efdeportes.com

A motivação para a prática do futebol de 

crianças com idade entre 09 a 12 anos

La motivación para la práctica del fútbol en niños entre 9 y 12 años

 

*Graduado ESEF/UFRGS

**ESEF/UFRGS

***UERJ

(Brasil)

Guilherme Lorenzi*

Dr. Rogério da Cunha Voser**

Dr. José Augusto Evangelho Hernandez***

rpvoser@ig.com.br

 

 

 

 

Resumo

          Este estudo de corte transversal, descritivo-exploratório, teve objetivo verificar a motivação para o esporte de 151 praticantes de futebol do sexo masculino de um Clube profissional de Porto Alegre com idade entre 9 e 12 anos. Deste total, 90 eram praticantes da escolinha e 61 da seleção. Como instrumento de medida utilizou-se o Inventário de Motivação para a prática Desportiva de Gaya e Cardoso (1998), composto por 19 perguntas objetivas subdivididos em 3 categorias: competência desportiva, amizade/lazer e saúde. As coletas foram realizadas após a aprovação do Clube e, posteriormente com a autorização do respectivo professor responsável e dos alunos (pais). Os resultados apontam que na dimensão Amizade e Lazer a Análise de Variância revelou uma diferença significativa entre os grupos Escolinha e Seleção. Os escores médios dos alunos da Escolinha superaram os dos integrantes da Seleção. Parece lógico que os integrantes da Seleção sejam menos motivados a praticar o esporte por aspectos relacionados com Amizade e Lazer do que os da Escolinha (que têm menos objetivo de competir e, portanto, também menos motivos em torno da tarefa). Contudo, nas dimensões Competência Desportiva e Saúde não foram constatadas diferenças significativas entre os dois grupos. Também não houve diferenças motivacionais para a prática desportiva entre as diversas posições dos praticantes. Ainda, não houve correlação significativa entre idade e dimensões da motivação. Os dados encontrados sugerem que outros estudos possam aprofundar estas questões motivacionais que envolvem ambientes caracterizados por serem mais competitivos e outros com o enfoque de formação e de lazer.

          Unitermos: Motivação. Futebol. Crianças.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 16, Nº 155, Abril de 2011. http://www.efdeportes.com/

1 / 1

1.     Introdução

    O esporte é sem sombra de duvidas um fenômeno econômico e social de primeira importância, no mundo moderno. Por isso exerce uma influência para que aumente a participação do ingresso de crianças no esporte, seja para a ocupação do tempo livre, como busca de uma vida saudável ou até mesmo como profissão.

    É de extrema importância que saibamos o que motiva estas pessoas a ingressarem, se manterem ou até mesmo a abandonarem o esporte.

    A motivação para a prática esportiva constitui um caminho fecundo de investigação psicológica básica, e sua aplicação de conhecimento vem sendo utilizada por profissionais das atividades físicas e desportivas. Entende-se que é necessário, para haver um bom desenvolvimento da aceitação e melhor aprendizagem das atividades físicas, um programa relacionado com os interesses dos indivíduos que participam dessas atividades.

    Embora o esporte seja altamente salutar e empolgante em todos seus aspectos, algumas pessoas perdem a motivação e o interesse. Situações ocorridas por fatores intrínsecos e também por fatores extrínsecos, podem comprometer, levando ao abandono, ou até mesmo ao atleta não atingir o máximo de seus resultados.

    Faz-se necessário compreender as diferenças entre as populações sobre o que pode levar a uma maior ou menor motivação em seus participantes.

    Para tanto, este estudo levanta o seguinte questionamento:

    Existem diferenças motivacionais entre praticantes da escolinha daqueles que foram escolhidos para fazerem parte da seleção do clube? A hipótese deste é que existam diferenças entre os grupos em função que os mesmos encontram-se em ambientes com propostas distintas. O objetivo geral desta pesquisa foi de analisar os aspectos motivacionais para o esporte de praticantes da escolinha e da seleção de um clube profissional. Como objetivos específicos o presente estudo teve a preocupação de: comparar os 2 grupos pesquisados analisando as dimensões competência esportiva, amizade e lazer e saúde; verificar se existe alguma relação com a idade ou com a posição que ele joga.

