efdeportes.com

Suplementação de creatina e exercício físico na prevenção da sarcopenia

Suplementación de creatina y ejercicio físico en la prevención de la sarcopenia

 

*Instituto Passo 1. Uberlândia MG, Instituto ASSEVIM

**NEPAGE. Faculdade Atenas, Paracatu

FISIOEX. Pós Graduação em Ciências da Saúde UFU, Uberlândia

***NEPAGE. Faculdade Atenas, Paracatu

****NEPAGE. Faculdade Atenas, Paracatu

Universidade de Brasília, UNB

(Brasil)

Angélica Alves Garcez*

angelgarcez85@yahoo.com.br

Thiago Montes Fidale**

Rafael de Paula Lana***

Alexandre Gonçalves****

thiagofidale@hotmail.com

 

 

 

 

Resumo

          A sarcopenia tem sido motivo de discussões no âmbito científico, em relação aos efeitos deletérios sobre a saúde dos idosos. Seguindo este raciocínio, os estudos têm observado uma manutenção ou aumento da massa magra e da força muscular em idosos que utilizam suplementação de creatina associada ao exercício físico. Assim, o objetivo do presente estudo foi analisar, através de uma revisão da literatura científica, se a suplementação de creatina relacionada ao exercício podem atuar como forma preventiva da sarcopenia. Analisando a literatura levantada, pode-se concluir que o uso da suplementação de creatina tem efeito direto na hipertrofia sarcoplasmática, aumentando a hidratação muscular e associada ao exercício físico em idosos, tem um efeito indireto no aumento da força muscular e potencial hipertrófico miofibrilar, mostrando-se portanto como uma estratégia interessante como prevenção da sarcopenia quando utilizada, respeitando as recomendações relacionadas a dosagem descritas na literatura especializada, mais que ainda carece de mais estudos que descrevam seus reais efeitos colaterais de sobrecarga renal.

          Unitermos: Sarcopenia. Creatina. Exercício físico.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 15, Nº 154, Marzo de 2011. http://www.efdeportes.com/

1 / 1

Introdução

    O termo sarcopenia é utilizado para descrever a perda de massa muscular e força que ocorre com o decorrer do envelhecimento biológico. Múltiplos fatores inter-relacionados contribuem para o desenvolvimento e progressão da sarcopenia, entre eles: perda de fibras musculares esqueléticas (principalmente fibras do Tipo IIX), diminuição do número de motoneurônios, diminuição da atividade física, alteração do estado hormonal, diminuição da ingestão calórica total e de proteína, alteração nas concentrações de mediadores inflamatórios e fatores que levam à síntese de proteínas alteradas. (DOHERTHY, 2003).

    Sabe-se que em média o pico de crescimento muscular tem seu acometimento em média aos 24 anos de idade. Similar a produção de forca, a massa muscular durante os primeiros 50 anos é mantida, com uma discreta diminuição de apenas 10% nas primeiras 5 décadas de vida. Porem entre 50 e 80 anos de idade, um decréscimo adicional de 30% ocorre na população pertencente a esta faixa etária. Assim entre 24 e 80 anos de vida ocorre um decréscimo do tamanho muscular equivalente a 40%. Na verdade apenas 5% da diminuição do número de fibras musculares ocorre entre os 24 e 50 anos de idade. A contagem do número de fibras juntamento com toda a massa muscular tem uma diminuição de 35% entre 52 e 77 anos de idade. Isso resulta em um decréscimo anual de 1% em toda área de secção transversa muscular a partir dos 50 anos.

    De acordo com Proctor et al. (1998), a sarcopenia é um importante problema de saúde pública na rápida expansão da população idosa da nossa sociedade e que alguns fatores como progressivas alterações neuromusculares e diminuição dos níveis de hormônios anabólicos e diminuição das atividades de vida diária (PASCHOAL, 1998),contribuem para a patogênese da sarcopenia, que é um processo lento, progressivo e aparentemente inevitável, até mesmo naqueles indivíduos que praticam exercícios físicos regularmente.

