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Fatores que interferem na prática docente: a 

percepção de professores de Educação Física escolar

Los factores que influyen en la práctica docente: la percepción de los profesores de Educación Física escolar

Factors influencing teaching practice: the perception of Physical Education teachers

 

Universidade Estácio de Sá

(Brasil)

Prof. Vânia da Silva Fonseca

Prof. Jackeline Vargas dos Santos Pereira

Dr. José Antonio Vianna

javianna@hotmail.com

 

 

 

 

Resumo

          O presente estudo teve por objetivos identificar os aspectos que interferem na satisfação do docente em Educação Física Escolar e comparar a percepção de professores que trabalham em escolas públicas com a percepção de professores que trabalham em escolas particulares. A pesquisa qualitativa entrevistou 15 professores em escola pública (7) e particular (8). Verificou-se que a satisfação do professor pode interferir no processo de ensino-aprendizagem. 57% dos entrevistados da rede pública acredita que os docentes são pouco motivados, 29% desmotivados e 16% indiferentes. Da escola particular 50% considera os professores motivados. O pouco interesse, agressividade e falta de educação dos alunos, falta de infra-estrutura e falta de recursos materiais foram as principais dificuldades relatadas pelos professores da escola pública. Na escola particular foram citadas a falta de infra-estrutura e recursos, o comportamento dos alunos e o pouco tempo de aula.

          Unitermos: Professores. Atuação profissional. Educação Física Escolar.

 

Resumen

          El objetivo de esta investigación fue identificar los problemas que interfieren en la satisfacción de los profesores de Educación Física en la escuela y comparar la percepción de los profesores que trabajan en escuelas públicas con la percepción de los profesores que trabajan en escuelas privadas. En esta investigación cualitativa se entrevistó a 15 profesores, 7 de escuelas públicas y 8 particulares. Se encontró que la satisfacción del profesor de educación física pueden afectar el proceso de enseñanza y aprendizaje. 57% de los encuestados del ámbito público cree que los profesores están poco motivados, desmotivados 29% y 16% indiferentes. 50% de maestros de escuelas privadas considera que están motivados. El poco interés, la agresividad y la falta de educación de los estudiantes, la falta de infraestructura y la falta de recursos materiales fueron las principales dificultades reportadas por los profesores de las escuelas públicas. En las escuelas privadas aparece a la falta de infraestructura y recursos, el comportamiento de los alumnos y el poco tiempo de clase.

          Palabras clave: Profesores. Práctica profesional. Educación Física.

 

Abstract

          This study aimed to identify issues that affect the satisfaction of teachers in Physical Education and compare the perceptions of teachers working in schools with the perception of teachers working in private schools. The qualitative study interviewed 15 teachers in public schools (7) and particular (8). It was found that the satisfaction of the teacher can affect the process of teaching and learning. 57% of respondents from public believe that teachers are poorly motivated, unmotivated 29% and 16% indifferent. 50% of private school teachers consider motivated. The little interest, aggressiveness and lack of education of students, lack of infrastructure and lack of material resources were the main difficulties reported by public school teachers. In the private school were cited lack of infrastructure and resources, student behavior and little classroom time.

          Keywords: Teachers. Professional practice. Physical Education.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 16, Nº 155, Abril de 2011. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    Entende-se que as relações sociais são definidas através da interação entre pessoas, nas quais o comportamento de uma influencia e estimula o comportamento da outra, bem como o inverso também ocorre. A interação professor-aluno é caracterizada por abranger ações sociais orientadas em ações dos outros, nas quais ocorre a influência mútua entre as pessoas que participam do processo. Nesta relação as ações dos alunos baseiam-se nas ações dos professores, esta interação professor-aluno é um fator fundamental no processo ensino-aprendizagem. Acredita-se que as diferenças no padrão de comportamento do docente determinam o comportamento de seus alunos (DARIDO; RANGEL, 2005). Assim, a percepção dos alunos de ter um professor insatisfeito com as condições de trabalho, acaba refletindo na sua própria motivação, o que pode interferir na qualidade das aulas e dificultar o processo de ensino-aprendizagem.

    A falta de satisfação dos docentes quando demonstradas aos alunos pode ser considerada falta de ética. Considera-se que o profissional deve ter um comportamento positivo em suas aulas para que estes reflitam positivamente nos alunos.

