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Caracterização do desenvolvimento neuropsicomotor

de lactentes com diferentes graus de prematuridade

Caracterización del desarrollo neuropsicomotor de lactantes con diferentes grados de prematurez

Neurodevelopmental characterization of infants with different degrees of prematurity

 

*Autora responsável. Graduação em Fisioterapia/Bacharelado

**Mestre em Ciências do Movimento Humano

Centro de Ciências da Saúde e do Esporte – CEFID

da Universidade do Estado de Santa Catarina – UDESC

Departamento de Ciências da Saúde – DCS

Juliana Martins Nienkoetter*

julianamn1085@gmail.com

Cristiane Alves da Silva**

cristiane_silvacris@yahoo.com.br

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          Objetivo: verificar a influência dos diferentes graus de prematuridade no Desenvolvimento Neuropsicomotor de crianças de 4 a 24 meses de idade corrigida, acompanhadas pelo Ambulatório de Alto Risco em Neonatologia do Hospital Universitário, da Universidade Federal de Santa Catarina, através das Idades e Quocientes de Desenvolvimento. Método: o estudo é do tipo descritivo exploratório e de campo, de caráter quantitativo. A coleta de dados foi realizada entre junho e setembro de 2009, com a utilização de um formulário padronizado para os dados biopsicossociais, e através da avaliação do Desenvolvimento Neuropsicomotor pela Escala de Desenvolvimento Psicomotor da Primeira Infância. Resultados: foram avaliados 24 lactentes divididos em: Grupo A (prematuro extremo) com 13 indivíduos; e Grupo B (prematuros moderados e limítrofes) com 11 indivíduos. Foi utilizada estatística descritiva para cada Grupo. Quanto à avaliação do Desenvolvimento, o Grupo A apresentou como classificação do Desenvolvimento: Normal Alto para Postura e Sociabilidade, Normal Médio para Coordenação óculo-motriz, Linguagem e Global. O Grupo B apresentou como classificação do Desenvolvimento em Normal Médio para todas as áreas. O teste de Correlação Linear de Pearson, não apresentou correlação significativa da idade gestacional, tempo médio de internação em UTI neonatal, peso ao nascer com as áreas de Desenvolvimento. Conclusão: O Grupo A foi avaliado como mais desenvolvido que o Grupo B, tal fato mostra que, nesta amostra, os fatores intervenientes encontrados na literatura não se aplicaram.

          Unitermos: Prematuros. Desenvolvimento infantil. Crescimento e desenvolvimento.

 

Abstract

          Objective: investigate the influence of different degrees of prematurity in neuropsychomotor development of children aged 4 to 24 months of corrected age, followed by the Clinic of High Risk in Neonatology, of University Hospital, of University of Santa Catarina, through the ages and developmental quotients. Methods: the study is a descriptive and exploratory field of quantitative character. Data collection was conducted between June and September 2009, using a standardized form for data biopsychosocial, and by assessing the Neuropsychomotor Development Scale Psychomotor Development Early Childh. Results: evaluated 24 infants divided into Group A (extreme) with 13 subjects and Group B (moderate and borderline) with 11 individuals. Descriptive statistics was used for each group. The evaluation of the Development, Group A showed evaluation of Development for High Normal Posture and Sociability, Normal Middle Eye coordination, Language and Global. Group B showed classified Development in Normal Medium for all areas. The test of Pearson's, was not significantly correlated to gestational age, mean length of stay in NICU, birth weight, with the five areas of development. Conclusions: Group A was evaluated as more developed than Group B, this fact shows that in this sample, the factors involved in the literature did not apply.

          Keywords: Premature. Child development. Growth and development.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 16, Nº 155, Abril de 2011. http://www.efdeportes.com/

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1.     Introdução

    Com o aumento da incidência de fatores de risco maternos e os avanços da medicina, e assim uma maior sobrevida de pré-termo, verifica-se o aumento da incidência de neonatos prematuros cada vez mais imaturos. O Recém-nascido (RN) de Alto Risco é o que apresenta condições que aumentam o risco de morbimortalidade1,2.

    Conforme Póo-Argüelles et.al.3, a condição de alto risco engloba a presença de fatores biológicos e sociais que, incidentes no período pré, peri e/ou pós natal, proporcionam maior probabilidade à criança de manifestar déficits em seu desenvolvimento3.

