Concepção pedagógica de técnicos de natação da prefeitura de São Paulo: um estudo de caso Concepción pedagógica de los técnicos de natación de la prefectura de Sao Paulo: un estudio de caso Pedagogical conception of swimming experts of Prefeitura de São Paulo: a case study |
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*Prefeitura do Município de São Paulo **Universidade São Judas Tadeu (Brasil) |
Sandro Gregoli* Ana Martha de Almeida Limongelli** |
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Resumo O objetivo da pesquisa foi identificar qual a concepção pedagógica (CP) que o Técnico de Educação Física utilizava para ensinar a modalidade natação para crianças iniciantes de 7 a 9 anos de idade no Programa Segundo Tempo da Prefeitura do Município de São Paulo. Este estudo configurou-se por uma pesquisa de campo descritiva de cunho qualitativo. Utilizou-se a técnica de entrevista com roteiro semi-estruturado. Participaram da pesquisa quatro Técnicos de Educação Física efetivos da região oeste da cidade. Os resultados obtidos foram submetidos à análise de conteúdo. Identificamos que metade dos entrevistados ampara-se em um misto de CP: analítica e moderna. Os outros parecem preferir a CP analítica. Unitermos: Natação. Ensino-aprendizagem. Concepção pedagógica.
Abstract The research goal was going to identify which the pedagogical conception (CP) that the Physical Education Expert used to teach swimming modality for children beginners of 7 to 9 years old in the Second Time Program of Prefeitura do Municipio de São Paulo. This study took tape for a descriptive qualitative mark field research. It made use of the interview technique with script semi-arranged. Participated in research four Experts of effective Physical Education of the city region west. The obtained results were going submitted to contents analysis. We identify that half the interviewees leant on a mixed of PC: analytic and modern. The others seem to prefer PC analytic. Keywords: Swimming. Teaching-learning. Pedagogical conception.
Este artigo é parte do trabalho de conclusão de Curso de Especialização em Esporte Escolar do Centro de Educação à Distância da Universidade de Brasília em parceria com o Programa de Capacitação Continuada em Esporte Escolar do Ministério do Esporte sob o título “Ensino-aprendizagem na natação: atuação profissional de Técnicos de Educação Física da Prefeitura da Cidade de São Paulo”.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 16, Nº 155, Abril de 2011. http://www.efdeportes.com/ |
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Introdução
Diante dos inúmeros levantamentos do histórico da natação apresentados na literatura, já ficou evidente a influência das mudanças sócio-históricas da humanidade sobre os significados e funções das atividades aquáticas desde a era pré-histórica até a contemporaneidade. Ao longo dos anos a natação apresentou diferentes significados para a sociedade humana.
Com o passar dos anos a natação tornou-se uma das modalidades esportivas mais praticadas no Brasil (MASSAUD, 2001). Como conseqüência está sendo comercializada mundialmente como uma importante ferramenta para promover a saúde, pois, melhora o condicionamento e a resistência cardiovascular (CAMPION, 2000), aumenta a capacidade respiratória (BATÉS e HANSON, 1998), auxilia no combate de doenças do aparelho respiratório, assim como do coração e do sistema circulatório (MASSAUD e CORREA, 2001), e ajuda na normalização das alterações posturais (KERBEY, 2002). Além desses importantes fatores, salientamos que a natação também está presente como disciplina curricular de diversas instituições educacionais, sendo apontada como uma importante ferramenta do processo de formação do cidadão. Esse olhar educacional da natação, envolve dentre outras ações, a reflexão do professor sobre sua prática tendo como foco central o aluno enquanto ser multidimensional.
A partir do reconhecimento desses amplos benefícios que podemos alcançar com a prática dessa modalidade, a nossa pesquisa teve como objetivo identificar qual a concepção pedagógica que os Técnicos de Educação Física utilizavam para ensinar a modalidade natação para crianças iniciantes de 7 a 9 anos de idade no Programa Segundo Tempo da Prefeitura do Município de São Paulo.
A partir da realização de um estudo histórico-técnico, comparativo e geográfico, os métodos de aprendizagem da natação encontrados formam classificados em três correntes de ensino fundamentadas nas formas do pensamento humano: concepção global, concepção analítica e concepção moderna (CATTEAU e GAROFF, 1990).
