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Rotina de vida de crianças: atividades
realizadas no contexto urbano e familiar

La rutina de la vida de los niños: las actividades realizadas en el contexto urbano y familiar

 

*Doutorado em Motricidade Humana. Professora

da Universidade do Estado de Santa Catarina, Florianópolis, SC

**Doutorado em Motricidade Humana

Professor da Faculdade de Motricidade Humana, Portugal.

***Pós doutorado em Desenvolvimento Motor. Professor

da Universidade do Estado de Santa Catarina, Florianópolis, SC

****Graduada em Educação Física. Pesquisadora do laboratório de Aprendizagem

e desenvolvimento motor- LADAP-CEFID-UDESC, Florianópolis, SC

Zênite Machado*

zenite13@yahoo.com.br

Carlos Alberto Ferreira Neto**

Ruy Jornada Krebs***

Joana Desirée Carniel****

joanacarniel@hotmail.com

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          O objetivo deste estudo foi investigar as atividades realizadas por crianças no ambiente urbano e familiar. Utilizou-se como instrumento de pesquisa o Diário de Atividades de Puch (PUCH, 2002) e uma entrevista semi-estruturada que foi utilizada para complementar os dados extraídos dos diários. Participaram do estudo, 180 crianças. Os resultados mostraram que o local eleito para realizar as atividades fora do período escolar está relacionado com a falta de autonomia das crianças e as preferências dos pais. Verificou-se a necessidade de incluir na agenda das crianças atividades com maior envolvimento físico.

          Unitermos: Contexto. Criança. Rotina de vida.

 

Abstract

          The aim of this study was to investigate the activities played by children in the urban and in the home environment. The instrument utilized was the Punch’s Diary of Activities (PUCH, 2002) and as a complimentary tool an interview was used. The participants were 180 children. The results showed that the elected place to be used for activities outside of school was related to the lack of autonomy and the parent’s choice. It was verified the necessity of to allow children with more activities with physical involvement.

          Keywords: Environment. Child. Life routine.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 16, Nº 155, Abril de 2011. http://www.efdeportes.com/

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Partindo da esquerda: Thiago, Joana Carniel, Professor Ruy, David Gallahue e esposa e Willian Braviano.

    Em memória do professor Ruy Jornada Krebs

Ser professor é uma escolha.

Ser doutor é trabalhar muito e renunciar sempre.

Ministrar uma aula com excelência é dom e dedicação.

Lecionar a mais de 30 décadas e ainda assim manter-se atualizado, interessado, pontual, ser assíduo às suas aulas, paciente em sanar todas as dúvidas acadêmicas, que em muitos momentos são repetitivas e conhecer a cada um de seus alunos pelo nome é profissionalismo

Transpor os temas acadêmicos e ensinar aos alunos a serem pessoas críticas e pensantes é responsabilidade.

Saber respeitar as dificuldades humanas e o processo de aprendizagem de cada aluno é experiência.

Fazer pesquisa e produzir com eficiência é produtividade.

Ser reconhecido como a alma da Educação Física no Brasil, ter reconhecimento mundial em pesquisas e pela perfeição da escrita é capacidade.

Ser professor, pesquisador, educador e ainda mentor, é raridade.

Mas ser capaz de fazer tudo isso com naturalidade, inteligência, ética, respeito às pessoas, disponibilidade independente da formação profissional do sujeito, apenas um homem fez, professor Ruy Jornada Krebs. Para a Educação Física uma lacuna que ficará aberta para sempre, para os alunos e profissionais uma perda intelectual irreparável e para os amigos e as pessoas próximas, muita saudade!

Introdução

    As mudanças sócio-urbanas e o crescimento econômico das últimas décadas em resposta a crescente urbanização alteraram significativamente os padrões, a estrutura e a rotina familiar. As mães, que antes eram exclusivamente responsáveis pela educação e formação de valores dos seus filhos, passaram a contribuir financeiramente com a instituição familiar. Para viabilizar todas as tarefas a qual a mulher foi incluída, as instituições de ensino se adequaram às necessidades sociais e aderiram aos seus currículos à responsabilidade de, educar e de formar valores, de atender de forma especializada a partir do berçário e de ampliar a carga horária para o ensino em período integral onde as crianças realizam atividades orientadas durante todo o dia (MACHADO, 2008; NETO, 2007).

