O treino desportivo como factor de desenvolvimento motor El entrenamiento deportivo como factor de desarrollo motor |
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Licenciado em Educação Física e Desporto Treinador adjunto. Sporting Clube de Braga (Portugal) |
Diogo André Rodrigues da Fonseca |
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Resumo Este documento aborda a importância do desenvolvimento motor em populações juvenis, tendo em vista a sua rentabilização futura. Por conseguinte, é feita uma abordagem a mecanismos biológicos, fisiológicos, psicológicos e sociais que têm um papel determinante no crescimento harmonioso de um jovem atleta. Neste sentido, será ainda fundamental, clarificar o treino de jovens e o seu antagonismo com o trabalho com adultos, assim como todas as suas implicações. Unitermos: Capacidades Motoras. Desenvolvimento motor. Jovens. Maturação. Treino.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 15, Nº 154, Marzo de 2011. http://www.efdeportes.com/ |
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“O treinamento, já aceite há algum tempo como ciência,
tem sua posição científica reforçada com referências consideradas
essenciais para todos os que buscam o alto rendimento atlético”.
Tubino, 1979
Introdução
Através da abordagem da temática «O Treino Desportivo como factor de desenvolvimento motor», procuramos fornecer um enquadramento teórico do treino desportivo com todas as outras ciências que lhe dão apoio e suporte, sabendo se na prática há uma preocupação diária dos técnicos de jovens relativamente a estas questões. Simultaneamente apresentaremos o Treino Desportivo como uma nova área do saber científico.
De acordo com Lehnert (1989), a disciplina científica Treino Desportivo, investiga os fundamentos teóricos da prestação desportiva mas também aperfeiçoa a metodologia deles resultante, para o seu desenvolvimento. Por fundamentos teóricos, compreende-se a preparação, desenvolvimento e generalização de forma integrativa, de conhecimentos, conceitos, e categorias, sociológicas, psicológicas, pedagógicas, metodológicas do desporto, médico-desportivas, biológicas e biomecânicas, que representam a base científica para o processo complexo de desenvolvimento da prestação desportiva, na sua unidade de educação e formação. Por metodologia, compreende-se o sistema de princípios, regras, métodos, procedimentos, formas e meios específicos, que determinam, quer o desenvolvimento programado da prestação desportiva na sua complexidade, quer os factores parciais que condicionam a prestação no treino e na competição.
Será feita também uma abordagem relativamente à Metodologia do Treino e de capacidades que estão englobadas nesta, tais como: força, resistência, velocidade, flexibilidade e capacidades coordenativas.
Problemática
O desenvolvimento motor e o treino das capacidades e habilidades motoras, é cada vez mais importante, tendo em conta o crescimento harmonioso das crianças, predispondo-as para uma multiplicidade de acções que lhes deverão ser úteis na sua vida adulta, não só a nível desportivo, mas também em várias tarefas de índole pessoal e profissional.
Num tema tão complexo será possível concluír que o treino exerce uma acção preponderante no desenvolvimento motor?Se sim, de que modo é que estas deverão ser trabalhadas?
Hipóteses
O treino poderá ser determinante no desenvolvimento motor?
O tipo de treino e de cargas físicas poderão ser importantes ao longo deste processo?Será que é indiferente?
Há uma relação entre as capacidades coordenativas e as capacidades condicionais?Ou poderemos dissociá-las?
Variáveis
O grau de instrução dos monitores, como aspecto preponderante na concepção do treino.
Ter sempre presente ou não o trabalho e a acção desenvolvida com crianças vs adultos.
A opção de trabalhar a totalidade das capacidades motoras condicionais num contexto integrado, ou a sua divisão por partes, apostando-se mais numa determinada capacidade, tendo em conta que o público alvo é infanto-juvenil.
A idade dos monitores, a necessidade de adaptação a novas realidades.
