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Influência do uso da pulseira holográfica na resistência 

muscular localizada de praticantes regulares de exercícios físicos

Influencia del uso de la pulsera holográfica en la resistencia muscular localizada de practicantes regulares de ejercicios físicos

Influence of holographic wristband use on abdominal muscle endurance from regular exercise practitioners

 

*Laboratório de Pesquisa do Exercício (LAPEX)

Faculdade Social da Bahia (FSBA), Salvador, Bahia

**Departamento de Nutrição, Universidade de Pernambuco (UPE)

Petrolina, Pernambuco

Esp. Rafael Lima Ribeiro*

Ms. Paulo Adriano Schwingel* **

professorpauloadriano@gmail.com

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          O número de praticantes regulares de exercícios físicos que utilizam recursos externos, como suplementos e equipamentos considerados ergogênicos, tem aumentado nos últimos anos. Sendo assim, esta pesquisa analisou a influência da utilização de pulseira de silicone com efeito holográfico na resistência muscular da região abdominal. Para isso, avaliou de forma randomizada a execução de teste abdominal por praticantes de exercício físico regular com idades entre 20 e 45 anos. Os voluntários foram alocados por sorteio em um dos três protocolos: controle, placebo ou pulseira – o primeiro realizava o teste sem a utilização de qualquer implemento; o segundo executava o teste com pulseira de silicone sem a holografia e o último realizava a avaliação utilizando a pulseira de silicone com a holografia. Ao final da execução do protocolo de teste sorteado, os participantes recebiam entre 5 e 10 minutos de descanso e eram realocados randomicamente em outro grupo. Os resultados dos três tratamentos experimentais foram comparados através da análise de variância (ANOVA) para medidas repetidas, com limite confidencial de 5%. Foram verificadas médias semelhantes entre os três tratamentos experimentais (38,8 vs. 38,8 vs. 38,6 repetições; p>0.9). Neste sentido, os resultados apontam para a ineficiência da pulseira holográfica em aumentar a resistência muscular localizada. Com isso, conclui-se que a utilização da pulseira holográfica não pode ser considerada recurso ergogênico para resistência muscular. Estudos que analisem a influência deste implemento nas demais valências físicas são recomendados.

          Unitermos: Exercício físico. Resistência muscular. Recurso ergogênico. Pulseira holográfica.

 

Abstract

          Ergogenic aids such as nutritional supplements and equipment’s have increased in the last years among regular exercise practitioners. This study analyses the influence of the use of silicone wristband with holographic effect on abdominal muscle endurance. Regular exercise practitioners between 20 to 45 years old performed three times the abdominal sit-up endurance test. Volunteers were randomly allocated in three different protocols: control, placebo, or wristband. The first group performed the test without any implement (Control); the second ran the test with the silicon bracelet without holography (Placebo); and the last group realized the evaluation using the silicon bracelet with holography (Wristband). Volunteers performed the three experimental treatments in random order in the same day and section. The rest period between treatments ranged from five to ten minutes. Results from the three treatments were compared by analyses of variance (ANOVA) for repeated measures (p≤0.05). Similar means were verified in the tree type of treatments (38.8 vs. 38.8 vs. 38.6 repetitions; p>0.9). In this sense, the results showed the holographic wristband inefficiency to increase abdominal muscle endurance. In conclusion, the use of holographic wristband cannot be considered an ergonomic aid for abdominal muscle endurance. Further studies addressing the influence of holographic effect in the other components of physical fitness are recommended.

          Keywords: Physical exercise. Muscle endurance. Ergogenic AIDS. Holographic wristband.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 16, Nº 155, Abril de 2011. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    Tanto no mundo, quanto no Brasil é cada vez maior o número de praticantes de exercícios físicos. No início da década, entre moradores do estado de São Paulo, o número de praticantes regulares de atividades físicas estava estimado em 53% (MATSUDO et al., 2002). Entre adolescentes do estado do Paraná, verifica-se prevalência de prática de atividade física habitual estimada em 54% para os do gênero masculino e 65% para as do feminino (GUEDES et al., 2001).

