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A análise das valências envolvidas no âmbito 

do treinamento desportivo de alto rendimento

Análisis de las capacidades comprometidas en el ámbito del entrenamiento deportivo de alto rendimiento

 

Fisioterapeuta da clínica NucleoFisio

Graduado em Educação Física – Licenciatura – UERJ

Graduando em Educação Física – Bacharelado – UERJ

Graduado em Fisioterapia – FRASCE

Rodrigo Silva Perfeito

rodrigosper@yahoo.com.br

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          Este artigo visa refletir sobre os conhecimentos englobados no âmbito do treinamento desportivo de alto rendimento com o intuito de aprimorar suas valências, verificando de que maneira ocorre o processo de treinamento e como o professor de Educação Física pode atuar em tal vertente. É comum a preocupação somente do alcançar do rendimento através do treino específico da modalidade. Pesquisas mostram que somente as habilidades decorrentes do treino específico não são suficientes para o rendimento máximo. É preciso que se use também o treinamento desportivo geral. Outro aspecto importantíssimo e que deve fazer parte do treinamento de alto rendimento, é a preocupação com as vertentes fora do treinamento em si. A saúde cognitiva e emocional do atleta tem influencia direta no resultado da competição. Ao invés desta preocupação, treinadores vêm cada dia mais exigindo dos corpos dos atletas, levando-os ao Overtraining e a uma vida triste e desprazerosa no desporto. Temos como conseqüência a isto, o abandono freqüente de atletas devido ao desgosto adquirido pelo desporto e pelas repetitivas lesões causadas por um treino desproporcional a sua capacidade fisiológica e individual para o limiar de treino.

          Unitermos: Educação Física. Alto rendimento. Treinamento desportivo. Overtraining.

 

Abstract
          This article aims to reflect on the knowledge comprised in the high performance sports training in order to improve their valences, checking how the training process occurs and how the physical education teacher can work in this aspect. It is a common concern of only achieve revenue through specific training mode. Research shows that only under the specific training skills are not sufficient for maximum yield. It is necessary to use also the general sports training. Another important aspect which should be part of the training of high performance, the concern is with the strands out of the training itself. The cognitive and emotional health of the athlete has a direct influence on the outcome of the competition. Instead of this concern, coaches are increasingly demanding of athletes' bodies, causing them to Overtraining and a sad and unpleasant life in sport. We have as a consequence of this, the abandonment of athletes due to the frequent chagrin acquired through sport and the injuries caused by repetitive training a disproportional to their physiological capacity and the threshold for individual training.
          Keywords: Physical education. High income. Athletic training. Overtraining.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 15, Nº 154, Marzo de 2011. http://www.efdeportes.com/

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Principais objetivos

    O objetivo específico de uma equipe ou atleta de alto rendimento é sempre o de ganhar. Porém, ao pensarmos em objetivos gerais, estes variam de acordo com cada equipe ou atleta. Quando se trabalha com uma equipe ou atleta de alto porte, o objetivo principal é sempre o de ser campeão. Ao se trabalhar numa equipe ou com um atleta de porte médio, o objetivo pode se modificar, como por exemplo, alcançar uma colocação intermediária, que honre as tradições do clube ou atleta. Exercendo funções numa equipe ou de um atleta de porte menor, o objetivo é se manter na divisão de elite ou não ser desclassificado na competição. Exemplificando através do futebol, o objetivo de uma equipe de porte pequeno seria o de se manter na primeira divisão. Deste modo, é observável que de uma forma geral, os objetivos se diferenciam de acordo com o porte da equipe ou atleta. De uma forma específica, qualquer equipe de diferentes portes, tem o mesmo objetivo: ganhar.

    Logo o treinamento do atleta de alto rendimento visa a preparação para a vitória.

Planejamento de treinamento

    Pensando numa equipe de bom porte técnico, o treinamento objetiva chegar ao máximo de todas as valências que são exigidas no desporto, como por exemplo, o condicionamento físico e técnico. Existe ainda a necessidade da preparação social, que é pouco utilizada por treinadores. Esta preparação social visa atentar a como o atleta vive fora do clube. Algumas atitudes fora do âmbito de treinamento podem prejudicar seu rendimento, tais como: não respeitar suas horas de sono, ter uma alimentação inadequada, desgastar seu corpo em excesso, utilizar drogas.