A concepção global é a mais primitiva das três citadas, porém até hoje a mesma continua presente em ambientes que estimulem a prática da natação. Essa concepção se explica pelo instinto, pelo inato, pelo espontâneo, ou seja, é uma atividade empírica e autodidata do indivíduo. Nela o indivíduo, voluntariamente, sem preocupação com o método ou organização passa a experimentar formas de movimento que o façam nadar (CATTEAU e GAROFF, 1990).
Já a concepção analítica se opõe a concepção global, tendo em vista primordialmente a preocupação com um método de aprendizagem. Desde o início, a corrente analítica é vista como um empreendimento pedagógico. Essa concepção apresenta uma tentativa metodológica organizada; formas coletivas de trabalho sob o comando do professor; esforço para dividir as dificuldades e abordá-las sucessivamente; introdução do exercício como meio de aprendizagem; aparição do educativo para preparar o exercício difícil; progressão na dificuldade, porém, pelo lado negativo, os alunos são considerados unidades intercambiáveis sem nenhum conhecimento prévio (CATTEAU e GAROFF, 1990).
Opondo-se às duas concepções anteriores, porém mais evidentemente à analítica, a concepção moderna fundamenta-se na compreensão que nadar significa conseguir sustentar-se ou deslocar-se no meio líquido com controle autônomo da respiração, equilíbrio e propulsão. Portanto o praticante precisa resolver os problemas impostos ao equilíbrio, respiração e propulsão, durante o aprender nadar via a co-gestação do aluno e professor. A solução dos problemas é encarada de forma que o aluno é considerado um ser pensante, que possui capacidades e limitações mecânicas, biológicas e psicológicas (CATTEAU e GAROFF, 1990).
Método
O presente estudo configura-se por uma pesquisa de campo descritiva de cunho qualitativo (LAVILLE e DIONNE, 1999; RUDIO, 2000). Os dados coletados foram submetidos à análise de conteúdo, adotando o tema como unidade de registro a partir de seu significado lógico-semântico (FRANCO, 2005). A elaboração dos temas ou unidades temáticas ocorreu por meio de repetidas leituras dos depoimentos coletados.
O critério de escolha adotado para determinação dos sujeitos da pesquisa foi serem Técnicos de Educação Física do quadro funcional da prefeitura de São Paulo, estarem envolvidos com o Projeto Segundo Tempo e trabalharem com natação para crianças iniciantes de 7 a 9 anos de idade em Centros Educacionais Unificados da rede municipal de ensino de São Paulo. Dentro do prazo estabelecido para a produção desta pesquisa, conseguimos contato e liberação para o estudo nos dois Centros Educacionais Unificados da rede municipal localizados na região oeste da cidade de São Paulo. Todos os Técnicos de Educação Física de ambos os Centros que atenderam aos critérios de seleção aceitaram em participar do estudo, perfazendo o total de 4 sujeitos participantes.
A entrevista não é a técnica mais fácil de ser aplicada, mas talvez seja a mais eficiente para a obtenção de informações, conhecimentos ou opiniões sobre um assunto (ANDRADE, 2001). Dessa forma, para a coleta de dados utilizou-se a entrevista semi-estruturada reflexiva (SZYMANSKI, 2002).
Para efetuar a entrevista elaboramos um roteiro a fim de nortear a coleta. Os critérios para seleção das perguntas, que compõem o roteiro norteador da entrevista foram os seguintes: identificar o perfil dos sujeitos entrevistados; fazer uma análise dos conteúdos da aula, observando o método utilizado para a transferência das informações aos alunos; analisar se o entrevistado preocupa-se com a fundamentação teórica do conteúdo ministrado.
No ato da entrevista o sujeito da pesquisa preenchia duas vias de uma Carta de Consentimento de Procedimento de Pesquisa, autorizando a coleta de dados via entrevista individual gravada e também declarava que estava ciente de ter assegurado sigilo de sua identidade durante a apresentação dos resultados e em possíveis comunicações científicas.
Após a entrevista, essa foi transcrita integralmente e enviada ao pesquisado para que o mesmo confirmasse o seu depoimento ou realizasse os ajustes necessários. Depois de tomadas essas ações, o material recolhido foi lido e analisado qualitativamente.
