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Perfil epidemiológico dos pacientes com fraturas de membros 

inferiores, registrados nas clínicas de fisioterapia de Ubá, MG

Perfil epidemiológico de los pacientes con fracturas en miembros inferiores, registrados en las clínicas de fisioterapia de Ubá, MG

Epidemiological profile of patients with lower limb fractures, registered in physical therapy clinics in Uba, MG

 

*Acadêmica do curso de Fisioterapia

da Universidade Presidente Antônio Carlos – UNIPAC, Ubá

**Fisioterapeuta pós-graduado em Fisioterapia Ortopédica e Traumatológica

Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) USP

Dayana de Oliveira Fernandes*

Geovane Elias Guidini Lima**

dayana_senfir@yahoo.com.br

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          Objetivos: Analisar o perfil epidemiológico dos pacientes que sofreram fraturas de membros inferiores, identificando o tipo das fraturas, assim como explorar a situação que levou ao trauma, investigando o tempo entre o procedimento (conservador ou cirúrgico) e o início da reabilitação fisioterapêutica nos pacientes registrados nas clínicas de fisioterapia do município de Ubá – MG. Materiais e métodos: Foram analisados 86 prontuários com fraturas de membros inferiores. O instrumento de análise foi um questionário para a coleta dos dados. Para análise dos dados utilizou-se a estatística descritiva com cálculos de médias, desvio padrão e porcentagem. Resultados: A maior incidência das fraturas foi no sexo masculino (61,6%) e nos casados (59,3%). Os pacientes avaliados tinham média de idade de 40,6­­­­­­­ anos, vítimas principalmente de traumatismos por veículos automotores (29,1%), sendo os ossos do pé, em especial o calcâneo, os mais acometidos (33,7%). Como procedimento pós - fratura, o método mais utilizado foi engessamento. O tempo de imobilização média foi de 34,5 dias e 47,9 dias para o início da reabilitação fisioterápica. Conclusão: Admitindo-se ser os veículos automotores a causa mais freqüente das fraturas de membros inferiores, acometendo principalmente os ossos do pé, sendo estes submetidos à imobilização gessada. Os períodos de imobilização e início da reabilitação foram de 34,5 e 47,9 dias respectivamente. A fisioterapia pode atuar tanto na prevenção dos acidentes automotores, quanto no pós-trauma, incluindo o pré-operatório e pós-operatório imediato, visando uma recuperação mais breve.

          Unitermos: Fraturas. Membros Inferiores. Fisioterapia.

 

Abstract

          Objective: To analyze the epidemiological profile of patients that suffered lower limb fractures, identifying the type of fractures, as well as exploit the situation that led to trauma by investigating the time between the procedure (surgical or conservative) and the start of the rehabilitation physiotherapy for patients registered in the physiotherapy clinics in the city of Uba - MG. Materials and methods: 86 medical records were analyzed with lower limb fractures. The analysis instrument was a questionnaire for the data collection. For data analysis was used descriptive statistics with calculation of measures, standard deviation and percentage. Results: The highest incidence of fractures was among males (61,6%) and married (59,3%). The patients evaluated had a mean age of 40.6 years, victims, mainly, of injuries from motor vehicles (29,1%), and foot bones, especially the heel, the most affected (33,7%). As procedure post - fracture, the method most used was the plaster. The average detention time was 34,5 days and 47,9 days for the start of physical therapy rehabilitation. Conclusion: Assuming to be the automotive vehicles the most frequent cause of lower limb fractures , affects  mainly  the bones of the feet , been these submitted to cast immobilization. The periods of immobilization were 34,5 and 47,9 days respectively. The physiotherapy ca act as in the prevention of vehicles accidents, as in the post-trauma, including preoperative and posperative, seeking a brief rebound.

          Keywords: Fractures. Lower limb. Physiotherapy.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 16, Nº 155, Abril de 2011. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    A fratura pode ser considerada como uma interrupção completa ou parcial na continuidade de um osso, quando a força aplicada sobre ele é superior à sua elasticidade1,2.

