A atividade física como prevenção de algumas enfermidades La actividad física como prevención de algunas enfermedades The physical activity as prevention of some diseases |
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Universidade Federal do Paraná – UFPR (Brasil) |
Luciana Rapetti Maria Gisele dos Santos Renata Teixeira Mamus Gomes |
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Resumo Este estudo, de revisão de literatura, tem como objetivo analisar os benefícios da atividade física na prevenção e tratamento de graves disfunções orgânicas e metabólicas, que podem ser desencadeadas pela obesidade e sedentarismo, tais como o diabetes, hipercolesterolemia, hipertensão, osteoartrite, alguns tipos de câncer e vários problemas psicológicos e sociais, além de ser considerado um fator de risco independente para doenças coronarianas. Assim, o exercício físico pode trazer vários benefícios a população, atuando no controle do peso corporal e na prevenção e tratamento de algumas doenças crônicas e degenerativas. Sob este ponto de vista, salienta-se a importância de um estilo de vida ativo para a qualidade de vida dos indivíduos. Unitermos: Obesidade. Atividade física. Saúde. Qualidade de vida.
Abstract The objective of this study was to analyze the benefits of the physical activity for the prevention and treatment of severe organic and metabolic dysfunctions, which can be provoked by obesity and sedentary. The physical inactivity, associated to obesity, can provoke a chain reaction such as diabetes, hyperlipidaemia, high blood pressure, ostheoarthrytis, some kinds of cancer and several psychological and social problems, besides being considered an independent risk factor to coronary diseases. Therefore, physical exercise can bring several benefits to the population, controlling the body weight and preventing and treating some critical and degenerative diseases. Hence, an active lifestyle is essential for improving the standard of living of the individuals. Keywords: Obesity. Physical activity. Health. Quality of life.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 16, Nº 155, Abril de 2011. http://www.efdeportes.com/ |
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Introdução
Nos dias de hoje, o nível de atividade física está cada vez mais reduzido, devido ao progresso da tecnologia, a qual traz comodismo e substituição das atividades de lazer por programas sedentários, tais como televisão, cinema, vídeo games, etc. Isto se torna preocupante, visto que o estilo de vida sedentário é responsável por cerca de 250.000 mortes anualmente 32. Associando-se o sedentarismo à alimentação inadequada, ao excesso de gordura corporal e a outros comportamentos de risco, como o tabagismo, o consumo de álcool, o estresse e ao uso indiscriminado de medicamentos, este número é ainda maior.
O excesso de peso corporal e a inatividade física estão associados a vários problemas de saúde, como a hipertensão arterial, doenças cardiovasculares, metabólicas, respiratórias e articulares, além de distúrbios psicológicos e sociais.
Assim, a atividade física e o controle do peso corporal são essenciais na qualidade de vida, tendo na primeira um aumento da capacidade pulmonar, da força muscular e da mobilidade das articulações, redução dos níveis de colesterol e de pressão arterial, fazendo com que caiam consideravelmente os riscos de doenças cardíacas, mantém o diabetes sob controle, e, ainda, melhora o humor. Além da obtenção de qualidades morais, como força de vontade, autodomínio, confiança em si mesmo e tenacidade 18.
Destaca-se a importância da atividade física, a qual pode trazer benefícios a população obesa independentemente à perda de peso 2; 12; 16. Assim, atividade física tem um importante papel na prevenção, no desenvolvimento e na manutenção da obesidade e nos diversos distúrbios da saúde.
Atividade física e qualidade de vida
O exercício físico ocasiona uma gama de benefícios para o perfil de saúde de um indivíduo, como a redução do peso corporal, redução significativa da gordura corporal, aumento da taxa metabólica basal, mobilização acelerada das reservas lipídicas, aumento da capacidade aeróbica e de trabalho, regulação do apetite, alterações benéficas nos padrões alimentares, melhor imagem e expressão corporal e maior integração social (21). Além de ter efeitos positivos sobre a pressão sangüínea, níveis de colesterol sérico e glicêmico e função cardiorrespiratória 2; 24; 27. Destacando a importância da melhora da função cardiorrespiratória, esta tem uma relação inversa com o risco de ocorrência de doenças metabólicas. Desta forma, o exercício físico induz alterações transitórias no sistema biológico, onde o exercício moderado (menor que 60% do VO2máx) parece aumentar os mecanismos de defesa orgânica 20.