Fundamentação teórica
A preparação física é trabalhada em duas vertentes: a preparação física geral e a preparação física específica. A primeira tende a enriquecer a bagagem motora do praticante. O seu alvo principal é incrementar a capacidade funcional do organismo e expandir as qualidades motoras impostas por um determinado nível da preparação dos atletas. É fundamentalmente uma preparação multilateral. A segunda é um processo da manipulação selectiva dos grandes exercícios e habilidades motoras, de acordo com as características do esforço específico da modalidade desportiva e de acordo com as exigências dos resultados. Faz a ligação entre as qualidades motoras e o automatismo da modalidade e entre o desenvolvimento morfológico funcional e a técnica e a táctica da actividade.
«Acima de tudo, os esforços de treinamento para principiantes e profissionais devem ser um objectivo alcançável, planejado de acordo com as capacidades individuais, os traços psicológicos e o ambiente social». (Bompa, 2002, p.5).
A especificidade dos meios de treino é a característica fundamental para o desenvolvimento e a elevação da prestação desportiva do praticante e da equipa. Daqui resulta uma tecnologia didáctica que estabelece níveis de complexidade adaptados às capacidades momentâneas dos praticantes, construindo exercícios de treino com diferentes níveis de identidade.
O treino desportivo implica a preparação do atleta abrangendo diversos aspectos:
Preparação física geral e específica;
Preparação técnica;
Preparação táctica;
Preparação psicológica (moral e volitiva);
Preparação teórica (intelectual).
Estes cinco aspectos da preparação do atleta estão expostos em todos os cursos básicos de treino. A preparação do atleta é o aproveitamento de todo o conjunto de meios que assegurem o alcance e elevação da predisposição para apresentar desempenhos superiores (Matvéiev, 1966).
As respostas ao treino aplicado são determinadas por características hereditárias associadas às influências do meio ambiente. Buscamos continuamente o aperfeiçoamento das características técnico desportivas da forma mais específica e individualizada possível. Quanto mais o treino se aproximar das características positivas de respostas individuais, maiores serão as performances alcançadas.
Cada ser humano é único e por este motivo necessita de um acompanhamento personalizado para o treino visando o alto rendimento físico e desportivo. É inadmissível a padronização de qualquer forma de treino, para grupos inteiros de indivíduos.
O tratamento diferenciado dos atletas é aceite pela maioria dos especialistas do domínio como uma exigência pedagógica essencial e complexa.
Este requer a observação das especificidades dos sujeitos e está intrinsecamente ligado ao princípio da acessibilidade da instrução e da individualização, às vezes até ao nível da grande performance.
«Um alto nível de desempenho é o resultado de muitos anos de treinamento planejado, metódico e árduo. Durante esse período, o atleta tenta adaptar seus órgãos e funções às exigências do desporto escolhido» (Bompa, 2002).
Contanto que ocorram todas as alterações fisiológicas e psicológicas esperadas num treino prolongado, a manutenção do nível atingido ou a sua elevação a um nível superior requer estímulos intensivos de treino. Quantos estes estímulos cessam, o atleta corre sérios riscos de distúrbios funcionais e psíquicos, que Israel (1972) designa por síndrome de decréscimo ou destreinamento. Há razões importantes que levam à interrupção do treino: doença, acidente ou interrupção do treino durante o período de transição e encerramento da carreira desportiva. Durante o período programado de transição do treino, não deve ser permitido ao atleta excluir-se dos treinos por longos períodos, é preferível a redução dos trabalhos em termos de volume, para que não seja atingido o destreino, o qual ocorre com longos períodos de inactividade.
Pelo motivo exposto acima, deve-se programar os treinos com antecedência suficiente, para que sejam inclusos períodos mínimos de inactividade durante todo o ciclo de treino. A mesma regra é válida não só para o período de treino competitivo, mas também para todo o ciclo da vida humana.
O sobretreino refere-se, na maior parte das vezes, à relação entre o trabalho e recuperação como fundamento biológico para a excitação física e psicológica, antes de uma competição principal. A fase em que se enfatizam demasiadamente estímulos de intensidade máxima pode conduzir à exaustão e a um decréscimo no desempenho. Para elevar progressivamente o desempenho, o técnico precisa desafiar regularmente o atleta a elevar o seu limite de adaptação, ou seja, tem de planear estímulos de alta intensidade alternadamente, alternando dias de treino com alta intensidade com dias de baixa intensidade. Assim, melhorará a recuperação e levará ao estado desejado de supercompensação.
