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Lazer, trabalho e sociedade: notas 

introdutórias sobre o lazer como um direito social

Tiempo libre, trabajo y sociedad: apuntes introductorios sobre el ocio como un derecho social

 

*Licenciado em Educação Física pela Universidade Municipal de São Caetano

do Sul/USCS. Professor da Rede Estadual de Ensino do Estado de São Paulo

Cursando a especialização em Educação Física Escolar

na Universidade de Brasília (UNB).

**Doutor em Educação Física pela UNICAMP.

Professor da graduação e do mestrado em Educação Física da Universidade de Brasília/UnB,

Membro da Direção Nacional do Colégio Brasileiro de Ciências do Esporte, CBCE

Coordena, em conjunto com o professor Fernando Mascarenhas,

o AVANTE – grupo de pesquisa e formação sócio-crítica

em educação física, esporte e lazer da UnB.

***Licenciado em Educação Física pela Universidade Católica de Brasília

Mestre em Educação Física pela Universidade de Brasília (UnB)

Doutorando do Programa de Pós-Graduação em Política Social da UnB

Erick Rodrigo Fernandes*

Edson Marcelo Húngaro**

Pedro Fernando Athayde***

erickposunb@gmail.com

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          O presente estudo é uma revisão bibliográfica que teve por foco a análise crítica do entendimento do Lazer na sociedade contemporânea. Tratou-se de resgate histórico sobre o significado conceitual do lazer e, conseqüentemente, da sua materialidade nos limites das relações sociais capitalistas. Essa temática foi escolhida devido à relevância do fenômeno, pois é notório o crescimento do interesse em torno da mesma. Julgamos ser absolutamente necessário dar continuidade no aprofundamento dos conhecimentos e discussões em torno do Lazer a fim de que possamos aumentar a consciência da população sobre as múltiplas dimensões econômicas, culturais e políticas presentes nas dinâmicas sociais produtoras e influenciadas por este fenômeno. Tal relevância cresce ainda mais na medida em que se percebe a fragilidade com que os órgãos governamentais têm compreendido o Lazer. Ao que parece, na maioria das vezes, ele não é entendido como um direito social, mas muito mais como uma mercadoria ou serviço a ser disponibilizado. Isto, em parte, deve-se a uma compreensão que reduz os aspectos históricos e sociais do Lazer, restringindo-o à dimensão moralizante e/ou de consumo. Para a realização da pesquisa, algumas etapas foram projetadas e, partes delas, já foram realizadas. Das partes realizadas, ora apresentamos os resultados referentes aos seguintes aspectos:

          - Ao estudo da gênese do lazer na sociedade moderna;

          - À análise das diversas visões em relação ao fenômeno;

          - À compreensão das relações entre lazer e trabalho;

          - E ao estudo sobre a possibilidade de entendimento do Lazer como um Direito Social.

          Com este estudo preliminar, percebemos que, ao longo da história do capitalismo, as relações trabalho/lazer formam um sistema constituído por um movimento interdependente e que o fenômeno do Lazer, como esfera própria e concreta, originou-se a partir da revolução industrial. Para os autores marxistas, o tempo de lazer é poluído pelos valores calamitosos do capitalismo, no entanto, ressaltando o seu caráter contraditório, alertam para a necessidade de que este deva ser considerado como uma reivindicação social necessária ao desenvolvimento completo do homem e não apenas como um meio para descansar, consumir determinados produtos e reproduzir a força de trabalho. Percebemos também, que a compreensão do Lazer como um direito social tem relação com o direito ao tempo livre do trabalho, às férias, ao repouso semanal e ao acesso aos bens culturais produzidos pela humanidade e que a conquista destes direitos está ligada às lutas dos movimentos trabalhistas por igualdade. Concluímos que o Lazer é de fato um direito social que pode contribuir para a transformação dessa sociedade e que o Estado deve se preocupar na elaboração e execução das políticas sociais para o Lazer, sendo que a garantia desse direito demanda a implementação de programas concretos para sua efetivação.

          Unitermos: Lazer. Trabalho. Sociedade.

 

Resumen
          Este estudio es una revisión de la literatura que se centra en el análisis crítico de la comprensión del ocio en la sociedad contemporánea. Se trata de rescatar el significado histórico del concepto de ocio y, en consecuencia, su importancia relativa dentro de los límites de las relaciones sociales capitalistas. Este tema fue elegido debido a la relevancia del fenómeno, que es el del crecimiento notable de interés en torno al mismo. Creemos que es absolutamente necesario dar continuidad a la profundización de conocimientos y debates en torno del ocio para que podamos ampliar la sensibilización de la población acerca de las múltiples dimensiones de la dinámica económica, cultural, político y social actual en la producción y la influencia de este fenómeno. Esta importancia está creciendo aún más al darse cuenta de la fragilidad con la que los organismos gubernamentales han comprendido el ocio. Parece que en la mayoría de los casos, no lo entiende como un derecho social, sino más bien como una mercancía o servicio que se presta. Esto se debe en parte a un acuerdo que reduce los aspectos históricos y sociales del ocio, restringiéndolo a la dimensión moralizante y/o de consumo. Para la investigación, algunas etapas han sido diseñadas y otras se han llevado a cabo. De los aspectos realizados, presentamos los resultados relacionados con:

