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Aspectos pedagógicos das atividades
físico-desportivas aplicadas às crianças

Aspectos pedagógicos de las actividades físico-deportivos aplicadas a los niños

 

*Curso de Educação Física

na Instituição Educacional São Judas Tadeu

**ESEF/UFRGS

(Brasil)

Dr. Francisco Xavier de Vargas Neto*

fxvargasneto@cpovo.net

Dr. Rogério da Cunha Voser**

rpvoser@ig.com.br

 

 

 

 

Resumo

          O presente artigo procura, de forma clara e objetiva, percorrer alguns tópicos de extrema relevância sobre os aspectos pedagógicos que deverão envolver as atividades físico-desportivas com crianças. Para tanto, serão apresentados temas como as possibilidades pedagógico-formativas das atividades físico-desportivas, aspectos positivos da prática de atividades físico-desportivas, a criança e a saúde, a pedagogia no ensino e suas intervenções, modelos de ensino e métodos de ensino desportivo.

          Unitermos: Atividades físico-desportivas. Criança. Aspectos pedagógicos.

 

Abstract

          This article aims at discussing about some topics of extreme importance concerning pedagogical points that should evolve physical and sportive activities among children. This way, this work considers subjects like pedagogic and instructive possibilities resulting from physical and sportive activities, positive aspects of these practices, the child and the health, the pedagogy in education and its interventions, models of education as well as sportive methods of education.

          Keywords: Physical and sportive activities. Children. Pedagogical aspects.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 16, Nº 155, Abril de 2011. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    O fenômeno esportivo infantil tem sido neste início de século, motivo de muitos estudos e questionamentos tanto no que diz respeito aos seus ideários como em relação à sua função pedagógica e sociopolítico-cultural.

    Neste contexto pode-se observar uma influencia e a participação dos profissionais da Educação Física conjuntamente com os pais, como fator determinante no processo de aderência, permanência e até de abandono esportivo do jovem iniciante.

    Ë sabido o quanto será benéfico para a criança a sua participação em atividades físico-desportivas. Seja pelo aspecto de saúde, como também como importante meio de interação social, entre outros tantos.

    Este estudo a seguir irá discorrer sobre importantes temas relacionados aos aspectos pedagógicos na prática esportiva infantil.

Possibilidades pedagógico-formativas das atividades físico-desportivas

    As atividades físico-desportivas, entendidas como atividades naturais de movimento, jogo e confrontação, são elementos básicos para a educação das pessoas, e possuem funções altamente pedagógicas que podem incidir no desenvolvimento equilibrado a harmônico do ser humano. (VARGAS NETO, 1995)

    Ainda o mesmo autor relata que com as atividades físico-desportivas pode-se desenvolver um profundo trabalho educativo, humanizante e integrador, oferecendo tanto uma alternativa gratificante como uma compensação da opressão da vida atual, pois o esporte torna possível a expressão e a satisfação de muitos desejos que o mundo moderno desperta, mas também reprime, como já comentados.

    O reconhecimento universal do êxito e do fracasso no esporte, e especialmente no esporte coletivo, é um elemento essencial de comunicação e, como conseqüência, de educação. Fora do esporte, ou das atividades físico-desportivas, o raio de ação dentro do qual os seres humanos podem atuar sem limitações, e projetar sua personalidade, é cada vez menor. Frente a uma situação tão calamitosa de repressão da liberdade corporal, estas atividades oferecem possibilidades de realização para qualquer pessoa disposta a superar o sedentarismo. Estas possibilidades ativas e comunicativas afetam principalmente aos que participam dinamicamente na prática do esporte, e inclusive, sustentam alguns autores que, os espectadores, cujo número é maior do que o dos participantes, beneficiam-se dos espetáculos esportivos no que diz respeito a comunicação.