A atividade física promove também o autoconceito, a autoconfiança, a auto-estima, e diminui os estados de ansiedade e depressão 2; 8; 16; 22; 25. Além de aumentar o dispêndio energético diário permitindo medidas dietéticas menos rígidas para o controle do peso corporal 27.
A inatividade física é uma das principais causas da obesidade 12. Isto se torna verdadeiro, visto que o exercício físico é responsável por um maior dispêndio energético diário. Um indivíduo ativo pode demonstrar gasto energético de 20 a 40% maior que os sedentários, e estes últimos ainda têm maior probabilidade de sofrer de doenças cardiovasculares 16. Dito isto, conclui-se que intervenções ambientais e políticas 4 que promovam um estilo de vida mais saudável, como a adoção de uma dieta equilibrada e a prática de atividade física, podem reduzir a prevalência do sobrepeso e da obesidade 4; 24.
A prática de atividade física, mesmo sem a redução ponderal, traz inúmeros benefícios em relação à saúde do indivíduo obeso 2; 12; 16. Assim, a inatividade física e a obesidade são os maiores problemas de saúde pública 28. Portanto, desde crianças deve-se dar atenção especial aos hábitos alimentares a à prática de atividade física, dado aos riscos de desenvolvimento de doenças degenerativas quando adultos 3.
O exercício é a única intervenção que mostra invariavelmente efeito nos campos fisiológico, médico, psicológico e comportamental23. Nos próximos itens serão expostas estas adaptações relacionadas à prevenção e ao tratamento de algumas doenças crônicas e degenerativas, que podem ser desencadeadas com a obesidade e a inatividade física.
Hipertensão
A pressão arterial (PA) é composta pela pressão sistólica, a qual mede a tensão do sangue contra as paredes arteriais durante a contração ventricular e a diastólica, que indica a facilidade com que o sangue flui das arteríolas para os capilares. Uma pressão dita normal é de 120x80 mmHg, sendo uma pressão de 140x90 mmHg caracterizada como hipertensão 22. No entanto, a PA é a função mais instável em nosso organismo, demonstrando consideráveis variações durante determinadas horas do dia e com estímulos mental e físico, além da influência da idade, gênero e raça 33.
A hipertensão arterial é uma doença crônica e seu desenvolvimento depende de fatores como a hereditariedade, hábitos alimentares, estresse, sedentarismo e obesidade. Sendo que a prevalência de hipertensão em pessoas obesas é 2,9 vezes maior que em não obesas 16. Isto se justifica, parcialmente, pelo fato de indivíduos obesos apresentarem hiperinsulinemia periférica, a qual aumenta a absorção de sódio e conseqüente volume sangüíneo, maior resistência periférica e maior trabalho cardíaco, com aumento da contratilidade cardíaca, proporcionando sua hipertrofia. Este aumento no trabalho cardíaco ocorre justamente para vencer a resistência periférica aumentada e para conseguir sustentar e movimentar (atividade física qualquer) uma maior massa “morta”.
Não obstante, deve-se ter muito cuidado com a hipertensão, pois é assintomática e pode resultar em insuficiência cardíaca, infarto do miocárdio, danos na parede arterial, processo aterosclerótico, apoplexia (acidente vascular cerebral), trombose cerebral, doença renal e retinopatia 22; 33. Assim, a hipertensão, quando não tratada, aumenta o risco de morbidade cardiovascular e morte prematura 6.