Resultado e discussão
Perfil acadêmico e profissional dos entrevistados
A média de idade dos entrevistados que participaram da pesquisa foi de 33 anos. Os quatro entrevistados possuem o grau de licenciatura plena em educação física, e todos cursaram a disciplina natação durante a graduação. Os entrevistados ao serem interrogados sobre a importância de terem cursado a disciplina natação durante a graduação, todos foram afirmativos. Um dos entrevistados defendeu essa importância ressaltando o aspecto da mesma ter possibilitado vivências práticas. Esse comentário confirma a importância de que para a formação completa do profissional é necessário equilibrar conhecimento prático e conhecimento teórico, pois a partir daí surgirão as reflexões em torno do assunto. Isto vai ao encontro do relato de Kolyniak Filho (1996) que defende:
“(...) a busca de uma formação em que se alia fundamentação teórica significativa e abrangente com domínio de instrumental técnico e metodológico adequado, na perspectiva da criação de um profissional reflexivo, capaz de atuar para o desenvolvimento do meio em que vive, não só reproduzindo o conhecimento construído em sua graduação, mas transformando esse conhecimento e as práticas sociais correspondentes, na direção apontada por uma postura político-ideológica explicita e consciente (p.114)”.
Na seqüência perguntamos aos entrevistados se eles haviam realizado cursos de extensão universitária e/ou formação continuada na área de natação. Todos foram afirmativos em suas respostas, tendo em vista que a Prefeitura da Cidade de São Paulo ofereceu gratuitamente a todos os Técnicos de Educação Física um curso de aprendizagem em natação. Todos reconheceram a importância de participar desses cursos de formação, e dois dos entrevistados citaram outros cursos que por eles foram realizados. O fato de a própria instituição reconhecer a importância de cursos de extensão e oferecer a possibilidade dos seus profissionais se atualizarem e/ou se capacitarem é algo que se deve ressaltar. Pois a metade dos profissionais entrevistados não teria realizado nenhum curso se a instituição não tivesse oferecido gratuitamente.
Com relação ao tempo de atuação profissional junto a Prefeitura da Cidade de São Paulo e à modalidade natação, todos estão atuando desde agosto ou setembro de 2004. Paralelamente ao cargo que exercem junto à prefeitura todos possuem uma outra ocupação, as citadas foram: Professor de Educação Física Escolar, Técnico de Futebol e Professor de Natação, Hidroginástica e Musculação.
Aulas de natação para crianças de 7 a 9 anos de idade
Segundo os entrevistados, a duração das aulas está entre 45 e 50 minutos e a quantidade de alunos atendido está entre 15 e 30 alunos por turma.
Um dos entrevistados, em sua resposta, demonstrou insatisfação com a quantidade de alunos que são atendidos por aula: “Infelizmente nós temos que atender uma grande demanda, então normalmente uma aula de natação aqui na prefeitura, sei que não é o ideal, mas atendemos cerca de 25 a 30 crianças”.
Para Correa e Massaud (2003) o número de alunos ideal para a faixa etária acima de 6 anos é de no máximo 12 alunos. Já Santos (1996) indica para uma aula de 50 minutos, com dois professores, 15 ou 20 alunos por turma. Assim a realidade apresentada pelo entrevistado vai de encontro como a análise da literatura.
Quando questionados sobre as condições de material e espaço todos os Técnicos de Educação Física citaram as mesmas, haja visto que os Centros Educacionais Unificados são órgãos públicos que têm suas estruturas padronizadas. O material para as aulas de natação que todos os profissionais dispõem são pranchas de E.V.A. e acqua-tubes (macarrão ou espaguete). Os espaços utilizados para a prática das aulas são três piscinas: uma semi-olímpica (25m x 12,5m x 1,10m), uma quadrada (12,5m x 12,5m x 0,70m) e uma recreativa (7m x 12,5m x 0,20m).
Dois profissionais utilizam para as aulas só a piscina semi-olímpica, já os outros dois entrevistados, um deles utiliza somente a piscina quadrada e o último utiliza a piscina quadrada e a piscina semi-olímpica.
A postura adotada pelo entrevistado que utiliza as duas piscinas (quadrada e semi-olímpica) pode ser relatada como a mais coerente entre os quatro profissionais, pois ele cita que “Eu inicio na piscina mais rasa, aí depois do deslize, quando a criança está mais solta. Praticamente no final que a gente vai para a piscina mais funda. Quando a criança se sente mais segura”.