    Existem sólidas convicções –devido à experiência pedagógica e as sucessivas reflexões culturais e filosóficas– sobre a conveniência e utilidade da prática de atividades físico-desportivas. Por essa razão, os educadores não duvidaram nunca, de que a prática de um esporte ensina a superar as dificuldades da vida. “O esporte é um dos meios e metas da Humanidade em seus incessantes esforços por superar-se. Sua unicidade reside na intimidade entre os acontecimentos físicos de nosso corpo e suas repercussões sobre nossas mentes”. (JOKL, 1964, p. 477)

    E segue, afirmando o mesmo autor: “O interesse da cultura física pelo cultivo e aperfeiçoamento dos recursos motores do indivíduo aplica-se tanto ao corpo como à mente da qual se originam”. (p. 478)

    Parece demonstrado que a melhora técnico-desportiva incide sobre parâmetros não físicos da pessoa (a capacidade cognitiva, a afetividade, a maturidade da personalidade, a confiança em si mesmo, as relações sociais, a canalização da agressividade, poderiam ser bons exemplos), pelo qual estes argumentos reforçam e consolidam o aspecto educativo do esporte.

    Os valores alcançados através do jogo esportivo –como a interiorização das regras, a colaboração, a aceitação da autoridade, a disciplina, a iniciativa, a superação de si mesmo– configuram uma constelação de condutas positivas, construtivas e integradoras, que se encontram presentes no sistema de valores que cada um assume para si mesmo e com sua maneira de viver. Além disso, estas práticas ajudam à formação da pessoa humana em sua adaptação à vida em geral, e a assumir hierarquicamente os valores.

    Por esse motivo o educador físico-desportivo deve interessar-se pelo aperfeiçoamento da pessoa como tal. Mas para isto, deve adequar-se à realidade de cada indivíduo, descobrindo quais são suas aptidões e seus limites. Esta mesma prática físico-desportiva, com a alternância de êxitos e fracassos, serve de pauta ao educador, para avaliar as condições, capacidades e limitações pessoais de ordem física e mental, dos educandos. O descobrimento intencionado das tensões que o esporte impõe é principalmente de ordem mental.

    Alguns estudiosos como Cagigal (1985), opinam que nas atividades físico-desportivas, encontramos parte das grandes motivações a atitudes, que impulsionaram historicamente os comportamentos do ser humano: em primeiro lugar, o lúdico -a intencionalidade de sua ação está no atrativo do intranscendente e festivo, ainda que sujeito a algum tipo de norma, a questão principal não é ganhar e sim passar bem e aproveitar; e, em segundo lugar, o agonístico– o valor agonístico, entendido como ciência e arte de combate, intencionalidade competitiva, luta contra algo, alguém ou si mesmo. Aos dois componentes anteriores -lúdico e agonístico- Seirul-Lo (1992) agrega um terceiro: o eronístico, cujo valor devemos buscar no gosto e no prazer da realização (não na acepção sexual da escola psicanalítica). É uma forma prazerosa de se enfrentar as atividades corporais, pois o instrumento do esportista é seu próprio corpo, fonte de hedonismo, tanto físico-biológico como mental.

    Sendo comportamentos inatos ao ser humano, podem, contudo, ser cultivados e desenvolvidos através da educação e fundamentalmente por parte da educação físico-desportiva. A história da humanidade parece demonstrar que, todos estes comportamentos enriqueceram o ser humano e contribuíram à sua formação global, favorecendo, entre outras, as seguintes habilidades:

    As habilidades intelectuais

    As habilidades afetivo-sociais

    As habilidades físico-motoras

    Por tudo isso, valorizamos muito positivamente, a potencialidade educativa das atividades físico-desportivas em todas as etapas da vida, e especialmente na infância e adolescência, por se tratar de etapas mais plásticas e receptivas, que ajudam a configurar os comportamentos e estilos de vida adulto. Como conseqüência, as instituições educativas principalmente, deveriam integrar as práticas lúdicas e físico-desportivas de forma sistemática e coerente, com a finalidade de possibilitar um desenvolvimento saudável e harmonioso, proporcionando a vivência de experiências motoras –base do desenvolvimento intelectual-, facilitando a elaboração da identidade e da própria imagem, e a aquisição das capacidades necessárias para dominar os problemas relacionais e os de integração social.

Aspectos positivos da prática de atividades físico-desportivas infantis

    Para a maioria dos pais, a prática de atividades físico-desportivas é uma necessidade. Um estudo francês sobre este tema (DANSE e LAMBERT, em DURAND, 1988) revela que 95% dos pais estão a favor da prática esportiva de seus filhos e que 86% pensa que estas atividades são tão importantes quanto as intelectuais. Da mesma forma, em uma pesquisa encomendada pelo jornal esportivo francês L’Equipe, ficou claro que 67% dos entrevistados são partidários da prática esportiva diária na escola. Em relação à classe médica, a opinião não é diferente das anteriores, se observa que 99% dos pediatras franceses consideram positiva a prática esportiva infantil, reduzindo, no entanto, esta aceitação para 74% quando a iniciação se dá antes dos 7 anos de idade (MANDEL e HENNEQUET, em DURAND, 1988).