    Buscando melhor resultado na execução dos exercícios, o praticante de atividade física se submete a utilização de implementos que prometem melhorar seu desempenho atlético. Neste sentido, o uso de suplementos alimentares entre frequentadores de academias de ginástica de Vitória-ES foi estimado em 70% (SANTOS e SANTOS, 2002). Pesquisa conduzida em Belém-PA demonstrou que 27% dos frequentadores de academias de ginástica entrevistados faziam uso de algum tipo de suplemento (ARAÚJO e SOARES, 1999). Constata-se ainda, que entre praticantes de musculação de três grandes academias de ginástica na cidade de São Paulo o uso de recursos ergogênicos não lícitos, como os esteroides anabolizantes, foi estimado em 8% no momento da pesquisa (SILVA e MOREAU, 2003).

Pulseira testada

    O termo recurso ou agente ergogênico se refere à aplicação de qualquer procedimento (nutricional, físico, mecânico, psicológico ou farmacológico) capaz de aprimorar ou alterar positivamente a capacidade de realizar um trabalho físico (KATCH, McARDLE e KATCH, 2008). Um exemplo deste tipo de recurso que vem sendo amplamente utilizado, não só no âmbito esportivo como também nas academias, são as pulseiras com holografia (BUBLITZ, 2010). Segundo os fabricantes, as frequências energéticas emanadas do holograma supostamente interagem com o campo eletromagnético da pessoa que a esta utilizando, impactando positivamente no equilíbrio, na força, na flexibilidade e na resistência muscular (EFX PERFORMANCE INC., 2010; POWER BALANCE, 2010). Além disso, outro fabricante sugere que a pulseira possui grande quantidade de energia potencializada, capaz de compensar o desequilíbrio da energia corporal (AMPLI5, 2010).

    Apesar do crescente número de pessoas que utilizam este recurso com fins ergogênicos, não são verificados estudos que analisem este tipo de implemento (FANTÁSTICO, 2010). Portanto, o presente estudo foi conduzido para avaliar a influência da pulseira holográfica sobre a resistência muscular da região abdominal. De encontro ao conhecimento inerente a fisiologia da contração muscular, contrariamente aos fabricantes da pulseira, nossa hipótese de pesquisa é que o referido implemento não é eficaz em melhorar o desempenho desta valência física.

Metodologia

Desenho de estudo e seleção da amostra

    Estudo analítico crossover, conduzido entre outubro e novembro de 2010, com praticantes regulares de exercícios físicos e frequentadores de 5 academias de ginástica do município de Salvador (Bahia). Foram incluídos na pesquisa os praticantes regulares com idades entre 20 e 45 anos que apresentassem assiduidade semanal superior a três vezes nos três últimos meses. A assiduidade dos participantes foi verificada junto aos professores e coordenadores das academias, nas fichas de treino individuais de cada voluntário.

    Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos da Faculdade de Tecnologia e Ciências (FTC), e foi conduzido seguindo as diretrizes da resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde. Todas as academias forneceram carta de anuência autorizando a realização do estudo.

Procedimentos

    Após serem informados do objetivo do estudo e dos possíveis riscos e desconfortos associados aos procedimentos, os voluntários que preencheram critério de inclusão assinaram termo de consentimento livre e esclarecido.

Pulseira no punho do avaliado

    Conseqüentemente foram submetidos à avaliação antropométrica conduzida por único avaliador seguindo a padronização da ISAK (MARFELL-JONES et al., 2006). O percentual de gordura corporal foi estimado por impedância bioelétrica com auxílio da balança Tanita BC558 (TANITA Corporation, Tokyo, Japão), de acordo com o protocolo proposto por Lukaski et al. (1986).