    Os tipos de fraturas variam de acordo com o tipo de trauma. Os traumas geralmente são dois grandes grupos: trauma penetrante e trauma fechado1. No primeiro, o osso é atingido por um objeto e/ou atinge uma superfície dura, como os ferimentos por armas brancas (faca), armas de fogo e quedas sobre objeto pontiagudo, produzindo a fratura no local do impacto, onde as partes moles também serão danificadas1-4. No caso dos traumas fechados, o osso é submetido a uma força de  torção, na qual os acidentes automobilísticos constituem a causa mais comum2. As quedas2,4,5, os acidentes de trabalho1,2, afogamentos, queimaduras e soterramentos também fazem parte desse grupo, resultando em fraturas nos locais de mais tensões, contudo, podendo não ocorrer lesão das partes moles2.

    O trauma assume importância em âmbito mundial, sendo caracterizado por alterações estruturais ou desequilíbrio fisiológico de organismo induzido pela troca de energia entre os tecidos e o meio. Essas vítimas apresentam um quadro clínico complexo e crítico, necessitando de medidas intervencionistas de caráter imediato de uma equipe de saúde, e dentre eles, encontra-se o profissional fisioterapeuta, que contribui de forma essencial para sua reabilitação6-8.

    Dentre as principais conseqüências dos traumas, encontram-se as fraturas nos membros inferiores, onde aproximadamente um terço destas são devido a acidentes motociclísticos. Acreditam - se que o uso da moto, devido principalmente ao baixo custo, como instrumento de trabalho e como meio de locomoção, e a maior exposição dos membros inferiores nesta modalidade de transporte contribuem para este resultado2,5.

    A incidência de fraturas do quadril no Brasil é estimada em 153,3 fraturas de quadril por 100.000 pessoas com 50 anos ou mais, o que representaria mais de 45.000 fraturas por ano. Contudo, para o ano de 2050, é estimada em todo o mundo a ocorrência de 6,3 milhões de fraturas de quadril para os idosos, a maior parte em mulheres na pós-menopausa9. As fraturas diafisárias e supracondilianas do fêmur e as patelares geralmente são traumáticas, e afetam principalmente jovens, sendo estas acompanhadas de outras lesões. Já as fraturas da extremidade distal da tíbia e fíbula, ocorrem geralmente devido a entorses, onde ocorre uma força de compressão; e as do pé, devido a quedas da própria altura e/ou por uma queda de um objeto pesado sobre o mesmo3,4,5.

    Dentre os tratamentos ortopédicos para as fraturas, pode-se destacar o tratamento incruento, utilizado quando os pacientes apresentam indicações ou co-morbidades que contra-indiquem a cirurgia. Essa estabilização tem por objetivo prevenir o movimento da fratura, para que possa ocorrer uma reparação eficaz da lesão, utilizando na maioria das vezes, a imobilização gessada, variando de acordo com o osso fraturado e a região10.

    O tratamento cruento visa proporcionar uma estabilização imediata. Dentre os dispositivos, a fixação interna promove essa estabilização, melhorando as condições das partes moles e do processo de cicatrização, e a facilitação da mani­pulação e da irrigação sanguínea, o que diminui a incidência de infecção óssea. A vantagem na reabilitação é que as articulações acima e abaixo da fratura permanecem livres para mobilização precoce5. O maior perigo é a infecção, na qual todas as vantagens promovidas pela fixação interna podem ser perdidas, retardando o processo de consolidação óssea4,5,11.

    O tratamento também pode ser realizado através de fixadores externos, compostos basicamente por fios ou pinos de fixação, hastes longitudinais de sustentação, elementos de conexão entre os pinos ou fios e as hastes12, sendo feita de maneira emergencial ou temporária, sendo secundariamente substituído, por métodos que empregam a osteossíntese interna13.