    Atualmente, para os médicos e professores de educação física, a prática das atividades físicas e esportivas contribui positivamente também no combate a “degeneração hipocinética”, entendida como uma carência relativa de movimento. Tal doença caracteriza-se pela diminuição da capacidade funcional de vários órgãos e sistemas (LAMB, 1985). Infelizmente, esta enfermidade, que até bem pouco tempo afetava somente aos adultos, está se estendendo hoje em dia também às crianças, como bem assegura Seibold (1974) quando afirma que a vida em um mundo muito civilizado as torna preguiçosas e cômodas perante o tempo, uma vez que as mesmas são liberadas dos esforços físicos, recebendo cada vez menos espaço e estímulos aos jogos livres infantis. Neste momento, é necessário fazer referência aos aspectos negativos da televisão, ao desenvolvimento dos jogos eletrônicos, bem como à tendência das máquinas e computadores de executarem as tarefas cotidianas antes destinadas ao ser humano; influência esta que, segundo Toffler (1980), deverá acentuar-se nos próximos anos.

    Munné e Codina (1992) entendem que todo este contexto colabora para manter as crianças fisicamente inativas, gerando deformações da coluna vertebral, aumentando seus hábitos consumistas e sua passividade perante as mensagens subliminares transmitidas pela TV. Contudo, como diz Scully (1990), nossos corpos não estão adaptados a este nível de inatividade que a tecnologia do século XX nos permite desfrutar.

    Seguindo as idéias de Cotta (em HAHN, 1988), em geral, o esporte fomenta na criança e no adolescente a maturidade, o crescimento e o desenvolvimento. Porém, acrescenta que só é perigoso o esporte de alto rendimento, quando especificamente realizado na idade infantil. Deste modo, é quase unânime o consenso de recomendar a prática esportiva na infância, ainda que muitos entendam que esta possa provocar problemas, se iniciada muito cedo, ou quando estiver totalmente voltada para a competição.

    A afirmação de Thomas (em PERSONNE, 1987) parece ser suficientemente clara quando diz que a aventura esportiva é um enriquecimento possivelmente insubstituível. Por outro lado, salienta que, os caminhos que conduzem aos pódiums e às marcas, deveriam ser traçados sobre as bases de um patrimônio cultural-esportivo-humanista, respeitando o adolescente com o fim de nunca esquecer o menino ou menina, futuros homem e mulher que estão por trás do esportista.

    Diferentes autores e quase a totalidade dos professores de educação física concordam com a afirmação de que é durante as primeiras etapas do aprendizado esportivo que se devem estabelecer as bases do futuro rendimento, sem jamais buscar o rendimento imediato.

    Como se pode ver é necessário que se aplique ao menor um modelo de esporte que não busque o êxito pelo êxito, nem resultados para um futuro imediato, nunca esquecendo que este modelo de esporte deve estar adaptado às reais necessidades, características e possibilidades de seus praticantes. Só assim, poderemos afirmar que, no esporte infantil, prevalece o objetivo principal de contribuir com a formação integral da pessoa humana.

A criança, a saúde e a prática desportiva

    As práticas esportivas competitiva, iniciadas precocemente e mal orientadas, podem ocasionar enormes prejuízos à saúde das crianças. Habitualmente, são detectados problemas ósseos, articulares, musculares, cardíacos e emocionais, dependendo da especialidade esportiva; sobretudo aquelas tecnicamente mais complexas. Estas empregam um grande número de repetições de gestos técnicos, visando a automatização e aperfeiçoamento do movimento. O estudioso Personne (1987) comprovou que um praticante de ginástica olímpica pode realizar ao longo de uma temporada mais de 8.000 saltos (impacto altamente traumatizante para as articulações); um atleta de saltos ornamentais executa mais de 14.000 saltos; um arremessador de dardo, 6.000 arremessos por ano. Já o pesquisador Ferrandis (1994) verifica que, nas corridas de rua, onde crianças e adolescentes são estimulados a participar, um corredor de maratona, durante a prova, executa por volta de 30.000 impactos do calcanhar contra o solo. Nestes impactos, o mesmo pode chegar a aplicar uma força de até seis vezes o peso de seu corpo. No voleibol, sabe-se que um cortador pode chegar a 150 saltos por partida, nos quais seus pés atingem uma altura superior a um metro, onde o impacto de chegada ao solo pode ser de até dez vezes o peso de seu corpo. Devemos pensar também nos anos de preparação, duração e intensidade do treinamento para chegar a este nível. É uma carga demasiadamente forte para o ombro e articulações dos membros inferiores.