A prática de exercício físico reduz o estresse fisiológico, diminuindo a freqüência cardíaca e a pressão arterial de repouso. Pessoas com hipertensão arterial que se exercitam regularmente reduzem à metade sua taxa de mortalidade 22. Indivíduos com um nível maior de aptidão física que demonstrem índices mais elevados de força/resistência muscular apresentam menor fadiga localizada e menor aumento da PA quando submetidos a esforços físicos de moderada intensidade 16. E, ainda, indivíduos mais ativos fisicamente apresentam uma menor prevalência de hipertensão 2, da onde se conclui que a atividade física atua como prevenção para esta enfermidade.
Se o obeso já diagnosticou a hipertensão, após 6 a 8 semanas de treinamento aeróbico já ocorre uma diminuição na PA para a hipertensão leve. Esta redução na pressão arterial acontece por uma redução na resistência vascular sistêmica e nos níveis de norepinefrina plasmática 2. No entanto, após 3 a 6 semanas de descondicionamento a pressão arterial retorna ao estado hipertensivo.
Apesar desta melhora que o exercício físico promove em relação à PA deve-se cuidar com o tipo de exercício a ser executado. Os exercícios dinâmicos que envolvam força máxima e os estáticos elevam consideravelmente a PA, aumentando o trabalho cardíaco e a demanda de oxigênio por parte do miocárdio. Isto se torna indesejável em pacientes hipertensos, elevando o risco de acidentes cardiovasculares. Quando estes exercícios são ainda realizados em valsalva dificultam o retorno venoso, reduzindo o fluxo sangüíneo ao coração e ao cérebro 2; 16; 22. Mas este aumento de pressão durante os exercícios estáticos de curta duração ocorre somente durante a realização do exercício, com a pressão arterial retornando ao seu valor inicial de repouso após a cessação do exercício em mais ou menos 15 a 30 segundos 33. Isto é demonstrado em um estudo realizado por Farinatti e Assis, com o intuito de prognosticar o trabalho do miocárdio durante exercício físico para se obter um parâmetro de risco cardiovascular no mesmo 11. Este estudo demonstrou que, em uma sessão de exercícios contra-resistência, há menores solicitações cardíacas quando comparados ao exercício aeróbio contínuo 11. Contudo, exercícios resistivos de alta intensidade devem ser evitados em pessoas obesas que possuem hipertensão, pois o duplo-produto considerado neste estudo foi a média da PA e FC durante toda a sessão, e, para um indivíduo hipertenso, deve-se considerar o aumento da PA durante a realização do exercício.
Para estas pessoas, o planejamento de exercícios para controle ponderal deve incluir exercícios dinâmicos submáximos que permitam um maior número de repetições com uma sobrecarga mais baixa, sendo os programas tipo circuito e o aeróbico os mais indicados 8; 16; 22. Isto porque durante a prática de exercícios aeróbicos a pressão sistólica aumenta num primeiro momento e depois se estabiliza, enquanto a diastólica se mantém, podendo até mesmo reduzir, conseqüência esta da vasodilatação induzida pelo exercício. Na recuperação ocorre um quadro de hipotensão, onde a pressão sistólica é reduzida a níveis abaixo do valor pré-exercício 2; 22.
O treinamento com exercícios físicos devem ser trabalhados em uma intensidade entre 40 e 70% do VO2máx, que têm maior efeito na redução da pressão arterial que exercícios com intensidades mais altas 6; 22. No entanto, os indivíduos com hipertensão muito elevada (acima de 180x105 mmHg) somente poderão participar de um programa de exercícios com orientação médica e após iniciada a terapia farmacológica.
Hipercolesterolemia
Um nível elevado de lipídios na corrente sangüínea está relacionado a um maior risco de doença cardíaca coronariana. O risco relativo associado à hipercolesterolemia nos obesos é 1,5 vezes maior, sendo que os níveis de colesterol de baixa e muito baixa densidade (LDL e VLDL, respectivamente) são maiores e os de alta densidade (HDL) são menores16. Indicadores morfológicos como o IMC e medidas de dobras cutâneas podem expressar variações no perfil lipídico/lipoproteico em adolescentes, identificando-os como portadores de fatores de risco a doenças cardiovasculares 17.