    A Sarcopenia também se relaciona com a diminuída capacidade de proliferação das células satélites, e conseqüente formação de novos mionúcleos nas células musculares, principalmente nas fibras do tipo IIX, que também vão se reduzindo ao longo dos anos e são responsáveis pela maior expressão da força muscular. (VERDIJK, 2007). Segundo Lexell et al. (1988), a quantificação desta perda de massa muscular se direciona na proporção de 26% de perda na area de seccao transversa de fibras musculares do tipo IIX enquanto que o numero de fibras do Tipo I permaneceu inalterado, em uma população com idade entre 20 e 80 anos.

    De acordo com Bross et al. (1999), não há um consenso sobre se a sarcopenia deve ser encarada como uma doença ou um processo de envelhecimento normativo. Tem sido argumentado que, devido à perda de massa muscular ocorrer mesmo durante o curso de envelhecimento bem-sucedido, a sarcopenia deve ser considerada uma doença apenas quando ela induz deficiência. Também não há consenso sobre qual o limite de perda muscular deve ser utilizado para definir sarcopenia.

    Silva et al. (2006), relatam que a inatividade física é um fator que contribui para o avanço da sarcopenia e que diversos estudos relacionados com exercícios físicos como agentes preventivos da sarcopenia, principalmente os exercícios resistidos, têm os mais promissores resultados. Porém segundo o benefício terapêutico do treinamento resistido são fisiologicamente limitados em idosos. De acordo com Larsson (1982), uma limitação potencial reside no fato desta população possuir baixas concentrações de creatina (Cr) e fosfofreatina (PCr), importantes fontes primárias de energia para realização de atividades resistidas de alta intensidade.

    Indivíduos com idade acima dos 50 anos que realizaram a suplementação com Cr aumentaram seus estoques de PCr em repouso bem como rápida ressíntese de PCr após o exercício. Essa melhora no metabolismo refletiu em melhora do desempenho muscular.(SMITH et al., 1998)

    Assim uma combinação entre o baixo nível de exercício ou ausência do mesmo Schrager (2003), e diminuidas concentrações de creatina e fosfocreatina no organismo idoso, resultará na diminuição da massa muscular corporal.

    Dessa forma, o objetivo do estudo foi analisar através de uma revisão da literatura científica, se a suplementação de creatina juntamente com o exercício, ambos podem atuar como forma preventiva da sarcopenia.

Sarcopenia, envelhecimento e acometimentos musculares

    A primeira estratégia para otimizar a saúde na população idosa é prevenir eventuais problemas clínicos. Assim pesquisas dos últimos 30 anos claramente demonstraram que o aumento dos níveis de atividade física é uma importante intervenção para aliviar a deterioração normal dos parâmetros de saúde relacionados à aptidão física (MARON, 2000). Estas incluem a capacidade funcional dos sistemas cardiovascular e músculo esquelético, bem como a composição corporal e higidez metabólica (BOUCHARD, 1990).

    De acordo com Silva et al. (2006), a prevalência de incapacidade e dependência funcional é maior em idosos e está intimamente associada à redução da massa muscular que ocorre. A perda de força muscular é responsável pela redução de mobilidade e aumento da incapacidade funcional e dependência. A manutenção ou aquisição de massa muscular é fundamental para retardar a perda decorrente do próprio envelhecimento e promover menor impacto sobre a qualidade de vida dos idosos.

    Conforme Smith et al., (1998), a redução da massa muscular, a diminuição do diâmetro das fibras do tipo II e a diminuição da atividade enzimática mitocondrial e do metabolismo dos fosfatos de alta energia são algumas das alterações relacionadas com a idade que se associam com o declínio da força muscular e da capacidade de resistência física, o qual ocorre com o envelhecimento.

    Estudos recentes demonstraram um declínio na taxa de síntese de proteínas musculares mistas, cadeia pesada de miosina e de proteína mitocondrial. Reduções de cadeia pesada de miosina têm sido correlacionados com a idade associado a decréscimos na força muscular. Essas mudanças têm sido observadas em indivíduos a partir de 50 anos e estão relacionados com o declínio de IGF-1 e testosterona. (MORLEY, 2009).

    Yamada e Bueno Jr. (2009), relatam que as alterações observadas com a idade no recrutamento das células satélites contribuem para o déficit de regeneração muscular no idoso. Além disso, com o avançar da idade, a capacidade de proliferação das células satélites parece estar reduzida. Nesse mesmo raciocínio, Raso (2009), relata que o envelhecimento também afeta negativamente os fatores inflamatórios que são essenciais para a resposta normal das células satélites à lesão; prejudicando assim, a hipertrofia muscular em idosos.