    O grande problema deste tipo de risco reside no impacto e na similitude dos gestos, principalmente se nos referimos a crianças em pleno processo de desenvolvimento. Com relação aos riscos do tipo psicológico (saúde mental) em crianças competidoras, foram encontrados níveis anormalmente altos de ansiedade, estresse e frustração. Tudo isto também se evidencia em conhecidos casos de talentos esportivos com futuro promissor que hoje se sentem martirizados internamente por fracassos e desilusões, conseqüentes de maus resultados em competições. De qualquer forma, a resposta psicológica mais preocupante é a que alguns autores chamam de “infância não vivida”, resultado da alta dedicação aos treinamentos, exigida principalmente em algumas modalidades esportivas, podendo chegar a várias horas por dia, durante todos os dias da semana, além da atividade escolar. Kunz (1994) detectou que isto pode provocar uma formação escolar deficiente, e pior, leva a criança esportista a participar menos das brincadeiras e jogos do mundo infantil, atividades estas que são indispensáveis ao pleno desenvolvimento de sua personalidade. Cabe aqui também lembrar, que muitos pais, na ânsia de satisfazerem suas frustrações esportivas de infância, sobrecarregam emocionalmente seus filhos, trazendo enormes prejuízos de ordem psicológica, que, por muitas vezes, podem levar inclusive ao abandono precoce esportivo.

    Como foi visto, se faz necessário despender cuidados especiais para com os nossos pupilos, principalmente no que diz respeito aos objetivos que queremos desenvolver com a prática desportiva, pois ser atleta não significa ser saudável.

    Neste sentido, os profissionais envolvidos neste período de formação esportiva, deverão se utilizar de procedimentos pedagógicos eticamente corretos, que venham ao encontro das necessidades e capacidades da criança.

A pedagogia no ensino das atividades físicas e do esporte infantil e suas intervenções

    Para melhor esclarecer as idéias citadas anteriormente sobre a iniciação e o processo de aprendizagem das atividades físico-desportivas aplicadas a crianças, iniciamos com as palavras de Telema (1986), afirmando que devemos ter em mente que a atividade esportiva por si só não educa; seus efeitos educativos dependem da situação, criada especialmente em relação aos aspectos de interação social e ao clima afetivo-emocional e motivacional existente. Essas condições dependem de diversos fatores, entre os quais a intervenção do educador nos parece fundamental.

    As principais tendências pedagógicas expressas no âmbito da educação formal, como nos fala Balbinotti (1997, p. 86), podem ser denominadas e definidas como reprodutivistas e construtivistas. A concepção repro­dutivista (tradicional) é aquela que prioriza as capacidades intelectuais, situan­do-as como primeiro e mais relevante objetivo na formação do homem. Seus procedimentos didáticos enfatizam processos normativos que visam a uma disciplina rígida. A tônica dessa concepção educativa é uma exposição de conhecimentos por parte do professor, dirigidos a educandos ouvintes e passivos, bem-comportados e estáticos.

    Para o mesmo autor, a concepção construtivista pressupõe estratégias de intervenção pedagógica manifestadas através da integração entre educação intelectual e corporal e de um conceito de autoconstrução. Isso significa que o processo de elaboração do conhecimento se dá com a participação e a intervenção ativa do indivíduo em todas as atividades de aprendizagem. A complexidade do processo de construção do conhecimento exige que o professor exerça o papel de agente estimulador dessas relações de interação, nas quais o indivíduo passa a ser um agente ativo.

    A prática pedagógica segundo Shigunov e Pereira (1993), é um problema central da ação educativa para todos os contextos sociais e fatores envolvidos, quer em nível de intervenção pedagógica como do conteúdo ou da relação.