Um nível de colesterol desejável é de 200 mg/dL ou pode-se dividir o colesterol total pelo HDL, sendo que o resultado desta relação deve estar abaixo de 3,5 22. Deve-se ter cuidado com a hipercolesterolemia, pois cada aumento de 1% no nível de colesterol há um aumento de 2% no risco de um ataque cardíaco 2.
A hipercolesterolemia algumas vezes é um distúrbio de origem genética. No entanto, indivíduos com estes genes letais podem reduzir o risco de doenças coronarianas com mudanças no estilo de vida. Além da procedência familiar e, em sua grande maioria, os altos níveis de colesterol sérico na população são ocasionados pela dieta adotada, com grande ingestão de gordura saturada e colesterol2.
O colesterol LDL quando oxidado colabora com o processo de entupimento das artérias, desencadeando a aterosclerose. A adoção de uma dieta mais saudável com ingestão de gordura não superior a 30% do total de calorias ingeridas, sendo apenas 10% procedente de gordura saturada e o restante de gordura insaturada, pode amenizar esta situação reduzindo os níveis de colesterol LDL e VLDL na corrente sangüínea (2). O consumo de antioxidantes, como as vitaminas C, E e B-caroteno também reduzem a oxidação do LDL 22.
O exercício físico induz adaptações no metabolismo lipídico que incluem lipólises mais intensas com maior mobilização de ácidos graxos livres do tecido adiposo e diminuição do LDL plasmático, podendo ocorrer também um aumento no HDL, que é responsável pela retirada de gordura das artérias sangüíneas e diminuição no colesterol total e triglicerídeos 16.
É importante ressaltar que essas alterações lipídicas favoráveis com o exercício aeróbico ocorrem independentemente das mudanças no peso corporal22. Mesmo com um volume pequeno de treinamento já é possível notar mudanças no perfil lipídico9. Com um gasto calórico de 1200 a 2200 kcal/semana, em exercícios, pode-se elevar os níveis de HDL em 2 a 3 mg/dl e reduzir os triglicerídeos em 8 a 20 mg/dl, além de alterar o colesterol total e os níveis de LDL 9. Com isto, pode-se dizer que o exercício físico tem importante atuação tanto na prevenção como no tratamento da hipercolesterolemia, devendo ser incentivado a população em geral, especialmente a população obesa e com excesso de peso corporal, que está mais suscetível a esta disfunção.
Diabetes
O diabetes relacionado com a obesidade é do tipo II, não insulino-dependente (DMNID) e é responsável por cerca de 80 a 90% dos casos totais de diabetes22. Esta é uma doença crônica, resultante de uma grande resistência periférica à insulina. Como a captação de glicose pelas células está prejudicada, o organismo passa a depender do metabolismo de gordura como fonte energética. Assim, o diabético tem enorme tendência para a acidose e, consequentemente, ao coma diabético.
A DMNID também está associada à aterosclerose, coronariopatias, acidente vascular cerebral e suscetibilidade a infecções. O diabetes mellitus pode ainda ocasionar cegueira e falha renal33. O risco de doenças cardiovasculares para homens com diabetes é duas vezes maior e para mulheres três vezes maior que para indivíduos livres do diabetes2.
Os valores do açúcar sangüíneo em jejum acima de 120mg/dl torna-se preocupante. Os sinais e sintomas mais comuns do diabetes são a fadiga, fraqueza, fome, sede, urinação freqüente, elevado nível de glicose sangüínea, açúcar na urina e cetose 33.
O risco do surgimento de diabetes é 2,9 vezes maior nos indivíduos com obesidade leve, 5 vezes maior no caso de obesidade moderada e 10 vezes maior no caso de obesidade elevada16. Isto ocorre porque os obesos apresentam resistência à insulina e, consequentemente, intolerância à glicose, provocando assim o diabetes. O risco é maior quando o excesso de gordura está acumulada na região abdominal.