          • El estudio de la génesis de ocio en la sociedad moderna;

          • El análisis de las diversas opiniones sobre el fenómeno;

          • La comprensión de la relación entre el ocio y el trabajo;

          • Y el estudio sobre la posibilidad de entender el ocio como un derecho social.

          Con este estudio preliminar, nos dimos cuenta de que, a lo largo de la historia del capitalismo, las relaciones de trabajo/ocio forman un sistema que consiste en un movimiento interdependiente y que el fenómeno del ocio, como ámbito concreto y adecuado, se originó a partir de la revolución industrial. Para los autores marxistas, el tiempo de ocio está contaminada por los valores nefastos del capitalismo, sin embargo, haciendo hincapié en su naturaleza contradictoria, alertan sobre la necesidad de que debe ser considerado como una demanda social necesaria para el desarrollo integral del hombre y no sólo como un medio para descansar, consumir determinados productos y reproducir la fuerza de trabajo. También vemos que la comprensión del ocio como un derecho social se relaciona con el derecho a ausentarse del trabajo, vacaciones, descanso semanal y el acceso a los bienes culturales producidos por la humanidad y que el logro de estos derechos está ligado a las luchas de los movimientos de los trabajadores por la igualdad. Se concluye que el ocio es en realidad un derecho social que puede contribuir a la transformación de la sociedad y que el Estado debe preocuparse en la producción y aplicación de políticas sociales para el ocio, y la garantía de este derecho requiere la aplicación de programas específicos para su cumplimiento.

          Palabras clave: Tiempo libre. Trabajo. Sociedad.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 16, Nº 155, Abril de 2011. http://www.efdeportes.com/

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A gênese do lazer na sociedade moderna

    Segundo Mascarenhas (2003), o lazer não é algo que está estático, ou seja, está em movimento na sociedade e seu atual significado e crescente importância na sociedade contemporânea possuem referências históricas.

    Fazendo um “resgate” histórico do Lazer, podemos perceber que a definição do mesmo se confunde com a noção de ócio, pois de acordo com Chauí (1999), no pensamento clássico ou ideal grego, ócio isto é skhole, era percebido como uma forma de vida cujas ações humanas orientavam-se pela contemplação e reflexão de supremos valores da época. Tendo em vista que o modo de produção vigente na época assentava-se sobre a escravidão, os sentidos atribuídos ao ócio derivavam de uma forma de organização social economicamente estratificada. Ócio era tido como um tempo social de não trabalho.

    No período Romano uma nova concepção de ócio é introduzida em oposição ao negócio, ócio passa a ser concebido como tempo de descanso do corpo e de recreação do espírito.

    Diferente do que ocorre na Grécia o trabalho perde sua conotação negativa e ócio passa a ter o significado de um tempo livre do trabalho. Em função do contexto sócio econômico, ócio passa a ter outra função, através da política do “pão e circo” surge o “ócio das massas”. Este, em contraponto ao ócio das classes dirigentes, passa a ser meio de despolitização e controle pelo Estado.

    Na Idade Média o ócio passa a ser utilizado como distintivo de classes, o que o remete à esfera do consumo, demonstração ostensiva de poder econômico a ser manifestada pela utilização e gasto do tempo livre ocioso.

    No Início da Idade moderna com o Puritanismo Religioso e a Reforma Protestante, novo valor se sobrepõe ao ócio, devido agora à exaltação do trabalho. De castigo Divino que fora, tornou-se virtude, tornou-se regra moral, transformação exemplificada pelo dito “mãos desocupadas, oficina do Diabo”. O trabalho passa a ser sinônimo de esforço pessoal necessário para o acumulo de riquezas. Então considerado como anti-trabalho o ócio passa a ser considerado sinônimo de vício, sinônimo de tempo perdido.

    Com a Revolução Industrial, pensava-se erroneamente no aumento de tempo livre, mas o novo modo de produção impôs aos operários exaustivas jornadas de trabalho. Esse cenário de exploração dos trabalhadores desencadeou intensas lutas sociais pela redução da jornada de trabalho e aumento regularmente do tempo livre. E no momento que sucede o capitalismo, o tempo livre limitava-se ao tempo de desconto necessário para recuperação de forças físicas do trabalhador, não havendo lugar para o ócio.