Esta postura pedagógica está de acordo com a concepção moderna (CATTEAU e GAROFF, 1990). O referido autor aponta que a preocupação com a profundidade da piscina é um fator importante para a determinação da aprendizagem, o mesmo cita a profundidade de 0,90m como ideal. Assim, a piscina semi-olímpica utilizada por nossos entrevistados pode ser muito profunda para as crianças iniciantes de 7 a 9 anos de idade, o que causaria um receio muito maior para a adaptação ao meio líquido.
A postura pedagógica citada acima também se relaciona ao controle e domínio do esquema corporal, o que é mais um forte traço da concepção moderna.
Bonacelli (2004) faz referência ao esquema corporal apoiando-se na visão de Merleau-Ponty e reforçando a mesma preocupação que o entrevistado demonstrou,
o corpo não é apenas uma coisa, mas sim, algo que se move, que percebe e que é percebido, que toca e é tocado, capaz de se relacionar com o mundo e exteriorizar sua sensibilidade. É o que ele chama de Umewlt (o mundo + meu corpo) não dissimulados (p.96).
Na seqüência da entrevista procuramos identificar mais claramente qual é a concepção que os Técnicos de Educação Física utilizam em suas aulas. Para tal, solicitamos aos entrevistados que descrevessem suas aulas de natação para crianças iniciantes de 7 a 9 anos de idade.
De imediato, conseguimos identificar que todos os entrevistados demonstraram trabalhar com uma seqüência pedagógica coerente, amparados mais claramente por fortes traços da concepção analítica. Com relação ao modo de organizar as estratégias didáticas da aula, verificamos que há uma alternância de estilos de ensino. Parece que dois entrevistados no momento inicial e final de aula optam por estratégias mais lúdicas, ou seja, estilo de ensino não diretivo. Já durante a parte principal a preferência é por estratégia formal, ou seja, estilo de ensino diretivo. Como veremos mais adiante no transcorrer do texto.
Durante o aquecimento percebemos que três dos Técnicos de Educação Física que participaram da pesquisa realizam as atividades em dois momentos. Em um primeiro momento fora da água, os alunos realizam um alongamento dos grandes grupos musculares e em seguida um aquecimento com uma atividade cíclica.
No segundo momento do aquecimento, já dentro da água, dois dos profissionais sugerem uma atividade lúdica que ajuda a promover a adaptação sensorial, reconhecimento do espaço, equilíbrio vertical e em alguns momentos o equilíbrio horizontal. Salientamos os relatos de alguns profissionais que descreveram esse fato:
“... a gente faz brincadeira em roda, brincadeira de sentar ou até mesmo um pega-pega dentro da piscina, onde a criança para salvar a outra tem que passar por baixo da perna. Coisas assim, enfim jogos, eu acho que para as crianças dessa faixa etária tem que ter brincadeira”.
“De forma lúdica porque normalmente aqui eu trabalho com iniciação de 7 a 11 anos, e normalmente de forma lúdica e depois de uma certa vivência da criança na água nos colocamos para elas fazerem esse aquecimento dentro da água como forma dela se desenvolver e perder o medo. (...) para aquecimento pega-pega corrente na piscina rasinha, a piscina de 70 cm, duro ou mole americano aquele que passa por baixo da perna do amigo que foi pego, pega-pega quatro cantos. Enfim algumas brincadeiras que a gente transfere da quadra para a piscina”.
Já um dos profissionais demonstrou um alto tom de formalidade. Observamos nas palavras do entrevistado que as atividades parecem ser mecanizadas:
“(...) entrar na piscina sem correr para não machucar. Senta na borda, bate a perninha para ir molhando o corpo entra na água totalmente. Fica perto da borda fazendo a respiração. Sempre passo para qualquer criança a respiração de inicio. Depois eu passo deslize, sem material, para a criança ir soltando o corpo, um dos exercícios é o deslize. Quando uso a prancha, batimento de perna com o rosto dentro da água, rosto fora da água, utilizo o macarrão com o rosto fora da água com o rosto dentro da água. De costas com o macarrão, sem o macarrão. E quando a criança vai mostrando mais habilidade vou tirando o material e utilizando atividades com mais complexidade”.