    Verdijk et al. (2007), em seus estudos, realizaram biópsias musculares do vasto lateral de jovens e idosos, e observaram que o teor de fibras tipo II foi significativamente menor nos idosos (47% ± 3) do que nos jovens (57 ± 3%, P <0,05). Além disso, o percentual de área muscular total ocupada pelas fibras tipo II, também foi significativamente menor nos idosos (42% ± 4) versus os jovens (59 ± 3%). A área tranversal nos idosos, foi significativamente menor no tipo II em comparação com as fibras do tipo I. Ressaltaram que o declínio no teor de células satélites pode ser um fator importante na etiologia da atrofia das fibras musculares.

    Gallagher et al. (2000), avaliaram a perda de massa muscular esquelética ao longo do tempo em idosos saudáveis e investigaram as diferenças de gênero na taxa de declínio muscular relacionada à idade óssea. A perda de massa muscular esquelética em homens foi mascarada pela estabilidade de peso, resultante de um aumento correspondente na massa de gordura corporal total. Os resultados sugerem que homens idosos apresentam uma perda de músculo esquelético predominante, enquanto mulheres apresentam reduções proporcionais tanto em músculo quanto nos ossos. Sendo assim, há uma diferença de gênero nas fisiopatologias e dessa forma, pode-se sugerir estratégias de prevenção diferentes em homens e mulheres.

    Felizmente, alguns estudos mostrando que através de uma combinação de atividade física orientada, o uso criterioso de suplementos alimentares e da possível utilização da suplementação hormonal, a sarcopenia pode ser minimizada (ROSICK, 2003).

    É consenso na literatura, que a prática da atividade física em idosos, parece contribuir para prevenir ou minimizar as alterações provocadas pelo envelhecimento possibilitando ao idoso manter uma melhor qualidade de vida, melhorando sua capacidade funcional. (CHRISTOVAM ET AL., 2007; TARNOPOLSKY E SAFDAR, 2008).

    Moreira et al. (2007), ressaltam que o treinamento contra resistência é a contramedida mais potente para a sarcopenia associada à idade e a suplementação de creatina pode ainda potencializar a massa livre de gordura e o ganho de força durante um programa de treinamento com pesos.

Relação creatina, exercício, força e hipertrofia

    Brink (2005), ressalta a creatina como sendo um dos suplementos nutricionais mais eficientes para manter ou aumentar os níveis de ATP intramuscular, embasado no possível efeito de elevar o depósito de fosfocreatina no músculo, aumentando o rendimento durante o exercício. (SILVA ET AL., 2006).

    De acordo com Gualano et al. (2008), a creatina é encontrada no músculo esquelético e sintetizada endogenamente pelo fígado, rins e pâncreas a partir dos aminoácidos glicina e arginina. Também pode ser obtida via alimentação, especialmente pelo consumo de carne vermelha e peixes. A creatina é encontrada no corpo humano nas formas livre (60 a 70%) e fosforilada (30 a 40%). Sua principal função é a provisão rápida de energia, durante a contração muscular, através de reação catalisada pela enzima creatina quinase. (GUALANO ET AL., 2009).

    Peralta e Amancio (2002), comentam que a fosfocreatina constitui uma reserva de energia para a rápida regeneração do ATP, em exercícios de alta intensidade e curta duração. Diariamente, um indivíduo adulto, ingere aproximadamente 1g de creatina e uma quantidade similar é produzida pelo fígado para atingir as necessidades diárias. O ciclo da creatina finaliza quando ela é convertida em creatinina, sendo excretada pela urina. A melhora do desempenho seria devido ao aumento dos níveis musculares de creatina, o qual potencializa a rápida regeneração do ATP.

    A fosfocreatina é uma importante reserva de energia nas células musculares, segundo Kreider (1998), durante o exercício intenso de curta duração, ela é quebrada em creatina e fosfato e a energia liberada é usada para regenerar o ATP. Quando a fosfocreatina torna-se escassa, o ATP não pode ser regenerado com rapidez suficiente para atender a demanda de exercícios intensos. Doses diárias de 20g de creatina por 5-7 dias, em geral aumentam o conteúdo total de creatina no músculo por 10-25%. A creatina extra é eliminada principalmente na urina e excretada como uréia e creatinina. Há alguma evidência de que nem todos os indivíduos respondem à suplementação de creatina.