    Durante as últimas quatro décadas, efeitos deletérios de repouso prolongado no leito e imobilidade têm sido reconhecidos. Supõe-se que a inatividade facilite a cura da parte do corpo afetado, por exemplo, quando é realizada a imobilização gessada para que ocorra o efeito benéfico da cicatrização óssea após fraturas. Porém, os efeitos adversos da imobilização prolongada também podem ocorrer como contratura articular, atrofia muscular e óssea das partes sadias do membro14.

    O sistema osteomuscular é o mais acometido pelo imobilismo, sendo apresentado como papel fundamental no processo de reabilitação pós-trauma. A cinesioterapia restabelecerá a amplitude de movimento articular e a força muscular perdidas neste processo, seja ela passiva, ativa, ativo-assistida ou resistida; levando sempre em consideração, o processo de cicatrização dos tecidos peri-articulares e com o processo álgico, pontos fundamentais para reabilitação com sucesso15.

    Quando lesões acometem os membros inferiores, o objetivo do tratamento aplicado visa obter ou readquirir apoio estável e uma mobilidade ampla por meio da continuidade anatômica do sistema osteoarticular, de movimentos articulares adequados e da força muscular suficiente que possibilitem ao indivíduo realizar atividades de vida diária (AVDs), além das atividades recreativas e desportivas 3,4.

    A fisioterapia é fundamental na fase pós-fratura, devendo ser iniciada de forma precoce, sendo que os resultados satisfatórios dependem muito do tempo de início do processo reabilitador e da própria conduta adotada pelo profissional. Os pacientes que estão nesse processo, devem ser alertados de que este tratamento organizado é apenas uma parte da reabilitação, e que o resultado final depende muito da continuidade das atividades normais tanto quanto possível quando ele estiver fora das sessões de fisioterapia1,5,10.

    Frente à alta incidência de fraturas, ao grande interesse na área de traumato - ortopedia e a importância da fisioterapia no pós-operatório imediato, faz-se necessário um estudo para verificar a prevalência das fraturas de membros inferiores e sua etiologia, bem como o tempo de imobilização e o início do processo reabilitador, podendo através deste traçar a realidade destes eventos na cidade de Ubá - MG.

    A pesquisa torna-se relevante, pois centra-se no seu benefício para a comunidade científica e os acadêmicos de fisioterapia, onde propicia informações sobre os principais tipos de fraturas de membros inferiores e suas principais causas na população de Ubá – MG; permitindo através dos resultados encontrados uma ampla discussão sobre o tempo do início do processo reabilitador para esses pacientes, além de fundamentar novas pesquisas na área; direcionar programas preventivos pelos fisioterapeutas e propiciar o pensamento técnico-científico no planejamento da conduta terapêutica.

    Dessa forma, estudos epidemiológicos contribuem notadamente para especificar características de determinadas lesões traumato-ortopédicas, bem como, auxiliar na sua prevenção e tratamento. O presente estudo visa analisar o perfil epidemiológico dos pacientes que sofreram fraturas de membros inferiores, identificando o tipo das fraturas, assim como explorar a situação que levou ao trauma, investigando o tempo entre o procedimento (conservador ou cirúrgico) e o início da reabilitação fisioterapêutica nos pacientes registrados nas clínicas de fisioterapia do município de Ubá - MG.

Materiais e métodos

Tipo de estudo

    O estudo é uma pesquisa de campo, do tipo exploratório e descritivo, realizado em clínicas de fisioterapia do município de Ubá – MG, no período de Agosto a Outubro de 2010.

Cenário do estudo

    Tratando esta pesquisa de uma exclusiva revisão de prontuário não havendo nenhum tipo de contato com os pacientes. O universo do estudo englobou a análise dos prontuários dos pacientes, que estão ou estavam em reabilitação nas clínicas de fisioterapia do município de Ubá – MG devido quadro de fratura(s) em membro(s) inferior(s) nos últimos 3 anos (Julho de 2007 à Julho de 2010). O contato com as clínicas ocorreu por meio de um ofício, em que foram apresentados os objetivos do estudo e solicitado autorização para a realização do mesmo.