Altos níveis de fadiga, provocados por um treino contínuo com alta intensidade, impedem a supercompensação e os benefícios biológicos para a melhoria do treino e o alcance do desempenho máximo.
Metodologia do treino das capacidades motoras
Força
Resistência
Velocidade
Flexibilidade
Capacidades coordenativas
Força
Ao longo da história do treino desportivo a melhoria da força tem sido um objectivo essencial visando a obtenção de mais altos rendimentos.
Uma definição precisa de força levando em conta seus aspectos físicos e psíquicos representa uma grande dificuldade, uma vez que o tipo de força, o trabalho muscular, os diferentes caracteres do trabalho muscular são influenciados por muitos factores.
Segundo Pedro Mil – Homens (1998), força é toda a causa capaz de modificar o estado de repouso ou de movimento de um corpo, traduzido por um vector. É o produto da massa pela sua aceleração F = mxa.
Segundo Castelo et ali (2000), a força muscular é a capacidade que um músculo, ou grupo muscular, tem de vencer uma dada resistência, a uma dada velocidade, num determinado exercício. De acordo com Matvéiev (1991), os objectivos principais do treino de força são:
aumentar a capacidade de força e/ou assegurar a sua conservação em relação às particularidades das fases do treino;
educar as aptidões de força que correspondam às exigências de uma determinada modalidade.
A primeira destas tarefas diz respeito à preparação da força geral, enquanto que a segunda se refere à preparação da força especial. Assim, o trabalho da força serve para:
atingir um desenvolvimento global de todos os grupos musculares, considerando-os como um todo;
direccionar o trabalho da força para que este se coadune com as aptidões de força na modalidade de especialização.
Portanto, Força é o resultado da tensão máxima que um músculo ou grupo de músculos pode desenvolver quando se opõe ou vence uma resistência exterior.
No que diz respeito às suas formas de manifestação, a força muscular poderá assumir três expressões distintas (Raposo, 2005):
Força explosiva ou força rápida – entendida como a capacidade de o sistema neuromuscular vencer resistências com uma elevada velocidade de contracção;
Força de resistência – que compreende a capacidade do organismo resistir ao aparecimento da fadiga, em solicitações de prestação de força, durante um período de tempo prolongado;
Força máxima – que corresponde à maior tensão que o sistema neuromuscular pode produzir numa contracção voluntária máxima.
Resistência
Para qualquer actividade desportiva ininterrupta por sessenta segundos ou mais, a resistência é uma contribuição importante e dominante para o desempenho final. Factores que afectam a resistência, incluindo a força de vontade, a reserva de velocidade e a capacidade aeróbia e anaeróbia, devem ser estudados de modo a que o treino prepare completa e minuciosamente atletas para as tensões da competição.
A resistência diz respeito à extensão de tempo em que um individuo consegue desempenhar um trabalho com determinada intensidade.
A capacidade aeróbia consiste, basicamente, na capacidade de absorver, transportar e utilizar o oxigénio para realizar as reacções bioquímicas necessárias para gerar a energia que será utilizada durante a actividade física. Essa capacidade corresponde a uma via metabólica específica, e esses mecanismos se tornam mais eficientes quando se pratica actividades de baixa intensidade e longa duração. Uma maneira de quantificar essa capacidade é medindo o VO2max, que corresponde ao consumo máximo de oxigénio durante actividades físicas, ou seja, a quantidade de oxigénio que a pessoa é capaz de retirar do ar e aproveitar para gerar energia. Assim como qualquer actividade física, o treino de resistência aeróbia deve seguir algumas regras, tanto para que o treino alcance os objectivos previstos, como para preservar a integridade física do atleta.
A resistência aeróbia é uma capacidade que deve ser desenvolvida gradualmente. Para se iniciar um treino, o tempo mínimo diário por sessão é de 5 minutos. Apesar de este tempo não ser suficiente para trazer os ganhos de um treino de resistência aeróbia, começar o treino com um baixo nível de esforço e ir aumentando-o gradualmente é especialmente importante para aqueles que estão inactivos há muito tempo. A ideia é que com o devido tempo, essa leve actividade se torne uma actividade de dificuldade de moderada a vigorosa, apesar de ainda continuar com um curto tempo de duração.