    Segundo Tojal et al. (2004), a ética profissional está ligada a direitos e valores morais, sendo assim, ambas regulamentam as relações entre os seres humanos por meio de normas, exercendo postura devida e obrigatória. Outro fator importante são as normas jurídicas a serem cumpridas pelos profissionais, consideradas obrigatórias, mesmo sabendo que nem sempre a avaliamos como certas e justas, ao contrário dos valores morais que não somos obrigados a cumprir, porém já cumprimos normalmente. (TOJAL et al., 2004)

    O código de ética profissional tem como objetivo assegurar a qualidade, a competência, o conhecimento, a atualização técnica, científica e moral dos profissionais. No caso da educação Física o código de ética foi estabelecido pelo Conselho Federal de Educação Física (CONFEF) e os diversos Conselhos Regional de Educação Física - CREF. (TOJAL et al., 2004)

    Quando há competência técnica e científica, mas não há uma conduta virtuosa, suspeita-se que haverá tendência de que o conceito, no campo do trabalho, possa ser abalado. A profissão pode engrandecer-se com ações corretas e competentes, mas também pode desmoralizar-se, com condutas não apropriadas, por meio da quebra dos princípios éticos (SÁ, 2005).

    No entanto, o profissional que trabalha na Educação Física escolar sofre influências de outros fatores além daqueles diretamente ligados à relação professor-aluno, que possuem impacto na intervenção pedagógica e na qualidade de vida do docente. A qualidade de vida no trabalho pode ser entendida como o resultado da combinação de dimensões básicas da tarefa (trabalho desenvolvido) e de outras dimensões não dependentes diretamente da tarefa, capazes de gerar motivação e satisfação (RODRIGUES, 2008). Ao que tudo indica, a qualidade de vida no trabalho pode ser comprometida quando há a ausência de certas dimensões ou quando estas não são satisfatoriamente atendidas.

    No caso particular da Educação Física escolar, esta falta pode comprometer também a qualidade do processo de ensino-aprendizagem, com impacto na formação dos alunos. A insatisfação do docente pode implicar em atitudes e comportamentos que parecem interferir no comportamento dos alunos, com implicações na qualidade do processo ensino-aprendizagem.

    Investigações que procuraram observar os fatores que interferem na qualidade do trabalho docente revelam aspectos que são capazes de gerar satisfação ou insatisfação dos professores de Educação Física para ministrar aulas. A fim de mapear o campo, foram selecionados estudos que observaram realidades distintas.

    Segundo Mendes e Gitahy (2006), nas diversas tentativas de melhorar a qualidade do ensino, o docente, instrumento facilitador da aprendizagem, é negligenciado. Entende-se que na medida em que o professor sente-se satisfeito e motivado, ele pode contribuir com elementos inovadores e criativos em suas aulas, que interferem na motivação dos alunos. O artigo dos autores teve dois objetivos: Identificar fatores que interferem na motivação dos professores da rede publica de ensino, no município de Maringá e identificar quais as possibilidades de mudança.

    Foram analisados os dados colhidos numa amostra de 11 professores, em uma escola estadual de Maringá – PR. Os dados foram obtidos através de um questionário aberto, que levantou os seguintes resultados que interferem na motivação do professor: o descaso da família com a educação dos alunos; a pouca valorização do governo à profissão; indisciplina e desinteresse do aluno pelos conteúdos; alta carga horária e baixos salários. Para os docentes que responderam ao questionário, a forma de reversão deste quadro seria um trabalho de conscientização da sociedade sobre a importância do professor e da escola (MENDES; GITAHY, 2006).

    O estudo de Folle et al (2008) procurou analisar o nível de satisfação profissional de professores de Educação Física na educação infantil, relacionando as variáveis: local, sexo, ciclos de desenvolvimento profissional, formação acadêmica, vínculos empregatícios, motivos para escolha da profissão, nível de satisfação profissional e presença de fatores determinantes de (in) satisfação profissional.

