Percepção de benefícios de um programa de ginástica laboral pelos colaboradores de uma instituição de ensino superior da cidade de Canoas, Brasil Percepción de los beneficios de un programa de actividad física laboral por parte de los trabajadores de una institución de enseñanza superior en la ciudad de Canoas, Brasil Perceived benefits of a program of labor gymnastics by employees of an institution of higher education in Canoas, Brazil |
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*Centro Poliesportivo Centro Universitário La Salle, Canoas, RS **Cursos de Educação Física e Fisioterapia Centro Universitário La Salle, Canoas, RS Programa Internacional de Doutorado em Ensino de Ciências Universidade de Burgos, Burgos, Espanha |
Amanda da Silva Pereira* Adriana Marques Toigo** (Brasil) |
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Resumo Os objetivos deste estudo foram verificar a percepção dos benefícios de um programa de Ginástica Laboral pelos colaboradores de uma Instituição de Ensino Superior da cidade de Canoas, Brasil, além de verificar como percebem seu estado de saúde; determinar em quais regiões do corpo mais freqüentemente sentem desconforto, dor ou tensão e, no caso de colaboradores não-praticantes da Ginástica Laboral, verificar quais as razões que justificam sua não-participação no programa. Participaram deste estudo 133 colaboradores. Quando questionados se percebiam algum benefício em função da prática da Ginástica Laboral, 93,2% dos colaboradores responderam que sim e apontaram como benefícios percebidos o relaxamento; a prevenção de doenças relacionadas ao trabalho; o aumento da disposição para o trabalho; a redução de dores; a integração da equipe; a conscientização corporal; a motivação para fazer exercícios físicos e outros benefícios. A saúde para a execução do trabalho foi considerada pelos participantes como variando entre excelente e boa; contudo 68,4% dos colaboradores reportam sentir algum desconforto, tensão ou dor durante a jornada de trabalho e as regiões do corpo mais acometidas foram, respectivamente, as costas; o pescoço; o ombro; o punho; o joelho; a perna; a cabeça; o braço, o pé; a mão; os dedos da mão; o cotovelo e o tornozelo. Os indivíduos não-praticantes da Ginástica Laboral e os que participavam esporadicamente das aulas totalizaram 36,8% dos colaboradores e alegaram que não participavam do programa por não estarem no setor no horário da aula ou por não quererem parar a tarefa que estavam executando. A partir dos dados encontrados é possível depreender que a maioria dos colaboradores percebe benefícios advindos da prática da Ginástica Laboral, entretanto poucas empresas disponibilizam aos seus funcionários a estrutura necessária para que o programa de Ginástica Laboral seja, de fato, eficaz. Unitermos: Ginástica laboral. Percepção de benefícios. Colaboradores.
Abstract The objective of this study was to determine the perceived benefits of a program of Labor Gymnastics by employees of an institution of higher education in Canoas, Brazil, and to identify how these employees perceive their health status and determine in which regions of the body employees most often report discomfort, pain or tension and, in the case of employees that doesn’t practice Labor Gymnastics, check what are the reasons for their nonparticipation in the program. 133 employees participated in this study. When asked if they perceive some benefit in the practice of Labor Gymnastics, 93.2% of respondents said yes and pointed as perceived benefits relaxation; prevention of work-related diseases; willingness to work; reduction of pain; team integration; body awareness; motivation for physical exercise and other benefits. Participants perceived their health to work varying among excellent and good, however, 68.4% of employees report feeling any discomfort, tightness or pain during the workday and the body regions most affected were the backs; neck; shoulder; wrist; knee; leg; head; arm; foot; hand; fingers; elbow and ankle. Non-practicing employees and those involved only sometimes in Labor Gymnastics totaled 36.8% and argued that they don’t participate in the program because sometimes they are not at the site at the time of the class or they don’t want to stop their tasks to engage the class. From the data obtained is possible to conclude that most employees perceived benefits from the practice of Labor Gymnastics, but few companies offer the necessary structure for the Labor Gymnastic program to be effective. Keywords: Labor gymnastics. Perceived benefits. Employees.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 16, Nº 155, Abril de 2011. http://www.efdeportes.com/ |
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Introdução
A história mostra que as doenças ocupacionais vêm acometendo os trabalhadores há séculos, porém, o aparecimento destes distúrbios foi extraordinariamente acentuado com a expansão industrial (Figueiredo e Mont’Alvão, 2008). Os autores definem a doença do trabalho como sendo aquela adquirida ou desencadeada em função das condições especiais em que o trabalho é realizado e com ele se relaciona diretamente. Orso, Murofuse, Matias e Marziale (2001) corroboram com essa definição acrescentando que esse tipo de doença é causado pelo o exercício de determinadas atividades profissionais. Nessa perspectiva, Ribeiro (apud Figueiredo e Mont’Alvão, 2008) alerta que os problemas de saúde e as condições de trabalho podem vir a comprometer a capacidade de trabalho do homem e, não raro, ameaçar metas e objetivos de qualquer corporação.