    A capacidade de intervenção pedagógica, como afirma Carreiro da Costa em publicação de 1988 (citado por SHIGUNOV E PEREIRA, 1993, p. 16), “é não só uma realidade desejável, como imprescindível, ela só ganha verdadeiro sentido pedagógico quando exprime uma metodologia de ensino consentânea com as características da atividade humana”.

    Para Bordenave e Pereira (1983), na relação professor-aluno, o problema reside no fato de não contarmos ainda com suficiente conhecimento teórico e pesquisa para determinar quais as características pessoais que mais ­influenciam a aprendizagem, e de que maneira o fazem.

    Enquanto não forem estudados e evidenciados os elementos mais importantes da intervenção pedagógica do professor, tanto nos aspectos instrucionais quanto nos afetivos, devemos entender que a relação pedagógica não será promovida nem concretizada com toda a sua força formativa.

    As novas tendências pedagógicas para a educação física infantil visam, hoje, a proporcionar que a criança experimente as várias possibilidades de movimentos corporais a partir de sua criatividade e autoconstrução. Nessa abordagem, ela participa intensamente das decisões de todo o processo educativo.

    A educação a ser exercida pelo professor, segundo Finger (1971), deverá obedecer a uma pedagogia e a uma metodologia que, além de permitirem a solução e a previsão de situações decorrentes da aprendizagem e da prática do jogo, respeitem os interesses da idade.

    Sabemos também que, para alcançar nossas metas no meio educativo, além de termos o conhecimento profundo ou até mesmo uma vivência da prática esportiva, é de suma importância possuirmos um conhecimento mais amplo a respeito do grupo que será trabalhado. Isso requer pesquisas e estudos nas áreas diretamente envolvidas com nosso trabalho (VARGAS NETO E VOSER, 2001).

    Por exemplo, quando se desenvolve um trabalho de iniciação espor­tiva para crianças na faixa etária entre 6 e 12 anos, deve-se estar atento para algumas questões pedagógicas que envolvem o processo ensino-aprendizagem (VOSER, 1999 b).

    Para concluir, lembramos que a criança não é um adulto (atleta) em miniatura, e o treinador ou professor, além de sua tarefa técnica, também tem responsabilidade pedagógica com o futuro do jovem a ele confiado.

Modelos de ensino esportivo

    Embora existam vários modelos de ensino, este artigo optará pela análise daqueles que prevalecem nos programas de iniciação esportiva. Portanto, dando seguimento às reflexões, utilizou-se a classificação de Heinila (citado por FERREIRA, 1984) sobre o processo de ensino em educação física. Tal classificação foi utilizada no Brasil por Ferreira (1984); a autora elabora e acrescenta indicadores e referenciais para um esquema conceitual, denominado matriz analítica, a fim de realizar uma crítica à realidade do ensino da educação física infantil.