    Atualmente a rotina de vida das crianças tem ocorrido principalmente no ambiente familiar e escolar o que vem despertando interesse na comunidade científica. Na escola as crianças passam grande parte do tempo realizando atividades baseadas em tarefas pedagógicas que requerem baixo envolvimento físico, atividades físicas ocorrem apenas durante as aulas de Educação Física e o recreio. Na residência familiar, devido aos constrangimentos urbanos, como a falta de espaço para o lazer, a violência e a densidade de veículos, fez com que a brincadeira infantil fosse restringida ao espaço das casas que na maioria das vezes possuem espaços abertos reduzidos onde as atividades físicas não podem ser executadas o que gerou dessa forma, a criação de um novo modelo de brincar baseado em atividades eletrônicas como os vídeos-game, computadores e televisores (SERRANO, 1996; NETO, 2007; MACHADO, 2008 ).

    O sedentarismo, característica própria destes tipos de atividades, aliado ao alto consumo de alimentos industrializados selecionados pela família devido à praticidade de preparo, constitui uma das causas do aumento da taxa de obesidade infantil. Segundo dados da Organização Mundial de Saúde, 30,3% das crianças de 6 a 11 anos têm excesso de peso e 15,3% delas são obesas. A obesidade e o sedentarismo estão atrelado ao aumento da incidência de doenças cardiovasculares e diabetes durante a infância (SERRANO, 1996; DARONCO, ETCHEPARE, RECH, 2005)

    As crianças necessitam brincar e participar de atividades motoras vigorosas em diversos contextos da sua vida cotidiana. Estas atividades (posturais, locomotoras e manipulativas), são decisivas para que elas possam se desenvolver motoramente, cognitivamente e para que possam formar hábitos saudáveis que poderão se estender durante a vida adulta. Ao brincar de forma física e em diversos contextos, a criança desenvolve estratégias de jogo, aprende a lidar com as diversidades imprevisíveis, desenvolve valências físicas, capacidades motoras e cognitivas e previnem doenças relacionadas ao sobre peso ou obesidade (OLIVEIRA, CERQUEIRA, OLIVEIRA, 2003; MELLO, LUFT, MEYER, 2004; NETO, 2007).

    As preferências pelas atividades, estão relacionadas a qualidade do ambiente em que a criança está inserida e as possibilidades de ações encontradas nos espaços e objetos. Tornar o ambiente familiar, escolar e urbano estimulante pode contribuir positivamente para o desenvolvimento das crianças, uma vez que, ao descobrirem novos estímulos presentes no ambiente no qual elas estão inseridas, as possibilidades de interagir com o meio se multiplicam (HAYWOOD, GETCHELL, 2004; BRONFENBRENNER, 2005; GALLAHUE, OZMUN, 2005).

    A identificação das atividades de preferência, da rotina infantil e dos espaços mais utilizados por elas influenciam na saúde e no desenvolvimento da criança. Estes dados são relevantes na medida em que poderão auxiliar a comunidade científica, o grupo familiar e o poder público a rever, organizar ou criar novas rotinas e espaços de lazer para as crianças. Neste sentido, o objetivo deste estudo foi investigar a rotina de vida e as atividades realizadas por crianças no ambiente urbano e familiar.

2.     Procedimentos metodológicos e delimitação do contexto do estudo

2.1.     Participantes do estudo

    Fizeram parte do estudo 180 crianças de ambos os sexos (63 meninos, 117 meninas) com idade de 10 (n=101) e 12 (n=79) anos estudantes da rede pública e privada de ensino. O termo de consentimento livre e esclarecido foi obtido para cada participante do estudo e o projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética Pesquisa em Seres Humanos CEFID-UDESC sob o protocolo de número 125/05.

