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Percepção das crianças em relação à prática da ginástica rítmica

Percepción de niñas en relación a la práctica de la gimnasia rítmica

 

*Universidade Estadual do Centro Oeste

**Universidade Federal de São João Del Rei

(Brasil)

Vívian Witkovski*

Marise Botti**

vivianwitkovski@hotmail.com

 

 

 

 

Resumo

          A Ginástica Rítmica (GR) é um esporte que se destaca por sua beleza, pois é uma prática que envolve movimentos corporais, manipulação de aparelhos e acompanhamento musical. Assim, por ser considerada uma prática que desenvolve a criança de forma integral torna-se indispensável compreender melhor as possibilidades que favorecem à formação da criança. Com isso, o objetivo do estudo foi analisar a percepção das crianças em relação a uma prática de conteúdos da GR, a partir dos significados e representações das crianças. Após a escolha intencional da escola e da turma, foram ministradas oito aulas pela própria pesquisadora, já que a escola, não contava com um professor de Educação Física. A turma participante da pesquisa foi uma 4ª série do ensino fundamental de 26 alunos, com idade média de 12 anos. A maioria das aulas foram realizadas na escola, com exceção do último encontro, que realizou-se na sala de ginástica da própria universidade (UNICENTRO-Irati), pois esta dispõe de estrutura específica para GR. Após os encontros os alunos responderam um questionário com cinco questões abertas, com o intuito de identificar os significados que as aulas de GR proporcionaram as crianças, além disso, foi proposto a elaboração de um desenho que representasse as aulas vivenciadas. Por meio desses encontros e do questionário foi possível perceber que muitas crianças, sem se dar conta, haviam experimentado alguma prática relacionada à GR, especialmente quando brincavam com os aparelhos (corda, bola, arco e fita) e com seu próprio corpo. Os principais resultados encontrados por meio das categorias de análise foram o encantamento pelos materiais da GR e a importância da aprendizagem na percepção dos alunos. Conclui-se que a GR, com um caráter pedagógico, é um conteúdo que pode ser trabalhado com as crianças, pois trata-se de um esporte que possibilita a aprendizagem de novos movimentos com o corpo e também com a combinação entre música e aparelho.

          Unitermos: Ginástica rítmica. Crianças. Prática pedagógica.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 16, Nº 155, Abril de 2011. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    A Ginástica Rítmica (GR) seguiu passo a passo uma lenta evolução de conquistas ao longo do tempo, um novo Código de Pontuação foi elaborado, novas regras foram ditadas, novos campeonatos surgiram, reformulações foram feitas até chegar ao que é a GR atualmente, compondo de exercícios de dificuldade e harmonia entre corpo-música-aparelho.

    Atualmente a GR caracteriza-se pelo conjunto entre aparelho, corpo e música. Trabalha desde as formas básicas de movimento como saltar, saltitar, andar, correr, molejar, impulsionar, até habilidades mais dinâmicas como lançar, quicar, rolar, balançar. As séries podem ser executadas com ou sem os aparelhos, quando apresentadas sem, são chamadas séries de mãos livres.

    De acordo com o Código de Pontuação (2007), durante a apresentação de uma coreografia, as ginastas são avaliadas pela execução; valor artístico e valor técnico. Esta coreografia se constitui de duas formas: em conjunto (5 ginastas) e/ou individual.

    Neste sentido, é necessário que fique evidente o caráter gímnico na execução dos movimentos corporais, ou seja, a execução do movimento durante a coreografia deve ser explicitado suas fases de início, meio e fim (VELARDI, 1999).

    São cinco aparelhos que contemplam a GR: corda, bola, arco, fita e maças. Cada aparelho tem formas diferentes de ser manuseadas e grupos de movimentos a serem desenvolvidos, além disso, esses movimentos podem ser realizados em planos diferentes.

    A GR também apresenta elementos corporais fundamentais que são: andar, correr, galopar, saltitar, saltar, girar, posições estáticas ou de equilíbrio, pular e também locomoção.

    Por ser um esporte peculiar, que envolve não só os movimentos do corpo, mas também dele em conjunto com os aparelhos, a GR torna-se uma prática interessante para ser apresentada as crianças.

    Através da GR elas terão oportunidade de conhecer novos movimentos, conhecer melhor seu próprio corpo, e ainda se socializar e aprender a trabalhar em conjunto.