    Esta preocupação social tem papel importantíssimo principalmente no treinamento das categorias de base de qualquer desporto, pois são grupos em fase de transformação social e desportiva, sendo mais fácil a adição e aceitação de fatores positivos em sua vida e carreira. Além da preocupação social, deve existir atrelado, o aprimoramento do aspecto técnico, onde se apura as habilidades motoras do jogador, tanto de forma individual, quanto coletiva. Deve existir, a união de todos os fatores de treino, de forma a sustentar este atleta como o mais completo possível. Quando existe a preocupação com algumas valências e o esquecimento de outras, é possível observar problemas que inicialmente aparentam ser simples, porém irão desestruturar toda uma equipe. É comum observarmos em equipes de desportos coletivos a preocupação apenas com a parte técnica, esquecendo, por exemplo, a condição física do atleta de maneira geral. Este é um erro gravíssimo e terá como conseqüência o baixa rendimento na modalidade.

    Logo, os aspectos considerados dependem da situação da equipe, de seu aspecto cultural, dentre outros. Tão logo, o planejamento do treinamento também varia de acordo com estes aspectos citados.

O treinamento e o Overtraining no alto rendimento

    Muito raramente, o treinador da equipe é conhecedor profundo da preparação física e de seus aspectos anatômicos, biomecânicos e fisiológicos. Muitos sequer são professores de Educação Física.

    Hoje em dia, a preparação física através da tecnologia se especializou muito. É importante que o preparador físico tenha em mente que a tecnologia ajuda, porém os fatores mais importantes para o acesso ao sucesso do treino são: a competência do profissional e o profundo conhecimento de cada organismo humano. Isto ocorre devido ao fato da preparação física ser individualizada, incidindo numa dosagem de treinamento específica para cada atleta, já que cada organismo difere um do outro.

    Ex-atletas ou não professores de Educação Física se julgam possibilitados de atuarem como preparadores físicos. No entanto, o alto rendimento apresenta exercícios no limite entre um treinamento sem lesões e o com lesões, onde este último é chamado de Overtraining. Este tipo de procedimento é totalmente perigoso e inadequado para profissionais que não tenham estudado em seu curso de graduação disciplinas que atentem aos conhecimentos referentes a este fenômeno. Sendo assim, o tipo de treinamento e seus possíveis benefícios e malefícios, depende muito da competência do treinador, do preparador físico e dos objetivos da competição.

    Existem diversos episódios em que o treinador possui um período pequeno para preparar uma equipe diante de uma competição que vem logo após um período férias, e este acaba por exercer um ritmo de treinamento muito forte, acarretando lesões logo após a competição. O que se deve fazer, neste caso, é uma previsão de treinamento. Se a competição for de longa duração, o atleta deve atingir gradativamente o máximo da forma física e técnica durante a competição. Segundo MCArdle (2003), a forma física adquirida de maneira rápida, também é perdida de modo mais rápido, assim como a forma física adquirida lentamente é preservada e sustentada pelo organismo por um período maior. De tal modo, o treinamento da equipe deve ser estruturada através de seu histórico de competição e pelos seus aspectos sociofisicoemocinais para que tenham um ótimo e adequado condicionamento físico para aquela determinada competição.

    O lado emocional e social também deteriora muito a performance e pode trazer o Overtraining induzido durante uma competição. Deste modo, não adianta está em ótima condição física e técnica se sua vida emocional está abalada. Provavelmente, este atleta ou equipe não atingirá o platô da performance. Assim, o treinamento desportivo de alto rendimento com prevenção do Overtraining, além de se atentar ao limite de treinamento das valências físicas e técnicas, deve trabalhar também todo aparato psicológico, emocional e social do atleta.

Treinamento geral e específico

    Atualmente, temos dois tipos de treinamento no alto rendimento: o treinamento específico e o geral.