    Este artigo está estruturado com a apresentação da introdução acima, seguido de uma breve revisão de literatura sobre o tema, metodologia, apresentação e discussão dos resultados, conclusões, referências e anexo do instrumento.

2.     Revisão de literatura

2.1.     A Motivação

    A motivação constitui um campo fecundo de investigação psicológica básica e sua aplicação de conhecimento vem sendo utilizada por profissionais das atividades físicas e desportivas.

    Para Becker. (1996) a motivação é um fator muito importante na busca de qualquer objetivo, pelo ser humano. Os treinadores reconhecem este fato como sendo principal, tanto nos treinamentos como nas competições. Assim sendo, a motivação é um elemento básico para o atleta seguir as orientações do treinador e praticar diariamente as sessões de treinamento.

    Marques (2003) afirma que a motivação é o combustível do atleta. Por isso, não pode prescindir sem ela. É através desse elemento que os atletas vão conseguir empenhar-se, dedicar-se e até superar obstáculos dentro do meio esportivo.

    Motivo ou motivação, de acordo com Davidoff (2001), refere-se a um estado interno que resulta de uma necessidade, e ativa ou desperta um comportamento usualmente dirigido ao cumprimento da necessidade ativa.

    A motivação segundo Samulski (2002) é caracterizada como um processo ativo, intencional e dirigido a uma meta, o qual depende da interação de fatores pessoais (intrínsecos) e ambientais (extrínsecos).

    Weinberg e Gould (2001) ao correlacionarem à motivação intrínseca e recompensas externas, afirmam que as recompensas extrínsecas têm o potencial de abalar a motivação intrínseca. A teoria de avaliação cognitiva demonstrou que as recompensas extrínsecas podem aumentar ou diminuir a motivação intrínseca dependendo de a recompensa ser mais informativa ou mais controladora. Dois exemplos do efeito de incentivos no esporte são as bolsas de estudos e ganhar ou perder. Ainda afirmam que os técnicos, professores e instrutores podem aumentar a motivação intrínseca por meio de vários métodos, como usar elogios verbais e não-verbais, envolver os participantes nas tomadas de decisão, estabelecer objetivos realísticos, tornarem as recompensas dependentes do desempenho e variar o conteúdo e a seqüência de treinamentos práticos.

    Carraveta (2006) salienta que surgem numerosos indutores de motivação no processo de desenvolvimento técnico dos atletas, seja por meio de objetos, pessoas ou situações que impulsionam estados de atuação. Os indutores não atuam com a mesma intensidade e não são os mesmos para todos os atletas.

    Os desportistas em geral são motivados pela obtenção de bons resultados, pela progressão da performance esportiva, por um desafio pessoal e pela busca de atenção diferenciada. Já no meio futebolístico, predominam como prioritárias as motivações extrínsecas, sustentadas por recompensas materiais.

    No seio de outras modalidades esportivas, predominam motivações intrínsecas, como auto-estima, busca da excelência na performance desportiva, satisfação pelas tarefas bem realizadas, elevados índices técnicos nas competições, e só num segundo plano aparece às recompensas materiais. São consideradas, assim, pelo autor, motivações mais duráveis e que produzem um diferencial positivo em relação à conduta dos atletas.

    Segundo Figueiredo (2000) o atleta, no início de carreira, é impulsionado basicamente por motivos intrínsecos, pois geralmente treina sem receber nenhum tipo de recompensa externa, competindo por muito tempo sem alcançar uma colocação significativa. À medida que esse atleta adquire mais experiência e resultados satisfatórios, começa a obter recompensas externas, como patrocínio, salário, medalhas, etc. Em muitos casos, as recompensas externas somam-se à motivação intrínseca. Em outros, essas recompensas acabam substituindo a motivação intrínseca do atleta, podendo influenciar negativamente no seu desempenho e em sua carreira.