    A prematuridade é considerada de alto risco pelas dificuldades de adaptação extra-uterina que surge em decorrência da imaturidade dos sistemas orgânicos, tendo um maior risco de comprometimento do desenvolvimento1,2. A prematuridade eleva o risco de alterações nas funções corticais, distúrbios da linguagem e percepção visual, déficit de atenção, e desordens do aprendizado¹.

    O recém-nascido prematuro é aquele que nasce antes do fim da 37ªsemana ou 36 6/7semanas, considerando a data da última menstruação (DUM). Classificando-se ainda em diferentes graus: limítrofe, moderado e extremo4.

    É através das avaliações do desenvolvimento que se identifica precocemente distúrbios neuropsicomotores e neurológicos, deficiência auditiva e visual4. Atrasos no desenvolvimento são alvos de grandes estudos, sendo a maioria enfática ao concluir que a prematuridade acarreta em atrasos do desenvolvimento.

    Considerando-se a avaliação como um método de extrema importância para a caracterização do perfil motor de recém-nascidos de alto risco neurológico, com base na literatura existente e pela escassez de estudos relacionando o desenvolvimento com os diferentes graus de prematuridade, objetiva-se verificar a influência dos diferentes graus de prematuridade no Desenvolvimento Neuropsicomotor de crianças de quatro a vinte e quatro meses.

2.     Método

    O estudo é de natureza descritiva exploratória, do tipo estudo de campo, de caráter quantitativo5.

    A amostra foi composta por crianças com histórico de prematuridade acompanhadas no ambulatório de Alto Risco em Neonatologia do Hospital Universitário Polydoro Ernani de São Thiago em Florianópolis/SC, entre 4 a 24 meses de idade cronológica corrigida, de junho a setembro de 2009.

    Foi considerado um neonato prematuro aquele que nasce antes do fim da 37ªsemana ou 36 6/7 semanas, considerando a data da última menstruação. Classificando-se em diferentes graus: Grupo I: pré-termo limítrofe (de 36 a 36 6/7 semanas); Grupo II: moderadamente prematuro (de 31 a 35 6/7 semanas); e Grupo III: extremamente prematuro (22 a 30 6/7 semanas)4.

    Foi utilizado como base para avaliar o desenvolvimento a Idade Cronológica Corrigida (ICC), obtida da subtração da idade cronológica o período decorrido da idade gestacional ao nascimento de 40 semanas6.

    O processo de seleção da amostra foi de caráter intencional e conveniente, englobando os critérios de inclusão: autorização prévia dos pais ou responsáveis; freqüência ao acompanhamento do Ambulatório de Neonatologia; estar na faixa etária corrigida de 4 a 24 meses. E os critérios de exclusão: diagnóstico clínico de distúrbios visuais, auditivos, neurológicos ou ortopédicos.

    Para aquisição dos dados biopsicossociais foi utilizado um formulário padronizado7, preenchido pela pesquisadora, com auxilio dos responsáveis e com dados obtidos do prontuário.

    A Escala de Desenvolvimento Psicomotor da Primeira Infância8 foi o instrumento utilizado para a avaliação do desenvolvimento neuropsicomotor. Tal instrumento foi padronizado e validado pelas autoras Brunet e Lézine8, e adaptado para a população catarinense por Souza9, fornecendo Idades e Quocientes de Desenvolvimento Neuropsicomotor, nas áreas Postural, Oculomotriz, Linguagem, Social e Global9.

    Após aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa em Seres Humanos da Universidade do Estado de Santa Catarina pelo número de referência 63/2009, deu-se início a coleta de dados. Foi apresentado o Termo de Consentimento livre e esclarecido, e assinado pelos pais ou responsáveis. Após, o preenchimento da ficha de dados biopsicossociais e posteriormente a avaliação do desenvolvimento neuropsicomotor, com um acompanhante da criança e mínima interferência de estímulos externos durante 30 minutos em média.

    Os dados foram armazenados e tratados no software estatístico SPSS® versão 17.0. Realizada análise descritiva dos dados e estatística inferencial, através do teste de normalidade de Shapirowilk, testes de correlação Linear de Pearson, e teste t de student (p<0,05).

3.     Resultados

    Foram avaliados 24 indivíduos divididos em dois grupos: Grupo A – Prematuro Extremo (IG até 30 semanas e 6 dias) e Grupo B – Prematuro Moderado e Limítrofe (IG de 31 semanas até 36 semanas e 6 dias).