    Segundo Folle et al (2008), os dados analisados foram coletados através de um questionário construído especificamente para o estudo. A amostra foi composta por 54 professores em duas Secretárias Municipais de Educação em Santa Catarina. A investigação obteve os seguintes resultados: O local de atuação, sexo, os ciclos de desenvolvimento profissional, formação acadêmica e vinculo empregatício não estabeleceram correspondência com os níveis de satisfação profissional. Os autores observaram uma correspondência entre os níveis de satisfação profissional e a presença de motivos para a escolha da profissão, sendo o maior fator de influência o interesse esportivo; Os professores mostraram-se insatisfeitos nos aspectos sociais, econômicos pedagógicos (condições de trabalho) e institucionais. Nos aspectos pedagógicos (ensino) e relacionais os indivíduos investigados apresentaram-se mais satisfeitos.

    A investigação de Gori e Azevedo (2007) buscaram conhecer a realidade enfrentada pelos professores de Educação Física em escolas publicas de Jataí, mostrando seus problemas e oportunidades de conviver em sociedade.

    A coleta de dados foi realizada por meio de questionário com questões abertas e de múltipla escolha. A população foi constituída por professores de Educação Física que atuavam em escolas públicas da rede municipal e estadual, totalizando 26 docentes. A pesquisa apresentou os seguintes resultados: Salários baixos que não atendem a necessidade dos professores; Desvalorização profissional; Infra-estrutura escolar precária, número insuficiente de recursos materiais, prejudicando a qualidade das aulas; Extensa jornada de trabalho que dificulta a qualidade de vida, qualificação profissional e o lazer (GORI; AZEVEDO, 2007).

    O estudo de Pedro e Peixoto (2006) visou analisar a satisfação / insatisfação do professor, relacionado-as a auto-estima e a alterações de satisfação profissional, levando em conta as seguintes variáveis: anos de docência e disciplina lecionada. A amostra da investigação foi composta por 79 docentes de todas as disciplinas pertencentes à organização curricular dos 2. º e 3. º ciclos, em cinco escolas da região do Vale Tejo (Portugal). Foram utilizados dois instrumentos para coletar os dados: o Questionário de Satisfação no trabalho para Professores (DIAS, 1996 apud PEDRO; PEIXOTO, 2006) e a Escala de auto-estima de Rosenberg (WYLIE, 1989 apud PEDRO; PEIXOTO, 2006).

    Segundo Pedro e Peixoto (2006) o nível de satisfação profissional dos docentes investigados foi baixo (mais para insatisfação). Os itens mais escolhidos de insatisfação dos professores foram: salário, atitude dos pais e da sociedade perante aos professores e comportamento/disciplina dos alunos. Os itens mais escolhidos de satisfação foram: trabalho direto com os alunos, relação com os alunos e relações profissionais com outros professores. Os docentes com sete a 15 anos de atuação profissional foram os mais satisfeitos com a profissão. Segundo os resultados os alunos são um dos principais responsáveis pela variação da auto-estima do professor.

    Ao que parece, algumas das informações encontradas na investigação realizada com indivíduos na região do Tejo em Portugal são semelhantes com dados levantados com alguns docentes no Brasil.

    O estudo de Silva e Krug (2007) buscou investigar quais os motivos dos sentimentos de satisfação e insatisfação dos docentes de Educação Física Escolar na região central do Rio Grande do Sul.

    A coleta de dados foi realizada através de um questionário, aplicado em professores de 90 escolas das redes de ensino municipal (41), estadual (28) e particular (21) das cidades de Caçapava do Sul, São Sepé, Santa Maria, Júlio de Castilhos e Tupanciretã. Os dados obtidos apresentaram como os principais pontos de satisfação, a afetividade com os alunos; o aprendizado do aluno; o convívio na escola; a competição; o conteúdo esportivo da Educação Física; a liberdade. Os pontos de insatisfação foram: a desvalorização da educação física; falta de condições materiais; baixo salário; a competitividade que o sistema exige; dificuldade de alguns alunos; indisciplina dos alunos; falta de espaço físico; conflito com os colegas (SILVA; KRUG, 2007).

    Outra investigação que teve como objetivo identificar os principais fatores que interferem na satisfação / insatisfação profissional dos docentes em Educação Física Escolar foi o estudo de Venditti Júnior et al (2009). Os dados foram coletados em uma amostra de 40 professores de Educação Física Escolar, na faixa etária entre 25 e 45 anos, atuantes no ensino fundamental ou no ensino médio da rede pública e privada.