    Franco (2000) afirma que a motivação intrínseca é aquela razão, aquele motivo, que vem de dentro da pessoa. Gosta de fazer determinada coisa por uma razão interna, como um desejo que brotasse do íntimo. A pessoa pratica esporte pelo simples prazer de praticar, a razão e o gostar da prática em si. A motivação extrínseca é a razão pela qual se faz algo e é apenas um meio para se alcançar outro objetivo maior. A ação em si não satisfaz e sim o que decorre dela. Uma pessoa resolve fazer ginástica só para ser aceita num grupo ou com o firme propósito de elevar sua auto-estima. Não pratica pelo prazer que atividade lhe proporciona, mas sim alcançar outras coisas que na realidade são seus reais motivos.

    Guillermo (1995) conceitua que motivação é ter um objetivo e fazer as coisas de melhor maneira possível para consegui-lo. É um processo que se cria e se vai transformando. Por conseguinte obtém, satisfação, reconhecimento social, aprende dia a dia pequenas coisas que o fazem sentir que melhora sua marca e recompensas econômicas que provavelmente ajudará a que persista treinando.

    Pelletier e Cols (1995) (apud GOUVÊA, 1997) motivação intrínseca refere-se ao comprometimento em uma atividade puramente por prazer e satisfação, obtidos por fazer a atividade. Quando uma pessoa é intrinsecamente motivada ela decide executar o comportamento voluntariamente, sem precisar de gratificações materiais ou obrigações externas. Atletas praticam seu esporte pelo prazer de aprender mais ou pela satisfação de ultrapassar seus próprios limites. Embora haja outros agentes socializantes, que possam contribuir diretamente para um maior interesse dos jovens pela prática esportiva.

    Scalon (2004) citando Cratty (1993), afirma que crianças motivadas intrinsecamente têm probabilidade de ser mais persistente, apresentar níveis de empenho mais alto e realizarem mais tarefas do que as que requerem reforços externos.

    Para Machado (1997), a motivação dirigida pelo íntimo é conhecida como intrínseca e a dirigida exteriormente é a extrínseca, a motivação intrínseca é inerente ao objeto de aprendizagem, à matéria a ser aprendida, ao movimento a ser executado, não dependendo de elementos externos para atuar na aprendizagem. Deriva-se da satisfação inerente à própria atividade de aprender, está sempre presente e é eficiente.

    A motivação extrínseca seria mais relativa à própria atividade da aprendizagem, não sendo o resultado do interesse, mas sim determinada, por fatores externos à própria matéria a ser aprendida, como no caso do “bicho” no futebol ou a nota na escola. Para que se possa ter um grau satisfatório de eficiência na aprendizagem é preciso de algum motivo como a necessidade, desejo, interesse, impulso, curiosidade ou utilidade.

    Gill (1986) citado por Buruti (2001) descreve que as pessoas empregam comportamentos intrinsecamente motivados quando recompensas extrínsecas ou reforços não estão presentes. A ausência de recompensas extrínsecas é freqüentemente determinada a partir de motivações intrínsecas, ou seja, a maioria das pessoas usa uma atividade na quais as recompensas extrínsecas não estão presentes, o importante é a motivação intrínseca para aquela atividade.

    Recompensas extrínsecas são comuns nos esportes, mas elas não consideram para todos os esportes a participação e a atividade. A maioria das pessoas participa dos esportes por razões intrínsecas, tais como excitação, desafios ou sentimentos de realização.

    Weinberg e Gould (2001) cada um desenvolve uma visão pessoal o que nos motiva, observando outras pessoas como são motivadas. Os autores salientam que a maioria das pessoas se encaixa em três conceitos de motivação:

  • A visão de motivação centrada no traço, denominada também, de visão centrada no participante, sustenta os autores, que o comportamento motivado se dá primeiramente em função de características individuais, ou seja, a personalidade, as necessidades e os objetivos de um aluno, atleta ou praticante de exercícios, são os determinantes do comportamento motivado.