    O treinamento específico deve ser adotado para melhora das valências do desporto. É justamente este tipo de treinamento que permite o aperfeiçoamento da técnica do movimento do esporte, efetuando as provas ou partidas de maneira mais eficiente e com o maior índice de rendimento possível. Tendo como exemplo um corredor de 100 metros, para que possa atingir o máximo de sua performance, deve treinar os movimentos o mais próximos da competição. Portanto, poderá utilizar saídas em corridas curtas e rápidas como trabalho de treinamento de potência de membros inferiores. Se um atleta adversário treina correndo de maneira diferente da apresentada em sua competição, como por exemplo, corridas de 3 quilômetros, este não terá alta performance durante a competição comparado ao primeiro atleta. Sendo assim, o trabalho específico para cada desporto é o treinamento que proporcionará o alto índice de performance, ou seja, o alto rendimento.

    Já o treinamento geral, ou seja, aquele que trabalha de maneira global e/ou diferenciada da apresentada no desporto em questão tem outro papel. Este apresenta, em sua grande maioria, um teor lúdico. Pode ser utilizado em momentos onde o time jogou mal ou em que o atleta não realizou uma boa prova. É comum e servem como exemplos, após uma competição, equipes de futebol que utilizam a recreação através de um jogo-brincadeira de handebol valendo apenas gol com a cabeça, a brincadeira com a bola chamada de “bobinho”, jogos adaptados que leve o atleta a tirar o foco daquele mal-estar ou daquela responsabilidade.

    Sendo assim, tanto o treinamento geral quanto o específicos são importantes para a aquisição do alto rendimento. Ambos possuem objetivos e momentos diferenciados, sendo ideal a mesclagem destes treinamentos para a evolução das valências desportivas de uma maneira mais completa.

Avaliação da quantidade de treinamento (QT) de alto rendimento

    Atualmente, o treinamento físico e técnico ocorre em tempo integral. Na grande maioria das equipes desportivas, existem dois tempos de treinamento em pelo menos dois dias da semana. Não existe um padrão para a quantidade de treinamento e este varia muito de desporto para desporto. No futebol, geralmente pela manhã ocorre um treinamento físico e à tarde um treinamento técnico.

    O treinamento integral é essencial para a aquisição e evolução das valências desportivas. Porém devemos nos atentar ao limite e o momento para se realizar este tipo de treinamento. Alguns fatores podem impossibilitar o treinamento integral devido a sua alta quantidade e intensidade como: o espaço de tempo entre as competição, a quantidade de jogos semanais, o estado físico dos atletas, as condições ambientais e estruturais do treino. Em alguns momentos, o treinamento é realizado com foco para a união do grupo e aumento da responsabilidade em grupo.

    Não existe uma regra definida para a quantidade ideal de treinamento devido a individualidade biológica e alguns fatores já citados. O mais sensato a se fazer, é realizar um treinamento diário de forma quantitativa ascendente até o meio da semana e descendente até o momento da competição. Esta estratégia é relevante já que se permanecermos a aumentar a curva quantitativa de treinamento até o dia da competição, corremos o risco de prejudicar o lado psicológico do atleta, além de provocar um cansaço prejudicial ao mesmo.

Aspectos sociais, psicológicos e afetivos no alto rendimento

    Para retratar a influência que os aspectos sociais, psicológicos e afetivos trazem ao alto rendimento, evidencio abaixo uma declaração do professor Jayme Valente sobre a concentração durante as competições dos times de futebol, coletada em 2008 na Universidade do Estado do Rio de Janeiro:

    Eu levava muito em consideração minhas vivências pessoais, pois como fui atleta, já tinha passado por diferentes situações, como por exemplo: em concentração, um jogador de futebol recém casado fica com medo de ir concentrar e a mulher dele ficar “solta” por ai. Ele fica preocupado, quer telefonar toda hora, e essa comunicação externa é um fator muito interveniente para um jogador que está concentrado. Por exemplo, quando treinei um importante time de futebol carioca, fui fazer um trabalho em Vassouras, mas caímos na asneira de levar as famílias dos jogadores e perdermos o controle, pois tínhamos como norma disciplinar, que todos deveriam cumprir os horários. Porém os jogadores não os cumpriam, porque tinham que esperar a mulher se arrumar, o filho tomar banho, enfim, sempre se atrasavam. O foco e a concentração eram perdidos. O time vinha liderando o campeonato brasileiro. Quando fez essa temporada em Vassouras, perdeu o pique e o espírito de grupo (VALENTE, 2008).