Característica da amostra

    No presente estudo foram analisados 86 prontuários de pacientes, cadastrados nas clínicas de fisioterapia do município de Ubá - MG, que tiveram fraturas de membros inferiores, independentemente do sexo, raça e casuística da fratura. Os critérios de exclusão foram os prontuários que não forneciam dados necessários para estudo (como motivo da fratura, sua localização e procedimentos médicos adotados), prontuários de pacientes que sofreram apenas ferimentos nos membros inferiores, embora tenham sofrido fratura de outras partes do corpo, além de prontuários de pacientes que sofreram amputação seja ela traumática ou não. A forma de obtenção da amostra foi aleatória.

Instrumento

    O instrumento utilizado foi um questionário para coleta dos dados (Anexo I), referentes à idade, sexo, raça, estado civil, além da história patológica, etiologia da fratura, localização, procedimento médico adotado e tempo entre o procedimento adotado e o início da reabilitação fisioterapêutica.

Procedimentos para coleta de dados

    As informações foram coletadas junto às clínicas de fisioterapia do município de Ubá – MG no período de Agosto à Outubro de 2010, através das fichas e prontuários de atendimento, sendo selecionadas as que correspondiam ao período de Julho de 2007 a Julho de 2010. Àqueles que apresentaram fraturas de membros inferiores, perfizeram um total de 86 prontuários. Foram consideradas perdas amostrais os prontuários incompletos e aqueles em que a instituição não deu autorização para a pesquisa (2 clínicas). Estes dados foram inseridos num banco de dados criado no Microsoft Office Excel, para cruzamento das informações, gerando assim as tabelas, que foram apresentadas no corpo do presente trabalho.

Análise dos dados

    A análise estatística dos dados foi realizada através de um estudo descritivo e analisados a partir das médias e desvio padrão, além do percentual das amostras, obtidas através da coleta.

Resultados

    Os aspectos abordados na coleta de dados dos prontuários foram organizados de acordo com o objetivo do trabalho, que consiste em analisar o perfil epidemiológico dos pacientes que sofreram fraturas de membros inferiores, identificando o tipo das fraturas, assim como explorar a situação que levou ao trauma, investigando o tempo entre o procedimento (conservador ou cirúrgico) e o início da reabilitação fisioterapêutica.

    O presente estudo foi composto de 86 prontuários de pacientes que sofreram fraturas de membros inferiores, atendidos nas clínicas de fisioterapia do município de Ubá - MG nos últimos 3 anos. Da amostra total, 61,6% eram do sexo masculino (idade média 40,6­­­­­­­ ± 14,1 anos) e 38,4% do sexo feminino (idade média 45,9 ± 7,5 anos). A maior parte da população estudada encontra-se nas faixas etárias consideradas produtivas, até 40 anos. A grande maioria era casada (59,3%, n=51) e apenas 23,2% solteiros (n=20).

Tabela 1. Características dos pacientes vítimas de fraturas de membros inferiores

    Observa-se, na tabela 2, que o tipo de acidente que mais causou as fraturas foram os veículos automotores, com 25 vítimas (29,1%), 21 pacientes foram vítimas de quedas da própria altura (24,4%) e 17 (19,7%) tiveram como etiologia o acidente de trabalho. Entre os pesquisados, verifica-se que ainda 12 pacientes são vítimas de quedas (13,9%), seguidos de acidentes esportivos (6,9%) e ciclísticos (3,4%) e atropelamento (2,3%).