    • Afirmam, ainda, que algumas pessoas têm atributos que parecem torná-las mais predispostas ao sucesso e a altos níveis de motivação, enquanto que outras parecem necessitar de motivação, de objetivos pessoais e de desejo. Entretanto, somos em parte afetados pelas situações nas quais somos colocados.

  • A visão centrada na situação sustenta que os níveis de motivação, essa segunda visão, dizem os mesmos, é determinada, primeiramente, pela situação onde se permanece motivado a despeito do ambiente negativo, por exemplo, um aluno ou atleta que tivesse um técnico de quem não gostasse que constantemente gritasse e o criticava, mas ainda assim não abandonaria o time ou perdesse a motivação.

  • A visão de motivação interacional entre o indivíduo-situação, sustentam os autores, a mais aceita por psicólogos do esporte e do exercício, mam que a motivação não resulta somente de fatores relacionados aos indivíduos, tais como personalidade, necessidades, interesses e objetivos, nem somente de fatores situacionais, tais como o estilo do técnico ou do professor ou o registro de ganhos e perdas de um time. A melhor maneira de entender motivação é examinar o modo como esses dois conjuntos de fatores interagem, ou seja, considerar tanto a pessoa como a situação e o modo como elas interagem.

2.2.     Estudos sobre a motivação para o esporte

    Sapp e Haubenstricker (1978), no estado de Michigan examinaram as razões para a prática de esportes em jovens de 11 a 18 anos e revelaram que os fatores motivacionais eram: a) diversão; b) adquirir habilidades; c) aptidão física; d) ter amigos e e) fazer novos amigos.

    Gill, Gross e Huddleston (apud PASSER, 1982) relacionam em seus trabalhos os seguintes motivos para a prática esportiva infantil:

  1. Afiliação: novas amizades, pertencer a um grupo;

  2. Desenvolvimento de habilidades: "ser bom em alguma coisa”;

  3. Excitação: ação, experiências novas e interessantes;

  4. Sucesso e status: tornar-se importante, ganhar reconhecimento;

  5. Aptidão física: ficar em forma, fazer exercício;

  6. Descarregar tensão.

    Para estes autores é difícil colocar esses fatores num "ranking", já que existem muitas diferenças individuais.

    O instrumento de Gill, Gross e Huddleston (1983) foi construído para avaliar os motivos que jovens têm para justificar suas participações no esporte e sua construção foi desenvolvida em três etapas. Na primeira etapa, foi solicitado a 750 jovens e 750 adultos que indicassem as razões para participação em programas esportivos para jovens. Com base nas respostas destes foi gerado um questionário de 37 itens. Na segunda etapa, 51 jovens, de ambos os sexos, participantes de esportes responderam ao instrumento. Os respondentes usaram uma escala tipo Likert de três pontos para fornecer suas respostas. Os itens ambíguos ou inadequados foram excluídos e restaram 30 itens. Na fase final, 720 meninos e 418 meninas com idade entre 8 e 18 anos que cursavam uma escola de esportes de verão responderam novamente ao questionário. Os dados foram submetidos à Análise Fatorial que revelou que os 30 motivos saturaram em oito fatores: Realização/Status, Espírito de Equipe, Fitness, Gasto de Energia, Fatores Situacionais, Desenvolvimento de Habilidades, Amizade e Diversão.

    Serpa (1992) traduziu para o português o inventário de Gill et alii, que intitulou-se: Questionário de Motivação para as Atividades desportivas, aplicando-o a 750 alunos de desporto escolar em Portugal, apontou como principais motivos para a prática desportiva: a) estar em boa condição física; b) trabalho em equipe; c) aprender novas técnicas; d) espírito de equipe; e) fazer exercícios e, f) manter a forma.

    Smoll (1988) em um capítulo do livro “A comunicação do treinador com os pais dos Atletas” afirma que motivos que levam os jovens a praticar o desporto são:

  • distrair-se;

  • melhora aquilo que já sabe na modalidade;

  • aprender novos elementos;

  • estar com amigos e arranjar novos amigos;

  • emoção e excitação;

  • ganhar ou ter êxito;

  • ficar mais “forte”.