    Um ponto importante citado por Yamada e Bueno Jr. (2009), é que a creatina influencia na regulação das células satélites, que segundo Verdijk et al. (2007), são essenciais para a reparação e o crescimento do músculo esquelético. A creatina auxilia no aumento da força e da hipertrofia muscular, sendo eficiente em idosos ou pessoas acometidas por doenças degenerativas neuromusculares. (YAMADA E BUENO JR., 2009).

    Segundo Gualano et al. (2009), a suplementação de creatina é capaz de prevenir os sintomas e/ou atenuar o quadro degenerativo em algumas desordens musculares, doenças do sistema nervoso central, acometimentos ósseos e metabólicos.

    Com relação ao uso da creatina e aumento da massa muscular, Carvalho (2007) comenta que muitos estudos têm relatado importantes modificações na composição corporal durante e imediatamente após diferentes períodos de suplementação com creatina. A maioria dessas investigações tem encontrado um aumento bastante variável de 0,5 a 4,0 kg na massa corporal, com aumento da massa magra.

    Brose et al. (2003), relataram que a suplementação de creatina potencializou o aumento da força e massa muscular durante 14 semanas de treinamento de força em idosos. Neste estudo, a suplementação de creatina resultou em um maior aumento da massa magra e aumento da força isométrica de extensão do joelho comparado com o grupo placebo.

    Estudos realizados por Tarnopolsky e Safdar (2008), descrevem os resultados de seu grupo demonstrando que a suplementação de creatina para um ou dois meses em indivíduos idosos, promove efeitos sinérgicos positivos ao treinamento de força no que se refere ao ganho de força (5 a 15%) e de massa magra (1-3%).

    Moreira et al. (2007), buscaram verificar o efeito de seis semanas de treinamento de força e da suplementação de creatina na força e massa corporal magra em idosos. No experimento, um grupo recebeu suplementação de creatina e o outro suplementação de dextrosol (placebo). Foram submetidos a um programa de exercícios com pesos por 6 semanas, 3 vezes por semana. Os resultados demonstraram que após 6 semanas de treinamento de força, houveram alterações na massa corporal total dos dois grupos, contudo somente o grupo suplementado com creatina apresentou alteração na composição corporal, reduzindo o percentual de gordura.

    Para Moreira et al. (2007), a prescrição de exercícios para idosos vem sendo apresentada como o principal recurso no combate aos problemas relacionados ao envelhecimento e que diversos estudos têm demonstrado os benefícios que a prática regular de exercícios físicos, proporcionam para a saúde desta população, principalmente no que tange a massa corporal magra.

    Devido aos seus benefícios, o exercício tem sido utilizado como estratégia de prevenção e tratamento da sarcopenia. (BRINK, 2007).

    Segundo Tarnopolsky e Safdar (2008), exercícios resistidos podem aumentar a força e a massa muscular, estudos ainda relatam aumentos das fibras musculares tanto IIX em idosos após quatro meses de treinamento resistido (Brose et al. 2003) e fibras tipo I após 6 meses de treinamento de resistência. (TARNOPOLSKY et al. 2007).

    Conforme Brink (2007), o exercício ajuda a combater a perda muscular proveniente do envelhecimento. Os Centros Federais de Controle e prevenção de doenças, e os órgãos de saúde enfatizam a prática de exercício resistido para idosos, ressaltando que, além da construção muscular, o treinamento de força pode promover a mobilidade e melhorar a aptidão física relacionada à saúde.

    Os exercícios com pesos podem representar uma importante estratégia devido ao fato de possibilitar restauração e aumento da massa muscular. A adesão a um programa de exercícios resistidos representa uma das principais estratégias coadjuvantes ao tratamento da maioria das condições crônico-degenerativas comuns entre as pessoas idosas. (RASO, 2009).