Tabela 2. Tipo de acidentes que levaram as fraturas

    Para a caracterização das fraturas, o local mais acometido foram ossos do pé (33,7%), porém houve também uma alta prevalência de fraturas em mais de um local, perfazendo um total de 20 prontuários (23,3%). A fratura do fêmur atinge 19,7% dos avaliados, sendo encontrada, principalmente em indivíduos com idades acima de 30 anos. Em relação à patela, foram encontrados 09 prontuários (10,5%), visto que esta foi ocasionada por acidentes automobilísticos, em especial, com motos. Já as demais fraturas não apresentaram grandes incidências, onde as de tíbia foram de 8,1%, seguida pelas de quadril 3,5% e as de fíbula de 1,2% (tabela 3).

Tabela 3. Localização das fraturas e sua incidência entre os sexos

    No que diz respeito ao procedimento médico adotado, observou-se que o gessamento é o principal, representando quase metade dos procedimentos (48,8%). Contudo, os que utilizaram fixadores internos, independente do tipo de fixador, perfazem um total de 25 procedimentos adotados na fixação das fraturas pesquisadas (29,1%), seguidos da utilização de fixadores externos e conseqüente fixação interna (13,9%), fixadores externos (4,6%) e outras mobilizações (3,4%). Com relação ao tempo de imobilização destas fraturas, o tempo médio foi de 34,5 ± 31,9 dias, sendo o período antecedente ao início do tratamento fisioterapêutico de 47,9 ± 31,2 dias (tabela 4).

Tabela 4. Procedimentos realizados na fixação das fraturas de membros inferiores, tempo de imobilização e período antecedente ao tratamento fisioterapêutico

Discussão

    Foi identificado um predomínio de vítimas do sexo masculino, ou seja, dos 86 prontuários analisados, 53 (61,6%) eram homens e 33 (38,4%) mulheres. O mesmo acontece no estudo de Lobato et al16, sobre o perfil clínico epidemiológico dos pacientes com fraturas de membros inferiores atendidos no Hospital Metropolitano de urgência e emergência, onde a predominância foi do sexo masculino (57,58%). A média de idade para o sexo masculino ficou em 40,6 anos e para o sexo feminino em 45,9 anos. Já Zago et al1, obtiveram a média de 30 anos para sexo masculino e 56 anos para o feminino.

    Para à variável estado civil, houve prevalência de casados (59,3%), seguidos por solteiros (23,2%). Porém tanto no estudo de Orsati et al 17, avaliando o perfil da população fraturada internada na Santa Casa de São Paulo, como de Zago et al 1, avaliando a incidência de atendimentos fisioterapêuticos em vítimas de fraturas em um hospital universitário, houve predomínio da população solteira (46,3%).

    A incidência de fraturas de membros inferiores está cada vez mais acentuada, decorrentes principalmente de acidentes no trânsito, em especial os motociclísticos17,18. Em relação a esta grande incidência, os estudos de Zago et al 1 e Itami et al 8, apontaram dentre os mecanismos de traumas, uma alta representatividade das fraturas de membros inferiores, com 73% e 46,8% respectivamente, dados semelhantes em outros estudos7,12.

    O tipo de acidente que mais causou fraturas foi por veículos automotores (29,1%), seguido de quedas da própria altura (24,4%) e acidentes de trabalho (19,7%), sendo as demais representadas por 26,5% da amostra. Estudo de Lobato et al16, apontou também a queda da própria altura (35%) e os acidentes com veículos automotores (26%) como as duas principais causas de fraturas de membros inferiores. No estudo de Batista et al 7, analisando comparativamente os mecanismos de trauma, as lesões e perfil de gravidade das vítimas em Catanduva - SP, demonstrou que os acidentes automotores foram os mais freqüentes (56,7%). Já Chueire et al 19, a queda da própria altura foi encontrada somente em 19% das vítimas.

    Os acidentes de trabalho representaram aproximadamente 20% de nossa amostra como fator causal para as fraturas de membros inferiores. O estudo feito por Zangilorani et al 20, que investiga a topologia do risco de acidentes de trabalho em Piracicaba – SP, as fraturas causadas por acidentes de trabalho aparecem atingindo 9,5% de sua amostra, enquanto Zago et al 1 esta causa foi representada por apenas 5,2%.