Indivíduos com um estilo de vida sedentário têm uma diminuição da sensibilidade insulínica pelos músculos e, em conseqüência, uma maior quantidade de insulina no organismo para regular a glicemia. A prática de atividade física reduz o nível de glicose plasmática, aumenta sua tolerância e amplia a sensibilidade insulínica pelos músculos ativos. Índices adequados de força/resistência muscular desempenham importante papel na regulação hormonal e no metabolismo de alguns substratos, principalmente na sensibilidade insulínica dos tecidos musculares em esforço físico16. Entretanto, a melhora prolongada no controle glicêmico é devida aos efeitos agudos de cada sessão de exercício, muito mais que às modificações crônicas na função tecidual22. Estas mudanças na tolerância à glicose e na sensibilidade insulínica se deterioram em 72 horas da última sessão de exercícios, ficando claro assim a importância da prática regular da atividade física1.
Todavia, deve-se ter muito cuidado na aplicação de exercícios para indivíduos diabéticos, para que não desenvolvam um quadro de hipoglicemia, que tem como sintomas fome, fraqueza, tremor, suadeira, confusão mental e dor de cabeça. Se não for tratada a tempo, o indivíduo pode desmaiar ou até mesmo ficar inconsciente33. As sessões de exercícios devem ser programadas com as administrações da insulina, reduzindo-as e não aplicá-las no grupo muscular que será trabalhado. Geralmente, os diabéticos devem fazer uma refeição leve antes de exercícios extenuantes e monitorar o nível de glicose plasmática freqüentemente.
O programa de treinamento deve conter exercícios de moderada intensidade, 50 a 60% do VO2máx ou 70% da freqüência cardíaca máxima de reserva, com sessões de 30 a 60 minutos e uma freqüência de 3 a 7 dias por semana33. Atesta-se ainda que indivíduos com diabetes do tipo 2 devem ter um dispêndio calórico de, no mínimo, 1000 kcal semanais1. A prática de atividade física promove um melhor controle glicêmico e maior sensibilidade à insulina e tolerância à glicose, reduz os níveis plasmáticos de triglicerídeos e diminui a hipercoagubilidade do sangue associada ao diabetes. Estas respostas positivas ao exercício persistem até sete dias após cessar o treinamento.
É importante destacar que estes benefícios podem ser alcançados tanto com exercícios aeróbios como de resistência. Quanto a isto, os programas que combinam vários tipos de exercícios, como o aeróbico e o treinamento de resistência tipo circuito, são os que trazem melhores benefícios para o diabético10.
Câncer
O câncer é uma das doenças que vem aumentando espantosamente a incidência em todas as faixas etárias. Isto se torna alarmante, visto que são poucos os tratamentos eficazes disponíveis e a solução deste problema está justamente na prevenção dos fatores de risco aos quais o indivíduo tem controle, como a alimentação, o tabagismo, a atividade física e a obesidade.
Existem vários tipos de câncer, originados pelo crescimento descontrolado e disseminação de células anormais. Estas células anormais crescem sob a forma de tumor, podendo ser maligno ou benigno. O perigo está nas células cancerosas malignas que invadem os órgãos ou tecidos vizinhos ou até mesmo mais distantes, quando sem tratamento 22, 26.
Indivíduos obesos apresentam propensão para o câncer em 1,3 e 1,6 vezes maior entre homens e mulheres, respectivamente16, tendo na adiposidade central o maior risco13. Para mulheres, há incidências de câncer de mama, endométrio e ovários e para homens, cólon e próstata. Somando-se a inatividade física a que os obesos estão sujeitos e presumindo-se que a alimentação seja inadequada, esta população tem grandes probabilidades ao desenvolvimento desta enfermidade.
No entanto, vários estudos demonstram que a atividade física regular diminui os riscos de cânceres da mama, do cólon, do pulmão e da próstata 13, 22. Confirmando esta informação, a American Câncer Society e a American Heart Association estabelecem que a prática regular de atividade física é uma medida preventiva na guerra contra o câncer 13, 26.