    Os autores verificaram que a maior parte dos entrevistados atuava em apenas uma instituição; 60% dos docentes trabalhava de 20 a 40 horas /aulas, sendo que metade desses profissionais trabalhava em turmas com média de 30 alunos. A satisfação / insatisfação dos professores estava relacionado ao interesse ou desinteresse dos alunos, a infra-estrutura da escola e a participação do aluno. Segundo os autores, os principais fatores de dificuldade nas aulas relatados pelos entrevistados foram a falta de interesse e/ou atenção dos alunos, a carga horária excessiva, o número de alunos por turma e a infra-estrutura insuficiente. (VENDITTI JÚNIOR et al, 2009). Embora tenha sido observada em outras investigações grande insatisfação com a remuneração do profissional de Educação Física Escolar, nesta pesquisa o salário parece não interferir na motivação profissional.

    A pesquisa de Farias et al (2008), apresentou como objetivo investigar a qualidade de vida no trabalho dos docentes de Educação Física na rede estadual do Rio Grande do Sul, desde o início da atuação até a aposentadoria.

    O estudo utilizou como instrumento para coleta de dados um questionário e uma escala de avaliação da qualidade de vida no trabalho percebida por professores de Educação Física do ensino fundamental e médio. A amostra foi composta por 7.625 professores de Educação Física do ensino fundamental e médio da rede pública estadual do Rio Grande do Sul. Ao analisar os resultados verificou-se que a maioria dos professores estava satisfeita com a situação no magistério e este nível de satisfação aumentava no decorrer da carreira. A remuneração independentemente do ciclo profissional, foi a principal fonte de insatisfação de todos os docentes (FARIAS et al, 2008).

    Como pode ser observado, a remuneração ainda é um dos pontos de maior insatisfação por parte dos docentes em todo país, principalmente nas redes públicas de ensino.

    A investigação de Ilha e Krug (2009) apresentou como objetivos analisar a carreira de docentes de Educação Física Escolar, detectar traços definidores destes profissionais e caracterizar momentos identificados pelos professores. Estes objetivos foram desmembrados nos seguintes aspectos: melhores e piores momentos da carreira; problemas e crises sentidos no decorrer da profissão; momentos de ruptura profissional; importância da formação inicial e continuada; e motivação do docente para carreira.

    Para a obtenção dos dados os autores utilizaram de narrativas históricas do tipo (auto) biografia. Foram investigados dez professores na cidade de Santa Maria no Rio Grande do Sul, que relataram que os melhores momentos da carreira do docente estão relacionados à boa relação com os alunos. Os piores momentos estão relacionados à entrada na carreira e a relação com alunos difíceis. Os problemas sentidos pelos professores estão relacionados às péssimas condições de trabalho.

    As crises sentidas do decorrer da carreira estão relacionadas às circunstancias especificas de cada docente e em momentos variados; a importância da formação inicial está relacionada a boa base de conhecimentos, já a formação continuada está relacionada a um desenvolvimento normal da profissão; a motivação profissional está relacionada a um bom relacionamento com os alunos (ILHA; KRUG, 2009).

    Novamente, observa-se que um dos pontos de insatisfação dos docentes é a remuneração salarial, problema comum em diferentes regiões do país.

    O estudo de Silva e Nunez (2009) apresentou como objetivo identificar o perfil demográfico e profissional dos docentes de Educação Física Escolar e tentou relacionar o nível da qualidade de vida com a idade, tempo de docência e carga horária semanal.

    Silva e Nunez (2009) procuraram levantar dados sobre a vida de 69 professores de Educação Física na rede municipal de ensino de Campo Grande, Mato Grosso do Sul. Os resultados revelaram que a maior parte dos docentes trabalhava por mais de 20 horas semanais. O aspecto de maior de insatisfação dos professores era a remuneração salarial. Os docentes classificaram sua qualidade de vida como “boa”, no entanto, as variáveis do estudo não apresentaram nenhuma correlação.