    Brose et al. (2003), relataram superiores ganhos de força e massa magra em idosos suplementados com creatina e submetidos a treinamento de força por 14 semanas quando comparado aos que treinavam sem suplementação. Encontraram aumentos significativos na creatina muscular total em idosos, após 4 meses de suplementação de creatina (5g / dia) em combinação com o treinamento com pesos. Não houveram efeitos colaterais significativos. O autor conclui que o treinamento com pesos supervisionado associado a suplementação de creatina pode aumentar a força muscular e capacidade funcional em idosos é uma contramedida eficaz para a sarcopenia e perda de força.

    Para Carvalho (2007), o uso da suplementação de creatina associada ao treinamento resistido contribui para a melhoria do perfil da composição corporal, mediante aumento da retenção hídrica intracelular, da massa corporal magra e da hipertrofia muscular e que oito semanas de treinamento resistido associado à suplementação de creatina são suficientes para provocar modificações positivas na massa muscular.

    Em seu estudo, os resultados mostraram um aumento significante da massa corporal nos grupos creatina e treino (3,8%), placebo e treino (2,3%) e creatina sem treino (3,0%) após oito semanas de intervenção. Um comportamento similar foi verificado com relação aos valores de IMC nos grupos creatina e treino (4,0%), placebo e treino (2,5%) e creatina sem treino (2,8%). O grupo creatina sem treino apresentou ganhos de massa muscular total superiores ao grupo placebo e treino, o que pode ser considerado um achado extremamente interessante, sobretudo no tratamento de disfunções agravadas por sarcopenia.

    Tarnopolsky e Safdar (2008), concluíram que a creatina potencializou o exercício resistido no que diz respeito a ganhos em massa magra e força em idosos. Evidências recentes sugerem que a suplementação de creatina em combinação com o treinamento de força pode aumentar a ativação de células satélites em homens jovens, favorecendo a hipertrofia muscular (YAMADA E BUENO JR., 2009).

    Duas teorias buscam explicar os efeitos da suplementação de creatina na força e hipertrofia, a primeira propõe uma hipertrofia sarcoplasmática, tendo em vista que uma quantidade adicional de creatina aumentaria a hidratação intramuscular, tendo em vista sua característica hidrofílica, e um ganho de força por aumento da velocidade da ressíntese de ATP intramuscular pelo sistema ATP-CP. A segunda propõe como efeito secundário uma hipertrofia miofibrilar por aumento do potencial microlesivo em treinos intensos devido à maior disponibilidade energética no início do exercício, o que resultaria em quantidades adicionais de força muscular.

Efeitos colaterais

    Faz-se necessário discorrer sobre os possíveis efeitos colaterais do uso da creatina.

    De acordo com Kreider (1998), nenhum estudo demonstrou que a suplementação de creatina resulta em aumentos clinicamente significativos na lesão hepática ou insuficiência hepática e que não há efeitos colaterais em curto prazo, exceto o ganho de peso. Segundo os autores, a suplementação de creatina é uma prática clinicamente segura, quando tomada em doses descritas na literatura. Determinar se a suplementação de creatina tem algum efeito secundário a curto ou a longo prazo, é uma área que recebe atenção da pesquisa adicional.

    Peralta e Amancio (2002) relatam que alguns pesquisadores têm buscado analisar os possíveis efeitos colaterais do uso da creatina, tais como: redução da síntese endógena quando utilizada por longos períodos, cãibras musculares e/ou lesões durante o treinamento, distúrbios gastrointestinais, alterações no estado hidroeletrolítico, danos hepáticos e renais e elevação da pressão arterial. Entretanto, estudos de revisão têm indicado que nenhum efeito colateral tem sido relatado em estudos bem controlados, durante ou após o uso da suplementação de creatina, em indivíduos saudáveis. Ainda não há consenso sobre os efeitos colaterais resultantes do consumo de creatina por tempo prolongado.

    Taes et al. (2003), comentam que o consumo de creatina por praticantes de atividade física tem crescido muito e que os efeitos adversos desse suplemento continuam sendo alvos de debates científicos, sobretudo no que se refere à função renal. Relatos de caso sugerem que a creatina é um potencial agente nefrotóxico, porém pesquisas com humanos não demonstraram efeitos deletérios da suplementação de creatina à função renal. Entretanto, a falta de controle experimental e o caráter retrospectivo da maioria delas comprometem as conclusões dos autores.