    Rombaldi A.J. Cols (2000) ao verificarem os fatores motivacionais que causam o abandono precoce de futsal por parte de crianças e adolescentes, concluiu que os principais fatores geradores são os prejuízos causados a continuidade dos estudos e ao relacionamento com os técnicos.

    Paim (2001) em seu estudo teve como objetivo verificar quais os motivos que levam adolescentes ambos os sexos, na faixa etária de 12-17 anos a praticar o futebol. Os resultados estão mais relacionados à competência desportiva e saúde, e também aos aspectos relacionados à amizade e lazer.

    O estudo de Machado (2003) buscou investigar quais os fatores motivacionais que influenciam os adolescentes a aderirem aos programas de iniciação esportiva. Os resultados apresentaram que os fatores motivacionais que influenciam os meninos são relacionados à saúde, enquanto o importante para as meninas são os aspectos vinculados ao divertimento. A mesma ainda salienta que os aspectos valorizados pelos treinadores e educadores não são os mesmos dos jovens participantes. Sugere que seja dispensada a atenção à saúde e ao divertimento, mediando motivos individuais com os objetivos a serem alcançados e, desta forma, garantindo a aderência dos jovens no esporte.

    Ao analisar os fatores motivacionais que influem na aderência ao esporte e no abandono dos programas de iniciação desportiva, em crianças, na faixa etária de 9 a 12 anos de idade, Scalon (2004) chegou às seguintes conclusões:

    Em relação à aderência, toda a criança que ingressa nos programas de iniciação desportiva vai à busca, principalmente, do divertimento, da alegria e do prazer; a criança se preocupa muito com a sua saúde, portanto, ela vai à busca de um hábito de vida saudável para adquirir ou manter mais saúde, força e desenvolver um bom preparo físico; a criança também quer aprender e aprimorar novas técnicas e habilidades esportivas; ela vai ao encontro de seus amigos e, também, no intuito de fazer novas amizades; gosta de participar e fazer parte de um grupo esportivo. Já em relação ao abandono entre os 221 sujeitos investigados, no grupo caracterizado de abandono “burnout” da prática desportiva, na Sociedade Ginástica de Novo Hamburgo, somente 75 realmente abandonaram as atividades esportivas; a comparação entre 75 casos de “burnout” nos dois sexos verificou-se que 40 sujeitos eram do sexo masculino equivalendo a 53%, e 35 sujeitos eram do sexo feminino representando 47%; o esporte individual apresenta mais casos de “burnout“ do que o esporte coletivo; entre os esportes individuais, a natação é a modalidade que apresenta maior número de casos de “burnout”; na aplicação do Instrumento dos Fatores do Abandono, na Sociedade Esportiva Ginástica de Novo Hamburgo, identificou-se a ordem dos fatores que provocam o quadro do “burnout”: relacionamento com o técnico; monotonia nos treinamento; falta de apoio por parte do técnico; relacionamento com companheiros da equipe; não ser tão bom como gostaria; pressão e cobrança excessiva por parte do técnico; estresse da competição.

    Alguns fatores encontrados por Buonamano e Mussino (1995) para a motivação de crianças na prática inicial foram: diversão 49,2%; motivos físicos 32,0% (ficar em forma, saúde, ficar forte); razões sociais 8,9% (fazer novos amigos); razões competitivas 4,2%; aprender e desenvolver habilidades motoras 2,9%; ascensão social 2,8% (status, dinheiro e popularidade).

    No trabalho acima não foram encontradas diferenças entre praticantes dos dois sexos. A relevância das razões competitivas crescia de acordo com a idade dos atletas questionados.

    Estudo de Berleze (1998), com crianças de 8-10 anos, em relação à preferência dos motivos para a prática de atividades motoras na escola, para o sexo feminino os mais citados foram de ordem interna, relacionados ao ego, onde o divertimento e a distração ser os mais relevantes para este grupo, e para o sexo masculino foram de ordem relacionada com a tarefa, onde o prazer pela realização do movimento, o gosto pelo esporte e a aprendizagem de movimentos novos foram os mais relevantes, estes achados corroboram com os encontrados no presente estudo.