Quando for possível realizar actividades com intensidade de moderada a vigorosa por 5 minutos, está na altura de aumentar a duração da sessão de treino para pelo menos 10 minutos, já que realizar actividades com tempos menores que esses não trará os benefícios cardiovasculares e respiratórios desse tipo de treino. O objectivo nesta progressão é que o atleta chegue a pelo menos 30 minutos de actividade em cada sessão de treino. Uma progressão possível seria aumentar em 5 minutos o tempo de actividade a cada mês, até atingir 30 minutos (ou mais). Dividir esses 30 minutos em três fases de 10 minutos de duração também traz benefícios cardiovasculares e respiratório, sendo uma estratégia interessante para indivíduos com pouca tolerância a actividades de longa duração. Quanto mais leve a actividade, maior deve ser sua duração, e quanto maior sua intensidade, menor pode ser sua duração. Uma faixa de tempo válida para que os benefícios desse tipo de treino sejam alcançados é de 20 a 60 minutos por sessão.
Para melhorar a resistência, os atletas devem aprender a superar a fadiga, o que deve ser feito na adaptação ao treino. Assim, qualquer grau de adaptação é reflectido na melhoria da resistência.
Velocidade
A velocidade ou a capacidade de transportar ou se mover rapidamente é uma importante capacidade biomotora requerida nos desportos. Mecanicamente, a velocidade é demonstrada por meio de da relação entre espaço e tempo. O termo velocidade incorpora três elementos: tempo de reacção, frequência de movimento por unidade de tempo e velocidade de transposição de uma determinada distância.
A correlação entre esses três factores mensura o desempenho de um exercício que requer velocidade.
Ozolin (1971) distingue dois tipos de velocidade: a geral e a específica. A velocidade geral consubstancia-se na capacidade de desempenhar qualquer tipo de movimento de maneira rápida. Por sua vez, a velocidade específica refere-se à capacidade de desempenhar um exercício ou uma tarefa numa dada velocidade, que é usualmente alta. Os atletas desenvolvem uma velocidade especial, específica para cada desporto.
Vários elementos influenciam o desenvolvimento da velocidade. Factores como: a hereditariedade, tempo de reacção, capacidade do atleta para superar a resistência externa, técnica, concentração e força de vontade, além de elasticidade muscular.
Há vários métodos de desenvolvimento da velocidade máxima, alguns mais específicos que outros. Porém, todos os métodos têm algo em comum: a intensidade dos estímulos ou os elementos que excitam a mente e o corpo para desenvolver ainda mais a velocidade máxima.
Flexibilidade
Flexibilidade é a capacidade de executar movimentos com grande amplitude. Esta constitui um pré-requisito para desempenhar habilidades com alta amplitude e aumentar a facilidade com a qual o atleta pode executar movimentos rápidos. O sucesso do desempenho de tais movimentos depende da amplitude das articulações, ou amplitude do movimento.
A flexibilidade é afectada pela forma, tipo e estrutura de uma articulação.
Os exercícios de alongamento devem ser executados após o término das sessões de treino aeróbio ou de treino de força para resultarem em ganhos na flexibilidade. No caso de não ser possível realizar esses dois tipos de treino, o treino de flexibilidade deve ser executado pelo menos duas vezes por semana, podendo chegar a até sete vezes por semana, e as sessões devem durar pelo menos 20 minutos cada. Um iniciante deve treinar poucas vezes por semana para ganhar alguma intimidade com os exercícios e para perceber as suas limitações. Um treino que visa um grande aumento de flexibilidade deve consistir em sessões diárias de treino, ou ainda num elevado número de sessões por semana (de 5 a 7). Treinar de duas a três vezes por semana é uma boa maneira de manter a flexibilidade alcançada. É importante ressaltar que exercícios de alongamento não servem para implementar a força ou a resistência aeróbia. Cada exercício de alongamento deve ser feito de 3 a 5 vezes em cada sessão de treino. O atleta deve chegar à posição desejada lentamente, alcançando a maior amplitude possível sem que haja dor. A posição deve então ser mantida de 10 a 30 segundos, e então o atleta deve relaxar e voltar lentamente para uma posição mais confortável (posição inicial), terminando assim uma repetição.
