O brincar no contexto escolar: o recreio, a Educação Física e a sala de aula El jugar en el contexto escolar: el recreo, la Educación Física y el aula |
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Universidade Luterana do Brasil, ULBRA Curso Educação Física, Licenciatura Plena, 2007/1 (concluído) (Brasil) |
Vanessa Bastos Roncuni |
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Resumo Desde o nascimento a criança experimenta, a partir de brincadeiras feitas, sensações, e com elas o aprendizado se dá de forma natural e prazerosa. O ambiente escolar é propício para que brincadeiras se desenvolvam, pois, nele as crianças se encontram, trocam experiências, sentimentos, e interagem com outros seres. Este estudo propô-se, analisar o contexto do brincar de crianças nas séries iniciais do Ensino Fundamental. Justifica-se por entender que o contexto escolar pode ser um período em que ocorrem brincadeiras diversas de maneira que a criança direciona sua energia e seu foco de atenção, construindo um aprendizado sócio-psiquico-motor. Participaram do estudo 98 alunos (45 meninas e 53 meninos), com idades entre 06 e 13 anos. Percebeu-se que as crianças brincam em grandes e pequenos grupos, em alguns momentos em duplas ou trios, mistos ou separados por gêneros. As brincadeiras de cunho esportivo são realizadas pela maioria dos meninos, assim como as de cunho recreativo são pelas meninas. O contexto da Educação Física e do recreio assemelharam-se por serem realizados no mesmo espaço físico, com os mesmos materiais, repetindo-se algumas brincadeiras, e integração das crianças umas com as outras, indiferentemente da idade, revelando disciplina e respeito ao brincar. Porém o contexto da sala da aula mostrou-se de forma contrária, pois as crianças tornaram-se quase que hostis umas com as outras em busca da atenção do adulto que está em sala (professora). Reproduzem o que lhes está sendo passado, e em curtos momentos de “fuga” conseguem recrear, geralmente, a sós ou em duplas. Todavia o ambiente escolar e principalmente a presença dos professores fazem-se de grande importância para o desenvolvimento dos pequeninos desde que haja em cada ação um significado para o aprender. Unitermos: Recreio. Sala de aula. Educação Física. Desenvolvimento infantil.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 15, Nº 154, Marzo de 2011. http://www.efdeportes.com/ |
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Introdução
Faz-se necessário observar o brincar das crianças, pois através deste é possível compreendê-las, avaliá-las, e mais, aprender a reagir e interagir de forma positiva frente a muitos dos comportamentos tidos por elas enquanto jogam. Para Hansen et al. (2007) a brincadeira, é uma atividade presente na vida das crianças, tendo um papel importante no desenvolvimento das mesmas. Ainda assim, tal importância nem sempre é reconhecida pelos adultos, os quais estão mais focados em uma educação com aspectos cognitivos formais e apresentam uma dificuldade em visualizar a relação existente entre brincadeira e desenvolvimento.
Macarini et al. (2006) acrescenta que o ser humano necessita do contato com outras pessoas, pois é através da interação social que se desenvolve a linguagem, são reconhecidas as habilidades e são ampliados os conhecimentos em diferentes áreas. Para a criança, o contato físico, o social e a comunicação são fundamentais no seu desenvolvimento e uma das maneiras mais eficazes para ela estabelecer estes contatos é através da brincadeira.
Aprender o porquê ou como as crianças brincam, ou jogam faz-se significativo para que o ensino dentro e/ou fora da escola – os pais também deveriam interessar-se por este assunto – auxilie as crianças a desenvolverem-se de maneira o mais natural possível, preferencialmente longe de possíveis traumas que futuramente podem levá-las a bloqueios que vão desde aqueles de fundo cognitivo, motor até psíquico e social ou mais de um deles.
Neste sentido, torna-se necessário entender que há um espaço bastante privilegiado para que o desenvolvimento infantil ocorra; este é a escola, onde as crianças terão contato com momentos como o recreio, as aulas de Educação Física e a sala de aula. E, conforme Macarini et al. (2006) a importância da brincadeira pode estar relacionada com a possibilidade de fornecer à criança um ambiente planejado e enriquecido que propicie a aprendizagem de várias atividades. Neste espaço o aprendizado e o desenvolvimento das crianças têm ou teriam que ter prioridade, pois se encontram aí adultos aptos para ensiná-los, estimulá-los e auxiliá-los, como explica o Padrão Referencial de Currículo (1998): “Os educadores têm, todos, como horizonte a ser alcançado, a construção de um cidadão analítico, reflexivo, crítico, capaz de viver e conviver, desenvolver-se, continuar aprendendo, participar, interagir e ser feliz num mundo em permanente mobilidade, evolução e conexão a um universo que se amplia e se redimensiona a cada momento” (p.12).