    O Grupo A foi caracterizado por uma amostra de 13 indivíduos, 8 do sexo masculino e 5 do feminino, sendo 2 gemelares. A IG média foi de 201 dias, e Índice de Prematuridade (IP) médio de 79 dias. (Tabela 1)

Tabela 1. Analise descritiva relacionadas ao neonato dos Grupos A e B

    As médias de peso ao nascer foi de 1110,77 gramas; comprimento ao nascer de 36,24 centímetros; perímetro cefálico ao nascer de 26,23 centímetros; APGAR do 1º minuto de 6,76; APGAR 5º minuto de 8,3. 11 RNs foram classificados em AIG; e 2 em PIG; não ocorrendo GIG nesse grupo.

    O Grupo B, foi caracterizado por uma amostra de 11 indivíduos, 2 do sexo masculino e 9 do feminino, sendo 1 gemelar. A IG média foi de 237,09 dias, e IP médio de 43,5 dias. (Tabela 1)

    As médias de peso ao nascer foi 1604,09 gramas; o comprimento ao nascer de 39,77 centímetros; o perímetro cefálico ao nascer de 29,95 centímetros; o APGAR do 1º minuto de 8,18; APGAR 5º minuto de 8,81; 7 RNs foram classificados em AIG; e 4 em PIG; não ocorrendo GIG nesse grupo.

    A idade média da mãe no parto, para o Grupo A, foi de 25,92 anos; nenhuma fumante. Apenas uma mãe não realizou atendimentos pré-natais, oito realizaram de um a cinco atendimentos, e quatro realizaram seis ou mais atendimentos.

    Apresentaram intercorrências gestacionais 8 das 13 mães, sendo que 7 das 13 evoluíram para parto cesáreo e 6 parto normal, tendo apenas 4 com intercorrências perinatais, e todos os 13 RNs apresentaram intercorrências neonatais. Dos 13 RNs, 9 necessitaram de ventilação mecânica, e média de internação em UTI neonatal de 31,1 dias; e o tempo total médio de internação hospitalar foi de 65,8 dias.

    A idade média da mãe no parto, para o Grupo B, foi de 29 anos; sendo uma fumante. Apenas uma mãe não realizou atendimentos pré-natais, 4 realizaram de 1 a 5 atendimentos, e 6 realizaram 6 ou mais atendimentos.

    Apresentaram intercorrências gestacionais 7 das 11 mães, sendo que 7 das 11 evoluíram para parto cesáreo, 1 de cócoras e 3 parto normal horizontal, tendo 6 com intercorrências perinatais, e 10 dos 11 RNs apresentaram intercorrências neonatais. Dos 11 RNs, 6 necessitaram de ventilação mecânica, a média de internação em UTI neonatal foi de 11,2 dias; e o tempo total médio de internação hospitalar foi de 21,7 dias.

    Quanto à presença de intercorrências, o Grupo A apresentou como principais pré-natais: pré-eclâmpsia/DHEG (5); Infecções maternas (4); Hipertireoidismo (1) e Diabetes Gestacional (1). As intercorrências perinatais foram: Parto Gemelar (3); Circular de Cordão (2); Descolamento de Placenta/Bolsa Rota (2); RCIU (1); DIPI (1); Parto Pélvico (1); e Oligodrâmnio (1). E as neonatais: Icterícia Neonatal (10); Distúrbios Metabólicos (5); Síndrome do Desconforto Respiratório (5); Apnéia Neonatal (4); Cardiopatias (3); Infecção (3); Ortopédicos (2); Dermatológicos (2); Hemorragia Periintraventricular (3).

    Para o Grupo B, as intercorrências pré-natais que apresentaram maior freqüência foram: Infecções maternas (4); Hematoma/Equimose (2); Pré-eclâmpsia/DHEG (1); Convulsão e Acidente Vascular Encefálico (1); Trombofilia (1); Cerclagem (1); Sangramentos (1). As intercorrências perinatais foram: Parto Pélvico (4); Descolamento de Placenta/Bolsa Rota (3); Centralização do feto (1); Diástole Zero (1); Polidrâmnio (1). E as intercorrências neonatais: Distúrbios Metabólicos (14); Cardiopatias (11); Hemorragia Periintraventricular (10); Infecção (10); Síndrome do Desconforto Respiratório (10); Icterícia Neonatal (9); Dermatológicos/Outros (7); Apnéia Neonatal (6); Tocotraumatismo (2) e Choque (1).