Os exercícios de flexibilidade também podem ser utilizados no aquecimento, antes das sessões de treino, com a função de preparar o corpo para o exercício. Nesse caso, os exercícios devem ser feitos após o corpo já estar aquecido, pois alongar músculos «frios» pode resultar em lesões musculares e/ou articulares. Os exercícios devem ser realizados com apenas uma repetição, e devem durar poucos segundos. Além disso, devem ser escolhidos de acordo com a actividade a ser realizada, pois como o intuito é apenas de preparar o músculo para o exercício, só devem ser alongados os membros a serem utilizados durante a actividade. Uma outra alternativa é incorporar exercícios dinâmicos multiarticulares durante o aquecimento, pois apesar de não buscar uma amplitude grande de movimento, aquece e alonga levemente um grande número de músculos.
Capacidades coordenativas
A coordenação é uma habilidade biomotora complexa, intimamente ligada à velocidade, força, resistência e flexibilidade.
O nível de coordenação reflecte a capacidade de executar movimentos de vários graus de dificuldade rapidamente, com grande precisão e eficiência, de acordo com os objectivos específicos do treino. Considera-se que um atleta com boa coordenação seja capaz de desempenhar uma tarefa à qual é inesperadamente exposto de forma muita rápida.
A base fisiológica da coordenação baseia-se no arranjo dos processos nervosos do SNC. O corpo humano é um todo unitário composto por diversos órgãos, sistemas e funções. A complexidade das funções dos órgãos e sistemas é constantemente regulada e coordenada pelo SNC. Entre as suas funções estão a selecção e a execução de uma resposta rápida a um estímulo por meio de um caminho nervoso.
Há diversos factores que podem limitar a coordenação, tais como: inteligência atlética, fineza e precisão de sentidos e experiência motora.
Existem dois tipos de capacidades coordenativas: as básicas e as fundamentais.
As capacidades coordenativas básicas são constituídas pela capacidade de controlo motor, a capacidade de adaptação e readaptação motora e capacidade de aprendizagem motora. Todas estas componentes dependem de factores energéticos funcionais.
Já as fundamentais estão mais ligadas a condicionalismos do aparelho sensório-motor, onde se encontram a capacidade de orientação espacial, a capacidade de diferenciação cinestésica, a capacidade de equilíbrio, a capacidade de reacção e a capacidade de ritmo.
Preparação desportiva de crianças e jovens
O treino físico é definido por Barbanti (2003, p. 595) como o «tipo de treinamento cujo objetivo principal é desenvolver as capacidades motoras (condicionais e coordenativas) dos executantes, necessárias para obter rendimentos elevados, e que se faz através dos exercícios corporais». Durante a iniciação geral e os períodos de preparação, deve-se utilizar a preparação física geral (Kunze, 1987).
Quando nos referimos a crianças ou adolescentes necessitamos de fazer uma classificação pela idade biológica, para distinguir, de forma mais clara, as adaptações morfológicas e funcionais resultantes de um programa de treino das modificações observadas no organismo, decorrentes do processo de maturação, principalmente intensificado na puberdade (Tourinho, 1998). De acordo com Golomazov e Shirva (1996), a idade cronológica em muitos casos não coincide com a motora. Os ritmos de amadurecimento são muito individuais.
Segundo Bompa, os programas de treino devem ser elaborados de acordo com o estágio de maturação da criança e não de acordo com a idade cronológica, pois as exigências e necessidades individuais variam bastante. Crianças de mesma idade cronológica podem diferir em anos com relação à maturação biológica.
As crianças evoluem de forma diversa. A proporção de crescimento de ossos, músculos, órgãos e sistema nervoso é diferente em cada estágio maturacional, e esses desenvolvimentos determinam a capacidade fisiológica e de desempenho. Portanto, o programa de treino precisa levar em consideração essas diferenças individuais e o potencial de treino.