    Por fim, os voluntários foram alocados por sorteio em um dos três protocolos: controle, placebo ou pulseira. Os participantes alocados no protocolo controle realizavam o teste sem a utilização de qualquer implemento; quando no protocolo placebo executavam o teste utilizando pulseira de silicone branca EFX (EFX PERFORMANCE INC., 2010) sem a holografia; quando no protocolo pulseira realizavam a avaliação utilizando outra pulseira de silicone branca EFX (EFX PERFORMANCE INC., 2010) de mesmo tamanho, porém com a holografia. Ao final da execução do protocolo de teste sorteado, os participantes recebiam entre 5 e 10 minutos de descanso e eram realocados randomicamente em outro grupo. Portanto, todos os voluntários foram avaliados três vezes, em ordem aleatória, com intervalos iguais de 5 a 10 minutos entre as avaliações.

Teste de resistência muscular

    Por se tratar de um teste de fácil execução e que envolve um movimento articular de fácil assimilação, foi utilizado o teste de resistência abdominal de 1 minuto para avaliação da resistência muscular (THOMPSON et al., 2009). Neste teste, o avaliador contabiliza o número máximo de flexões abdominais realizadas pelo avaliado no período estabelecido.

    Durante as avaliações, em todos os protocolos, foram fornecidas informações referentes à execução do teste. Tanto a condução do teste, quanto o auxílio do avaliado na execução foram realizados sempre pelos mesmos avaliadores.

Análise dos dados

    Para análise dos dados utilizou-se a estatística descritiva. Inicialmente os dados foram aplicados ao teste de normalidade de Kolmogorov-Smirnov e ao teste de homocedasticidade (critério de Bartlett) no pacote estatístico Prism (GraphPad Inc., San Diego, CA, USA, Release 5.01). Diante de distribuição paramétrica, as médias obtidas nos três protocolos foram comparadas utilizando a Análise de Variância (ANOVA) para medidas repetidas. As análises estatísticas foram bilaterais com nível de significância estabelecida em 5%.

Resultados

    Após o processo de divulgação, 101 voluntários praticantes de atividades físicas preencheram critério de inclusão, sendo 36 mulheres (35,6%) e 65 homens (64,4%). O percentual de gordura estimado por impedância bioelétrica variou entre 5,4% e 34,4%, tendo como valor médio 19±7%. Os dados antropométricos da amostra estão apresentados na tabela 1.

Tabela 1. Características antropométricas dos participantes

    De acordo com os resultados apresentados na tabela 2, não foi verificada diferença estatística entre os três tratamentos experimentais (p>0.9). Quando os voluntários realizaram o exercício de flexão abdominal sem nenhum implemento (Controle) foram verificadas em média 38,8 repetições. Da mesma forma, quando os voluntários executaram o exercício com a pulseira sem a holografia (Placebo) verificou-se também média idêntica de 38,8 repetições. Por fim, quando os sujeitos da pesquisa realizarem o protocolo utilizando a pulseira com a holografia, constatamos média semelhante de 38,6 repetições. A figura 1 demonstra que a dispersão dos resultados também foi semelhante entre os tratamentos experimentais.

Tabela 2. Número de repetições abdominais em 1 minuto, nos três distintos protocolos experimentais

Figura 1. Número de repetições de flexões abdominais obtidas nos três distintos protocolos. A linha central representa à média e os bigodes representam o desvio padrão de cada teste

    Analisando possível influência do gênero, os resultados foram segmentados pela referida variável. De igual forma, diferenças estatísticas também não foram verificadas. Tanto as médias do gênero feminino (p>0.1) quanto às do masculino (p>0.4) foram semelhantes (Figura 2).

Figura 2. Número de repetições de flexões abdominais obtidas nos três distintos protocolos segmentadas por gênero. Linhas centrais representam a média de cada teste

Discussão

    Os resultados obtidos comprovaram a hipótese proposta e demonstraram que a pulseira com holografia se mostrou ineficiente em aumentar a resistência muscular localizada. Em adição, nenhum efeito placebo foi verificado, uma vez que a pulseira com ou sem holografia também apresentou resultados semelhantes aos testes realizados sem nenhum implemento.

    Por definição, resistência muscular é entendida como o tempo máximo pelo qual o indivíduo pode executar um exercício com degradação incompleta dos substratos energéticos, levando ao acúmulo de lactato (BOSSI, 2009). Além disso, esta valência é a qualidade física que dota um músculo da capacidade de executar uma quantidade numerosa de contrações sem que haja diminuição na amplitude do movimento, na frequência, na velocidade e na força de execução, resistindo ao surgimento da fadiga muscular localizada (DANTAS, 1998).