Segundo Hansen et al. (2007) o brincar, dependendo da perspectiva adotada, pode ser pensado como um comportamento adaptado e adaptativo da espécie. Adaptado porque, visto de um longo tempo, é comum a todos os membros da espécie; e adaptativo, porque se todos da espécie brincam varia o como, onde, com o que e com quem brincam, quando visto de um tempo curto. E Kishimoto (1988) acrescenta que o brincar se caracteriza por ter um fim em si mesmo, que surge livre, sem noção de obrigatoriedade, e exerce-se pelo simples prazer que a criança encontra ao colocá-lo em prática.
Assim, considera-se relevante esse estudo, por entender que para um bom desenvolvimento infantil é necessário que os educadores e/ ou familiares aprendam a identificar o significado da brincadeira ou do brinquedo para as crianças para que não se faça julgamentos ou intervenções de forma errônea prejudicando o processo de crescimento e amadurecimento motor, cognitivo e social dos pequeninos.
Metodologia
Este estudo compô-se de uma amostra de 98 alunos (45 meninas e 53 meninos), com idades entre 06 e 13 anos, devidamente matriculados e freqüentando uma Escola Municipal de Ensino Fundamental no município de Alvorada, do estado do Rio Grande do Sul, sempre no turno da tarde, durante 4 semanas. Foram observados os períodos de Educação Física, recreio e sala de aula. Para isso utilizou-se uma Matriz de Observação de Arnhold (2005) onde foi possível trabalhar com as anotações dos seguintes tópicos: Tipos de brincadeiras, objetos mais usados, formas de brincar, comportamento, criatividade/exploração e criação de brincadeiras, atividades dos meninos e as das meninas, ordem dos temas do brincar. Os dados foram classificados e interpretados a partir da análise descritiva.
Resultados e discussão
O Recreio
O recreio é um lugar próprio para recrear, também é um espaço para divertimento e prazer. Desta forma fica fácil de entender o porquê deste tempo de brincadeiras, ser tão apreciado pelas crianças indiferentemente da faixa etária de idade ou fase do desenvolvimento. Também neste tempo é onde ocorrem, ou onde deveriam ocorrer os maiores números de atividades, pois além de ter muitas crianças reunidas de diferentes gêneros, idades e culturas quase não há regras, e menos ainda adultos ordenando o brincar.
Conforme os Parâmetros Curriculares Nacionais (2000) “As crianças se movimentam não só em função de respostas funcionais, mas pelo prazer do exercício, para explorar o meio ambiente, adquirir melhor mobilidade e se expressar com liberdade. Possui nesta etapa de sua vida, um vocabulário gestual fluente e expressivo” (p.67). Isto reflete no entendimento das observações descritas no contexto do recreio, pois nele as crianças têm a chance de explorar diversos contextos e ambientes da estrutura física da escola, assim como exacerbar seu sentimento, independente de qual for.
Ao observar as crianças durante este contexto verifica-se que as atividades esportivas e recreativas são as mais desenvolvidas, sendo a primeira mais brincada pelos meninos e a segunda pelas meninas. Percebe-se que ocorre uma reprodução ou das aulas de Educação Física e/ ou das atividades visualizadas na TV no campo esportivo.
As brincadeiras recreativas observadas neste momento, foram pega-pega, pela maioria das crianças. Também, as brincadeiras de pular corda e bafo. E as esportivas, que envolveram o futebol, o voleibol e as brincadeiras de lutas. Como o recreio é um espaço de atividades livres para os alunos, perceber que os grupos desenvolveram somente estas atividades pareceu limitado, pois este deveria ser um espaço de amplitude do aluno, onde ele pudesse criar e recriar.
Entre os materiais utilizados na realização das brincadeiras estavam cordas e bolas disponibilizadas pela escola, e figurinhas de diversos temas trazidas pelos alunos.
Como forma de brincar, os alunos dividiam-se em grandes grupos, compostos geralmente, somente por meninos; pequenos grupos mistos ou separados por gênero, e também em duplas ou trios mistos, ou separados por gênero.
Seus comportamentos envolviam brincadeiras com crianças de outras turmas e também de outras séries, dividiam o espaço da escola nas diversas brincadeiras acima citadas como se cada espaço fosse um, isolado do outro, deixando transparecer disciplina e organização por parte das crianças. O que difere-se da colocação de Sager et al. (2003), o qual posiciona-se que a falta de espaço em contextos escolares acarreta uma série de problemas.
No brincar ordenado com diversos temas, esse não apareceu durante o contexto do recreio.