    Sendo assim, o tempo livre passa a ser realidade do trabalhador e seria preciso inaugurar-se estratégicas para controle desse tempo livre. A Igreja, a Escola, a família contribuem para o controle do tempo livre, mesmo assim o ócio e suas negativas manifestações sobreviviam subvertendo a ordem social estabelecida. Nasce, então, o lazer, para se contrapor aos hábitos doentios da ociosidade, estendendo-se para toda a população como o modo de vida presente nas formas de entretenimento e diversão.

    Nas sociedades rurais não havia uma separação entre as esferas da vida do homem. O local de trabalho muitas vezes era na própria moradia e trabalho e lazer se confundiam. Na sociedade moderna, marcadamente urbana a industrialização acentuou a divisão social de trabalho. A industrialização pode ser considerada como divisor de águas entre trabalho/lazer.

    Podemos perceber que o fenômeno do lazer como esfera própria e concreta se dá a partir da revolução industrial, com o processo de automação que acentuou a divisão do trabalho e a alienação. O lazer é resultado desse processo histórico que permitiu uma maior produtividade em menos tempo e surgiram com isso reivindicações sociais pela distribuição do tempo liberado de trabalho.

    O lazer é um fenômeno tipicamente moderno, resultante das tensões entre capital e trabalho, que se materializa como um tempo e espaço de vivências lúdicas, lugar de organização da cultura, perpassado por relações de hegemonia. (MASCARENHAS, 2003)

    Antunes (2003) julga que “não é possível compatibilizar trabalho assalariado, fetichizado e alienado com tempo (verdadeiramente livre). E que uma vida desprovida do sentido no trabalho é incompatível com uma vida cheia de sentido fora do trabalho”. Ele também afirma que a concepção de lazer na ordem burguesa está em relação ao trabalho, pois o lazer como forma de humanização só é possível para aqueles que se apropriaram do capital cultural.

    Se o trabalho torna-se dotado de sentido, será também (e decisivamente) por meio da arte, da poesia, da literatura, da música, do tempo livre, do ócio, que o ser social poderá humanizar-se e emancipar-se em seu sentido mais profundo. (ANTUNES, 2002, p.177)

    Castellani Filho (1994), afirma que as primeiras políticas para o esporte e o lazer foram planejadas na década de 30 (trinta), com o objetivo de disciplinarizar o esporte e os corpos. Também foram criados os Clubes de Menores Operários, com o objetivo de salvaguardar a moral do pequeno trabalhador, assim como os Parques Infantis, espaços destinados à recreação familiar. De acordo com Mascarenhas, nessa mesma época, algumas publicações específicas dirigidas ao lazer também começam a aparecer.

    Para Marcassa (ENAREL, 2003), o lazer é determinado pela construção histórica que se opera na sociedade e, portanto, as atividades que passam a constituí-lo são vivenciadas e fruídas pelos homens em conjunto, segundo as condições econômicas, culturais e sociais criadas.

    O lazer surge como solução para o reequílibro social e vai ganhando importância na medida em que precisava orientar a apropriação do tempo livre no sentido de afastar a família moderna dos espaços e atividades susceptíveis à degeneração e imoralidade das horas de ócio indiscriminado. (MARCASSA, 2000, p.7, apud MASCARENHAS, 2003, p.23)

    Para Sant’ Anna (1994, apud Mascarenhas, 2003, p. 14), na década de 1970, ao passo que o lazer deixa de ser concebido exclusivamente como oportunidade de descanso e entretenimento – e como espaço de consumo e potencial instrumento para veiculação de normas e valores consonantes com os interesses econômicos da racionalidade produtiva – firma-se uma política especifica para o setor. O lazer passa a figurar como direito social, devendo sua prática ser assegurada e disseminada pelo Estado brasileiro.

    Desse modo, compatibilizando suas ações com a política estatal, o Serviço Social do Comércio (SESC) desempenha papel fundamental na construção e consolidação do lazer enquanto campo do conhecimento. Todos os estudos do SESC voltam-se para a sociologia do lazer, elegendo como seu grande baluarte o francês Joffre Dumazedier que define o lazer da seguinte maneira: “é um conjunto de ocupações às quais o indivíduo pode entregar-se de livre vontade, seja para repousar, seja para divertir-se, recrear-se e entreter-se, ou ainda, para desenvolver sua informação ou formação desinteressada, sua participação social voluntária ou sua livre capacidade criadora após livrar-se ou desembaraçar-se das obrigações profissionais, familiares e sociais”. Oleias (2003), em seu artigo intitulado Conceitos de Lazer, mostra que nos trabalhos de Dumazedier está ausente uma abordagem da interferência do Estado na definição de políticas públicas para o lazer e também de uma abordagem do caráter classista do lazer.