Essa ordenação de ações dirigidas parece fundamentar-se nos princípios didáticos preconizados pela concepção analítica da pedagogia da natação (CATTEAU e GAROFF, 1990), reduzindo a natação apenas à reprodução dos movimentos padronizados ao invés de haver uma preocupação com o sujeito que está participando da aprendizagem. Esse foco de ação didática foi constatado no último relato citado acima. É bem verdade que em determinados momentos, o profissional pode estar sendo obrigado a utilizar princípios da concepção analítica em suas aulas de natação a fim de garantir o mínimo de segurança, devido ao elevado número de crianças na aula. Mesmo sendo ele conhecedor das limitações que tal concepção de ensino da natação provoca no ganho da autonomia aquática do indivíduo.
A análise das questões referentes às aulas nos levou a observar alguns aspectos importantes sobre a parte principal da aula. Dois dos entrevistados deixaram claro a utilização do método de ensino-aprendizagem que focaliza a segmentação do movimento, estruturando o processo da parte para o todo, tendo em vista que procuraram decompor o movimento. Um entrevistado respondeu “(...) aí fica uma coisa meio que separada, primeiro perna, depois braço, depois você tem que coordenar perna e braço, e por ultimo perna, braço e respiração”. O outro entrevistado foi interrogado sobre quais estratégias que ele utilizava para desenvolver as técnicas de nado, ele foi categórico e direto para apresentar a sua concepção analítica: “formal, para ensinar a técnica, eu utilizo uma metodologia mais formal”.
Ambos se utilizam do método que se enquadra perfeitamente na concepção analítica (CATTEAU e GAROFF, 1990), visto que procuram decompor o movimento a ser aprendido pelo aluno.
Sobre tal segmentação, Catteau e Garoff (1990) citam que a decomposição sistemática dos movimentos vai resultar em uma falsa solução dos problemas. Perda da unidade e do significado do gesto, por ter sido excessivamente decomposto. Os autores afirmam que o condicionamento proporcionado pelas aulas analíticas (mecanicistas) fazem o aluno reagir passivamente e essa passividade prejudica as aquisições.
Na maioria dos momentos da pesquisa, observamos que os entrevistados demonstraram indícios de direcionarem as suas aulas amparadas pela concepção analítica, muito embora em determinados momentos os entrevistados mostraram ter conhecimento de metodologias que se enquadram na concepção moderna pois reforçam a preocupação do professor no aluno e não no gesto técnico (CATTEAU e GAROFF, 1990). Reforçamos esse fato averiguando essa fala: “(...) trabalhar a princípio tipo, dois a dois sempre a criança está acompanhada com alguém que dê suporte. Por que o problema da água é que você pega a criança com muito receio, com muito medo da história do se afogar, eu vou me afogar. A criança abaixa a cabeça dentro da água, já estou me afogando. Né?”.
No final da nossa coleta de dados solicitamos aos Técnicos de Educação de Física que citassem alguma fundamentação teórica que os mesmos utilizavam para a elaboração das aulas. Mas para a nossa surpresa, somente um dos entrevistados foi capaz de relatar o nome de um autor que ele se apoiava.
Dois outros Técnicos de Educação Física não especificaram nenhuma referência e disseram que as aulas eram planejadas de acordo com os seguintes aspectos: reunião com outros profissionais do Centro, experiência adquirida com tempo de trabalho, estratégias aprendidas em cursos de extensão, alguns livros que leram, porém não se recordavam do título nem do autor, etc.
Um dos entrevistados apresentou uma resposta um tanto diferente, que cabe aqui ser ressaltada: “Na verdade a minha fundamentação teórica é a minha noiva ela é que é professora de natação há muito tempo e ela que me ajuda a desenvolver as aulas, ela que me direciona na fundamentação das aulas”. Com essa afirmação abre-se uma possível dúvida em relação ao o que seria realmente o seu conhecimento específico na área.
Com isso finalizamos a apresentação e a discussão dos resultados, sintetizando os seguintes dados encontrados: todos os profissionais foram preparados academicamente para ministrar as aulas de natação; a Prefeitura da cidade de São Paulo demonstrou se preocupar com a atualização dos profissionais; todos os profissionais têm a preocupação de trabalhar com uma seqüência pedagógica da natação; nenhum dos profissionais adota a concepção moderna para ministrar as suas aulas; dois dos profissionais entrevistados realizam um misto entre as concepções analítica e moderna, apresentadas pelas frases: “Normalmente estratégias mais lúdicas, mas algumas vezes dependendo da turma tem que ser formal....”, já o outro entrevistado,“... em um primeiro momento ela está fazendo perna, num segundo momento braço e num terceiro momento ela vai fazer na mesma aula perna e braço (...) para adaptação do rosto na água (...) a gente faz brincadeira em roda, brincadeira de sentar ou até mesmo um pega-pega dentro da piscina, onde a criança para salvar a outra tem que passar por baixo da perna.” e os outros dois utilizam somente a concepção analítica.