No Brasil o termo LER (lesões por esforço repetitivo) foi utilizado a partir da década de 80, atribuído a tenosinovite ocupacional, câimbra ocupacional, ou doença das lavadeiras (Reis apud Figueiredo e Mont’Alvão, 2008) e eram doenças, até então, somente apontadas a trabalhadores da indústria e digitadores. Helfenstein Júnior (apud Figueiredo e Mont’Alvão, 2008) criticou o termo LER por reportar-se somente aos movimentos repetitivos como fatores causais das lesões, por não envolver atividades nas quais possa ocorrer uma sobrecarga muscular estática por períodos prolongados de tempo e por não englobar o excesso de força sobre a estrutura muscular para a manutenção de determinadas posturas para executar as atividades laborais cotidianas.
Segundo Cunha, Queiróz, Hatem e Guimarães (1992), as LER foram admitidas como doenças ocupacionais em 06.08.87, pela portaria 4062 do INSS – Instituto Nacional de Seguridade Social. Na década de 1990, foi introduzido no Brasil o termo Distúrbios Osteosmusculares Relacionados ao Trabalho (DORT). Koltiarenko (2005) define DORT como qualquer distúrbio que esteja relacionado ao trabalho, independente do segmento afetado, sendo definidos como transtornos funcionais, mecânicos e lesões de músculos, tendões, fáscias, bolsas articulares e extremidades ósseas, ocasionados pela utilização biomecânica incorreta dos membros. Como resultado, pode haver manifestação de fadiga, queda no desempenho no trabalho, incapacidade temporária e, conforme o caso, evolução para uma síndrome dolorosa crônica agravada por todos os fatores psíquicos (inerentes ao trabalho ou não), capazes de reduzir o limiar de sensibilidade dolorosa do indivíduo. Os fatores de risco das DORT são diversos e interdependentes, não sendo exclusivamente relacionados às tarefas repetitivas (Figueiredo e Mont’Alvão, 2008, p. 50).
No contexto empresarial, há uma constante preocupação com a diminuição das DORT e, consequentemente, com a promoção da saúde, que significa disponibilizar aos colaboradores recursos para que possam modificar comportamentos, adotando atitudes favoráveis em relação à saúde, bem como nos diferentes aspectos da vida cotidiana. A Ginástica Laboral se insere nesse contexto como um dos instrumentos de promoção da qualidade de vida do trabalhador estando, de acordo com Rosa e Pilatti (2006), estreitamente relacionada à satisfação dos trabalhadores quanto a sua capacidade produtiva no ambiente de trabalho. As iniciativas de qualidade de vida no trabalho têm dois objetivos: do lado do empregador, consiste em aumentar a produtividade e o desempenho do funcionário; do lado do funcionário, consiste em aumentar sua satisfação com o trabalho. Cañete (1996) destaca que este tipo de atividade tem como escopo principal atuar de forma preventiva, tanto de acidentes de trabalho quanto nas situações de estresse tentando promover, também, aumento do bem-estar e da disposição das pessoas.