2.2.     Critérios para a escolha da amostra e local do estudo

    O estudo baseado no modelo Bioecológico de Bronfenbrenner justifica-se pelo potencial que a teoria tem para explicar a indissociabilidade entre a pessoa em desenvolvimento e os contextos em que ela se insere. O modelo Bioecológico contempla a complexa interação entre o processo (a reciprocidade bidimensional entre pessoa e o contexto), a pessoa (cujo desenvolvimento é constante), o contexto (simbolizado por um conjunto de sistemas aninhados, desde a área mais interna que denominou de Microssistema, passando pelo meso- e exossistema, até a área mais externa denominada de Macrossistema) e o tempo (BRONFENBRENNER, 1992).

    O Microssistema, considerado por Bronfenbrenner (1992) um padrão de atividades, papéis e relações interpessoais experienciados pela pessoa em desenvolvimento, está relacionado ao ambiente mais imediato da criança, que neste estudo será representado como a casa e a escola. O mesossistema inclui as inter-relações entre dois ou mais ambientes em que a criança participa ativamente, como, por exemplo, a rede social que se estabelece entre a família e a escola. Já o exossistema, se refere a um ou mais ambientes que não envolvem a pessoa em desenvolvimento como um participante ativo, mas no qual ocorrem eventos que afetam, ou são afetados, por aquilo que acontece no ambiente contendo a pessoa em desenvolvimento, como por exemplo, o ambiente de trabalho dos pais (Bronfenbrenner, 1992). E por fim, o Macrossistema, que pode ser visto como a arquitetura social de uma cultura particular, subcultura ou outro contexto social maior (Bronfenbrenner, 1992), ou seja, é o contexto mais abrangente do modelo, que neste estudo representaremos como sendo o município de Florianópolis em toda a sua abrangência sociodemográfica e cultural.

    A partir do tema da investigação, elegeu-se as idades entre 10 e 12 anos como referência, pois apesar de serem próximas na questão temporal, podem apresentar diferenças quanto ao tipo de interação que a criança estabelece com seu meio físico e social. Além disso, a partir dos 10 anos a criança possui habilidades cognitivas e lingüísticas para responder questões de forma verbal e conhecimento básico do ambiente em que vive.

    A escolha do município justifica-se por Florianópolis ser uma capital com boa qualidade de vida (em 2000 foi a quarta do ranking da ONU com melhor qualidade de vida do Brasil) que recebe um grande número de visitantes ao longo do ano e pelo aumento populacional decorrente da migração de pessoas de estados vizinhos (a cada ano o município ganha em média 10 mil novos moradores, e sua população de 408.161 habitantes chega a dobrar durante o verão) (IBGE, 2010). Além do crescimento acelerado que compromete a sustentabilidade de seu desenvolvimento, a cidade por ser uma ilha, possui espaço limitado, que impõe certos limites à expansão urbana e populacional.

2.3.     Procedimentos para a coleta dos dados e instrumentos utilizados

    Após o contato com as instituições de ensino público e privado e a autorização dos participantes através do termo de Consentimento livre esclarecido, foi esclarecido às crianças o correto preenchimento do instrumento.

    Para a coleta de dados foram utilizadas duas técnicas distintas: o Diário de Atividades (PUCH, 2002), composto por colunas diárias para responder as seguintes questões: “O que estou fazendo; Onde estou; Como vim pra cá; Com quem estou; Tempo gasto” e uma entrevista semiestruturada. As respostas foram dadas de acordo com a percepção de cada criança, sem intervenção dos pesquisadores. O Diário de Atividades é um instrumento de pesquisa que contém 21 folhas de papel tamanho A4 organizadas no formato paisagem, distribuídas em grupos de três (manhã, tarde e noite de um mesmo dia), totalizando os sete dias de uma semana típica. Na página inicial de cada dia existe uma lacuna para as crianças registrarem o horário em que despertam e o horário em que vão dormir, e outras observações a respeito dos acontecimentos do dia. A entrevista é ferramenta metodológica tradicional e útil para complementar dados extraídos de outras fontes, desta forma esta técnica foi incluída para que os investigadores pudessem detalhar e dar profundidade às informações dos diários de atividades. Para a transcrição das entrevistas realizadas, utilizou-se um gravador digital, onde após as coletas, codificou-se os discursos.