    Para essa autora, o modelo de reprodução em educação física é caracterizado pela atitude acrítica, tanto da realidade interna constituída pelas experiências que o aluno adquire quanto das condições econômicas, sociais e culturais que constituem a realidade externa. Nele, o esporte é valorizado como paradigma ideal de educação, reproduzindo os padrões sociais da classe dominante. Nesse sentido, os objetivos educacionais servem para conservar e reforçar as diferenças entre as classes sociais. O modelo de reprodução também assume o esporte como foco do sistema de ensino e tem como fonte de informação as técnicas, as habilidades esportivas e o conhecimento dos mecanismos psicofisiológicos do treinamento esportivo. Sua fonte de normas e sanções provém da performance e das vitórias esportivas, das competições e das classificações por desempenho. O professor é visto como o controlador de atividades, treinador e técnico, preocupado em fazer do aluno um atleta em potencial, ou seja, seu objeto de treinamento. As metodologias empregadas têm sua referência em modelos ideais de execução, predominando procedimentos diretivos. Finalmente, no que diz respeito ao critério de avaliação, há um predomínio de caráter somativo. O modelo de transformação, por sua vez, é caracterizado pela atitude de reflexão sobre a realidade, modificando a percepção que o indivíduo tem de suas experiências e do mundo que o cerca. Nessa perspectiva, a educação física é sempre processo, realimentado pela prática consciente dos sujeitos sobre a realidade esportiva, numa concepção dialética, favorecendo a aprendizagem e a avaliação dos resultados. Desse ponto de vista, o professor explora situações de conflito que levam o aluno a perceber a realidade de forma múltipla e a si mesmo como agente dessa realidade. Assim, o foco do ensino é o educando, capaz de decifrar o mundo que o cerca. A perspectiva de transformação tem como fonte de informação o conhecimento funcional da natureza do homem e como fonte de normas e sanções um amplo processo de negociação com as crianças, partindo de seus interesses, necessidades e motivações. Conseguiria-se, assim, articular um sistema de disciplina intrínseco ao processo. O professor, nesse enfoque, é visto como facilitador e orientador das atividades, preocupado em estimular uma participação maior e mais consciente dos alunos em todos os níveis. As metodologias empregadas têm um caráter mais ativo e estimulante; utilizam procedimentos diversificados, dirigidos a motivar os diferentes níveis de aspiração dos alunos, com um predomínio dos processos indiretos de ensino (iniciativa centrada no aluno). Finalmente, com relação ao principal critério de avaliação, haverá uma ênfase sobre a avaliação do tipo formativa. Isso significa que a preocupação existente é a de disponibilizar informações qualitativas em relação ao domínio e não aos objetivos, permitindo a devida colaboração e participação crítica do próprio aluno.

    Os modelos citados por Heinila e Ferreira têm auxiliado diversos estudos a detectar as ambigüidades entre as idéias e ações educativas dos professores em programas de iniciação esportiva. Isso se confirma nos estudos de Brauner (1994), ao analisar as intervenções pedagógicas em programas de iniciação ao basquetebol, e VOSER (1999a), nos estudos em escolinhas de futsal, quando ambos observam uma prática pedagógica tradicional, centrada na competição, no êxito e na seletividade, incidindo numa iniciação precoce.

    Esses achados trazem grandes preocupações e traduzem a realidade no mundo do esporte infantil.

Métodos de ensino na educação física e no esporte

    Todos os professores, em suas atividades de ensino, devem ter conhecimento do processo de aprendizagem e dos métodos de ensino a serem aplicados. Por muito tempo, ao abordarmos o tema dos métodos de ensino em educação física, logo eram referenciados os métodos global, parcial e misto. Tais métodos serviram de inspiração para muitas pesquisas em que, na maioria das vezes, os pesquisadores comparavam um método ao outro, na tentativa de descobrir qual apresentaria maior êxito e eficácia no ensino da educação física. Posteriormente, outros termos e métodos foram surgindo, tais como global em forma de jogo, confrontação, série de jogos, entre outros tantos. Na verdade, a palavra “método” refere-se ao caminho a ser percorrido para alcançar os objetivos propostos.

    Com base na didática, cada professor, partindo de diretrizes metodológicas seguras e atualizadas, pode e deve organizar seu próprio método. O bom professor é aquele que busca constantemente um método melhor e mais adequado a seus alunos, respeitando a realidade, o momento e, principalmente, suas características individuais.

    É importante salientar que cada método tem suas vantagens e desvantagens, mas todos são operacionais, e nenhum é desprezível.

    Algumas dicas importantes para o sucesso no desenvolvimento da aula segundo Voser e Giusti (2002):

Considerações finais

    Os estudiosos dos temas que envolvem a criança na participação de atividades físico-desportivas são unânimes ao afirmar a necessidade da criança em participar de atividades de movimento. Porém, destacam que a maioria dos profissionais usa de metodologias com altos graus de exigências, trazendo prejuízos de caráter físico, emocional, e por muitas vezes um abandono precoce nestas atividades de movimento, principalmente as esportivas.

    Deve se ter em mente que a criança não é um adulto em miniatura e, portanto se faz necessário uma proposta pedagógica que seja eficaz quanto às necessidades, interesses da criança.

    Julgamos, por meio de nossas experiências, que é possível construir e aplicar uma proposta pedagógica que, além de desenvolver na criança os aspectos físicos e técnicos, possibilite a criança o seu crescimento como ser humano.

    Por fim, esperamos ter contribuído através dos referenciais teóricos deste artigo com aqueles que admiram e acreditam em um esporte infantil pedagogicamente orientado.

Bibliografia

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