    Quanto à avaliação do Desenvolvimento Neuropsicomotor, o Grupo A apresentou IC média de 13,1 meses, ICC média de 10,66 meses. A média dos Quocientes de Desenvolvimento (QD) e suas classificações foram: Normal Alto para as áreas da Postura e Social, e Normal Médio para Coordenação Oculomotriz, Linguagem e Global. (Tabela 2)

Tabela 2. Dados descritivos relacionado aos dados antropométricos e a avaliação do desenvolvimento neuropsicomotor

    Já o Grupo B apresentou IC média de 10,72 meses, ICC média de 9,47 meses, a média dos Quocientes de Desenvolvimento (QD) e suas classificações, todos foram classificados em Normal Médio. (Tabela 2)

    Comparando os dois Grupos, os indivíduos do Grupo A se mostrou mais desenvolvido do que os do Grupo B, apesar da IG e do peso ao nascer do primeiro grupo ser menor, e o tempo de internação em UTI neonatal e hospitalar ser maior.

    No Grupo B, quatro indivíduos apresentaram o peso ao nascer abaixo de 1000g e dois deles apresentaram classificações abaixo de Normal Baixo, apenas a área Postural dentro da Normalidade, e não se alimentaram de seio materno. Um desses indivíduos ainda teve o maior tempo de internação em UTI neonatal e hospitalar, ficando 103 dias em ambas.

    Ainda no Grupo B, dos 3 indivíduos com peso ao nascer abaixo de 1500 gramas, 1 apresentou QDC e QDL classificados em Normal Baixo e Inferior, respectivamente, sendo gemelar, PIG, e não se alimentou no seio materno.

    Através do teste de Correlação Linear de Pearson, ao correlacionarmos a IG com os QDs, não foi verificado correlação significante (p<0,05), para nenhuma das áreas. O mesmo ocorre ao correlacionarmos o tempo médio de internação em UTI neonatal, não podendo ser verificado correlação estatisticamente significativa para nenhum dos QDs (p<0,05). No que diz respeito ao peso ao nascer, não foi verificado correlação significativa, para os grupos de forma isolada, nem para a amostra como um todo.

    Os dados foram considerados normais, através do teste de Shapirowilk, nos dois grupos. Ao compararmos os QDs dos dois grupos, através do teste t, não foram verificadas diferenças estatisticamente significativas.

4.     Discussão

    A prematuridade é fator de grande relevância para estudos científicos. O recém-nascido é o indivíduo que está em constante transformação para adaptar-se o mais rápido possível ao seu novo meio10. As sequelas podem ocorrer ou não nos prematuros, contudo, a incidência de deficiência mental e paralisia cerebral é mais elevada nesse grupo comparada com a termos¹.

    De acordo com Olhweiler etal.11, o seguimento neurológico durante os primeiros anos do prematuro demonstra que ao corrigir a idade gestacional, sua evolução não difere da dos recém nascidos a termo, podendo ser acompanhado igualmente11. Justificando o fato do presente estudo em corrigir a idade gestacional para 40 semanas.

    Atrasos no desenvolvimento são alvos de grandes estudos, sendo a maioria enfática ao concluir que a prematuridade acarreta em atrasos do desenvolvimento neuropsicomotor. No estudo de Halpern et.al.12, prematuros avaliados apresentaram atrasos significativos com fatores de ordem biopsicossocial12. O estudo de Méio et.al.13 encontrou atrasos com a Escala de Bayley de Desenvolvimento Infantil13. O estudo de Golin et.al.14 também encontrou atrasos no exame neurológico comparando pelo método Dubowitz, com idade corrigida correspondente a 37 semanas, tendo a sepse como associação para o atraso14.

    Alguns estudos como o de Oliveira et.al.15 e Mancini et.al.16, comparam o desenvolvimento neuropsicomotor de a termos com pré-termos15,16. Outros pesquisadores caracterizaram esse desenvolvimento em populações agrupados pela idade gestacional ou peso ao nascer como o de Barbosa et.al.17, Pereira e Funayama6, Manacero e Nunes18. O presente estudo objetivou avaliar somente os prematuros e os dividiu conforme os graus de prematuridade. Com essa divisão pode-se focar no desenvolvimento neuropsicomotor de prematuros.

