Exercício físico e o metabolismo de gordura: influências na obesidade El ejercicio físico y el metabolismo de las grasas: influencia en la obesidad |
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*Professora da Faculdade de Educação Física da UFG Mestre em Ciências da Saúde – UFG Especialização em Fisiologia do Exercício – UGF Especialização em Treinamento de Força – UVA Especialização em Método Pilates – The Pilates Studio **Graduado em Educação Física pela UFG |
Ms. Juliana Alves Carneiro* Marco Aurelio Oliveira Braga** (Brasil) |
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Resumo O exercício físico modifica diretamente a regulação do metabolismo da gordura corporal, como o consumo, o gasto e o armazenamento de energia, podendo ter influências benéficas no tratamento da obesidade. Objetivo: Esta revisão bibliográfica teve como objetivo, apresentar as alterações no metabolismo da gordura corporal promovidas pelo exercício físico. Método: Para a realização da pesquisa foram selecionados: material bibliográfico textual (livros) e artigos científicos de revistas indexadas nos bancos de dados da Pubmed, LILACS, Scielo, CAPES, Science Direct. Discussão: A intervenção com exercícios promoveria o aumento na taxa de metabolização de gorduras, a perda de peso corporal ou manutenção desta perda, seguido de significativa redução nos estoques lipídicos e ainda, aumentaria os valores percentuais de massa magra, tendo como reflexo, o aumento na taxa de metabolismo de repouso, fatores estes, importantes para o emagrecimento. Conclusão: Portanto, exercício físico, apresentou-se como uma intervenção comportamental efetiva e funcional no tratamento obesidade. Unitermos: Exercício. Metabolismo. Tecido adiposo.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 16, Nº 155, Abril de 2011. http://www.efdeportes.com/ |
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Introdução
A prevalência de doenças relacionadas ao excesso de peso cresce no mundo todo, sendo de origem multifatorial, o sobrepeso e, principalmente, a obesidade, são doenças complexas, por possuírem condições poligênicas, que são afetadas por fatores ambientais1. McArdle, Katch e Katch (2008), apontaram as estimativas mundiais, que indicavam que 300 milhões de pessoas no mundo sofrem de obesidade e pelo menos 750 milhões possuem sobrepeso, onde a obesidade seria a segunda maior causa de mortes previsíveis nos Estados Unidos (300.000 mortes por ano), perdendo apenas para o fumo.
O sedentarismo é considerado por alguns autores2,3,4 como uma das principais causas do sobrepeso e obesidade, sendo até mesmo tão comprometedor quanto o excesso de calorias consumidas diariamente, de forma desnecessária. Há uma redução progressiva da energia gasta em atividades de trabalho, atividades domésticas, ocupacionais e também nas atividades das necessidades diárias e de lazer, devido às alterações decorrentes da urbanização, das alterações na alimentação e da automação dos grandes centros urbanos3.
Hoje em dia, os novos hábitos alimentares e a falta de atividades físicas desordenaram a biologia humana, afetando diretamente, de forma negativa, diversos outros sistemas do corpo humano (sistema cardiovascular, musculoesquelético, metabolismo de carboidratos e gorduras), contribuindo assim para o aumento da prevalência de sobrepeso e de outras doenças crônico-degenerativas na atual sociedade ocidental, também denominada “síndrome dos obesos” como: intolerância à glicose, resistência à insulina, dislipidemia, diabetes tipo 2, hipertensão, concentrações plasmáticas elevadas de leptina, tecido adiposo visceral aumentado e maior risco de doença cardíaca coronariana e de câncer1,3,4,5.
Entretanto, existem evidências de que inúmeras estratégias para intervir na obesidade podem ser usadas para induzir e manter uma significativa perda de peso. Essas medidas incluem: mudanças na ingestão de energia e na composição desta, aumento da energia gasta através de exercícios e atividades física, alterações na composição corporal – aumento da massa magra e diminuição da gordura corporal – e, em casos mais graves, o tratamento farmacológico com o uso de remédios/drogas e até cirúrgico4,6,7,8,9.