    Carvalho (2007) verificou um agravamento da disfunção renal, durante a administração de suplementação de creatina, que foi restabelecida a situação inicial após a interrupção do uso da suplementação.

    Tarnopolsky e Safdar (2008), e Gualano et al. (2009), comentam que a creatina parece não ter nenhum efeito secundário significativo, no entanto, a segurança e a eficácia da suplementação contínua além de seis meses ainda não foi estabelecida.

Considerações finais

    Ao analisarmos os efeitos da creatina no tecido muscular esquelético concluímos que o uso da suplementação de creatina, associado ao exercício resistido, é uma forma eficiente de se prevenir e combater os efeitos deletérios da sarcopenia, cada um deles contribuindo de maneira individual para a manutenção da força e hipertrofia muscular. Contudo a suplementação de creatina recebe uma atenção especial quanto à dosagem e possíveis efeitos colaterais, onde encontramos divergências entre autores e a necessidade de estudos mais fidedignos e bem controlados respaldando e quantificando cientificamente seu uso.

Referências

  • BRINK, W. Anti-aging benefits of creatine. LE Magazine abr. 2005.

  • BRINK, W. Preventing sarcopenia. LE Magazine jan. 2007.

  • BROSE, A., PARISE, G., TARNOPOLSKY, M.A. Creatine supplementation enhances isometric strength and body composition improvements following strength exercise training in older adults. J Gerontol A Biol Sci Med Sci 2003. Vol. 58: 11-19.

  • BROSS, R., JAVANBAKHT, M., BHASIN, S. Anabolic interventions for aging-associated sarcopenia. J Clin Endocr & Metab 1999. Vol. 84, No. 10. 3420-3430

  • CARVALHO, F.O. Efeito de oito semanas de treinamento com pesos e suplementação de creatina sobre a composição corporal total e regional. Dissertação: Universidade Estadual de Londrina, 2007. 84p.

  • CHRISTOVAM, C. L., VEIGA, M.B., NAVARRO, F. Análise da creatina quinase versus percepção subjetiva de esforço para monitoramento do tempo de recuperação em idosos fisicamente ativos. Rev. bras. Prescr. Fisiol. Exerc. 2007. Vol.1. No 3. p.78-88. São Paulo mai./jun.

  • DOHERTHY, T.J. Invited review: Aging and sarcopenia. J Appl Physiol 2003. Vol. 95: 1717-1727.

  • GALLAGHER, D., RUTS, E., VISSER, M., HESHKA, S., BAUMGARTNER, R.N., WANG, J., PIERSON, R.N., PI-SUNYER, F.X., HEYMSFIELD, S.B. Weight stability masks sarcopenia in elderly men and women. J Physiol Endocrinol Metab 2000. Vol. 279: 366-375.

  • GUALANO, B., UGRINOWITSCH, C., SEGURO, A.C., LANCHA JR., A.H. A suplementação de creatina prejudica a função renal? Rev Bras Med Esporte 2008. Vol.14 No.1 Niterói Jan./Fev.

  • GUALANO, B., ARTIOLI, G.G., LANCHA JR., A.H. Efeitos terapêuticos da suplementação de creatina. Revista Mackenzie de Educação Física e Esporte 2009. Vol. 8, No 1.

  • KREIDER, R.B. Creatine, the next ergogenic supplement? Sportscience Training & Technology. Internet Society for Sport Science. 1998.

  • MOREIRA, D.S., KNIFIS, F.W., MACHADO, M. Suplementação de creatina e exercício alteram a composição corporal e índices da síndrome metabólica em idosos. Movimento e percepção 2007. Vol 7. No 10. jan./jun.

  • MORLEY, J.E. Role of skeletal muscle in health. In: The role of nutrition in accretion, retention, and recovery of lean body mass. Jun.2009.

  • PERALTA J., AMANCIO, O.M.S. A creatina como suplemento ergogênico para atletas. Rev. Nutr. Vol.15. No.1. Jan. 2002.

  • PROCTOR, D.N., BALAGOPAL, P., NAIR, K.S. Age-related sarcopenia in humans is associated with reduced synthetic rats of specific proteins. The Journal of Nutrition Vol. 128 No. 2. Fev 1998. p.351-355.