Zilli (2002) sugere três classificações para a Ginástica Laboral em função de seu horário de aplicação: a) ginástica preparatória ou de aquecimento, com duração de 10 a 12 minutos, realizada no início do expediente e cujo objetivo é preparar o trabalhador para o trabalho físico através de exercícios de coordenação, equilíbrio, concentração, flexibilidade e resistência muscular; b) ginástica compensatória, com duração de 10 minutos, realizada durante o expediente, cujo objetivo é compensar tensões musculares por uso excessivo ou inadequado das estruturas musculoligamentares através de exercícios de alongamento, flexibilidade, respiratórios e posturais e c) relaxamento, com duração de 10 a 12 minutos, ao final do expediente, com objetivo de redução de estresse, alívio das tensões, redução de índices de desavenças com consequente melhora da função social, através de exercícios respiratórios, de alongamento, flexibilidade, auto-massagens e meditação. Embora existam outros tipos de classificação para a Ginástica Laboral, como a ginástica corretiva ou postural; a ginástica de compensação; a ginástica terapêutica e a ginástica de manutenção ou conservação (Maciel, Albuquerque, Melzer e Leônidas, 2005), a classificação em função do horário parece ser a mais utilizada nas empresas.
Para Polito e Bergamaschi (2002), os benefícios proporcionados pela Ginástica Laboral são inúmeros, destacando a promoção da saúde; a correção dos vícios posturais; a diminuição do absenteísmo; a melhora da condição física geral; o aumento de ânimo e disposição para o trabalho e a promoção do autocondicionamento orgânico. Oliveira (apud Figueiredo e Mont’Alvão, 2002) acrescenta que a Ginástica Laboral contribui, também, para a promoção da consciência corporal; preparação biopsicosocial dos praticantes; melhoria do relacionamento interpessoal; redução dos acidentes de trabalho e, consequentemente, aumento da produtividade no trabalho, com qualidade.
A Ginástica Laboral tem sido uma atividade muito explorada pelos profissionais da área da saúde do trabalhador, porém ainda encontram-se dificuldades de aceitação por empresas e instituições pela falta de embasamento científico que dê suporte à necessidade de sua implementação. A fim de tentar contribuir com o preenchimento dessa lacuna, este estudo foi elaborado com a finalidade de verificar: a) quais os benefícios de um programa de Ginástica Laboral mais percebidos pelos colaboradores de uma Instituição de Ensino Superior da cidade de Canoas, Brasil; b) como o colaborador percebe seu estado de saúde; c) em quais regiões do corpo os colaboradores mais frequentemente reportam sentir desconforto, dor ou tensão e d) no caso de colaboradores não-praticantes da Ginástica Laboral, quais as razões apontadas para justificar sua não-participação no programa.
Aspectos metodológicos
Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos do Centro Universitário La Salle, Canoas, Brasil, sob protocolo de aprovação nº 10/012. Todos os colaboradores assinaram um termo de consentimento livre e esclarecido, atendendo a todas as exigências da legislação brasileira sobre experimentos com seres humanos.
População e amostra
A Instituição de Ensino Superior, localizada na cidade de Canoas, Brasil, possuía 505 colaboradores ativos conforme informação obtida com o Departamento de Gestão de Pessoas em 01/03/2010. O universo da pesquisa foi considerado como sendo os 200 colaboradores lotados nos 22 setores onde há aplicação do programa de Ginástica Laboral. O tamanho mínimo da amostra aleatória simples foi de 133 indivíduos para que se pudesse admitir, com alta confiança, que os erros amostrais não ultrapassassem 5%. Foi adotado como critério de inclusão no estudo que os colaboradores da Instituição de Ensino Superior investigada estivessem lotados nos setores onde havia aplicação do programa de Ginástica Laboral, portanto, foram automaticamente excluídos os colaboradores lotados nos setores onde não havia aplicação do programa de Ginástica Laboral.
Procedimento de coleta de dados
Os dados foram coletados através de um questionário composto por 20 questões (16 perguntas fechadas e 4 abertas) elaborado de modo a permitir a obtenção das respostas que dessem conta dos objetivos deste estudo, o qual passou por um processo de validação de conteúdo (ANEXO A). Os questionários foram entregues aos participantes nos respectivos setores de forma a não prejudicar o andamento de seus trabalhos, de acordo com a disponibilidade de horário e funcionamento de cada setor, tendo sido recolhidos no mesmo dia.