    Quanto ao desenvolvimento da criança CAMPÃO (2008) apud PAPALIA e OLDS, (2000) diz “desenvolvimento ocorre em vários domínios – físico cognitivo e psicossocial – e as mudanças que ocorrem em cada uma destas esferas afetam as demais.” E ainda explica que as mudanças que ocorrem na parte física apresentam-se no cérebro, capacidade sensorial e nas habilidades motoras. Já no desenvolvimento cognitivo notam-se mudanças na capacidade mental, como a aprendizagem, a memória, o raciocínio, o pensamento e a linguagem. A capacidade para interagir com o meio através das relações sociais, que proporciona a formação da personalidade e a aquisição de características próprias é chamada de desenvolvimento psicossocial.

    Seron (2007, p. 116) em seu estudo diz que “essa prática corporal pode propiciar condições favoráveis de aprendizado a partir do mundo de movimentos dos alunos, promovendo a autonomia por meio de uma ação reflexiva e significativa em estreita relação com o cotidiano”.

    Esse esporte, sem fins de treinamento, pode ser praticado tanto por meninos como por meninas, pois lhes permite oportunidades diferentes de movimento e contribui para o desenvolvimento integral do ser humano. “Segundo Caçola (2007, p. 10),” a GR é um esporte que proporciona o desenvolvimento de todas as características para os seus aprendizes, através de varias oportunidades de movimento. Sobre a iniciação neste esporte, Schiavon (2003, p.14) afirma que quando essa modalidade é trabalhada com o tratamento pedagógico adequado, ela trabalha não somente as movimentações básicas das crianças como também os movimentos fundamentais locomotores, manipulativos e estabilizadores.

    Mesmo sem ter idéia, muitas crianças já praticaram alguns elementos da GR, pois grande parte delas já tiveram contato com uma bola, corda e/ou arco, também conhecido como bambolê. Através da GR elas aprendem que podem realizar outros movimentos com os aparelhos que elas já conheciam, além dos quais elas já realizavam e ainda conhecer os aparelhos que não são encontrados tão facilmente. ‘Mesmo não estando conscientes, todos tiveram alguma experiência. Cada pirueta, salto, movimento com bola pode ser considerado como Ginástica Rítmica.’ (EGERLAND, 2004, p. 17)

    Por isso a prática dessa modalidade pode ser uma boa alternativa para crianças, pois pode proporcionar possibilidades diferentes das demais conhecidas, aumentando o repertório motor das crianças, além de seus conhecimentos sobre a cultura de movimento. “A GR é um dos esportes privilegiados que por possuir habilidades motoras bem próximas da cultura corporal encontrada nas brincadeiras e nos jogos infantis.” Alonso (2004) apud Caçola (2007, p. 10),

    Com todos os benefícios que esta prática esportiva apresenta no desenvolvimento do ser-humano, especialmente nas crianças, objetiva-se com esta investigação analisar a percepção das crianças em relação à prática da Ginástica Rítmica.

    A escolha do tema ocorreu após notar que mesmo sendo um esporte que contribui muito para o desenvolvimento da criança, e que ainda possui um atrativo que pode motivar sua participação, que são os seus aparelhos que permitem novas oportunidades de movimento e música, é um esporte que está longe da realidade das crianças do nosso município.

    Como a GR é parte integrante da grade curricular dos cursos de graduação em Educação Física, torna-se importante saber o qual a percepção das crianças em relação as sua pratica, e o que ela pode significar para as elas evidenciando qual a relevância dessa nova experiência em sua formação e em suas vidas. Através da prática pedagógica elaborada com parte dos conteúdos da GR, acredita-se que as crianças poderão além de conhecer mais a modalidade, também evidenciar sua opinião por meio de significados e representações sobre a prática da mesma.

Procedimentos metodológicos

    Esta pesquisa caracteriza-se como Pesquisa-Ação na qual tem uma característica marcante é a participação do pesquisador na pesquisa sem que ele precise ser neutro.

    A população foi composta por 26 alunos da 4ª série do ensino fundamental da Escola Municipal Vereador João Maria Pedroso do Município de Irati, com idade entre 9 e 15 anos, sendo 14 meninos e 12 meninas.

    Após encontrar o grupo de indivíduos que atendesse aos interesses da pesquisa, foram ministradas aulas com conteúdos de GR. na Escola Municipal João Maria Pedroso permitiu que as aulas fossem ministradas com uma de suas turmas, sendo assim escolhida intencionalmente a 4ª série. A escolha desta turma se deu devido a aplicação de um questionário com questões abertas e descritivas, levando-se em conta que alunos de séries anteriores não teriam uma compreensão adequada para respondê-lo.