    O lazer já foi caracterizado como um anti-valor ou anti-mercadoria, ou seja, tratado como direito e alcançado junto ao conjunto das políticas sociais. Agora este fenômeno se tornou mercadoria e seus antigos valores, como: o descanso, a diversão ou o desenvolvimento (DUMAZEDIER, 1976), muito pouco ou nada valem no atual estágio de desenvolvimento do modo de produção capitalista. (MASCARENHAS, ENAREL, 2003).

    Em larga medida, cedeu espaço ao merco lazer, do qual não se espera outra coisa senão a realização de um valor de troca, o salto perigoso em direção ao equivalente geral, momento final do giro do capital em que se resgata a mais-valia e se conferem os lucros, objetivo essencial da indústria do lazer. (MASCARENHAS, ENAREL, 2003)

    Atualmente, temos o êxtase do lazer, pois é o lazer que procura o prazer imediato (esportes radicais), entretanto, o acesso a este tipo de lazer está destinado a um seleto grupo que possua as condições econômicas e financeiras necessárias. Mascarenhas (2003) divide o lazer em uma pirâmide, onde no topo está o êxtase do lazer, e na base está o “tele-lazer”, o lazer-solidário ou lazer-filantrópico e no meio desta pirâmide está o lazer genérico (shoppings) e o lazer público (parques públicos), sendo que o lazer da base geralmente está relacionado com os pobres e miseráveis e o lazer do meio da pirâmide está relacionada à classe média.

    Na sociedade contemporânea frequentemente o lazer vem se confundindo com os outros produtos da indústria cultural, cuja meta primordial é produzir bens e serviços destinados ao consumo. Para Werneck (2002), mesclado com o consumo, o lazer se torna uma via de diferenciação entre classes e grupos sociais.

    Em nome da busca do prazer estimulado pela fantasia, muitas das experiências proporcionadas pela indústria cultural acabam nos subjugando às estratégias de modismo e homogeneização cultural em diferentes perspectivas: em termos de linguagem; de gestos; de comidas e bebidas; de músicas; de roupas, de atitudes e valores, dentre outras. (WERNECK, 2002)

    Em nossa realidade, são visíveis as formas com que a cultura dominante se manifesta no lazer. Existe hoje o que podemos nomear de cultura ocidental, liderada pela indústria norte-americana que a todos absorve desde os fast-foods como Mc Donalds, parques temáticos como a Disney Word ou filmes hollywoodianos como Homem Aranha, para citar alguns exemplos da atualidade. (MARCASSA, 2003)

    Contudo, na medida em que o projeto de hegemonia capitalista se expressa sob a produção cultural, o lazer reforça a alienação e contribui para o funcionamento das mesmas relações de poder e dominação. E por outro lado, frente a esta situação, a sociedade também desenvolve mecanismos para resistir, incorporar, negar e reproduzir as relações e práticas instituídas, possibilitando que o lazer se torne uma agência promotora de valores comprometidos com as reais necessidades de todos.

    Devemos ter uma ação político-pedagógica consciente e diretiva, e uma vez comprometida com os interesses das camadas populares, o lazer deve ser orientado “para o exercício da cidadania e prática da liberdade” (Mascarenhas, 2000, p.17).

    Concordamos com Padilha (2003), quando lembra que se o lazer for compreendido no seu sentido mais amplo, como cultura vivenciada no tempo disponível e por livre escolha das pessoas e ainda se cultura for concebida como fruto de trabalho, de ação e criação humana que se dá num processo, então, lazer e cultura podem existir não apenas como mercadorias restritas aqueles que podem pagar por elas, mas como algo que pertence a todos nós, ao povo, como processo de conhecimento popular que se constrói e reconstrói a cada dia.

Diversas visões em relação ao lazer

    Entendemos que “em nosso campo de pesquisa, são muitas as tentativas de definição e conceituação do lazer, assim como são várias as possibilidades de interpretá-lo e explica-lo”. (MARCASSA, 2003). O lazer é entendido a partir de algumas categorias centrais que buscam responder à sua abrangência e totalidade, pois a vivência do lazer pressupõe, não só um tempo, mas determinadas atividades relacionadas à cultura universal produzida pelos homens e ainda espaços em que essa experiência se dá. As categorias de tempo, espaço, práxis, cultura e educação, quando atravessadas pela noção de trabalho, permitem conceber o lazer como uma prática social permeada por contradições e perpassada por relações de hegemonia.