  • RASO, V. Exercício com pesos para pessoas idosas baseado em evidências: parte 2. Saúde mental e músculo-esquelética, e imunossenescência. Revista Brasileira de Ciência e Movimento 2009. Vol. 17. Nº 1.

  • ROSICK, E.R. Protecting Muscle Mass As You Age. LE Magazine Ago. 2003. Disponível em: < http://www.lef.org/magazine/mag2005/apr2005_report_creatine_01.htm>. Acesso em: 23 de abr. 2010.

  • SCHRAGER, M., BANDINELLI, S., MAGGI, S., FERRUCCI, L. Sarcopenia: Twenty open questions for a research agenda. Basic Appl Myol 2003. Vol. 13. p.203-208.

  • SILVA, T.A., FRISOLI JR., A., PINHEIRO, M.M., SZEJNFELD, V.L. Sarcopenia associada ao envelhecimento: aspectos etiológicos e opções terapêuticas. Rev. Bras. Reumatol. Vol.46. No.6. São Paulo Nov./Dez. 2006.

  • SMITH, S.A., MONTAIN, S.J., MATOTT, R.P., ZIENTARA, G.P., JOLESZ, F.A., FIELDING, R.A. Creatine supplementation and age influence muscle metabolism during exercise. J Appl Physiol. Vol. 85 p.1349-1356. Out.1998.

  • TAES, Y.E.C., DELANGHE, J.R., WUYTS, B., VOORDE, J.van., LAMEIRE, N.H. Creatine supplementation does not affect kidney function in an animal model with pre-existing renal failure. Nephrol Dial Transplant 2003. Vol. 18: 258-264.

  • VERDIJK, L.B., KOOPMAN, R., SCHAART, G., MEIJER, K., SAVELBERG, H.H.C.M., LOON, L.J.C.van. Satellite cell content is specifically reduced in type II skeletal muscle fibers in the elderly. Am J Physiol Endocrinol Metab 2007. Vol. 292: 151-157.

  • YAMADA, A. K., BUENO JR., C.R. Células satélites e atividade física: relação dos conhecimentos básicos com a prática profissional. Revista Brasileira de Ciência e Movimento 2009. Vol. 17. No 1.

  • LEXELL L, TAYLOR CC, SJOSTROM M. What is the cause of ageing atrophy? Total number, size and proportion of different fiber types studied in whole vastus lateralis muscle from 15- to 83-year-old men. J Neurol Sci 1988; 84: 275-94

  • LEXELL J, HENRIKSSON-LARSEN K, WINBLAD B, et al. Distribution of Skeletal muscle weakness in old age: different fiber types in human skeletal muscles: effects of aging studied in whole muscle cross sections. Muscle Nerve 432-9 1983; 6: 588-95

  • LEXELL J, DOWNHAM D, SJOSTROM M. Distribution of different fiber types in human skeletal muscles: fibre type arrangement in m. vastus lateralis from three groups of healthy men between 15 and 83 years. J Neurol Sci 1986; 72: 211-22.

  • LARSSON, L. Physical training effects on muscle morphology in sedentary males at different ages. Med. Sci. Sports Exerc. 14:203– 206, 1982.

  • WELLE, S., S. TOTERMAN, and C. THORNTON. Effect of age on muscle hypertrophy induced by resistance training. J. Gerontol. 54A:M270–M275, 1996.

  • SMITH, S. A., S. J. MONTAIN, R. P. MATOTT, G. P. ZIENTARA, F. A. JOLESZ, and R. A. FIELDING. Creatine supplementation and age influence muscle metabolism during exercise. J. Appl. Physiol. 85:1349–1356, 1998.

  • MARON, B. J. The paradox of exercise. N Engl J Med 343: 1409 – 1411, 2000.

  • BOUCHARD, C. Exercise, fitness, and health: the consensus statement. In: Exercise, Fitness and Health, edited by Bouchard C, Shepard RJ, Stephens T, Sutton JR, and McPherson BD. Champaign, IL: Human Kinetics Books, 1990, p. 3–28.

Outros artigos em Portugués

  www.efdeportes.com/
Búsqueda personalizada

EFDeportes.com, Revista Digital · Año 15 · N° 154 | Buenos Aires, Marzo de 2011
© 1997-2011 Derechos reservados