    Os pais e/ou responsáveis assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido permitindo que os filhos participassem da pesquisa.

    Logo após foram ministradas 8 aulas no período de 4 semanas, sendo que 3 aulas aconteceram na própria escola e 5 aulas ocorreram na universidade. As aulas aconteceram nos horários cedidos pela direção da escola.

    Após as aulas terem acontecido, foi entregue um questionário a fim de identificar os significados e as representações dos alunos referente às aulas de GR. O questionário foi composto por 5 questões abertas que buscavam saber se eles já haviam praticado esse esporte antes, do que eles mais gostaram durante as aulas, qual a importância desta pratica nas suas vidas e do que gostaram e não gostaram durante as aulas, além da solicitação do desenho, que deveria ilustrar o que chamou mais a atenção durante as aulas ministradas.

Resultados e discussão

    O encanto pelos materiais foi algo percebido através das respostas dadas pelas crianças quando questionadas sobre o que mais haviam gostado nas práticas pedagógicas da GR. Todas as respostas fazem referência a algum dos materiais que eles tiveram a oportunidade de manusear durante as aulas ministradas.

    Segundo Collaço (2004), salienta em seu trabalho que a motivação é um dos resultados da utilização dos aparelhos, a criança descobre que a corda não serve somente para pular e pode-se fazer mais com a bola que somente chutá-la.

    Como em cada aula eles entraram em contato com um material diferente, isso pode ter os motivados mais para a participação nas aulas, além da nova vivência também descobriram novos movimentos a partir desse manuseio, não só com o aparelho, mas com o seu próprio corpo.

    As crianças que participaram da pesquisa tinham entre 9 e 10 anos de idade, nesta fase em que eles se encontram, a maioria apresenta algumas características específicas como capacidade de planejar e executar ações motoras, o sistema motor da criança atinge a maturidade, ela torna-se capaz de analisar seus movimentos e ainda é persistente, o que pode facilitar a aprendizagem de movimentos específicos. E ainda, segundo Bezerra (2006, p. 130) apud Meinel, (1984) o progresso no desenvolvimento físico e as suas experiências de movimentos (fase tanto de querer fazer como aprender) estão equilibrados com o desenvolvimento intelectual.

    A Ginástica em seus vários desmembramentos é um conteúdo ainda distante da realidade das crianças, isso foi notado na turma que participou da pesquisa, que foi unânime ao responder que nunca haviam feito aulas de GR, nem mesmo na escola.

    A uma preocupação em relação a essa ausência por parte de vários autores que pesquisam os motivos desse conteúdo não estar presentes nas aulas de Educação Física na escola. Seron (2007) em seu estudo fala sobre restrições de conteúdos nas aulas de educação física e um deles é a ginástica (entre outros temas da cultura corporal) e isto é no mínimo preocupante.

    Schiavon (2003) expõe alguns fatores que podem contribuir para essa ausência, como falta de material, falta de espaço e ainda a falta de conhecimento dos conteúdos pelo professor, que não consegue pensar em uma aula de GR de forma pedagógica.

    Esses fatores podem ser superados, se o professor tiver o interesse de aplicar os conteúdos da GR em suas aulas na escola.

    Os resultados obtidos através do questionário respondido pelos alunos participantes da pesquisa demonstraram que esta prática foi relevante para os mesmos, pois os próprios alunos afirmaram ser importantes conhecer novos conteúdos assim como aprender através deles.

    Percebeu-se que a GR motivou muito os alunos, por não a conhecerem antes e por possuir um atrativo que são seus aparelhos e suas várias possibilidades de movimentos, com ou sem eles. Os alunos podem trabalhar também em conjunto com os colegas estimulando a socialização.

Conclusão

    Com a realização desse trabalho conclui-se que a GR, é um conteúdo que pode ser trabalhado com crianças, pois tem aceitação por parte delas e por se tratar de um esporte que possibilita a aprendizagem de novos movimentos com o corpo e também com a combinação entre música e aparelho, basta trabalhá-la de maneira pedagógica que permita uma participação mais consciente e crítica de todas as crianças.

    Para isso é necessário que os profissionais formados em Educação Física apliquem na pratica os conteúdos que aprendem durante a graduação, pois há muitos esportes para se trabalhar que estimulem o aprendizado de novos movimentos e conhecimento do próprio corpo.

Referências bibliográficas

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