    Segundo Padilha (2003), temos dois tipos de abordagens sobre o fenômeno do lazer. As abordagens funcionalistas e as abordagens Marxistas, sendo que, sob a ótica funcionalista, o lazer é visto como algo necessariamente bom em oposição ao trabalho visto como algo necessariamente ruim. Já na visão Marxista, o trabalho e o lazer são atividades complementares e não opostas, assim, problemas em uma esfera provocam problemas também na outra esfera. Sobre as abordagens funcionalista de lazer, (Marcellino 1987 apud Mascarenhas 2003, p.23) sugere a seguinte classificação: românticas e moralistas, que, muito próximas, situam o lazer dentro de uma perspectiva nostálgica apontando para a necessidade de manutenção de certas tradições e defendendo hábitos, crenças e valores em que a exaltação da instituição família tem forte presença; compensatória, que, vendo o trabalho como tempo e espaço de alienação, acreditam no lazer como uma possibilidade de fuga individual às insatisfações; e utilitaristas que potencializam as atividades de lazer como instrumento de recuperação e manutenção da força de trabalho.

    Para Marcelino, entre os estudiosos do lazer podemos distinguir duas linhas: a) a que se fundamenta na variável da atitude e considera lazer como um estilo de vida; e b) a que se opõe esse tempo como tempo liberado de trabalho de “tempo livre” não só do trabalho, mas de outras obrigações sociais. Do ponto de vista da atitude, até o trabalho pode ser considerado lazer, desde que fosse gratificante e fosse uma forma de realização pessoal, mas isso atinge uma minoria. Já na questão do tempo livre, Marcellino coloca o conceito como simplista, pois nas relações sociais tempo algum é livre de coações de normas de conduta.

    O conceito de lazer para Dumazedier é:

    O lazer é um conjunto de ocupações as quais o indivíduo pode entregar-se de livre vontade, seja para repousar, seja para divertir-se, recrear-se, entreter-se, ou ainda desenvolver sua informação ou formação desinteressada, sua participação voluntária ou sua livre capacidade criadora, após livrar-se ou desembaraçar-se das obrigações profissionais, familiares e sociais. (1976, p.34)

    Outra definição bastante próxima é a do sociólogo Renato Requixa, que entende o lazer como “uma ocupação não obrigatória de livre escolha do indivíduo que a vive, e cujos valores propiciam condições de recuperação psicossomática e desenvolvimento pessoal e social”. (REQUIXA, 1977)

    Como dito anteriormente, na concepção de lazer destes autores está ausente uma abordagem da interferência do Estado na definição de políticas públicas para o lazer e também de uma abordagem do caráter classista do lazer. O lazer não deve ser dissociado da realidade total e deve contribuir não só para as contradições existentes na área específica do lazer, mas trazer soluções mais abrangentes, em termos da vida social como um todo.

    De acordo com Padilha (2003) o que tem predominado nas abordagens de lazer é a idéia de que ele tem algumas funções importantes para a vida humana, sendo destacado o seu papel de recuperar as pessoas para que elas possam se refazer e compensar os desgastes das atividades obrigatórias. Nesta abordagem a sociedade é compreendida como harmônica e que deve manter sempre o equilíbrio. Dessa forma, se por um lado, o trabalho cansa, fatiga, aliena, por outro lado, o lazer recupera, descansa, compensa. Assim, o lazer é compreendido como remédio que visa curar os males sociais. Esta é a abordagem funcionalista. Um exemplo desta abordagem está no seguinte conceito:

    O lazer é sempre liberatório de obrigações: busca compensar ou substituir algum esforço que a vida social impõe. Assim é ir ao cinema para descarregar as tensões do trabalho ou quebrar a rotina sedentária com uma corrida em um parque. Esta é a propriedade mais óbvia do lazer (...). (Luiz Otavio Lima Camargo, apud Padilha 2003).

    No entanto, para Padilha (2003), há outra maneira de entender a sociedade e o lazer, que são as abordagens inspiradas no pensamento crítico marxista. Seu método de análise é o materialismo histórico-dialético, ou seja, visa compreender a sociedade tomando como base as condições materiais e econômicas da existência, sendo o homem compreendido como um sujeito que constrói e reconstrói a história ao mesmo tempo em que constrói e reconstrói a si mesmo. Este processo não se dá de forma harmoniosa, equilibrada, mas sim repleto de conflitos e contradições. Por isso, a necessidade de recorrer ao raciocínio dialético para ler o que está escrito nas entrelinhas, para alcançar a essência que está por trás das aparências. As aparências são profundamente enganosas e, portanto, é preciso atenção na leitura do mundo. A utilização dessa abordagem faz-se presente na seguinte compreensão do lazer:

    [...] O lazer se manifesta como fonte de tensão e desequilíbrio. À medida que se desenvolvem as atividades – isto é, na medida em que se joga, dança, representa, passeia etc. – os componentes do grupo interrogam o tema e a si mesmos. Seu modo de agir, atitudes, valores e preferências perante uma dada atividade passam a ser questionados. Nessa perspectiva, aceitam-se e fazem-se sujeitos. (MASCARENHAS, 2003)

    A análise do lazer, inspirada na perspectiva marxiana, é capaz de compreender o lazer para além de mero antídoto das mazelas sociais ou apêndice do trabalho, visando compensar o que não pode ser compensado. A partir de uma análise fundamentada na concepção marxista e considerando as múltiplas relações de causalidade presentes na totalidade da realidade concreta em que se expressa o lazer contemporâneo, passamos a questionar a existência unívoca dos aspectos positivos do lazer.