2.4.     Análise estatística dos resultados

    Para a tabulação das informações provenientes dos instrumentos de coleta de dados foi realizada uma análise de conteúdo (BARDIN, 2000). Deste procedimento foram estabelecidas categorias para as atividades realizadas no ambiente doméstico e fora dele. As categorias para as atividades realizadas no ambiente doméstico foram: leitura/escrita, desenho/pintura, ouvir música, atividade doméstica, ver televisão, estar no computador e jogar videogame. As categorias para as atividades realizadas fora do ambiente doméstico foram: atividade físico desportiva, atividade artística, atividade religiosa, estudos complementares, estudos paralelos, permanência em instituições, condução de pares, trabalho.

    Para a análise estatística foram utilizados procedimentos da estatística descritiva e inferencial. Da estatística descritiva foram feitas análises das freqüências simples e percentual. Os testes inferenciais utilizados foram o teste “U” de Mann-Whitney para verificar a existência de diferença entre as freqüências em função do sexo, da idade e do estatuto socioeconômico, significativo para p£0,05.

3.     Apresentação e discussão dos resultados

3.1.     Atividades realizadas no ambiente doméstico

    Na tabela 01 estão apresentadas as atividades realizadas durante os dias úteis que fazem parte da rotina de vida das crianças.

Tabela 01. Atividades realizadas no ambiente doméstico nos dias úteis

    As atividades realizadas com maior freqüência são em ordem decrescente: assistir televisão (91,7%), estudar (89,0%), atividades domésticas (38,6%), estar no computador (33,1%) e leitura/escrita (24,1%). Com exceção da participação em atividades domésticas que pode sugerir, dependendo da ação, uma ativação física, as demais atividades fazem alusão a um baixo nível de movimentação corporal. Na tabela 02, estão apresentadas as atividades que fazem parte da rotina de vida das crianças durante o final de semana.

Tabela 02. Atividades realizadas no ambiente doméstico durante o final de semana

    As atividades realizadas com maior frequência são em ordem decrescente: assistir televisão (82,1%), estar no computador (33,1%), estudar (32,4%), realizar atividades domésticas (31,0%) e jogar vídeo game (15,9%). Comparando as atividades realizadas durante os dias úteis às realizadas durante o final de semana, observa-se uma congruência entre as atividades que constituem as rotinas de vida das crianças, quando no ambiente doméstico. Verifica-se que é comum entre as crianças dessa faixa etária ocupar o tempo livre assistindo televisão. Os resultados encontrados, concordam com os encontrados por Serrano (1996), Hofferth, Sandberg ( 2001) e Almeida (2005).

    De acordo com a teoria Bioecológica de Bronfenbrenner (1979) é no microssistema que a criança constrói seus principais elos de relações interpessoais. É neste ambiente que as rotinas de vida dos pais e familiares irão exercer maior influência na formação dos hábitos de vida das crianças e nas escolhas das atividades realizadas. Hábitos sedentários como assistir televisão, jogar vídeo game, estudar, se realizados de forma rotineira, influenciarão de forma negativa na saúde da criança, uma vez que o sedentarismo atrelado a hábitos alimentares não saudáveis desencadeia doenças como a obesidade. Giugliano e Carneiro (2004) observaram em um estudo realizado que a obesidade é concomitante entre as crianças e os pais obesos (GIUGLIANO, CARNEIRO, 2004; PIMENTA, PALMA, 2001).

    A sociedade também influencia na rotina de vida das crianças, o fato de passaram grande parte do tempo estudando pode ser reflexo do exossistema, ou seja, apesar das crianças não estarem incluídas no mercado de trabalho onde as exigências profissionais como o conhecimento bilíngüe são necessários, elas são influenciadas e preparadas precocemente pelos pais para que futuramente tenham capacitação para assumirem cargos profissionais relevantes. Além disso, o espaço físico da residência familiar também influencia neste processo, uma vez que brincadeiras com envolvimento físico exigem um espaço amplo (MACHADO 2008; NETO, 2007; BRONFENBRENNER, 1979; BRONFENBRENNER, MORRIS, 1998).

