programas de ginástica laboral) têm dificuldades de realizar associação entre a importância da voz e sua utilização como instrumento fundamental para o exercício profissional, estando o aparelho fonador para estes profissionais como está o aparelho músculo-esquelético para os trabalhadores que realizam tarefas repetitivas, e portanto carente de avaliação e cuidados para se evitar danos que comprometem seu exercício profissional e até os incapacita.
E por último destacamos uma importante situação paradoxal, onde a medicina do trabalho e as normas regulamentadoras do Ministério do Trabalho e Emprego, apesar do grande avanço tecnológico e científico hodierno, característica principal do século XXI, podem nesta área contar com o apoio de equipamentos de alta tecnologia e softwares para análise vocal que oferecem dados objetivos tanto qualitativos quanto quantitativos da voz, ignoram a sobrecarga laboral ao aparelho fonador como fonte de lesões e causa de afastamentos do trabalho, não incluindo a avaliação vocal dos professores na rotina de avaliação e acompanhamento da saúde ocupacional desta classe de trabalhadores, valendo destacar ainda que a 2ª Conferencia Nacional de Saúde do Trabalhador, que aconteceu em Brasília - DF no ano de 1994, ao criar comissões de saúde do trabalhador, determinou que estas deveriam “não só evitar acidentes, mas garantir a saúde do trabalhador”.
Referências
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