Resultados e discussão
O programa de Ginástica Laboral da Instituição de Ensino Superior investigada iniciou no ano de 2007, com um projeto piloto. Atendia somente três setores: higienização, manutenção e vigilância. As aulas eram realizadas duas vezes por semana com duração de 10 a 12 minutos cada. No ano de 2008, a instituição expandiu o atendimento para 18 setores e em abril de 2009, passou a atender 22 setores, mantendo a freqüência de duas vezes por semana e duração de 10 a 12 minutos por aula durante o expediente de trabalho.
O perfil da amostra do presente estudo configurou-se do seguinte modo: a média de idade dos participantes foi de 32,6 anos, sendo que 51,1% eram do sexo feminino e 48,9% do sexo masculino. Quanto ao enquadramento funcional, 87,2% eram colaboradores efetivos e 12,8% eram estagiários. Com relação ao tempo de trabalho na instituição, 33,1% dos colaboradores trabalhavam há até 1 ano; 37,6% trabalhavam de 2 a 5 anos; 21,8%, de 6 a 10 anos; 4,5%, de 11 a 15 anos; 1,5%, de 16 a 20 anos e 1,5% acima de 20 anos. Quanto à lotação do setor, 77,4% exerciam função administrativa; 15,8% operacional; 5,3% vigilância e 1,5% docente. Durante a jornada de trabalho, 71,4% dos participantes permaneciam mais tempo sentados e 28,6% permaneciam em pé.Referente aos hábitos dos colaboradores, 92,5% eram não-fumantes; 7,5% eram fumantes; 58,6% dos participantes afirmaram que não praticavam nenhum exercício físico fora do local de trabalho e 41,4% que praticavam exercício.
Percepção dos benefícios do programa de Ginástica Laboral
A maior parte dos colaboradores (98,5%) respondeu que acredita que a Ginástica Laboral é necessária e 1,5% respondeu que a considera desnecessária.
Referente ao significado do programa de Ginástica Laboral na perspectiva dos colaboradores, 55,2% responderam que a Ginástica Laboral significa relaxamento; 34,3%, prevenção; 4,5%, estímulo; 3%, união; 2,2%, lazer e 0,7%, obrigação.
Quando questionados se percebiam algum benefício no programa de Ginástica Laboral, 93,2% dos participantes responderam que percebem algum benefício. O Gráfico 1 detalha os principais benefícios reportados por essas pessoas. Os demais colaboradores (6,8%) responderam que não percebem nenhum benefício.
Gráfico 1. Representação da porcentagem dos benefícios da Ginástica Laboral percebidos pelos colaboradores
Dentre os 93,2% dos colaboradores que acreditavam que a Ginástica Laboral proporciona algum benefício, 27,6% apontaram o relaxamento com benefício mais importante, seguido de prevenção de doenças relacionadas ao trabalho (18,1%); disposição para o trabalho (15,3%); redução de dores (14,8%); integração da equipe (14,5%); conscientização corporal (4,5%), motivação para fazer exercícios físicos (3,9%) e outros benefícios (1,4%). Nesta questão, os colaboradores podiam marcar até três opções de resposta. Resende, Tedeschi, Bethônico e Martins (2007) ao realizarem uma investigação com funcionários de tele-atendimento, verificaram que o programa de Ginástica Laboral por eles frequentado foi visto como uma ferramenta para o benefício da saúde e bem-estar dos trabalhadores atuando em nível de prevenção primária.
No presente estudo, observou-se que a maior parte dos colaboradores percebeu a Ginástica Laboral como necessária, tendo como significado o relaxamento e a prevenção de doenças relacionadas ao trabalho. No estudo realizado por Resende, Tedeschi, Bethônico e Martins (2007), conduzido em uma empresa da elétrica da cidade de Pouso Alegre/MG, estudos com funcionários da fábrica também apontaram o relaxamento e a prevenção como principal significado da Ginástica Laboral, porém o principal benefício percebido pelos trabalhadores foi o aumento da disposição para o trabalho.