    Com relação ao sexo, a idade e ao estatuto sócio econômico, assistir televisão durante os dias úteis e finais de semana é a atividade de preferência das crianças. Durante os dias úteis o estudo foi uma das atividades mais realizadas pelas crianças, independente do sexo, da idade ou do estatuto sócio econômico. Apenas no final de semana, as atividades são diferenciadas com relação ao sexo, idade e estatuto sócio econômico, onde verificou-se que enquanto os meninos brincam no computador as meninas desenvolvem tarefas domésticas e enquanto as crianças de 10 anos e menos abonadas estudam, as crianças de 12 anos e mais abonadas brincam com o computador. Verificou-se algumas diferenças significativas quanto ao sexo exercer influência sobre a atividade de jogar vídeo game tanto nos dias úteis (p=0,000) como no Final de semana (p=0,002), assinalando que são os meninos os que mais se dedicam a essa atividade. A variável idade influencia à dedicação e atividade de ouvir música nos dias úteis (p=0,022) atraindo um maior número de crianças aos 12 anos de idade. O estatuto socioeconômico, por sua vez, apresentou que nos dias úteis as crianças mais abonadas se dedicam com mais frequência à leitura e escrita (p=0,013). Essa variável influencia ainda a dedicação ao computador tanto nos dias úteis (p=0,001) como no final de semana (p=0,022), sendo as crianças de estatuto socioeconômico alto as que mais se dedicam a essa atividade.

    O fato dos meninos jogarem vídeo game com mais frequência que as meninas pode estar atrelado às ocorrências do exossistema, onde os valores culturais e sociais dividem os tipos de brincadeira de acordo com o sexo da criança. Entretanto, o poder aquisitivo das famílias exerce grande influência nas eleições das atividades das crianças, uma vez que a disposição de aparelhos eletrônicos e computadores é mais frequente em famílias mais abonadas. Da mesma forma, a rotina familiar influencia nesse processo, uma vez que as exigências dos pais com maior poder aquisitivo com relação as atividades intelectuais é mais frequente.

3.2.     Atividades realizadas no ambiente urbano

    Nas tabelas 03 e 04 estão representadas as atividades que as crianças realizam nos dias úteis e no Final de semana. Para essa análise destacou-se apenas aquelas que se revestem de certa regularidade.

Tabela 03. Atividades realizadas no ambiente urbano durante a semana.

    As que contam com uma maior participação das crianças, nos dias úteis, são as atividades físico-desportivas (40,0%), atividades artísticas (13,9%), estudos complementares (13,3%) e atividades religiosas (10,0%). Em relação às atividades físico desportivas identificou-se uma tendência para maior participação por parte dos meninos (41,3%), crianças com 10 anos de idade (45,5% ) e crianças de estatuto socioeconômico alto (48,6%). Contudo, essas diferenças percentuais não se mostram significativas. Porém em relação às atividades artísticas verificou-se que a variável sexo (p=0,034) determina uma maior participação de meninas (17,9%) e na variável idade (p=0,002) determina um engajamento mais frequente das crianças com 10 anos de idade (20,8%). A idade também influencia a participação de crianças em atividades religiosas (p=0,031) sendo as mais jovens (14,9%) as que a elas mais se dedicam. A participação em estudos complementares tende a ser maior entre os meninos (17,5%), crianças com 12 anos de idade (16,5%) e crianças de estatuto socioeconômico alto (18,9%). Porém, assim como nas demais atividades, não são encontradas diferenças significativas. Fatores relacionados ao sexo da criança nesta faixa etária tendem a ter mais relação às ocorrências do ambiente em que as crianças estão inseridas (cultura, rotina dos familiares, costumes) à fatores de disposição genética (BEE, 1977).

    De acordo com a tabela 04, pode-se observar as atividades realizadas no Final de semana.

Tabela 04. Atividades realizadas no ambiente urbano durante o final de semana

    No Final de semana as atividades que congregam um maior número de crianças são as atividades religiosas (8,3%), as atividades físico-desportivas (4,4%) e o escotismo (4,4%). O escotismo tende a ser mais praticado por meninos (6,3%), crianças com 12 anos de idade (6,3%) e crianças de estatuto socioeconômico baixo (4,7%). As atividades religiosas são mais freqüentes entre meninos (9,5%), crianças com 10 anos de idade (11,9%) e crianças de estatuto socioeconômico baixo (9,4%). As atividades físicodesportivas predominam entre meninos (6,3%), crianças com 10 anos de idade (6,9%) e crianças de estatuto socioeconômico alto (6,8%). Em nenhuma dessas atividades encontrou-se diferenças significativas na comparação entre os sexos, idades e estatutos socioeconômicos. Ela só se manifesta na atividade de estudos paralelos e no estatuto socioeconômico (p=0,016), com maior participação pelas crianças mais abonadas.