O treino individualizado é importante, mas deveria começar após a maturidade completa (Di Salvo; PigozziI, 1998), pois após a puberdade inicia a etapa de preparação física intensa e desenvolvimento das capacidades individuais (Golomazov; Shirva, 1996). O período pubertário será o ideal para proporcionar o desenvolvimento da força rápida e da potência. Devem haver diversos cuidados, pois o exercício anaeróbio exige uma elevada solicitação de ossos, articulações e tecidos moles (músculos, tendões etc.). Isso pode ocasionar lesões nos jovens em desenvolvimento (Almeida, 2002).
A especialização no desporto de alto nível é necessária, mas ela deveria ocorrer o mais tarde possível e com base numa estrutura de treino adequada ao desenvolvimento, que propiciará uma aquisição adequada das habilidades e um desenvolvimento harmonioso do jovem (Weineck, 1991). Relatos de um estudo russo concluíram que a especialização desportiva não deve começar antes da idade de 15 ou 16 anos na maioria dos desportos (Bompa, 2002). O autor afirma ainda que após um desenvolvimento multilateral no início da vida atlética, os jovens atinjam o período de treino especializado entre os 15 e 18 anos, podendo assim atingir o ápice desportivo futuramente. Mesmo durante a etapa de especialização do desenvolvimento, os atletas devem dedicar apenas de 60 a 80% do tempo de treino a actividades específicas da modalidade.
No estágio da especialização (15-18 anos), deve monitorar-se o volume e a intensidade do treino, para que os jovens evoluam com pequeno risco de lesões.
Alguns aspectos são importantes nesta fase (Bompa, 2002):
Aumentar o volume de treino para repetições e exercícios específicos a fim de facilitar o aprimoramento do desempenho.
Envolver sempre que possível os atletas no processo de tomada de decisões;
O desenvolvimento da força deve começar a atingir os objectivos da modalidade específica;
Aumentar progressivamente o volume e a intensidade do treino anaeróbio;
Prática do treino mental. Exercícios que desenvolvam concentração, atenção, pensamento positivo, auto-regulação, visualização e motivação, a fim de melhorar o desempenho na modalidade.
Na maioria dos desportos de potência e velocidade, a especialização deve ocorrer no final do período de estirão de crescimento na adolescência.
Após a determinação das características biológicas de cada indivíduo, inicia-se o planeamento das actividades. De acordo com Bompa (2002), as cargas de treino devem aumentar gradualmente com a idade e com a progressão dos treinos. A duração das sessões de treino pode aumentar do início até o fim da temporada, quando atingirem por volta de noventa minutos; os treinos devem ser variados para se evitar um desgaste psicológico e a fadiga prematura. O aumento progressivo da carga inclui um aumento do número e da repetição dos exercícios, porém é importante observar o tempo de descanso após o aumento das repetições. Outro aspecto relevante é o aumento da frequência de treino: o ideal é de duas a quatro sessões para cada jogo, pois assim haverá um desenvolvimento maior dos atletas durante os treinos do que nos jogos, isto no caso específico do futebol.
Organização e análise da pesquisa empírica
Sítio, População e amostra
Método utilizado
Tratamento de dados
Análise e Interpretação dos resultados
1. Sítio, população e amostra
Para a realização da pesquisa empírica foram utilizados professores/treinadores de jovens entre os 5 e os 16 anos de idade de ambos os sexos. Todos eles originários do distrito de Braga, pelo que a amostra é representativa apenas desta região.
Os professores/treinadores encontravam-se a desempenhar funções em Estabelecimentos de Ensino Público, Academias Desportivas e Clubes Desportivos.
2. Método utilizado
Foi distribuído um questionário por 20 professores/técnicos com idades compreendidas entre os 25 e os 60 anos. Este tinha a finalidade de analisar alguns factores, que pudessem sustentar a importância do treino como factor de desenvolvimento nos jovens. Nada melhor do que indagar junto daqueles que lidam de perto com o treino de crianças.