    Nessa perspectiva, cabe ressaltar um estudo muito próximo ao que é proposto nesta pesquisa que foi realizado por Oliveira (1997), que analisou os possíveis efeitos das variáveis faixa etária (10 a 14 anos), nível de prática, divididos em dois grupos, NP1(treinam uma vez na semana, jogam campeonato interno) e NP2 (treinam 3 vezes por semana e participam de campeonatos externos), e as prováveis interações entre essas variáveis sobre as três dimensões da motivação para a prática desportiva: aspectos relacionados à saúde, amizade e lazer e competência desportiva.

    Ao analisar a motivação através dos 3 fatores, concluiu que:

    Na competência desportiva não há diferença significativa entre NP1 e NP2, o que prova haver um espírito competitivo nos dois grupos, com expectativas para o futuro dentro de um grande clube de futebol, o Grêmio FBPA. No aspecto amizade/lazer, e no âmbito da saúde, NP1 e NP2 se diferenciam bastante, isso por que: professores de NP1 enfatizam também em suas aulas os aspectos recreativos; já professores de NP2 dão maior ênfase ao rendimento, e a busca pelo resultado já é uma realidade. Com isso os melhores devem ser os titulares, ganhando maior prestígio em relação a seus treinadores, que enfatizam o treinamento para competições externas a escolinha, deixando para um segundo plano aspectos de amizade, lazer e saúde, que também podem proporcionar a prática desportiva. A seguir é apresentada a metodologia que deu respaldo a busca dos achados desta pesquisa.

3.     Metodologia

    Este estudo de corte transversal, descritivo-exploratório, teve objetivo verificar a motivação para o esporte de 151 praticantes de futebol do sexo masculino de um Clube profissional de Porto Alegre com idade entre 9 e 12 anos. Deste total, 90 eram praticantes da escolinha e 61 da seleção. Esta escolha deu-se de forma intencional em função

    Como instrumento de medida utilizou-se o Inventário de Motivação para a prática Desportiva de Gaya e Cardoso (1998), composto por 19 perguntas objetivas subdivididos em 3 categorias :a) competência desportiva (CD) – questões 1, 4, 6, 8, 9, 15, 16 e 17. b) amizade e lazer (AL) – questões 3, 7, 12, 13 e 19. c) saúde (S) – questões 2, 5 10, 11 14 e 18. Cada motivo possuí três níveis de resposta, ou seja, Muito Importante (MI) - 3, Pouco Importante (PI) – 2 e Nada Importante (NI) - 1.

    As coletas foram realizadas após autorização do Clube e dos atletas (pais).

Inventário de Motivação para a prática Desportiva de Gaya e Cardoso (1998)

4.     Resultados e discussão

    Para análise dos motivos para a prática de desportos, estes foram classificados em três categorias, de acordo com Gaya e Cardoso (1998). a) competência desportiva (CD) – questões 1, 4, 6, 8, 9, 15, 16 e 17. b) amizade e lazer (AL) – questões 3, 7, 12, 13 e 19. c) saúde (S) – questões 2, 5 10, 11 14 e 18. Cada motivo possui três níveis de resposta, ou seja, Muito Importante (MI), Pouco Importante (PI) e Nada Importante (NI).

Tabela 1. Idade dos Participantes

 

Figura 1. Idade dos participantes

    Pode-se observar que a idade dos 151 praticantes ficou entre 9 e 12 anos, com média de 10,7 e desvio padrão 0,79. Deste total 4 tem 9 anos, 65 com 10 anos, 55 com 11 anos e 27 com 12 anos.

Tabela 2. Análise de variância das dimensões estudadas

Tabela 3. Análise descritiva para cada dimensão estudada comparando os grupos

 

Figura 2. Análise descritiva para cada dimensão estudada comparando os grupos

    Os resultados apontam que na dimensão Amizade e Lazer a Análise de Variância revelou uma diferença significativa entre os grupos Escolinha e Seleção. Os escores médios dos alunos da Escolinha superaram os dos integrantes da Seleção. Parece lógico que os integrantes da Seleção sejam menos motivados a praticar o esporte por aspectos relacionados com Amizade e Lazer do que os da Escolinha (que têm menos objetivo de competir e, portanto, também menos motivos em torno da tarefa).