    Estes resultados evidenciam que a cultura familiar determina grande parte das atividades realizadas pelas crianças. Os meninos são frequentemente estimulados a praticarem atividade física. Observando a cultura dos brinquedos destinados aos meninos e às meninas, pode-se verificar que geralmente os brinquedos dos meninos (bola, skate, bicicleta) estimulam mais a prática de atividade física quando comparados com os brinquedos das meninas (bonecas, jogos, maquiagens, pinturas). Além disso, o menino costuma ser incentivado pelo pai a jogar futebol e a assumir mais riscos nas atividades e brincadeiras nas quais se envolve. Enquanto as meninas, em geral, são mais cuidadosas e vigiadas com relação ao risco das brincadeiras (MACHADO, 2008).

    Com relação às atividades religiosas, acredita-se que as crianças mais jovens frequentem mais estas atividades devido em parte à sua dependência familiar, e em parte em função de estar envolvida em atividades de preparação para a primeira eucaristia. Para Bronfenbrenner (1979) a criança nessa fase da vida, depende da rotina familiar e geralmente, moldam suas experiências e hábitos de vida baseando-se em seus próprios pais. No estudo realizado por Machado (2008) no mesmo contexto de estudo, verificou-se que as crianças mais jovens (10 anos), possuíam um menor grau de mobilidade (capacidade de autonomia, ou seja, a possibilidade de tomar decisão por si própria) quando comparadas as crianças mais velhas (12 anos).

    Comparando as atividades realizadas no ambiente doméstico e no ambiente urbano durante os dias úteis e os finais de semana, observou-se que durante a semana, em decorrência do trabalho dos pais, do aumento do número de famílias monoparentais e da acentuada adesão da mulher ao mercado de trabalho, as crianças passam o tempo livre em instituições que oferecem serviços educacionais (auxílio ao dever de casa, cursos de idioma, informática) esportivos (oficinas de futsal, natação, balé) e de cuidados à criança (alimentação, locais reservado a hora do sono, orientação psicológica) (ELKIND, 2004). Dessa forma, as crianças que antes brincavam espontaneamente após as aulas em suas residências ou nas ruas locais, passaram a participar das atividades propostas por instituições de ensino ou clubes.

    A dependência familiar das crianças acrescido dos constrangimentos urbanos delimitam os locais de permanência e brincadeiras na infância extinguindo a cultura e a possibilidade de brincar na rua ou em áreas públicas como parques e praças próximas da residência familiar (NETO, 2007). Neste estudo, observou-se que o ambiente doméstico restringe as brincadeiras às atividades de baixo envolvimento físico, enquanto no ambiente urbano (escola e clube) a prática esportiva é mais frequente.

Considerações finais

    Após a apresentação e discussão dos resultados algumas considerações podem ser feitas.

    A rotina dos familiares, influencia na eleição e participação das crianças com relação as atividades realizadas durante os dias úteis e nos finais de semana. Da mesma forma que fatores culturais influenciam neste processo uma vez que delimitam as atividades de acordo com o sexo. Fatores urbanos como a necessidade da formação profissional e práticas intelectuais estipuladas pelo mercado de trabalho também exercem grande influência sobre as atividades realizadas pelas crianças.

    Conclui-se que no ambiente familiar devido ao espaço reduzido, à rotina familiar e aos constrangimentos urbanos como a falta de segurança e espaço livre nas ruas locais as atividades realizadas pelas crianças são de baixo envolvimento físico como assistir televisão. Entretanto, no ambiente urbano (casa e clubes) as atividades realizadas pelas crianças nos dias úteis e nos finais de semana são de caráter esportivo. Conclui-se que ainda assim é necessário incluir nas agendas das crianças atividades de envolvimento físico no ambiente familiar.

Referências

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