    Portanto, os parâmetros psicológicos, sociais e afetivos, podem incutir no atleta determinados comportamentos que poderão trazer malefícios para o rendimento desportivo, quando aplicados de maneira não planejada. De modo contrário, quando bem utilizados, estes parâmetros podem influenciar positivamente o alto rendimento no desporto.

O professor de Educação Física e o treinamento desportivo

    Infelizmente, a visão do treinador profissional está voltada principalmente para a vitória. Muitos fazem de seus atletas vítimas de doping devido à ganância e busca da vitória sem limites, ignorando assim os valores éticos e morais, visando apenas seu lado pessoal, pois a vitória é a preservação de seu emprego e a derrota, a representação de sua possível demissão. A preocupação com o status profissional, em alguns casos, determina a maneira de como o treinador atua diante da equipe, seja no treinamento ou no relacionamento com seus atletas.

    Na visão do mau profissional, os atletas têm livre arbítrio para decidir determinadas atitudes, como negar uma possível indução ao doping feita pelo treinador, seja por idéia dele mesmo ou por idéia do presidente do clube. Devemos refletir esta situação como a de um trabalhador que pode perder seu emprego. O jogador inseguro, com medo de perder seu status no time acaba sendo influenciado e utiliza de mecanismos ilegais no desporto, o que trará conseqüências trágicas para sua saúde e histórico esportivo. No campeonato de alto rendimento a tensão é muito alta, o medo de perder tira a vontade de ganhar, o que pode ser constatado até de maneira visual, como numa fotografia de um time antes do início de uma decisão onde não há um jogador que esteja sorrindo.

    Cabe ao professor de Educação Física ilustrar todo seu conhecimento na área e deteriorar com os vícios históricos e de cunho pessimista que tanto acomete a saúde física e psicológica dos atletas. O professor tem total conhecimento das vertentes de treinamento com a soma de saber ensinar e perceber seu atleta como pessoa e não como mercadoria ou ferramenta para ascensão profissional.

Conclusão

    No âmbito do treinamento de alto rendimento, o profissional responsável deve dominar os conceitos básicos do treinamento desportivo, sabendo aplicá-los de forma coerente em seus atletas. Não basta apenas dominar os conhecimentos específicos, devemos acumular conhecimentos interdisciplinares como complemento.

    Dentro do treinamento desportivo é essencial que se desenvolva não só apenas a vertente motora ou específica do desporto, mas sim os três pilares que regem o comportamento humano que é motricidade, a cognição e a afetividade.

    Através de pesquisas sobre o treinamento geral, é possível verificar que este é tão importante quanto o treinamento das atividades específicas, podendo ser trabalhado através de outras modalidades esportivas ou com atividades lúdicas. Serve de ferramenta para o trabalho lúdico, emocional e psicológico do atleta, o que possibilita o extravasamento de seus estresses, tornando o treinamento mais interessante e eficiente.

    Só alcançam os objetivos máximos no desporto aqueles que compreendem que o rendimento não depende somente de habilidades motoras, mas sim de um conjunto de fatores internos e externos aos atletas.

Referências bibliográficas

  • FERREIRA, Nilda Tevês; COSTA, Vera Lucia de Menezes. Esporte, Jogo e Imaginário Social. Rio de Janeiro: Shape, 2003.

  • MARQUES, Antônio. Revista Horizonte: Treinamento Desportivo: Área de Formação e Investigação. Número 39. p.97-106.

  • MCARDLE, Wiliam; KATCH, Frank; KATCH, Victor. Fisiologia do Exercício: Energia, Nutrição e Desempenho Humano. 5.ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2003.

  • PEREIRA, Francisco Lemos. Informação verbal, 2008.

  • SANTOS, Edson Arapiraca dos; NERY, Fábio do Couto; et al. Revista Treinamento Desportivo: As diferenças entre o esporte da escola e o esporte na escola. Volume 7, Número 1. p.21-28, 2006

  • VALENTE, Jayme Pimenta Filho. Informação verbal, 2008.

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