    Apesar dos esforços do poder público em oferecer melhores condições de recursos para as escolas públicas e em melhorar a remuneração dos profissionais da educação, os aspectos citados anteriormente também podem ser notados nos profissionais que atuam em escolas do Rio de Janeiro. Ao que tudo indica, as melhorias nas condições de trabalho são menos sentidas nas grandes metrópoles, não por possuírem condições ideais, mas por terem melhores condições do que a maioria das cidades periféricas. Assim, obter mais informações sobre os fatores que interferem na satisfação / insatisfação dos docentes de Educação Física escolar para o exercício da profissão, aprofundando a discussão sobre o tema, em busca de possíveis sugestões que possam contribuir para a melhoria do processo de ensino-aprendizagem, pode favorecer a qualidade das aulas de Educação Física Escolar, bem como fornecer informações para as propostas profissionais que reivindiquem melhores condições de trabalho e de vida para o profissional de educação física.

    O presente estudo teve por objetivos identificar os principais aspectos que interferem na satisfação do docente em Educação Física Escolar e comparar a percepção de professores que trabalham em escolas públicas com a percepção de professores que trabalham em escolas particulares.

Metodologia

    O presente trabalho atendeu as normas para a realização de pesquisa em seres humanos, Resolução 196/96, do Conselho Nacional de Saúde de 10/10/1996 (BRASIL, 1996) e da Resolução de Helsinque – 1975. O estudo caracteriza-se como pesquisa descritiva com abordagem qualitativa por procurar descrever fatos e fenômenos de determinada realidade por meio de um método sistemático de investigação que tem o pesquisador como presença primordial na coleta de dados, e na elaboração do instrumento pelo mesmo. (THOMAS; NELSON, 2007)

    Os entrevistados responderam um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido autorizando a utilização das informações coletadas para divulgação científica desde que garantida a sua não identificação. As entrevistas com 15 professores de Educação Física que ministram aulas em escolas do ensino fundamental e médio das redes de ensino pública (7), e particular (8), no município do Rio de Janeiro, respeitaram a capacidade de verbalização dos sujeitos investigados (THIOLLENT, 1980).

    Os dados foram analisados seguindo uma estatística descritiva para o estabelecimento de categorias de análise, que possibilitou a interpretação dos resultados. (LUDKE, 1986)

    Os dados do perfil demográfico revelaram que a média de idade dos professores da rede pública de ensino foi de 39,6 anos, tendo o mais novo 33 anos e o mais velho 53. No que se refere ao gênero, os resultados obtidos indicaram predominância do sexo feminino (57%) em relação ao masculino (43%). Na rede particular de ensino, os dados do perfil demográfico revelaram que a média de idade dos professores é de 33 anos, tendo o mais novo 21 anos e mais velho 49. Os resultados referentes ao gênero indicaram predominância do sexo masculino (62%) em relação ao feminino (38%).

    Os resultados indicaram que o tempo de atuação dos profissionais na rede pública de ensino, teve como média de 16,7 anos de profissão, tendo como menor tempo de atuação 10 anos e o maior 30 anos. Na rede de ensino privada a média foi de 11,6 anos, o menor tempo de atuação obtido foi de 2 anos e o maior de 28 anos.

    A carga horária semanal dos professores na rede pública era em média 35,7 aulas/hora, enquanto na rede privada de ensino a média de carga horária era um pouco menor, 30 aulas/horas. Os estudos desenvolvidos por Silva e Nunez (2009) e Venditti Júnior et al (2009), constataram dados semelhantes, a maioria dos professores trabalhava por mais de 20 horas semanais.

    Na rede pública de ensino todos os professores entrevistados trabalhavam em mais de uma instituição – 72% em duas instituições, 14% em três instituições e 14% em cinco instituições.

    Na rede particular apenas 13% dos entrevistados atuavam em uma instituição, os demais trabalhavam em mais de uma escola – 37% em duas, 24% em três, 13% em quatro e 13% em cinco escolas. Venditti Júnior et al (2009) também constataram que a maior parte dos entrevistados trabalhava em mais de uma instituição de ensino.

Resultados e discussão

    Na opinião de todos os entrevistados (rede pública e privada), a satisfação do professor de Educação Física Escolar pode interferir no processo de ensino-aprendizagem, o que pode ser observado na fala de alguns docentes:

    “Se o professor de Educação Física levar em consideração a estrutura oferecida pela rede pública, para trabalho, não despertará muito interesse. Por isso, preciso buscar soluções, para que não desista da educação” (Professora 2 – rede pública).