Em relação ao câncer de cólon, os homens obesos e fisicamente inativos apresentam riscos cincos vezes maior do que seus congêneres magros e ativos26. Os principais fatores de risco para este tipo de câncer são o histórico familiar, uma dieta rica em gordura e pobre em fibras e o sedentarismo. Assim como o câncer de cólon, os fatores ambientais e o estilo de vida também tem importante papel no desenvolvimento do câncer de próstata. O risco de desenvolvimento desta doença cresce com o aumento do IMC do indivíduo31. Quanto maior a aptidão cardiorrespiratória menor o risco de câncer de próstata e quanto maior o nível da atividade física diminui-se também o risco de câncer de cólon26. Assim sendo, a atividade física reduz enormemente o risco de desenvolvimento destes dois tipos de cânceres. Outra medida preventiva são os exames de toque retal a partir dos 40 anos e a pesquisa de sangue oculto e proctosigmoidoscopia a partir dos 50 anos.
Já os cânceres de útero, ovário e de mama estão mais relacionados com os hormônios femininos, embora os fatores ambientais, dietéticos e estilo de vida possuam um papel extremamente importante em seu desenvolvimento. O risco do câncer de mama aumenta com a idade, assim é fundamental o exame clínico periódico das mamas, recomendando-se a mamografia a partir dos 40 anos de idade. Outros fatores de risco para o câncer de mama são a menarca precoce, a menopausa tardia, a obesidade, principalmente do tipo andróide e o sedentarismo. Mulheres magras e ativas reduzem o risco de câncer de mama em 72%, sendo que a freqüência semanal da atividade física é muito importante na prevenção deste tipo de câncer 26.
Para mulheres que já diagnosticaram o câncer de mama, recomenda-se o controle do peso corporal, enfatizando exercícios físicos que preservem ou aumentem a massa muscular e uma dieta com vegetais ricos em nutrientes 30. Como no câncer de mama, os fatores de risco para o câncer uterino são a obesidade e a menopausa. Para o câncer ovariano, o risco é elevado para as mulheres que nunca tiveram filhos e com histórico familiar deste tipo de câncer. A atividade física é uma importante medida preventiva para estes dois tipos de cânceres também. Mulheres fisicamente inativas apresentam um risco elevado de câncer endometrial pela maior tendência à obesidade26.
Enfim, o exercício físico regular reduz o surgimento de câncer por desencadear modificações genéticas nas funções antioxidantes do organismo, nos perfis endócrinos, no metabolismo das prostaglandinas, na composição corporal, um aumento no trânsito intestinal, eleva os níveis de citosinas antiinflamatórias e da expressão dos receptores de insulina nas células que combatem o câncer. Além de aumentar a produção de interferon, estimular a enzima glicogênio sintetase, aprimorar a função dos leucócitos e acelerar o metabolismo de ácido ascórbico, todos os quais reduzem a formação de tumores cancerosos22. A atividade física auxilia na detecção do câncer, na reabilitação e sobrevivência após o diagnóstico13. Recomenda-se pelo menos 30 minutos de atividade física, com intensidade de moderada a vigorosa, cinco ou mais vezes por semana 13.
Depressão e ansiedade
Os problemas psicológicos mais comuns que acompanham a obesidade são a depressão e a ansiedade, como a anorexia e bulimia nervosa. Entretanto, é difícil dizer se a depressão e a ansiedade são causadoras ou conseqüências da obesidade. Mas pode-se dizer que a obesidade aumenta o risco de depressão (29). Isto porque a estética, nos dias de hoje, está muito valorizada. A sociedade impõe como padrão de beleza o corpo magro e esbelto, tendo a mídia como grande difusora. Esta supervalorização do corpo pode agravar o perfil psicológico e social do obeso, estimulando-o ao uso de produtos dietéticos, medicamentos e programas de resultados imediatos, além do surgimento de distúrbios como a anorexia e bulimia nervosa, elevando-se os riscos de carências nutricionais.
A depressão pode ser diagnosticada pela alteração do apetite e do peso; alterações do sono; fadiga ou perda de energia; perda de interesse ou de prazer nas atividades usuais; sensação de inutilidade, remorso, culpa excessiva; idéias ou tentativas de suicídios e dificuldades de pensamento e concentração. O risco de indivíduos sedentários apresentarem depressão é três vezes maior do que para os ativos26.