A regulação do peso corporal e a homeostase energética estão sujeitas a mecanismos complexos de regulação e manutenção do metabolismo, entre o consumo de energia, o gasto energético e o armazenamento dessa mesma energia, que sofrem alterações com a prática do exercício físico. Neste estudo, será apresentada a relação direta do exercício na regulação do metabolismo da gordura corporal e seus possíveis efeitos crônicos que influenciariam o tratamento da obesidade, como a ajuda na redução ponderal, a alteração da composição corporal e da Taxa Metabólica Basal. Contudo foi elaborada uma revisão bibliográfica com o objetivo de apresentar as alterações no metabolismo da gordura corporal promovidas pelo exercício físico.
Métodos
Para a realização da pesquisa de revisão bibliográfica foram selecionados: material bibliográfico textual (livros) e artigos científicos através de pesquisas em bancos de dados da Pubmed, LILACS, Scielo, CAPES, Science Direct. A busca foi restrita aos artigos encontrados em revistas indexadas que apresentassem a discussão sobre os efeitos do exercício no metabolismo dos lipídios e obesidade. Os descritores utilizados para pesquisa foram: exercício físico; metabolismo; gordura corporal; tecido adiposo; obesidade.
Discussão
1. O tecido adiposo como reserva energética
A gordura constitui o combustível celular ideal, pois cada molécula de gordura contém grandes quantidades de energia por unidade de peso, sendo transportadas e armazenadas facilmente, além de proporcionarem uma fonte ilimitada de energia2. A principal forma de estocagem de lipídios no organismo é o triacilglicerol (TG), armazenado no tecido adiposo10.
O tecido adiposo (TA) representa a maior fonte de energia orgânica e de reserva energética de todo o corpo. O TA, além de sua capacidade de reserva energética, também age como um órgão secretor, tanto de hormônios quanto de outras substâncias químicas, e é responsável por diversas alterações químico-fisiológicas do organismo, tanto do excesso quanto da deficiência de gordura corporal, ambos com significante repercussão médica, social e econômica11,12.
As células do TA encontram-se difundidas ao longo do corpo sem uma conexão física aparente entre suas partes, ao invés de estarem todas aglomeradas em um único local, ou numa única cavidade específica, como a maioria dos outros órgãos. Em segundo lugar, o TA é composto por diferentes tipos de células, que participam em proporções distintas em sua função secretora. O terceiro ponto é que o TA é um tecido heterogêneo em termos de capacidade metabólica, ou seja, dependendo de sua localização, subcutânea ou visceral, ele pode desempenhar papéis distintos. A quarta: algumas adipocinas (moléculas bioativas de proteínas secretoras que atuam em diferentes partes do organismo), também são secretadas por outros tecidos do organismo, sendo quase impossível estabelecer uma relação direta quanto à contribuição do TA em sua liberação. E, por último, ainda pouco se sabe acerca dos mecanismos moleculares envolvidos na síntese e liberação das adipocinas1,13.
As adipocinas influenciam na regulação da homeostase e atuam em diversos processos como: na ingestão de alimentos, no balanço energético, na ação da insulina, no metabolismo de lipídios e glicídios, na angiogênese e remodelamento vascular (desenvolvimento de novos vasos e vias de circulação sanguínea), na regulação da pressão sanguínea e coagulação1,14.
Devido à sua vasta atuação no organismo, essas substâncias têm sido consideradas ultimamente como um dos principais elos entre o excesso de gordura corporal e outras patologias, sendo mantida a associação entre algumas adipocinas e determinadas doenças, como a obesidade1,14. A secreção de adipocinas no organismo, bem como outras características metabólicas, pode ajudar a identificar e esclarecer a diferenciação entre os efeitos do acúmulo de gordura em diferentes partes do corpo1. O tecido adiposo visceral tem uma maior atividade metabólica, sendo mais sensível à ação de catecolaminas e beta-agonistas, e mais resistente à ação insulínica4.