A literatura ainda sugere outros benefícios relacionados à prática da Ginástica Laboral tais como aumento da motivação para realizar exercícios físicos, conscientização corporal, redução de dores, disposição para o trabalho e integração da equipe (Santos, Oda, Nunes, Gonçalves e Garnés, 2007; Figueiredo e Mont’Alvão, 2008). Miyamoto (apud Resende, Tedeschi, Bethônico e Martins, 2006) acrescenta que os exercícios executados durante a jornada de trabalho, mesmo que por um curto período de tempo, podem contribuir para diminuição do estresse, melhora da postura e relaxamento dos participantes. Esse último fator foi o mais apontado pelos colaboradores na presente investigação.
Santos, Oda, Nunes, Gonçalves e Garnés (2007) demonstraram que a Ginástica Laboral foi benéfica para prevenção de DORT, reduzindo as dores músculoesqueléticas e aumentando o nível de satisfação de funcionárias dos serviços gerais da Universidade Paranaense, no Brasil, proporcionando melhor qualidade na realização do trabalho, bem como, aumentando a motivação e produtividade do trabalhador. No caso do presente estudo, é interessante notar que os colaboradores não perceberam de imediato o benefício da prevenção à lesão, provavelmente em função desta ainda não ter ocorrido; em outras palavras, embora a Ginástica Laboral venha sendo utilizada como um método de prevenção das DORT, não foi percebida dessa maneira pelo grupo investigado.
Com relação à participação das aulas, 96,2% dos colaboradores responderam que gostavam de realizar as aulas e 3,8%, que não gostavam. Com relação à freqüência de aulas semanais, 54,8% dos colaboradores gostariam que a Ginástica Laboral fosse realizada 3 vezes por semana; 22,7%, 5 vezes por semana; 19,7%, 2 vezes por semana; 1,5%, 4 vezes por semana; 1,5% nenhuma vez por semana e 0,8%, somente 1 vez.
Percepção do estado de saúde do colaborador para o seu trabalho
A saúde do colaborador para a execução do seu trabalho foi considerada pelos participantes como excelente (24,8%); muito boa (39,8%); boa (28,6%) e regular (6,8%). Mesmo a maioria dos colaboradores (93,2%) tendo percebido seu estado de saúde para o trabalho em condições que variam de excelente a boa, 68,4% deles reportam sentir desconforto, tensão ou dor em alguma parte do corpo, ao passo que 31,6% afirmaram não sentir dor alguma.
De acordo com o Gráfico 2, as partes mais citadas foram costas (22,3%), pescoço (17,4%) e ombro (17,0%), o que pode ser justificado pelo exercício de funções administrativas que demandam posturas estáticas, na posição sentada, na maior parte do tempo em frente ao computador. Destaca-se, ainda, que nessa questão os colaboradores podiam marcar mais de uma alternativa de local de desconforto, tensão ou dor.
Gráfico 2. Representação da porcentagem referente as regiões do corpo onde do colaborador reporta sentir desconforto, tensão ou dor
Para Rocha apud Resende, Tedeschi, Bethônico e Martins (2007), a maior parte dos colaboradores que participa de um programa de Ginástica Laboral apresenta melhora de dores nas costas, dores musculares e cansaço. Longen apud Diniz, Carvalho, Lemos e Toscano (2008) observou em seu estudo, que dos 27 indivíduos submetidos ao programa de Ginástica Laboral durante 3 meses, apenas 6, durante a pesquisa, queixaram-se de dores no serviço de saúde de uma empresa do ramo alimentício de Curitiba. Ao final das sessões de Ginástica Laboral, após 2 anos, os registros no serviço de saúde, deste mesmo grupo, aumentaram para 18 indivíduos. Barbosa, Tommaso e Vilela apud Diniz, Carvalho, Lemos e Toscano (2008), relatam que boas orientações durante a atividade profissional, exercícios específicos, alongamento e relaxamento são de extrema importância no contexto geral da saúde do trabalhador.
Justificativas dos colaboradores por não participar da aula de Ginástica Laboral
Questionados sobre a participação nas aulas do programa de Ginástica Laboral, 63,2% dos colaboradores disseram que participavam; 29,3% participavam às vezes e 7,5% não participavam. O Gráfico 3 aponta os motivos apontados pelos coladores para justificar porque não participavam ou participavam somente algumas vezes do programa de Ginástica Laboral.