    Esse questionamento emerge da seguinte reflexão: se a sociedade a partir dos preceitos capitalistas cria um trabalho que cansa, aliena e entedia, não pode haver solução desses problemas num lazer criado sobre a mesma base sociológica, ou seja, a lógica que rege o tempo de trabalho é a mesma lógica que rege o tempo de não-trabalho. Esta lógica totalizadora referida é a lógica do capital, que transforma tudo e todos em mercadoria, em “coisa” a ser produzida, vendida, comprada.

    Se um homem trabalha sem verdadeira relação com o que está fazendo, se compra e consome mercadorias de um modo abstrato e alienado, como pode usar o seu tempo livre de um modo ativo e significativo? (...) Na realidade, não é livre para gozar o seu tempo disponível; seu consumo das horas de lazer está determinado pela indústria, como acontece às mercadorias que compra; seu gosto é manipulado, quer ver e ouvir o que se lhe obriga a ver e ouvir; a diversão é uma indústria como qualquer outra, fazendo-se o consumidor comprar diversão assim como se lhe faz comprar roupa ou sapato. (Erich Fromm, apud Padilha 2003).

    Para os autores marxistas, o tempo de lazer é poluído pelos valores do capitalismo. Nesse sentido, não é possível uma visão otimista e ingênua das funções e papéis determinados ao lazer dentro desta sociedade, todavia, isso não quer dizer que, dentro da complexidade e contradição que envolve o lazer, este não possa ser um tempo/atividade de reflexão, de crítica, de resistência. O lazer deve ser considerado como uma reivindicação social, necessária ao desenvolvimento completo do homem, não vista apenas como um meio para descansar e consumir determinados produtos. Para Marcellino (1995):

    A “especificidade concreta” do lazer, considerado em sua manifestação na sociedade atual, é colocada como reivindicação social. Portanto, seu significado é bastante diferente do entendimento da Antiguidade Clássica. É uma questão de cidadania, de participação cultural [...]. Entendo ainda a participação cultural como uma das bases para a renovação democrática e humanista da cultura e da sociedade, tendo em vista não só a instauração de uma nova ordem social, mas de uma nova cultura [...]. (p.17)

    Pensar o lazer como um direito social, é considerá-lo como parte integrante da cidadania e das relações que se estabelecem entre a sociedade e o Estado. A compreensão do lazer como um direito social tem relação com o direito ao tempo livre do trabalho, com o direito às férias, ao repouso semanal e o acesso aos bens culturais produzidos pela humanidade. A conquista desses direitos está ligada, historicamente, às lutas dos movimentos trabalhistas por mais igualdade.

    Um dos grandes problemas em considerar o lazer, somente, como mercadoria seria que, nesse sentido, uma parcela significativa da nossa sociedade estaria excluída do acesso a essas experiências, tendo em vista que mal possui condições de reprodução da vida social e muito menos uma reserva econômica para poder usufruir desse “produto”, o lazer. Portanto, a concepção capitalista de lazer, que promove a mercadorização deste fenômeno, é eminentemente classista, elitista e excludente.

    Sendo assim, não devemos negar a relação do lazer com o mercado, pois “obviamente as possibilidades de lazer veiculadas pela mídia, e comercializadas pela indústria cultural, são fortemente acorrentadas pelo viés mercantil, mas podem perder essa característica e ganhar uma outra, por meio de ações e inserções comprometidas com a construção de uma nova sociedade, mais justa, solidária e humanizada.” (WERNECK, 2002).

As relações entre lazer e trabalho

    Estudaremos a partir de agora as relações entre lazer e trabalho, pois não podemos tratá-los separadamente. Conforme dito anteriormente, Antunes (2003) julga que “não é possível compatibilizar trabalho assalariado, fetichizado e alienado com tempo (verdadeiramente livre). E que uma vida desprovida do sentido no trabalho é incompatível com uma vida cheia de sentido fora do trabalho”. Ele também afirma que a concepção de lazer na ordem burguesa está em relação ao trabalho, pois o lazer como forma de humanização só é possível para aqueles que se apropriaram do capital cultural.

    Se o trabalho torna-se dotado de sentido, será também (e decisivamente) por meio da arte, da poesia, da literatura, da música, do tempo livre, do ócio, que o ser social poderá humanizar-se e emancipar-se em seu sentido mais profundo. (Antunes, 2002, p.177)

    Como já vimos, a definição de lazer acaba se confundindo com a noção de ócio, pois desde o Pensamento Clássico até o início da Idade Moderna, a concepção de ócio teve vários significados. Entre estes significados, está o de reflexão dos valores da época, o de oposição ao negócio, o meio de despolitização e controle do Estado e o sentido de distintivo de classe entre outros.