As diferenças na localização dos depósitos de gordura corporal são mais acentuadas no corpo feminino do que no dos homens. A diferença sexual na gordura corporal e no padrão de distribuição da gordura em geral está relacionada também com as variações de lipase lipoprotéica (LLP), a LLP controla a captação de TG circulante pelos adipócitos (armazenamento)11. Os adipócitos nas regiões do quadril, da coxa e das mamas produzem uma quantidade considerável de LLP nas mulheres, enquanto os adipócitos abdominais mostram uma maior atividade de LLP nos homens2.
O maior risco para a saúde, do aumento e do acúmulo de gordura corporal na região abdominal (obesidade central ou tipo andróide, em forma de maçã), particularmente os depósitos viscerais, pode resultar da lipólise ativa desse tecido com a estimulação das catecolaminas (adrenalina, dopamina e noradrenalina). A gordura acumulada nessa região demonstra uma maior situação de risco à saúde biológica dos homens do que, de fato, a gordura que se localiza nas regiões glúteas e femorais das mulheres (obesidade periférica ou tipo ginóide, em forma de pêra). Os aumentos na gordura corporal central estimulam mais rapidamente os processos causadores de doenças crônicas, cardiovasculares, câncer, diabetes tipo 2 e cataratas2.
As mulheres têm um percentual de lipólise inferior à dos homens em exercícios, o que talvez explique por que os homens diminuem as reservas de gorduras mais eficientemente com o treinamento físico do que as mulheres11.
A taxa lipolítica, durante o exercício, é maior no tecido adiposo subcutâneo abdominal do que no tecido adiposo subcutâneo glúteo-femoral, principalmente nas mulheres, no entanto, não há diferenças entre os sexos no repouso11. Evidentemente, isso reforça o caso de que seria, tanto na teoria quanto na prática, muito mais trabalhoso e, conseqüentemente, mais demorado eliminar os depósitos de gorduras centrais, ou abdominais, do que de fato, os depósitos de gorduras periféricos (braços, pernas, quadril e glúteos).
2. O exercício como regulador de gordura corporal
Os exercícios físicos representam um dos mais potentes estímulos fisiológicos para a efetivação da lipólise. Durante os exercícios prolongados, a aproximadamente 50% do VO2max, verifica-se um aumento do fluxo sanguíneo no tecido adiposo10,11. Em exercícios de alta intensidade (acima de 60% do VO2max), a taxa de oxidação dos lipídios é muito baixa, com isso, apenas a energia proveniente da lipólise não consegue produzir ATP suficiente para a contração muscular e, cada vez mais, o ATP derivado da oxidação dos carboidratos e da glicólise anaeróbia são fundamentais para suprir as necessidades energéticas2,10.
As vias energéticas utilizadas em uma atividade sempre irão depender de dois fatores: intensidade dos exercícios e o tempo de duração dos mesmos4,15. Diante disso, podemos afirmar que, quanto mais intensa for a atividade, ou exercício, e quanto mais rápida for a necessidade de se obter energia imediata, menor será a degradação dos ácidos graxos livres para a produção de ATP2,4. Em exercícios de intensidades moderadas por períodos constantes, os meios aeróbios de produção de ATP passam a predominar, sendo estes um tanto quanto mais demorados, porém essas fontes energéticas são mais duradouras que as anaeróbicas2,4.