    “Quando o profissional se sente motivado, estimulado, dá o melhor de si e estimula, em contrapartida, o melhor dos alunos” (Professora 3 – rede pública).

    “Se o professor não acreditar no seu trabalho, os alunos sentirão durante as aulas a sua insegurança ou falta de interesse no trabalho, provocando a desmotivação do educando” (Professora 2 – rede privada).

    Questionados sobre a sua percepção de quanto os professores de Educação Física estão motivados para a atuação docente, os entrevistados da rede pública revelaram que os docentes estão pouco motivados (57%), desmotivados (29%) e indiferentes (14%). Na rede privada o resultado foi oposto, pois 50% consideraram os professores motivados enquanto 13% considerara indiferentes, 13% muito motivados e 24% pouco motivados.

    Os dados coletados com professores na rede pública indicaram a percepção de uma maior satisfação, reforçando a pesquisa de Pedro e Peixoto (2006) na qual foi constatado que parte da insatisfação dos profissionais está ligada ao ambiente de trabalho precário e baixa remuneração, aspecto muito semelhante na opinião dos entrevistados da rede pública nesta pesquisa.

    No que diz respeito às dificuldades encontradas nas aulas de Educação Física na rede pública, os principais fatores apontados pelos profissionais foram: comportamento dos alunos (pouco interesse, agressividade e falta de educação - 24%), falta de infra-estrutura (19%) e falta de recursos materiais (19%), baixos salários (13%), desvalorização profissional (10%), carga horária excessiva (5%), número excessivo de alunos (5%) e pouco tempo de aula (5%).

    As principais dificuldades percebidas nas aulas de Educação Física por docentes na rede privada de ensino foram primeiramente a falta de infra-estrutura (27%) e recursos (27%), seguidos do comportamento dos alunos (11%) e o pouco tempo de aula (11%). Também foram citados a falta de apoio pedagógico (6%), a ausência de trabalho interdisciplinar (6%), a carga horária excessiva de trabalho (6%) e a dificuldade em investir em formação continuada (6%).

    As dificuldades encontradas nas aulas de Educação Física no estudo de Venditti Júnior et al (2009) se assemelham às deste estudo, são elas: falta de interesse e/ou atenção dos alunos, carga horária / número de alunos e infra-estrutura insuficiente, tanto em escolas públicas e particulares.

    Na opinião dos investigados da rede pública, entre os aspectos que interferem na atuação do professor de EFE, os principais são a infra-estrutura inadequada e a desvalorização profissional, que ocupam juntos 54% das indicações. A participação do aluno (20%) é outro fator relevante, seguidos de baixa remuneração (8%), falta de orientação pedagógica (6%), falha na formação acadêmica (4%), conflito com colegas de profissão (6%) e pouco tempo de aula (4%). O que de certa forma, vai de encontro aos seguintes estudos: Silva e Krug (2007) que apresentou como principal sentimento de insatisfação a desvalorização da Educação Física; o estudo de Mendes e Gitahy (2006) que apontou como principal fator desmotivante a indisciplina e a falta de compromisso do aluno; e as pesquisas de Silva e Nunez (2009) e Pedro e Peixoto (2006) que apresentaram como maior insatisfação dos profissionais de Educação Física escolar, a baixa remuneração salarial.

    Entre os professores na rede particular os principais fatores apontados que interferem na atuação do professor foram a infra-estrutura inadequada (21%), a baixa remuneração (18%) e a desvalorização profissional (14%), a grande carga horária de trabalho para suprir a baixa remuneração (11%) e falta de orientação pedagógica (6%), o que contradiz a representação social de que nas escolas particulares encontra-se melhores condições de trabalho. Ao que tudo indica, nem todas as escolas particulares apresentam condições ideais. Estas indicações foram seguidas de formação acadêmica inadequada (11%), participação do aluno nas aulas (11%), conflito com colegas de profissão (4%) e o pouco tempo de aula (4%).

    A infra-estrutura surge como um ponto em comum na fala de professores da escola pública e da escola particular. Entre os fatores que podem ser melhorados nas condições de trabalho em Educação Física escolar foram citados:

    “Valorização profissional, salário digno e infra-estrutura adequada” (Professor 5 – rede pública).