    Weinberg e Gould (2001) relatam que a amizade é para as crianças um motivo importante, quando relacionado à prática esportiva. Os autores ainda mostram que as crianças vêm nesta prática a oportunidade de estar com os seus amigos e de criar novas amizades. Na pesquisa realizada por Weiss, Smith e Theeboom (1996), foram identificadas as dimensões positivas e negativas da motivação relacionadas à amizade para a prática esportiva em crianças de oito a dezesseis anos. Foi encontrado um número muito superior de aspectos positivos, tais como, companhia, aumento da auto-estima, ajuda e orientação, comportamento pró-social, intimidade, lealdade, coisas em comum, qualidades pessoais atraentes, apoio emocional, ausência de conflitos e resolução de conflitos. As negativas foram: conflito, qualidades pessoais não-atraentes, traição e inacessibilidade.

    Contudo, nas dimensões Competência Desportiva e Saúde não foram constatadas diferenças significativas entre os dois grupos.

    Também não houve diferenças motivacionais para a prática desportiva entre as diversas posições dos praticantes. Ainda, não houve correlação significativa entre idade e dimensões da motivação.

    Comparando estes achados com os obtidos no estudo de Oliveira (1997), que utilizou o mesmo instrumento e local, pode-se constatar que os resultados foram muito parecidos, pois também verificaram que no aspecto amizade/lazer os grupos se diferenciam bastante e que não ocorreu diferença na dimensão da competência esportiva.

5.     Conclusões

    De acordo com os resultados obtidos neste estudo que teve como objetivo geral analisar os aspectos motivacionais para o esporte de praticantes da escolinha e da seleção de um clube profissional, obteve-se as seguintes conclusões:

    Os resultados apontam que na dimensão Amizade e Lazer a Análise de Variância revelou uma diferença significativa entre os grupos Escolinha e Seleção.

    Os escores médios dos alunos da Escolinha superaram os dos integrantes da Seleção.

    Nas dimensões Competência Desportiva e Saúde não foram constatadas diferenças significativas entre os dois grupos.

    Também não houve diferenças motivacionais para a prática desportiva entre as diversas posições e idade dos praticantes.

    Os dados encontrados corroboram com a hipótese inicial do pesquisador que haveria diferenças motivacionais entre os grupos.

    É sugerido que outros estudos possam aprofundar estas questões motivacionais que envolvem ambientes caracterizados por serem mais competitivos e outros com o enfoque de formação e de lazer. Contudo, Para as próximas pesquisas, um ponto considerado relevante, é um importante cuidado no momento de se escolher o instrumento para coleta de dados. Faz-se necessário com base na literatura, verificar as características psicométricas do instrumento, verificar se ele tem a capacidade de medir o que se propõe, ou seja, verificar a sua competência.

Referências

  • BECKER JR, B. El efecto de tecnicas de imaginacion sobre patrones lectroencefalograficos, frecuencia cardiaca y en el rendimiento de praticantes de baloncesto con puntuaciones altas y bajas en el tiro libre. Tesis (Doctoral) - Faculdad de Psicologia, Universidad de Barcelona, 1996.

  • BERLEZE, A. Motivos que levam crianças para a prática de atividades motoras na escola. Monografia de Especialização. UFSM, 1998.

  • BUONAMANOR, R; MUSSINO, A. Participation motivation in Italian Youth Sport. The Sport Psychologist, 9,265 – 281. 1995.

  • BURITI, M. A. Psicologia do Esporte: Editora Alínea, Campinas, 2001.

  • CARRAVETA, E.S. Modernização da Gestão no Futebol Brasileiro. Porto Alegre AGE 2006.

  • DAVIDOFF, L. L. Introdução a Psicologia. São Paulo, Makron Books, 2001.