Durante curtos períodos de tempo em atividades leves ou moderadas, a energia proveniente para os exercícios é derivada de quantidades aproximadamente iguais às da oxidação dos carboidratos ou das gorduras. No entanto, se o exercício persistir por uma hora, ou mais, e as reservas de carboidratos forem fortemente depledadas, ocorrerá, gradualmente, um aumento equivalente na quantidade de gorduras utilizadas como substrato energético. Em exercícios prolongados, os lipídios (principalmente os AGL) podem fornecer aproximadamente 80% do dispêndio energético total. Segundo Maughan, Gleeson e Greenhaff (2000), “isso provavelmente ocorre por causa de uma pequena queda da concentração da glicose sanguínea e de um subseqüente aumento da liberação de glucagon (e diminuição da insulina) pelo pâncreas.”
As concentrações de adrenalina e de cortisol no plasma sanguíneo também aumentam à medida que o exercício progride. Essas alterações hormonais estimulam a mobilização e a utilização subseqüente de lipídios como fonte de energia. A captação de AGL pelo músculo em atividade aumenta durante 1-4 h de exercício moderado contínuo. O processo lipolítico é estimulado pelo exercício, mas ocorre somente de forma gradual. Além disso, não cessa imediatamente após a interrupção do exercício, ao término do exercício, a captação de AGL pelos tecidos musculares caem subitamente, mas os níveis séricos hormonais ainda continuam alterados, incluindo a estimulação da lipólise que também se mantém constante após o termino do exercício, o que gera um aumento agudo da concentração plasmática dos AGL10.
O principal problema associado à utilização de lipídios como combustível para a realização de exercícios é a velocidade com que podem ser captados pelo músculo e oxidados para prover energia10. Essa limitação das vias oxidativas de energia, significa que a utilização das gorduras, enquanto fonte metabólica de ressíntese de ATP, apenas pode suprir energia numa taxa suficiente para manter os níveis de glicose estáveis, ou seja, numa intensidade em que o exercício não ultrapasse os 60% do VO2max10.
Durante a maioria dos exercícios submáximos, uma mistura de lipídios e carboidratos é oxidada para fornecer energia para a contração muscular. Obviamente, quanto mais gordura puder ser utilizada como fonte energética, maior será a economia das reservas limitadas de carboidratos e maior a prolongação do exercício10.
3. Exercício físico e regulação hormonal
O exercício físico é conhecido pela sua eficácia no controle e redução da gordura corporal, e assim, os níveis séricos de alguns hormônios seriam afetados. A leptina tem demonstrado fundamental importância no controle do peso corporal e no metabolismo dos lipídios, controlando o comportamento da ingestão de alimentos e atuando na regulação do gasto energético, além de encontrar-se diretamente envolvida em outros processos, como respostas imunológicas e inflamações1,16.
No entanto, a leptina não limita o armazenamento de gorduras apenas pela inibição da ingestão de alimentos, mas também estimula a liberação de glicerol do tecido adiposo, a oxidação de ácidos graxos e inibe a lipogênese, além de estar relacionada à redução da expressão gênica de enzimas envolvidas na síntese de ácidos graxos16.
A prática habitual de exercícios (aeróbios ou resistidos) e a continuidade do treinamento podem influenciar os níveis de leptina por meio da associação entre redução dos níveis de colesterol e ácidos graxos circulantes, promovidas pelo treinamento, favorecendo o controle da ingesta calórica diária e, conseqüentemente, da redução do peso corporal total1,3,4. Diante disto, temos uma possível justificativa para o fato de como o exercício afetaria a obesidade, primeiramente, por meio do gasto calórico total, levando a um balanço energético neutro ou negativo (gasto calórico = ou > ingesta calórica)1,4.
O processo de síntese endógena de ácidos graxos é comumente denominado lipogênese, muito responsivo a mudanças na composição dietética. O aumento da lipogênese de novo ocorre em razão do excesso de carboidratos, assim, quando ocorre saturação dos estoques de glicogênio, a lipogênese funcionaria como uma “válvula” para que ocorra o estoque do excesso de carboidratos ingeridos16.