Gráfico 3. Representação da porcentagem dos motivos pelos quais parte dos colaboradores participa às vezes, ou não participa da Ginástica Laboral
Os colaboradores não-praticantes da Ginástica Laboral e os que participam somente às vezes da aula, totalizando 36,8% da amostra, alegaram que não participam por que não estão no setor no horário da aula e que não querem parar a tarefa que estão executando. Outros motivos também foram apontados, como participação em reuniões, atendimento dos alunos e ao público em geral e execução de tarefas de emergência.
Contudo, o cronograma da Ginástica Laboral na Instituição foi montado de maneira que pudesse atender o maior número possível de colaboradores em cada setor. Cabe questionar a real necessidade de ter que sair do setor no horário da aula. Além disso, os setores de atendimento ao público possuem escalas para que todos os colaboradores possam participar do programa. Nessa perspectiva, tendo em vista que 98,5% dos colaboradores consideraram a Ginástica Laboral necessária, causa estranheza que, apesar de reconhecerem a importância do programa, vários colaboradores acabem priorizando o trabalho ao invés de realizar as atividades do programa no horário da aula.
Considerações finais
A Instituição de Ensino Superior onde foi realizada essa pesquisa insere a Ginástica Laboral como parte no Programa de Qualidade de Vida no Trabalho, oferecendo-a aos funcionários em caráter obrigatório, apontando como principal benefício à prevenção de doenças relacionadas ao trabalho. Os resultados deste estudo mostram que a maioria dos colaboradores deste contexto percebe a necessidade da Ginástica Laboral, mas apontam, tanto como significado, quanto como benefício percebido, o relaxamento.
Faz-se necessário, ao implantar um programa de Ginástica Laboral, seguir alguns passos fundamentais para sua eficácia. É importante, também, que se conheçam os setores da empresa, para entender como funciona a rotina dos trabalhadores e elaborar um programa adequado às suas atividades laborais, contemplando possíveis alterações ergonômicas, tanto do ponto de vista da execução da tarefa, como de alterações do mobiliário, sem as quais, provavelmente, não haverá significativa diminuição de desconforto ou lesões. Logo, torna-se necessário repensar na forma de atuação dos profissionais responsáveis pela Ginástica Laboral, os quais devem levar em conta aspectos como um profundo conhecimento de ergonomia que permitam realizar avaliações e alterações nos postos de trabalho. Além disso, os programas de Ginástica Laboral devem ser reavaliados, preferencialmente a cada três meses, a fim de realizar modificações necessárias na prescrição de exercícios de modo a atingir seus objetivos. Cabe à Instituição disponibilizar ao profissional responsável pela Ginástica Laboral a oportunidade de realizar um trabalho de divulgação e informação sobre o programa junto aos colaboradores a fim explicar os benefícios desta prática durante o expediente de trabalho de modo a motivar os colaboradores que não param as tarefas que estão executando a mudar de atitude, engajando-se no programa a partir do reconhecimento de sua importância.
Acredita-se que a Ginástica Laboral produz benefícios para os colaboradores, mas, ainda assim, poucas empresas disponibilizam aos seus funcionários a estrutura necessária para que o programa seja eficaz. Geralmente não há um espaço físico adequado para a realização das atividades propostas, fazendo com que alguns colaboradores sintam-se incomodados, constrangidos e desconfortáveis. Quanto ao tempo de duração de cada aula e frequência semanal, sugere-se que a duração da aula deva ser de 10 a 15 minutos e a frequência de, no mínimo, três vezes por semana. Orientações posturais também podem ser realizadas pelo responsável pelo programa durante a jornada de trabalho dos colaboradores. A Ginástica Laboral deve ser abordada juntamente com a ergonomia. É importante tratarmos das causas do desconforto, tensão ou dor, visto que somente uma ação conjunta surtirá o efeito desejado.
Fazem-se necessários mais estudos científicos relativos aos programas de Ginástica Laboral que apontem os reais efeitos e benefícios fisiológicos a eles relacionados, de maneira a justificar sua aplicação no meio empresarial através do reconhecimento, aceitação e credibilidade.