A aula de Educação Física
Segundo Betti et al. (2002) a Educação física é uma expressão que surge no século XVIII, nas obras de filósofos que preocupavam-se com a educação. As crianças e os jovens para desenvolvimento pleno da personalidade têm sua formação baseada em uma educação integral (corpo, mente e espírito). A Educação Física vem somar-se à educação intelectual e à educação moral. E, de acordo com a Lei de Diretrizes e Bases (LDB), Art.26, §3º, a Educação Física integrada à proposta pedagógica da escola, é componente curricular da Educação Básica, ajustando-se às faixas etárias e às condições da população escolar, sendo facultativa nos cursos noturnos. Assim, este espaço, deveria tornar-se favorável a construção de conhecimentos e aprendizados, desde os primeiros anos letivos da criança, pois, a partir das experiências trazidas pelos alunos, somado aos estímulos dados pelo professor e a interação com as outras crianças e outros espaços, o desenvolvimento aconteceria de forma pedagógica, recreativa e gradual.
Na disciplina de Educação Física foram observadas, também, atividades recreativas e esportivas assim como reproduções de personagens – as brincadeiras simbólicas. Para as brincadeiras simbólicas Gardner (1994) explica que em muitas sociedades, os jogos simbólicos constituem uma forma primária de uso dos símbolos para crianças pequenas, na qual elas têm uma oportunidade de experimentar papéis e comportamentos que irão, posteriormente, assumir no mundo adulto ou em conjunto com “crianças grandes”.
Entre as atividades de cunho esportivo apareceram voleibol e suas variações, corrida e corrida de revezamento (orientada pela professora em apenas uma das turmas, sem a idéia de atletismo), e o futebol como destaque em todos os encontros da observação. Os meninos mais uma vez envolveram-se com as atividades de cunho esportivo, somando, agora, também o vôlei e as corridas. Nas brincadeiras recreativas o pega-pega e pula corda também estiveram presentes na maior parte do tempo, seguidos de bafo, esconde-esconde, ovo podre, e rodas cantadas (essa última, também observada em apenas uma das turmas, a mesma da corrida, orientada pela professora), e as brincadeiras eram escolhidas a partir de outras como o discordá, e pica-picolé. Também foi possível observar as crianças representando seu cotidiano escolar fazendo-se ora professora ora alunas. Estas brincadeiras envolveram mais as meninas. Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais (2000) “Os jogos de movimento, ciranda, amarelinha, devem ser valorizados pelo professor e estar presentes no repertório dos alunos, pois são parte da riqueza cultural dos povos, constituindo importante material para a aprendizagem” (p.60).
Dos materiais disponibilizados pela escola para realização das atividades desta disciplina estavam cordas e bolas, e como materiais trazidos pelas as crianças estavam às figurinhas de personagens para os jogos de bafo.
Neste contexto as crianças brincavam em grandes grupos separados por gênero e pequenos grupos mistos e outros separados por gênero. Em poucas ocasiões foram observadas as brincadeiras em duplas ou trios.
Como a quadra é o espaço utilizado para a disciplina de Educação Física, algumas vezes fez-se dividida para mais de uma turma, onde foi possível perceber que as crianças conseguiam interagir com outras de diferentes idades. Neste sentido, percebeu-se que com disciplina dividiam os espaços para as diversas brincadeiras que ocorrem simultaneamente. Em algumas ocasiões ocorreram desentendimentos dentro da quadra entre o grande grupo dos meninos que jogavam futebol, o que sem demora era resolvido entre eles mesmos, sem maiores conseqüências.
No item criatividade e exploração a presença de crianças mais velhas fez também com que houvesse uma “cópia” por parte dos pequenos de suas atitudes e mesmo da escolha das atividades. Na maior parte do tempo de observação houve reproduções de jogos tradicionais, mas sempre escolhido pelas crianças, pois não houve orientação por parte da maioria de professores durante a escolha das atividades a serem realizadas neste período de aula. Custódio (2003) relembra que a ginástica, o desporto, os jogos recreativos, etc., no contexto da Educação Física escolar deveriam disciplinar os hábitos das pessoas no sentido de levá-las a se afastarem de práticas capazes de provocar a deterioração da saúde e da moral, o que comprometeria a vida coletiva. Para isso é necessário que aconteça uma reforma na maneira de alguns professores trabalharem durante suas aulas, ou seja, da sua prática pedagógica.
Em apenas uma das turmas o item o brincar ordenado por temas fica em destaque, pois eles aparecem como jogadores de futebol, modelos ou personagens da TV e como reprodução de professores e alunos. Nas demais turmas esse item não apareceu. Para Chateau (1987) a busca da auto-afirmação manifesta-se nos jogos sob duas formas: o apelo do mais velho, considerado como “motor essencial da infância” e o amor à ordem, à regra, levado até ao formalismo. Talvez por isso as crianças que brincavam de professor e aluno, representavam tão bem as atividades propostas por elas mesmas, de maneira que aqueles que não seguissem as regras “impostas” ao jogo não poderiam continuar participando, fazendo com que estes ou se inserissem em outros grupos ou concordassem em realizar a brincadeira de acordo com o proposto por uma “elite” que dirigia o jogo.