As mudanças no estado alimentar, como também a prática de exercícios pode induzir a diversas alterações na concentração sérica de alguns hormônios, como a insulina, o hormônio do crescimento (GH), a adrenalina e o glucagon. Esses hormônios possuem importantes papéis referentes à regulação da lipogênese e possuem respostas agudas em função de diferentes tipos de exercício, particularmente, a insulina tem seus níveis séricos diminuídos com o aumento da intensidade do exercício, sendo que o GH, as catecolaminas (adrenalina e noradrenalina) e o glucagon apresentam níveis séricos aumentados. O cortisol aumenta proporcionalmente no exercício prolongado e extenuante16.
Além da insulina, outro hormônio importante na modulação da lipogênese é o GH. Esse hormônio tem a capacidade de estimular a lipólise, aumento consideravelmente a massa muscular e promovendo a redução do tecido adiposo. Além disso, o GH também pode reduzir a sensibilidade tecidual à insulina e, com isso, a captação de glicose nos tecidos. Esses efeitos, por si só, já seriam capazes de reduzir, de maneira considerável, a ação da lipogênese no organismo, já que isso reduziria o principal substrato intracelular para síntese de lipídios e, aumentariam assim a oxidação de gorduras16.
Outros hormônios que também participam na modulação da lipogênese são a adrenalina e o glucagon e seus efeitos podem ser indiretamente antagonistas aos da ação da insulina, pois eles são secretados à medida que as concentrações de açúcar no sangue sofrem reduções, como durante o exercício com o aumento da intensidade e duração. Os principais efeitos da liberação desses hormônios são: a redução da captação de glicose pelos tecidos: muscular e adiposo; a indução da oxidação dos ácidos graxos no músculo e no TA; e a estimulação hepática da glicogenólise e da gliconeogênese para liberação de glicose na corrente sanguínea16.
4. O exercício aeróbio e resistido como reguladores das alterações metabólicas
As evidências de que existem relações diretas entre a prática de atividades físicas e a regulação da ingestão de alimentos no metabolismo das gorduras é notório. Porém, essa regulação não se trata apenas de adaptações fisiológicas, mas trata-se também de diversas adaptações metabólicas em um nível molecular.
Em relação ao treinamento aeróbio, uma das adaptações mais evidentes é o aumento da capacidade oxidativa muscular, determinada principalmente pelo aumento do número e tamanho das mitocôndrias e pela maior atividade enzimática. Acerca das adaptações morfológicas do exercício, outra modificação importante, determinada pelo aumento da densidade mitocondrial na musculatura esquelética, é a ampliação na capacidade oxidativa de gorduras (ácidos graxos livres) durante o exercício17.
A prática de exercícios é primordial enquanto forma de tratamento terapêutico para várias doenças e/ou distúrbios metabólicos. Diversos estudos comprovam que a prática freqüente de atividades físicas pode trazer benefícios melhores do que qualquer intervenção farmacológica. A partir daí, o exercício físico, enquanto tratamento terapêutico orientado provoca alterações positivas no controle da obesidade, já que, assim o exercício pode controlar os processos patológicos de resistência à insulina1,3,11.
É importante ressaltar que o exercício, seja adicionado ou não ao controle dietético, como estratégia no tratamento da obesidade deve ajudar na perda de peso corporal ou ajudar a manter esta perda de peso. Uma redução dos valores mínimos de gordura corporal (de 5 a 6% para homens e de 8 a 10% para mulheres), mesmo que a longo tempo são considerados essenciais para o tratamento da obesidade, podendo gerar alterações metabólicas na saúde desses indivíduos, que diminuam os fatores de risco de doenças crônicos degenerativas da obesidade7.
Estratégias para o tratamento da obesidade que incluam o exercício aeróbio promovem diminuições no peso corporal através da redução dos níveis de gordura corporal, mas há também uma perda relativa de massa corporal magra. A inclusão do exercício resistido, também denominado treinamento de força, como prescrição para o emagrecimento tem apresentado resultados significativos no aumento e manutenção da massa magra (isenta de gordura)7.