Os entrevistados que abrem espaço em suas aulas para a concepção pedagógica moderna – por exemplo, com a utilização de jogos e brincadeiras – acabam proporcionando aos seus alunos um ambiente mais acolhedor e adequado para a co-gestão dos mesmos, a partir do auto-conhecimento e ampliação de suas potencialidades. Com isso, Santos (1996) destaca a importância do jogo como recurso pedagógico para o aprendizado. Segundo o autor, o aluno aprende melhor com seu corpo em movimento num processo de interação permanente com outros alunos, com o meio e com os materiais.
Considerações finais
Nenhum dos entrevistados foi claro para determinar um método de ensino-aprendizagem. Muito embora, sob o olhar de nossa análise ficou claro que dois profissionais não praticam uma só concepção, e sim realizam um misto, utilizando estratégias da concepção analítica e também da concepção moderna durante suas aulas de natação para crianças iniciantes de 7 a 9 anos de idade.
Na análise dos dados ficou evidente que a quantidade de alunos que os Técnicos de Educação Física devem atender por aula, não é o número por eles desejados, nem indicado como ideal pela literatura apresentada. A grande quantidade que lhe é oferecida acaba fazendo com que o profissional seja um adepto da concepção analítica para evitar ter problemas durante a aula. Já que eles declararam que aplicar uma aula mais lúdica, alicerçada pelos conceitos da concepção moderna pode tornar os alunos mais suscetíveis a ações diversificadas, muitas vezes confundidas com momentos de indisciplina. Desta forma, a opção que os Técnicos de Educação Física fazem é alternar as concepções analítica e moderna para não perderem o controle da aula.
Reconhecemos que a instituição se preocupa com a atualização profissional, porém é necessário ressaltar que para ter um método definido para todos os profissionais com estratégias de ensino bem claras, deve-se preocupar em organizar mais cursos de atualização com maior freqüência.
A pesquisa sugere a necessidade de ampliar o universo dos profissionais pesquisados para que o campo educacional da natação seja melhor esclarecido a fim de que os professores de natação que possam adaptar sua prática de intervenção às verdadeiras necessidades dos alunos enquanto pessoas multidimensionais.
Referências bibliográficas
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BATÉS, A. e HANSON, N. Exercícios aquáticos terapêuticos. São Paulo: Manole, 1998.
BONACELLI, M.C.L.M. A natação no deslizar aquático da corporeidade. 2004. 166f. (Mestrado em Educação Física) – Faculdade de Educação Física, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2004.
CAMPION, M.R. Hidroterapia – princípios e prática. São Paulo: Manole, 2000.
CATTEAU, R. e GAROFF, G. O ensino da natação. 3 ed. São Paulo: Manole, 1990.
CORREA, C.R.F. e MASSAUD, M.G. Natação da iniciação ao treinamento. 2 ed. Rio de Janeiro: Sprint, 2003.
FRANCO, M. L. P. B. Análise de conteúdo. 2 ed., Brasília: Líber Livros Editora, 2005.
KERBEY, F.C. Natação – algo mais que 4 nados. São Paulo: Manole, 2002.
KOLYNIAK FILHO, C. Teoria, prática e reflexão na formação do profissional em educação física. Revista Motriz. Rio Claro, v.2, n.2, p. 111-115, dez., 1996.
LAVILLE, C.A. e DIONNE, J. Construção do saber: manual de metodologia da pesquisa em ciências humanas. Porto Alegre: Artes Médicas, 1999.
MASSAUD, M.G. Natação 4 nados – aprendizado e aprimoramento. Rio de Janeiro: Sprint, 2001.
MASSAUD, M.G e CORRÊA, C.R.F. Natação para adultos. Rio de Janeiro: Sprint, 2001.
RUDIO, F.V. Introdução ao projeto de pesquisa científica. 5 ed. Petrópolis: Vozes, 2000.
SANTOS, C.A. Natação – Ensino e Aprendizagem. Rio de Janeiro: Sprint, 1996.
SZYMANSKI, H. (Org) A entrevista na pesquisa em educação: a prática reflexiva. Brasília: Plano, 2002.
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