  • FIGUEIREDO, S. H. Variáveis que interferem no desempenho do atleta de alto rendimento. Psicologia do esporte. Casa do Psicólogo, 2000.

  • FRANCO. G. S. Psicologia no Esporte e na Atividade Física. Barueri. Editora Manole, 2000.

  • GAYA, A & CARDOSO, M. Os fatores motivacionais para a pratica desportiva e suas relações com o sexo, idade e níveis de desempenho desportivo. Revista Perfil. Porto Alegre. Editora da UFRGS. Ano 2, N.2, p.40-52, 1998.

  • GILL, D. L.; GROSS, J. B.; HUDDLESTON, S. Participation Motivation in Youth Sport. International Journal of Sport Psychology. (14) 1-14.1983.

  • GOUVÊA, F.C. Motivação e Atividade Esportiva. In: Machado, A.A. Psicologia de Esporte: Temas Emergentes. Jundiaí, Ápice, 1997.

  • GUILLERMO, P.R. JAUME, C. F. y JOSEP, R.B. Psicología y Deporte. Madrid: Alianza Editorial, 1995.

  • MACHADO, A. A. Psicologia do Esporte: Temas Emergentes. Jundiaí: Ápice, 1997.

  • MACHADO, C.S. Fatores Motivacionais que Influem na Aderência de Adolescentes aos Programas de Iniciação Desportiva. Trabalho de Conclusão do Curso de Educação Física. Canoas: ULBRA, 2003.

  • MARQUES, M. G. Psicologia do Esporte: aspectos em que os atletas acreditam. Canoas: Ed. ULBRA, 2003.

  • OLIVEIRA, J. L. N. Hábitos de vida, Motivação e Aptidão Física: estudo em crianças e jovens de 10 a 14 anos da escolinha de futebol do Grêmio Foot-ball Porto Alegrense. Dissertação (Mestrado em Ciências do Movimento Humano). Escola de Educação Física da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 1997.

  • PAIM, M. C.C. Fatores Motivacionais e Desempenho no Futebol. Revista da Educação Física de Maringá, 2001.

  • PASSER, M. W. Children in sport: participation motives and psychological stress. Quest, 33, 2, 231 – 244. 1982.

  • ROMBALDI, A. J. et. Al. Fatores Motivacionais que influenciam no abandono esportivo por parte de crianças e adolescente. P. 260. XIX Simpósio Nacional de Educação Física. Coletânea de textos e resumos. Pelotas. Universidade Federal de Pelotas, 2000.

  • SMOLL, F. L. A comunicação do treinador com os pais dos Atletas. Lisboa: Ministério da Educação,1988.

  • SAMULSKY, D. Psicologia do Esporte: Barueri/SP: Editora Manole, 2002.

  • SAPP, M.; HAUBENSTRICKER, J. Motivation for Joining and Reasons for Not Continuing in Youth Sports Programs in Michigan. Paper Presented at American Alliance for Health, Physical Education, Recreation and Dance Conference. Kansas City. 1978.

  • SCALON, R. M. A Psicologia do Esporte e a Criança. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2004.

  • SERPA, S. Motivação para a Prática Desportiva. In Sobral F e Marques A. (coordenação). FACDEX: Desenvolvimento Somato-Motor e Factores de Excelência Desportiva na População Escolar Portuguesa. Lisboa. M.E. D.G.E.B.S.- D.G.D.G.C.D.E. 101-111. 1990.

  • WEINBERG, R. S.; GOULD, D. Fundamentos da Psicologia do Esporte e Exercício. Porto Alegre: Artmed, 2001.

  • WEISS, M. R.; SMITH, A. L.; THEEBOOM, M. “That’s what friends are for”: Children’s and teenagers’ perceptions of peer relationships in the sport domain. Journal of Sport and Exercise Psychology, [S.L.], n. 18, p. 347 -379, 1996.

Outros artigos em Portugués

  www.efdeportes.com/
Búsqueda personalizada

EFDeportes.com, Revista Digital · Año 16 · N° 155 | Buenos Aires, Abril de 2011
© 1997-2011 Derechos reservados