    A busca pelas variáveis clínicas e neurocomportamentais do desenvolvimento de prematuros fez com que Barbosa et.al.17, avaliassem 21 recém-nascidos. O desempenho dos pré-termos apresentou diferença estatisticamente significativa em relação ao do grupo normativo. Além disso, Barbosa et.al.17 listaram as complicações maternas frequentes em seu estudo: infecção do trato genitourinário, hipertensão arterial gestacional; oligodrâmnio, descolamento prematuro da placenta; anemia, entre outras17.

    No presente estudo, 8 das 13 mães do Grupo A apresentaram intercorrências gestacionais, e a hipertensão arterial gestacional e as infecções também foram as principais ocorrências. Já no Grupo B, 7 das 11 mães apresentaram intercorrências,sendo as infecções maternas como a principal ocorrência. Pode-se perceber que o estudo de Barbosa et.al.17 corroborou quanto aos fatores maternos com o presente estudo.

    Em relação às complicações neonatais, foram observadas as frequências: síndrome da membrana hialina, infecção, hiperbilirrubinemia, insuficiência respiratória aguda, circular de cordão umbilical, anóxia, tocotraumatismo, displasia broncopulmonar e anemia. A média de internação hospitalar dos RNs foi de 26 dias. Assim como o estudo de Barbosa et.al.17, os Grupos A e B apresentaram como principais intercorrências neonatais a icterícia neonatal, os distúrbios metabólicos e as infecções neonatais.

    Outros estudos propuseram relacionar os acometimentos maternos com o desenvolvimento neuropscicomotor. Dias et.a.l 19 correlacionaram a hipertensão gestacional como de risco para o desenvolvimento neuropscicomotor de 30 lactentes. Entre os resultados, 6 RNs apresentaram alterações ao exame neurológico nas primeiras horas de vida, com o índice de Apgar correlacionado estatisticamente significativa. No presente estudo, os fatores maternos, apesar de presentes na maioria das gestações, não influenciaram no atraso do desenvolvimento neuropsicomotor, assim como o Apgar, estando os dois grupos dentro da normalidade19. A American Academy of Pediatrics20 corrobora com o presente estudo quando descreve que o Apgar não prediz disfunção neurológica.

    Alguns estudos relacionaram grupos de prematuros divididos pelas IG. Engle et.al.21, concluíram que os limítrofes (34-36s6d) são imaturos, possuindo respostas compensatórias limitadas ao ambiente extrauterino, com maior risco de morbimortalidade comparados aos atermos. Considerando que os diferentes graus de prematuridade é um fator importante para o desenvolvimento, corroborando com o presente estudo que não apresentou diferença significativa entre os grupos.21.

    Arnaud et.al.22, objetivaram comparar a prevalência de problemas comportamentais entre o prematuro extremo e os a termos aos 3 anos de idade, perceberam que a diferença entre os grupos permaneceu significativa entre as características sociodemográficas, complicações neonatais, desenvolvimento, hiperatividade e problemas de conduta, finalizando que os prematuros tiveram maiores dificuldades comportamentais do que os a termos22.

    Fatores socioeconômicos também foram relacionados. Na França, uma pesquisa identificou os fatores de risco com a escala de Brunet-Lezine, 380 participaram da avaliação, com IG média de 29,9 semanas. Após a análise dos resultados, o QD de crianças nascidas entre 24-25 semanas foi menor dos com IG acima de 32s, mas uma diferença menor foi encontrada entre 26-32 semanas, e os meninos com um QD menor do que das meninas. O QD foi associado com a IG como a única variável estatisticamente significante. Podem influenciar no QD segundo o estudo: pais casados, fumo materno, ocupação dos pais, esteróides antenatais, hipertensão gestacional, ventilação mecânica, anormalidades severas cerebrais23.

    Apesar dos resultados entre os Grupos do presente estudo não corroborarem com os dados do estudo de Fily et.al. 23, quanto à correlação entre QD e IG, outros fatores pré, peri ou pós-natais podem ter influenciado a população estudada23.

    Um estudo de Suzuki et.al. 24 comparam a freqüência de prematuridade e baixo peso entre 51 mães adolescentes e 81 adultas, encontraram que a gravidez na adolescência esteve relacionada com a prematuridade24. No presente estudo apenas 5 mães das 24 eram adolescentes, mas 3 delas encontram-se no Grupo A, não corroborando com o presente estudo, já que a maioria das mães eram adultas.