    “Formação continuada, planejamento integrado e estruturas dignas de trabalho” (Professora 7 – rede privada).

    “Apoio da direção e dos pais, melhores salários e espaço físico, materiais de boa qualidade, apoio dos professores das demais disciplinas e pequena carga horária” (Professor 5 – rede privada).

    A falta de apoio pedagógico e espaço físico e recursos materiais precários oferecidos aos profissionais de Educação Física na escola, parecem justificar a falta de entusiasmo e satisfação para o exercício da prática profissional.

    Os problemas gerados pela indisciplina dos alunos aparecem destacados na fala dos docentes da escola pública:

    “Existe um problema social que faz com que os alunos cheguem à escola sem o mínimo necessário para um convívio escolar. Isso torna o trabalho do professor mais difícil e complexo, pois temos que educar ao invés de ensinar” (Professora 4 – rede pública).

    Embora não tenham sido destacados quantitativamente pelos entrevistados, os distúrbios disciplinares dos alunos parecem se constituir em obstáculos pedagógicos para o professor.

Conclusões e recomendações

    A pesquisa observou que na percepção da maioria dos professores entrevistados da rede privada de ensino, os docentes em educação física estão motivados para a prática profissional, apesar de estarem insatisfeitos com a falta de infra-estrutura de trabalho, a baixa remuneração e a desvalorização profissional. Estas informações colocam em cheque o senso comum de que nas escolas particulares encontra-se uma infra-estrutura de boa qualidade. Ao que parece nem todas as escolas particulares são bem equipadas ou o equipamento e os materiais disponíveis atendem às expectativas dos professores.

    Na percepção dos docentes da rede pública os professores que atuam na rede pública de ensino se sentem pouco motivados e os principais fatores que afetam sua satisfação são a falta de infra-estrutura adequada, a desvalorização profissional e participação dos alunos.

    Observa-se que uma das dificuldades encontradas nas aulas de Educação Física é o comportamento dos alunos, principalmente na rede publica. Os entrevistados mencionaram que a maioria dos alunos apresentam atitudes indisciplinadas e até mesmo agressivas. Verifica-se na fala dos respondentes que a indisciplina é um fator que pode comprometer a qualidade do trabalho docente, somadas às questões de infra-estrutura inadequada e a falta de recursos materiais.

    De forma geral, os docentes atribuem às péssimas condições de trabalho à desvalorização por parte da sociedade e da escola que não dão a assistência devida para o professor ter uma melhor qualidade nas aulas - o que parece ter impacto na atuação profissional e na qualidade de vida do docente.

    Percebe-se que nas escolas particulares, que supostamente oferecem melhores condições de ensino nas disciplinas escolares, o mesmo não ocorre com a Educação Física, colocada como um apêndice no processo de formação do aluno.

    A baixa remuneração do profissional de educação parece ser reflexo de uma percepção social que não vê a educação formal como um instrumento potencializador de transformações pessoal e social.

    A insatisfação com a baixa remuneração se faz presente na fala de profissionais de escolas públicas e de escolas particulares, e se manifesta na necessidade de que o profissional de educação procure compor a sua remuneração ministrando aulas em mais de uma instituição de ensino, o que parece implicar em uma carga horária de trabalho excessiva que pode comprometer a qualidade do exercício profissional e a qualidade de vida do professor.

    Acredita-se que a motivação do discente é um fator fundamental nas aulas de Educação Física Escolar e que um professor satisfeito pode tornar a aula mais atrativa e proporcionar além do conhecimento, a satisfação e o prazer a seus alunos. Assim, políticas de valorização do magistério que tenham impacto na melhoria das condições de trabalho e nas condições de vida deste profissional poderão contribuir para a melhoria do processo ensino-aprendizagem.

    Novos estudos sobre a interferência do comportamento dos alunos na qualidade das aulas de Educação Física Escolar nas escolas públicas e novas pesquisas sobre a infra-estrutura e recursos materiais encontrados nas escolas particulares, podem ampliar a compreensão do fenômeno aqui investigado. Investigar um número maior de docentes deve contribuir ampliar e aprofundar as questões observadas nesta investigação.

Referências

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