    Existem variáveis fisiológicas e psicológicas que interferem diretamente na resistência muscular localizada. Garrett Jr e Kirkendall (2003) incluem como mecanismos fisiológicos a transmissão na junção neuromuscular, a propagação do impulso elétrico, a regulação do cálcio pelo retículo sarcoplasmático, os metabólitos e a interação das pontes cruzadas. Por outro lado, a motivação inadequada, a falta de atenção e a percepção de esforço e dor seriam os limitantes psicológicos referidos pelos autores.

Voluntário da pesquisa

    Até o presente momento, nenhum estudo na literatura demonstrou que a utilização de pulseira holográfica de efeito eletromagnético promove alteração na contração muscular. Contrariamente a este dado, as empresas que utilizam a tecnologia informam que esta age diretamente sobre os processos fisiológicos, visando maximizar o desempenho e realçar as funções celulares (AMPLI5, 2010; EFX PERFORMANCE INC., 2010; POWER BALANCE, 2010). Entretanto, nos seres humanos, a energia extraída dos macronutrientes que é transferida para os elementos contráteis do músculo esquelético (McARDLE, KATCH e KATCH, 2008). Todos os processos metabólicos, energéticos e neuromusculares envolvem a extração de energia dos macronutrientes armazenados (BOMPA, 2002). Sendo, portanto, esta a energia que define a capacidade do indivíduo em desempenhar trabalho muscular.

    O fabricante da pulseira holográfica também sugere que esta atua nos pontos energéticos do corpo ao ser colocada próxima de centros específicos, podendo promover ou melhorar o relaxamento dos músculos, aumentar o fluxo sanguíneo e com isso o relaxamento substitui a tensão (EFX PERFORMANCE INC., 2010). Por outro lado, a frequência cardíaca normalmente aumenta progressivamente com a intensidade do exercício (GARRETT JR e KIRKENDALL, 2003). Com isso o debito cárdico também se eleva e influencia diretamente no aumento do fluxo sanguíneo. Durante a atividade muscular rítmica é a vasodilatação nos músculos ativos que reduz a resistência periférica total para aumentar este fluxo (McARDLE, KATCH e KATCH, 2008). Ocorre vasoconstricção dos órgãos viscerais e desvio do fluxo sanguíneo para que os músculos utilizados recebam maior volume por meio da vasodilatação periférica (GARRETT JR e KIRKENDALL, 2003; McARDLE, KATCH e KATCH, 2008). Sendo, portanto, incorreto afirmar que o aumento do fluxo sanguíneo poderia ser gerado apenas pelo relaxamento dos músculos provocado pelo simples contato da holografia com a pele humana.

    Além disso, o aumento no fluxo sanguíneo ocasionado pelo campo eletromagnético gerado pela pulseira holográfica não pode ser considerada explicação adequada para o incremento da resistência muscular. Para que um determinado músculo seja ativado, este necessita de inervação neural (FLECK e KRAEMER, 2006). Sendo assim, toda atividade muscular é regida diretamente pelo controle neural. Dessa forma, a função muscular é controlada pelo sistema nervoso e inicia com impulsos originados dos centros cerebrais superiores, mais especificamente no córtex cerebral (FLECK e KRAEMER, 2006; McARDLE, KATCH e KATCH, 2008). Desse modo, é possível inferir que as ações sugeridas pelo fabricante da pulseira para o aumento da RML não se mostram precisas.

    Portanto, podemos concluir que a utilização da pulseira holográfica não pode ser considerada recurso ergogênico para a resistência muscular da região abdominal, uma vez que não promove alteração positiva. Por ser este, um teste que demanda a utilização concomitante de outros grupos musculares, inferimos que a holografia poderá não ser capaz de alterar a resistência muscular de outras regiões corpóreas. Mais estudos, porém, são necessários para comprovar ou refutar a influência deste tipo de implemento nas demais valências físicas.

Referências

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