O questionário foi respondido individualmente por cada um dos monitores, e para garantir um maior à vontade na resposta aos mesmos, reforçando a veracidade das respostas, foi assegurado o anonimato de todos eles.
Foi nossa preocupação tentar com que muitos dos sujeitos tivessem uma boa formação académica tendo em conta a complexidade do tema, e a mais valia que é conhecer esta área de modo aprofundado, para poder dar uma resposta adequada. Contudo, não tínhamos a intenção de tornar a amostra demasiado restrita, e até porque também queríamos ter uma ideia de como tudo realmente é, o estudo foi alargado a mais treinadores de menor instrução.
3. Tratamento de dados
Sexo dos sujeitos
Masculino |
16 |
Feminino |
4 |
Idade dos sujeitos
<25anos |
2 |
26-35 |
10 |
36-45 |
6 |
46-60 |
2 |
Habilitações literárias dos sujeitos
Até 9º ano (inclusivé) |
2 |
Até 12º ano (inclusivé) |
6 |
Licenciado/Mestre/Doutorado |
12 |
Há quantos anos está ligado ao desporto jovem?
1º ano |
1 |
2-5 |
9 |
6-10 |
7 |
>10 |
3 |
Na sua opinião é possível desenvolver capacidades motoras nos jovens através do treino?
Sim |
20 |
Não |
0 |
Consegue dissociar as capacidades condicionais das capacidades coordenativas?
Sim |
2 |
Não |
18 |
Para si qual é a capacidade condicional que deve ser mais trabalhada nos jovens?
Força |
0 |
Resistência |
1 |
Flexibilidade |
3 |
Velocidade |
1 |
Deverão trabalhar-se todas as componentes num contexto integrado |
15 |
É indiferente |
0 |
Acha que hoje deverá ser dada uma maior atenção a este tipo de trabalho comparativamente há 10 anos atrás?
Sim |
14 |
Não |
6 |
Tem cuidado em diferenciar o tipo de carga consoante o grau de maturação e características dos seus alunos?
Sim |
12 |
Não |
8 |
Planeia e actua tendo sempre presente a ideia que está a lidar com crianças e não com “adultos em miniatura”?
Sim |
20 |
Não |
0 |
4. Análise e Interpretação dos resultados
Como é possível constatar a nossa amostra é diversa, e embora não esteja repartida equitativamente, dá-nos alguma variação, de modo a que o estudo não se torne demasiado restritivo. Temos sujeitos de ambos os sexos, embora com predominância para o masculino, claramente ainda em maioria nesta área, temos 60% de sujeitos com formação superior e apenas 2 com habilitações até ao 9º ano. As idades variam bastante, apesar de haver uma maior incidência na faixa entre os 26 e os 35 anos. Relativamente ao tempo que trabalham nesta área, a resposta predominante foi entre 2 e 5 anos, embora se encontrem pessoas que já o fazem há muito tempo (mais de 10 anos), e um sujeito que apenas o começou a fazer há 1 ano.
Relativamente aos resultados, duas respostas mereceram resposta unânime por parte de todos os entrevistados, sendo opinião geral nesta amostra que é possível desenvolver capacidades motoras nos jovens quando trabalhadas (forte indicativo da pertinência do nosso trabalho), e que o treino deve ser planeado e executado tendo em conta que este é direccionado para crianças, portanto, os cuidados deverão ser redobrados, tanto no treino propriamente dito, como na abordagem oral que se tem para com os jovens. É sem dúvida um bom indicador.
É possível constatar que 90% dos inquiridos não consegue dissociar as Capacidades Condicionais das Capacidades Coordenativas, o que é optimo, tendo em conta que ambas são capacidades motoras, e estão intimamente ligadas, uma vez que ambas têm uma dependência directa do SNC. Curiosamente as duas respostas contrárias foram dos elementos com menos habilitações literárias, pelo que esse facto pode ser determinante para não estarem tão à vontade, ou terem uma base sólida de conhecimentos que lhes permita compreender na perfeição os conhecimentos inerentes a esta questão.