    O trabalho também possui vários significados entre os estudiosos do assunto. A palavra latina que dá origem ao nosso vocábulo “trabalho” é tripalium, instrumento de tortura, e “labor” (em latim) significa esforço penoso, dobrar-se sob o peso de uma carga, dor, sofrimento, pena e fadiga.

    A idéia do trabalho como desonra e degradação aparecem em quase todos os mitos que narram a origem das sociedades humanas como efeito de um crime cuja punição será a necessidade de trabalhar para viver. Com o início da idade moderna e a reforma protestante há uma exaltação do trabalho como castigo divino tornando-se virtude.

    Para Marx o trabalho é uma das dimensões da vida humana que revela nossa humanidade, pois o trabalho exterioriza numa obra a interioridade do criador, ou numa linguagem hegeliana o trabalho objetiva o subjetivo, o sujeito se reconhece como produtor do objeto. O trabalho se torna alienado a partir do momento que a classe dos trabalhadores, para sobreviver, se vê obrigada a trabalhar para outra classe social, a burguesia, vendendo sua força de trabalho, sendo assim, o produto do seu trabalho distância-se do trabalhador, pois foi produzido por forças alheias e não por suas necessidades e ainda na maioria das vezes o mesmo não tem acesso ao que produziu.

    O operário trabalha para o capitalista a quem entrega, pelo contrato salarial, o produto do seu trabalho. Quanto mais o trabalhador produz, maior se torna o poder do capital e mais limitados os meios do trabalhador se apropriar de seus produtos.

    Em o “Direito a Preguiça”, Lafargue coloca a redução de jornada de trabalho para três horas diárias durante seis meses por ano, como viável, porque de um lado a abundância de matéria-prima e produtos, e do outro as máquinas. Se isso acontecesse não só haveria pleno emprego, mas, sobretudo não estando esgotados do corpo e da mente, começariam a praticar os vícios da preguiça.

    Ao proporcionar aos operários um tempo livre do controle do capital, livre do poderio da burguesia a preguiça gera virtude, isto é, o fortalecimento do corpo e do espírito da classe operária preparando-a para a ação revolucionária da emancipação do gênero humano. Lafargue (1999) imaginava que com a automação, o trabalhador iria cultivar as virtudes da preguiça, mas contrariando seu pensamento o trabalhador passou a lutar pelo direito ao trabalho, pela jornada de oito horas, pelo salário mínimo, etc. Dessa forma, não surgiu como esperavam Aristóteles e Lafargue, a sociedade da abundância a única em que os seres humanos poderiam recuperar o trabalho como ação criadora, mas sim surgiu a sociedade administrada que além de controlar o corpo e mente dos trabalhadores também controla as conquistas proletárias sobre o tempo de descanso o chamado “tempo livre”. A indústria cultural, a indústria da moda e do turismo, a indústria do esporte e do lazer estão estruturadas em conformidade com as exigências do mercado capitalista e são elas que consomem todo o tempo que Lafargue esperava que fosse dedicado as virtudes da preguiça.

    No mundo do trabalho, fordista-taylorista, o lazer apareceu como atividade inútil para os trabalhadores já que a rotina fabril não combina com o descompromisso do prazer. O tempo da vida prioriza, nessa ordem social, o tempo de trabalho cujas jornadas passaram de extensivas (longas lidas de 14 a 16 horas inclusive para crianças e mulheres) para intensivas (redução das jornadas com aumento da produtividade cronometradas das tarefas). Assim não só o trabalho é controlado pelo relógio, mas a vida cotidiana também passa a ser regido por ele já que todas as demais atividades (sociais, culturais e religiosas) se tornam subordinadas ao tempo de trabalho. Mas, ao longo do século XX, a qualidade de vida engendrada pela produção social levou a que todos os segmentos sociais reivindicassem também tempo e condições para a fruição dos bens culturais. Eis que tais reivindicações oscilam hoje entre o direito do cidadão e o serviço ao consumidor de lazeres.

    Neste contexto, o tempo livre surge como uma conquista de classe. A questão da redução da jornada de trabalho sempre esteve presente como uma das reivindicações centrais na luta dos trabalhadores.

    Contudo, a questão do tempo livre é analisada por diversos autores, com enfoques diferentes. Comum a todos eles é a compreensão de que o tempo livre se constitui de um saldo restante que fica após o trabalho ou demais obrigações e necessidades.