    Com relação às regiões anatômicas mais acometidas, o estudo atual destacou 33,7% de fraturas no pé, em especial as de calcâneo. Júnior et al 12 demonstraram em seu estudo que a incidência dessas fraturas é de grande significância, sendo representada no mesmo por 77% das lesões ortopédicas traumáticas, em especial as torções, em crianças e adolescentes. Porém, Arruda et al.21 num estudo epidemiológico e prospectivo sobre fraturas expostas, apresentou apenas 4,9% de fraturas nessa região.

    Houve também uma alta prevalência em indivíduos que apresentaram mais de um local fraturado, sendo representado por 23,3% dos prontuários analisados, onde a maioria era composta por fraturas tanto de fíbula quanto de tíbia. Esse achado corrobora com o estudo de Arruda et al 21 onde as fraturas dos ossos da perna foram encontradas com maior freqüência (37,86%).

    A fratura de fêmur também teve grande destaque (19,7%). Dentre os principais motivos causadores dessas fraturas a literatura apresenta quedas em idosos22,23 e acidente de trânsito24. Fabrício et al 22, em seu estudo, constata que as quedas em idosos são responsáveis por 62% das fraturas de membros inferiores, sendo o fêmur o osso mais atingido. No estudo de Muller et al 25, em estudo epidemiológico e clínico de pacientes portadores de fraturas expostas atendidos em um hospital universitário, as fraturas de fêmur representaram 10,1%. Dados semelhantes são encontrados em outros estudos16,26,27.

    Segundo a localização das fraturas, a patela é tida como a quarta variável de maior incidência (10,5%), acometendo principalmente o sexo masculino. Entretanto, para Cohen et al 28 as fraturas de patela representam apenas cerca de 1% de todas as fraturas. As demais fraturas representaram 12,8% da amostra do presente estudo.

    Quanto ao tipo de procedimento médico realizado, a maior incidência indicou o engessamento, com 42 casos (48,8%). Em relação à fixação das fraturas utilizando osteossíntese, o estudo obteve 25 casos, representando 29,1%. Já a utilização do fixador externo seguido da fixação interna, a utilização apenas de fixador externo e outros tipos de imobilização, representaram 13,9%, 4,6% e 3,4% dos casos. Entretanto, o estudo atual aponta valores distintos àqueles apresentados por Rocha et al 29, no qual o tratamento mais utilizado após a fratura do membro inferior foi a osteossíntese com 86,32%. Porém Cunha et al 30 constataram que quanto ao tratamento, 91,7% dos pacientes foram submetidos ao tratamento conservador e 8,3% apenas ao tratamento cirúrgico. Tal divergência pode ser explicada pelo fato do autor ter realizado o estudo predominantemente com crianças e adolescentes, porém o presente estudo envolve todas as idades.

    Com relação ao tempo médio decorrido entre o procedimento adotado e o início do tratamento fisioterapêutico encontrou-se em média 47,9 ± 31,2 dias e tempo de imobilização de cerca de 34,5 ± 31,9 dias.

    Para Lopéz et al 31 em seu estudo sobre efeitos da imobilização prolongada e atividade física, um dos efeitos de uma imobilização são as contraturas, onde estas podem envolver os músculos e outros tecidos moles que rodeiam a articulação, provocando atrofia e redução funcional pelo desuso. Segundo Machado et al 32, a Fisioterapia tem como objetivo nesta fase da reabilitação, minimizar as seqüelas do pós-operatório e acelerar a recuperação funcional do paciente em fase hospitalar, visando um retorno mais breve às suas atividades de vida diária, prevenindo com isso os efeitos deletérios da imobilização.

    A princípio o questionário era composto por perguntas referentes ao tempo de permanência no hospital, se houve atendimento fisioterapêutico nesse período, assim como se o mesmo foi encaminhado à fisioterapia após alta hospitalar e quanto tempo foi à duração do tratamento. Contudo estas informações não estavam sendo encontradas com freqüência, sendo então excluídas do questionário, pois caso contrário, a maioria seria considerada um critério de exclusão.