A maioria dos professores/treinadores acha que é importante trabalhar as várias capacidades condicionais, esta é uma ideia acertada, desde que o façam num contexto próprio, adaptado às crianças e ao jogo, tentando não colocar exercícios demasiadamente complexos, e que as cargas sejam ajustadas para não comprometer o correcto desenvolvimento dos indivíduos. Três pessoas responderam que a flexibilidade é a capacidade que deverá ser mais trabalhada, sendo que este facto pode dever-se à facilidade e predisposição que as crianças mostram para realizar exercícios de flexibilidade quando comparadas com um adulto.
Relativamente às cargas de treino, apenas 60% afirma ter cuidado em diferenciar o tipo de treino consoante o grau de maturação e características dos seus atletas. Este é sem dúvida um ponto importante quando se pretende que estes jovens atletas tenham um crescimento harmonioso. No entanto, sabendo que nem sempre as condições físicas e humanas são as ideais, este é um resultado que acaba por se compreender.
Finalmente grande parte dos questionados (14) afirmam que actualmente deverá ser dada uma atenção suplementar ao trabalho das capacidades motoras, comparativamente há dez anos atrás. Por certo, que associado a este factor está o aumento da sedentariedade dos nossos jovens, e o crescimento exponencial das cidades, reduzindo muito o espaço para a expressão de actividades motoras. Deste modo, deve ser feito um esforço suplementar pelos professores e técnicos destes jovens, para recriar algumas situações e vivências que actualmente podem escassear no dia à dia destas crianças. Contribuíram bastante para este valor final os entrevistados com mais habilitações literárias, uma vez que a totalidade dos mesmos talvez pela sua maior formação está alerta para este facto. Conclusão
Conhecer e dominar os princípios básicos do treino desportivo assim como, aplicá-los coerentemente, é parte integrante de um conjunto de situações reais que devem nortear a conduta de um treinador.
O professor deve estar preparado e fundamentado nos princípios teóricos acima expostos, para trilhar seguro e cientificamente alicerçado, e assim obter sucesso, por meio do controlo sobre os mecanismos fisiológicos, psicológicos e sociais, que incidem sobre as respostas orgânicas.
O treino tanto técnico, como táctico ou físico fornecido a crianças e jovens deve ser muito bem estudado, elaborado e conduzido por treinadores e preparadores físicos. As características biológicas e maturacionais devem ser tidas em consideração na programação do treino. Um erro muito comum encontrado nos treinos em equipas de competição relaciona-se ao fornecimento da mesma carga e intensidade para todos os atletas. Isso é um erro muito grave que poderá acarretar problemas futuros aos jovens atletas. Portanto, não se podemos esquecer a afirmação: «As crianças não são adultos em miniaturas...» (Claparéde, apud Weineck, 1991, p. 246).
Somente a observação criteriosa de todos esses factores durante o treino, poderá obter o máximo rendimento de um jovem desportista, sem prejudicar o seu desenvolvimento físico harmonioso e consequentemente sem prejudicar sua carreira.
O controlo sobre as respostas do organismo aos treinos aplicados, é decisivo para elevar de forma segura o estado de treino dos atletas. Sempre que for alcançado um degrau a mais na escada que conduz ao equilíbrio entre a condição física, psíquica, social e espiritual, obteremos por meio deste degrau a certeza do cumprimento da tarefa técnico/profissional da Educação Física.
O questionário deu-nos fortes indicadores da importância do nosso tema de estudo, e apesar da nossa amostra não ser muito grande, foi possível ver que uma boa percentagem dos inquiridos tem noção da importância do trabalho das capacidades motoras em jovens como factor de desenvolvimento, e o modo correcto de as trabalhar.
A realização desta pesquisa revelou-se muito enriquecedora em temos futuros, com ela reflectimos sobre determinadas características intrínsecas ao treino que desconhecíamos e aprendemos algumas regras essenciais quer sobre a periodização dos treinos quer sobre os seus princípios básicos. Este é um trabalho que poderá servir de base para uma pesquisa futura com um grau de aprofundamento mais vasto.
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Digital · Año 15 · N° 154 | Buenos Aires,
Marzo de 2011 |