    O mesmo estudo relacionou a idade materna com o peso ao nascer, mas não verificou diferença significativa24. No presente estudo, dos 4 prematuros apresentaram peso ao nascer menor que 1000 gramas, 2 de adolescentes e 2 de adultas. Não relacionando a idade materna com o baixo peso ao nascer.

    Saccani et.al.25, realizaram um estudo que vai ao encontro do presente estudo. Avaliou o desenvolvimento através do Teste de Denver II, 36 crianças menores que 6 anos, divididas em desnutridas e controle. Apesar de não serem prematuros, esperava-se que a desnutrição influenciasse no desenvolvimento, mas os dois grupos apresentaram suspeita de atraso, mas sem diferença significativa. Concluindo que condições ambientais e socioeconômicas podem determinar atraso no desenvolvimento25. No presente estudo, o peso ao nascer não obteve correlação significativa com o desenvolvimento neuropsicomotor.

    O peso não foi uma variável significativa somente no presente estudo. Um estudo transversal de coorte prospectivo, com 44 prematuros, utilizando a Escala Alberta (AIMS) verificou a influência do peso de nascimento nas aquisições motoras corrigida. Na amostra estudada, o desempenho motor dos foi normal, e os escores apresentados não foram influenciados pelo peso de nascimento18.

    Outro estudo que corrobora com o presente estudo, comparou o desenvolvimento de 16 pré-termos com 16 a termo, aos 8 e 12 meses de idade. Não foi evidenciada diferença significativa entre os grupos nas duas idades16. Mancini et.al.16, concluíram que na ausência de outros distúrbios e com correção da idade em pré-termo, o desenvolvimento motor pode ser semelhante ao a termos, mas a forma pela qual as crianças nascidas pré-termo adquirem suas habilidades funcionais16. O que pode justificar o fato do Grupo extremo prematuro ter apresentado um desenvolvimento global maior que o Grupo de prematuros limítrofes e moderados, encontrado nesse estudo.

    O estudo de Caon7 objetivou caracterizar os prematuros avaliando lactentes de risco. Identificou em 44,1% prematuros de grau moderado e 55,9% de extrema prematuridade, encontrou atrasos para os dois grupos, diferente do que foi encontrado com esta amostra, que não se observou diferença significativa ou classificações de desenvolvimento abaixo da normalidade7.

    A importância de um programa de seguimento pode ser observada em vários estudos apresentados, mas um fator importante abordado foi o aleitamento materno do pré-termo. Observou-se, de modo geral, uma baixa incidência de êxito na amamentação de prematuros em unidades neonatais de risco. Concluindo que amamentar prematuros é um desafio e as mães de prematuros necessitam de mais informações sobre a importância da amamentação26. Justificando o pouco tempo de aleitamento materno que os prematuros desse estudo foram submetidos.

    O cuidado com o RN começa dentro da UTI neonatal, com a intervenção do prematuro, orientações aos pais e profissionais. Em um estudo de revisão, que em 10 artigos relacionou a intervenção com a saúde dos prematuros, concluiu que a intervenção nesses três seguimentos promoveu um maior desenvolvimento a curto e longo prazo nos quesitos fisiológicos, comportamentais e neurológico27.

    O presente estudo concluiu que o grupo composto por prematuros classificados como extremo (Grupo A) obteve QDs maiores do que os do grupo B (moderado e limítrofe), não havendo diferença significativa entre os grupos. Concluiu também que fatores como o peso ao nascer, Apgar e tempo de internação em UTI neonatal não influenciaram nas variáveis de desenvolvimento.

    Esses resultados instigam os pesquisadores a criarem novas hipóteses e desenvolverem novas pesquisas, para que fatores reais que interferem no desenvolvimento neuropsicomotor de prematuros possam ser suprimidos ou até mesmo poderem ser realizadas intervenções precoces para aqueles neonatos que são de alto risco neurológico. Estudos sobre o desenvolvimento de prematuros são aditivos para a evolução das ciências da saúde e para a população beneficiada direta e indiretamente.

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EFDeportes.com, Revista Digital · Año 16 · N° 155 | Buenos Aires, Abril de 2011
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