    Existem alguns autores que preferem substituir o tempo “livre”, como é o caso de Newton Cunha, optando pela definição de “tempo residual”, já Marcellino acredita que nenhum tempo está livre de coações ou normas, prefere o termo “tempo disponível”. Ainda para ele o trabalho é tão somente uma dentre as várias obrigações, as outras seriam familiares, religiosas, políticas, cívicas, sociais, escolares e em oposição ao tempo disponível possuiríamos o tempo das obrigações, no qual se insere o tempo de trabalho. Marcellino ainda coloca o tempo desocupado, o que fica confuso, pois o autor não deixa claro se tem como referência o tempo de trabalho ou o suposto tempo das obrigações.

    O tempo das necessidades seria um novo conceito em substituição a definição tempo de trabalho. O tempo das necessidades compreenderia todo o tempo dedicado a qualquer atividade, e que a principal delas ainda é o trabalho, que se concretize na vida do indivíduo procurando responder ao conjunto de suas necessidades físicas e materiais.

    Segundo Newton Cunha, tempo de trabalho ou tempo produtivo é o tempo necessário à criação do produto social, é gerado pelas relações sociais de produção, tempo em que os indivíduos exercem esforços economicamente produtivos.

    Percebemos que a vida social se desenrola através de tempos distintos, embora intimamente ligados e interdependentes. São distintos quanto à natureza da ação, quanto aos fatores que condicionam nosso agir e quanto aos valores da sociedade dominante.

    No tempo de trabalho os objetos e os seres humanos se convertem, antes de qualquer coisa, em instrumento ou partes de um sistema muito objetivo, situados fora de nossos desejos até possibilidades reais. O tempo de trabalho não oferece a possibilidade da afirmação individual, há exceções, como certos trabalhos artísticos, intelectuais, políticos ou científicos, mas não é o caso da grande maioria. Assim acontece porque o tempo produtivo, o tempo socialmente necessário à produção é imposto e coercitivo.

    Alguns autores chegam a dar ao lazer, como sinônimo a expressão “tempo livre”, mas não se trata de uma escolha ou de construção livre.

    O conteúdo do tempo de lazer está preso a uma série de circunstâncias sociais, culturais, econômicas, ideológicas, físicas. O lazer só será possível de acordo com a capacidade de consumo e com a posição ocupada na estrutura social.

    Ainda hoje a qualidade do tempo livre está colocada como compensatória ao tempo de trabalho, compreendido dessa forma “o lazer não existe como essência, como substância”, portanto se ele está em relação ao trabalho ele não existe em si próprio.

    Segundo Ricardo Antunes, a redução da jornada de trabalho tem sido uma das mais importantes reivindicações do mundo do trabalho, e pode ser um punho decisivo que além de minimizar o desemprego dos trabalhadores, permitirá uma reflexão fundamental sobre o tempo: tempo de trabalho, tempo livre, o auto controle sobre o tempo de trabalho e o tempo de vida. O lazer é resultado desse processo histórico que permitiu uma maior produtividade em menos tempo e surgiram com isso reivindicações sociais pela distribuição do tempo liberado de trabalho.

    Concordamos com Mascarenhas e entendemos que para a compreensão do lazer, as categorias tempo de trabalho e tempo livre, mostram-se como instrumentos imprescindíveis ao nosso estudo. Nesse sentido, a noção de tempo livre não pode estar baseada na opção de escolha ou livre iniciativa, no voluntarismo ou espontaneísmo, muito menos no prazer ou desejo individualista contido na possibilidade de cada um fazer o que quer e o tempo de trabalho é todo o tempo reservado à atividade humana destinada a criação, conservação, circulação ou troca de bens considerados necessários por uma sociedade.

Considerações finais

    Com este estudo preliminar, percebemos que com o desenvolvimento histórico um determinado fenômeno vai se modificando com as circunstâncias, porém, as transformações pelas quais passou o fenômeno do lazer foram tamanhas que seria um absurdo considerá-lo como a mesma coisa que era em sua gênese, ou seja, objetivamente ócio e lazer são fenômenos distintos, embora tanto um quanto outro, tenha raízes no lúdico. Percebemos também, que ao longo da história do capitalismo, as relações trabalho/lazer formam um sistema em que o movimento de um afeta o movimento do outro e que o fenômeno do lazer, como esfera própria e concreta, originou-se a partir da revolução industrial.

    Baseado nos autores marxistas, concordamos que o tempo de lazer é “poluído” pelos valores do capitalismo, mas deve ser considerado como uma esfera de reivindicação social necessária ao desenvolvimento completo do homem e não apenas como um meio para descansar, consumir determinados produtos e reproduzir a força de trabalho. Entendemos ainda, que a compreensão do Lazer como um direito social tem relação com o direito ao tempo livre do trabalho, às férias, ao repouso semanal e ao acesso aos bens culturais produzidos pela humanidade e que a conquista destes direitos está ligada às lutas dos movimentos trabalhistas por igualdade.

Referências bibliográficas

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EFDeportes.com, Revista Digital · Año 16 · N° 155 | Buenos Aires, Abril de 2011
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