Questionário Ginástica Laboral
1. Idade: ____ anos
2. Sexo:
( ) feminino ( ) masculino
3. Fumante?
( ) sim ( ) não
4. Há quanto tempo trabalha na Instituição? __________________________
5. Colaborador:
( ) efetivo ( ) estagiário
6. Lotação do setor?
( ) administrativo ( ) vigilância ( ) docente ( ) operacional
7. Como você considera o seu estado de saúde para a execução do seu trabalho?
( ) excelente ( ) muito boa ( ) boa ( ) regular ( ) ruim
8. Você sente algum desconforto, tensão ou dor?
( ) sim ( ) não
9. Se a resposta da questão anterior foi “sim”, marque qual ou quais regiões do seu corpo você sente o desconforto, tensão ou dor:
( ) pescoço ( ) ombro ( ) braço ( ) cotovelo ( ) punho
( ) mão ( ) dedos da mão ( ) perna ( ) joelho ( ) tornozelo
( ) costas ( ) pé ( ) cabeça
10. Durante a jornada de trabalho, em qual das posições citadas você permanece por mais tempo realizando suas atividades?
( ) sentado ( ) em pé
11. Você conhece o Programa de Qualidade de Vida do Trabalhador da Instituição?
( ) sim
( ) não conheço, mas já ouvi falar
( ) não conheço e nunca ouvi falar
12. Você participa das aulas do Programa de Ginástica Laboral da Instituição?
( ) sim ( ) não ( ) as vezes
Se a resposta da questão anterior foi “não” ou “ás vezes”, responda a questão 13.
13. Você não participa da aula por quê?
( ) não sente vontade de realizar a aula
( ) acha que a Ginástica Laboral não serve para nada
( ) não quer parar a tarefa que está executando
( ) não está no setor no horário da aula
( ) está sentindo algum desconforto, dor ou tensão
( ) outros motivos. Quais?_____________________________________________________________
14. Qual a importância da Ginástica Laboral?
( ) necessária ( ) desnecessária
15. O que a Ginástica Laboral significa pra você? (Marque somente uma alternativa)
( ) lazer ( ) relaxamento ( ) união ( ) obrigação
( ) estímulo ( ) prevenção ( ) outro. Qual?_____________________
16. A Ginástica Laboral proporciona algum benefício pra você?
( ) sim ( ) não
17. Se a resposta da pergunta anterior foi “sim”, marque no máximo 3 benefícios que você considera que a Ginástica laboral lhe proporciona.
( ) integração da equipe
( ) disposição para o trabalho
( ) relaxamento
( ) redução de dores
( ) conscientização corporal
( ) prevenção de doenças relacionadas ao trabalho
( ) motivação para fazer exercícios físicos fora do local de trabalho
( ) outros. Quais?______________________________________________________________________
18. Você gosta de realizar as aulas de Ginástica Laboral?
( ) sim ( ) não
19. Quantas vezes por semana você acha que a Ginástica Laboral deveria ser aplicada no seu setor?
( ) nenhum
( ) somente 1 vez
( ) 2 vezes por semana
( ) 3 vezes por semana
( ) 4 vezes por semana
( ) 5 vezes por semana
20. Você pratica algum exercício físico fora do local de trabalho?
( ) não ( ) sim. Qual? __________________________________________
Referências
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CUNHA, C.E.G.; QUEIRÓZ, P.S.; HATEM, T.P.; GUIMARÃES, V.Y.M. LER – lesões por esforços repetitivos – revisão. Revista Brasileira de Saúde Ocupacional, v. 76, p. 47-59, 1992.
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POLITO, E.; BERGAMASCHI, E. C. Ginástica laboral: teoria e prática. Rio de Janeiro: Sprint. 2002, 76p.
RESENDE, M.C.F.; TEDESCHI, C.M.; BETHÔNICO, F.P.; MARTINS, T.T.M. Efeitos da ginástica laboral em funcionários de teleatendimento. Acta Fisiatr., v.14, n.1, p. 25-31, 2007.
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ZILLI, C.M. Manual de cinesioterapia/Ginástica Laboral, Uma Tarefa Interdisciplinar com Ação Multiprofissional. Curitiba: Lovise. 2002.
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