Dentre os distúrbios de ansiedade estão os comportamentos obsessivos-compulsivos (anorexia e bulimia nervosa e compulsão alimentar) e as fobias. Estes distúrbios podem ser desencadeados por tensão, nervosismo, indecisão, confusão, preocupação, problemas com a autoconfiança, auto-estima, segurança.
O exercício físico pode contribuir na prevenção e no tratamento destes dois distúrbios por aumentar a disposição e o ânimo e diminuir a tensão provocada por situações estressantes. Assim como promover a auto-estima, o autoconceito e a autoconfiança, controlando os níveis de ansiedade e depressão2; 8; 16; 25.
Os benefícios psicológicos desencadeados pela prática de exercício físico regular são: redução da ansiedade; redução na depressão de ligeira a moderada; redução do neuroticismo; coadjuvante no tratamento profissional da depressão grave; melhora no humor, auto-estima, auto-imagem e percepção geral de valor pessoal; e redução nos vários índices de estresse22.
Apesar de todos esses benefícios advindos da prática da atividade física, um programa de controle do peso corporal deve ser progressivo. Ou seja, no início do programa a duração, a freqüência e a intensidade dos exercícios deverão ser planejados individualmente, de maneira em que os indivíduos obesos possam se adaptar sem grandes sacrifícios e aumentá-los de acordo com o seu ritmo e progresso. Caso contrário, haverá um grande número de desistência, já que obesos têm uma enorme tendência ao sedentarismo e relutância ao exercício físico. A principal causa de desistências no início dos programas de controle do peso corporal que envolvam exercícios físicos está associado ao desconforto provocado por determinado tipo de exercício 16.
Conclusão
O sedentarismo e a obesidade estão associados a vários problemas de saúde, tais como disfunções orgânicas e metabólicas, elevando assim o risco de diabetes, doenças cardíacas, hipertensão, hipercolesterolemia, osteoartrite e alguns tipos de câncer, além de problemas psicológicos e sociais.
O número de pessoas obesas está aumentando em nível mundial, decorrente dos avanços tecnológicos que reduzem a prática de atividade física tanto no trabalho como em casa e durante o lazer. Paralelamente ao sedentarismo cada vez mais patente, ocorrem modificações nos padrões alimentares, tornando-se inadequado e pouco saudável. E são estes hábitos comportamentais imprudentes, responsáveis pelas principais doenças, estados de morbidade e causas de mortes.
Os programas que visam o controle do peso corporal devem ser visto como uma intervenção múltipla e permanente, priorizando a qualidade de vida do indivíduo obeso. Devem ser organizados de forma gradual, adaptando-se às condições individuais e propiciando uma gama de benefícios extremamente interessantes na prevenção e no controle de muitas disfunções orgânicas e metabólicas. Nestes programas, o exercício físico deve estar sempre presente, pois pessoas que se exercitam mais, têm um melhor perfil de saúde.
Apenas a prática de atividade física, mesmo sem a redução ponderal, traz inúmeros benefícios em relação à saúde do indivíduo obeso. O exercício provoca efeitos positivos na pressão arterial, nos níveis plasmáticos de lipídios, no perfil das lipoproteínas, na função cardiovascular, redução significativa da gordura corporal, aumento da taxa metabólica basal, mobilização acelerada das reservas lipídicas, aumento da capacidade aeróbica e de trabalho, regulação do apetite e melhora nos padrões alimentares, promove o autoconceito, a autoconfiança, a auto-estima, diminuindo os efeitos psicológicos negativos que geralmente acompanham a restrição dietética, tais como a ansiedade e a depressão. Além de aumentar o dispêndio energético diário, permitindo medidas dietéticas menos rígidas no processo de emagrecimento. Por todas estas vantagens, a atividade física é uma das intervenções mais eficaz para a prevenção e tratamento de algumas enfermidades que podem ser desencadeadas pela obesidade.
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Digital · Año 16 · N° 155 | Buenos Aires,
Abril de 2011 |