No treinamento resistido, a hipertrofia muscular (aumento na seção transversa das fibras musculares) é uma das adaptações mais acometida, mas não é a única. Há também uma importante adaptação ao metabolismo de repouso em resposta ao treinamento resistido, o aumento da taxa metabólica de repouso (TMR), que nada mais é do que a quantidade de calorias necessárias para manter as necessidades fisiológicas básicas de uma pessoa viva no estado de repouso, mantendo assim uma relação diretamente proporcional com a quantidade de massa corporal magra do individuo18.
No dia a dia, devido às longas jornadas de trabalho, muitas pessoas (principalmente sedentários e pessoas obesas) passam a maior do dia dentro ou nas proximidades dessa faixa de metabolismo de repouso, o que em longo prazo, e com um aumento da massa corporal magra (hipertrofia muscular), aumentariam significativamente os valores do gasto calórico diário (principalmente em repouso) desses adeptos ao treinamento com pesos para que não haja perda desses tecidos orgânicos7.
Desta forma, um pequeno aumento na TMR pode ter significativo impacto no total de calorias metabolizadas durante o dia e, conseqüentemente, ajudar a controlar o peso corporal, já que o treinamento de força possui contribuição direta no processo de emagrecimento devido à tentativa de preservação da massa corporal magra7.
A preservação e ou aumento da massa corporal magra é fator importante, visto que o tecido muscular esquelético é considerado como o principal ponto de adaptações metabólicas promovidas pela prática do exercício que irão regular e direcionar o metabolismo das fontes energéticas, particularmente dos carboidratos e gorduras (lipídios). Essa regulação de outros tecidos e outros órgãos sobre o metabolismo lipídico pode causar diversas alterações fisiológicas importantes na prevenção e tratamento da obesidade. Resumindo, a prática do exercício regular é primordial no controle e regulação dos processos metabólicos e fisiológicos da gordura corporal1,2,10.
Conclusões
Pesquisadores e estudiosos da área vêm tentando demonstrar a funcionalidade e os efeitos do exercício físico, resistido e/ou o aeróbio, enquanto método de diminuição do peso corporal e de redução das reservas energéticas lipolíticas do corpo, que fossem efetivas propostas na prevenção do sobrepeso e no tratamento da obesidade.
Ainda há divergências quanto aos efeitos dos exercícios aeróbios, do treinamento resistido e da dieta nas alterações da composição corporal, no peso corporal e na taxa de metabolismo basal de pessoas obesas podem ser atribuídas a diversos fatores, como a intensidade dos exercícios, as proporções das restrições calóricas, a quantidade e distribuição da gordura corporal, às inúmeras possibilidades de combinações de dietas e exercícios utilizando diferentes protocolos.
Este estudo apontou alguns aspectos relevantes ao processo do metabolismo das fontes lipídicas, durante e após o exercício com diferentes intensidades. A combinação de exercícios resistidos, treinamento aeróbio e a um programa de redução calórica, apresentam-se como os mais eficientes para a efetivação de um protocolo de exercícios voltados para o emagrecimento. Este protocolo levaria o organismo a gerar um aumento na taxa de metabolização de gorduras (tecido adiposo), promoveria a perda de peso corporal ou manutenção desta perda, seguido de significativa redução nos estoques lipídicos e ainda, aumentaria os valores percentuais de tecido corporal isento de gordura (massa magra), tendo como reflexo, o aumento na taxa de metabolismo de repouso, fatores estes, importantes para no tratamento da obesidade.
Portanto, o exercício físico, apresentou-se como uma intervenção efetiva e funcional no emagrecimento, podendo ter implicações diretas no tratamento do sobrepeso e obesidade. Assim, a intervenção com exercícios (aeróbicos e também resistidos), combinada ao controle dietético ou não, poderia ajudar a diminuir a prevalência de intervenções farmacológicas e cirúrgicas na obesidade.
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