    Contudo, esses achados devem incentivar a elaboração de ações preventivas e terapêuticas específicas às causas, para amenizar a incidência de fraturas de membros inferiores e contribuir com a qualidade de vida da população estudada, onde a pesquisa em questão abre caminhos para continuação deste estudo, onde os dados serão coletados diretamente aos pacientes, obtendo assim, informações referentes a atendimentos fisioterapêuticos hospitalares, onde estes normalmente não são encontrados nos prontuários, alegando a importância da Fisioterapia hospitalar, na promoção e intervenção desde posicionamentos adequados para evitar complicações, diminuição do desconforto, até o treino de marcha com o paciente, diminuindo assim o tempo de internação e os gastos hospitalares.

Conclusão

    No presente estudo, verificamos que prevalência de fraturas de membros inferiores da população de Ubá, nos últimos 3 anos foi no sexo masculino (61,6%). A média de idade da população avaliada foi de 41 anos, vítimas principalmente de veículos automotores, sendo os ossos do pé, fêmur e patela os mais acometidos. A imobilização gessada foi o procedimento mais optado em relação ao tratamento das fraturas. A imobilização foi em média de 34,5 ± 31,9 dias, e estes eram encaminhados ao tratamento fisioterapêutico após um tempo médio de 47,9 ± 31,2 dias.

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  30. Cunha MF, Figueiredo LA, Coelho LFA, Malheiros DS, Terra DL, Lima CLFA. Fraturas diafisárias de fêmur em crianças e adolescentes. Rev. Brás. Ortop. 2007, 15(2): 80-83.

  31. Lopéz RFA, Raposo AC. Efeitos da imobilização prolongada e atividade física. EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Nº 50, 2002. http://www.efdeportes.com/efd50/efeitos.htm

  32. Machado DC. Fisioterapia hospitalar efeitos Fisiológicos da imobilização, 2002, [periódico da Internet] disponível em http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed acesso em 29/10/10.

ANEXO 1

Questionário

o Nome: _____________________________________ Idade: ____ anos

o Nascimento: ___/___/___ Sexo: ( ) masculino ( ) feminino

o Raça: ( ) branca ( ) negra ( ) parda ( ) amarela

o Estado civil: ( ) solteiro ( ) casado ( ) separado/ divorciado ( ) viúvo(a)

o Etiologia (motivo) da fratura:

( ) atropelamento ( ) acidentes automobilísticos

( ) queda própria altura ( ) Queda altura?

( )acidente de trabalho ( ) outros – Qual? ___________________________________

o Dia do trauma: ___/___/___ (ou o mês e ano do trauma)- calcular dias aproximados

o Local da fratura: ( ) quadril (acetábulo, pelve...)______________________________

( ) fêmur _____________________________________________

( ) patela ______________________________________________

( ) tíbia ________________________________________________

( ) fíbula _______________________________________________

( ) pé _________________________________________________

o Procedimento adotado: ( ) gessamento

( ) fixador interno (osteossínteses)

Qual? (se houver raio-x)____________________________________________

( ) fixador externo

( ) outras imobilizações:_________________________

o Data da cirurgia (se houver): ___/___/___

o Quantos dias permaneceu imobilizado? _____________

o Médico responsável: ______________________________________________

o Se cirurgia: Tempo de permanência no hospital: __________ dias.

o Recebeu atendimento fisioterapêutico hospitalar? ( ) sim ( ) não

o Após a alta hospitalar, foi encaminhado a fisioterapia? ( ) Sim

( )Não

( ) Não consta

o Após quantos dias começou a realizar a fisioterapia (após a cirurgia ou imobilização?) ______________________

o Tempo de tratamento fisioterápico: _____meses e/ou _____sessões

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