Refletindo o contexto da aula de Educação Física buscou-se referências nos Parâmetros Curriculares Nacionais (2000), que explicam “(...) a ação física é parte da aprendizagem da criança. Essa atividade necessária para seu desenvolvimento, é permeada pela curiosidade e pelo desejo de conhecimento” (p.68). Assim, neste espaço a orientação de atividades lúdicas, recreativas e esportivas se faz necessárias para que ocorra um bom desenvolvimento por parte das crianças em todos os aspectos como, por exemplo, motores, sociais e cognitivos. E, Neves (2001) justifica que é, pois, clara a intenção da Educação Física se constituir como uma área de Desenvolvimento e Aprendizagem de acordo com as características das crianças deste nível de ensino.
Sala de Aula
Observou-se que no contexto da sala de aula as brincadeiras organizadas pouco ocorrem isto porque, este espaço é reservado pelos professores somente para o aprendizado da escrita e da leitura, se dando este de forma a não oportunizar jogos “formais” entre as crianças. Também é um espaço onde as crianças são organizadas de maneira que restringi o contato com seus demais colegas por sentarem-se separadamente ou em duplas um atrás do outro (ensino formal).
Apesar de a sala de aula ser um espaço fechado e tido por muitos professores como restrito a aprendizagem intelectual, Cury (2003) defende a idéia que “(...) a sala de aula não é um exército de pessoas caladas nem um teatro onde o professor é o único ator e os alunos, espectadores passivos. Todos são atores da educação. A educação deve ser participativa” (p.125).
Na maior parte do tempo não ocorrem brincadeiras, apenas quando as professoras retiram-se da sala é que as crianças “resgatam” sua liberdade buscando outras para jogar bafo e às vezes correr por entre as classes. O jogo com o chamado material dourado para a aprendizagem do conteúdo de matemática é apreciado pelas crianças; é de caráter pedagógico jogado de forma individual, em duplas ou no máximo trios.
Custódio (2003) em seu estudo observando situações semelhantes com as descritas acima e observando os professores descreveu que essa privação de movimentos ocorre de maneira a ser justificada que desta forma garantem – os professores – a disciplina, harmonia e ordem. E que as manifestações de movimentos atrapalham a construção de conhecimentos, pressupondo que impedem a concentração, tendo o ato motor como indisciplina e desordem.
De maneira a ressaltar a importância de interagir uns com os outros também em sala de aula para que se tenha uma aprendizagem mais significativa buscou-se no Padrão Referencial de Currículo (1998) o seguinte esclarecimento: “Aprender significativamente implica elaborar, construir e resolver problemas. Assim ressalta-se que somente aprendeu quem trocou, construiu e ressignificou” (p.15).
Como materiais utilizados no contexto sala de aula, observou-se lápis, borracha, cadernos, folhas de ofício, apontador dentre tantos outros que são de uso obrigatório para realização das atividades repassada em classe. Como material de ordem recreativa as figurinhas prevalecem e em poucos momentos o material dourado fornecido pela professora de sala.
Nos instantes que as crianças buscavam outras para brincar estas se reuniam em duplas, ou trios ora mistos ora separados por gênero. Também observou-se aquelas que preferem brincar sozinhas. Negrine (1994) explica que mesmo quando a criança parece brincar sozinha, ela não joga só, ela está vinculada a algum jogo que se desenvolve em algum lugar da sala de aula, ou do pátio, ou qualquer lugar onde esteja ocorrendo uma atividade lúdica.
Em sala de aula o relacionamento entre as crianças era menor e os atritos entre elas aumentaram exigindo que em alguns casos haja a intervenção de um adulto para resolução do problema. Elas permaneciam inquietas e com pouca disciplina, ainda mais quando o assunto que está sendo tratado não parece ser de interesse delas. Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais (2000) “Aprender com sentido e prazer está associado à compreensão mais clara daquilo que é ensinado” (p.47). E Cury (2003) ressalta que “o medo, a ansiedade e o estresse travam os arquivos e bloqueiam os pensamentos” (p.112).
Em geral, são os meninos quem mais brincavam – mexiam-se. Enquanto as meninas limitaram-se mais a conversar e interagir com os materiais dourados para construção do conhecimento.
Conclusão
O brincar e o jogar no contexto infantil são atividades que tem o objetivo da expressão, construção, criação e formação de um espaço de convívio social, onde ora somente a criança é escritor e protagonista de seus atos, ora torna-se sujeito passivo reproduzindo as ordens do professor. As brincadeiras seguem com importância na formação social, moral, intelectual, física e motora da criança, de maneira que ela brinca quase que incansavelmente de diferentes formas, em diferentes ambientes, com diferentes pessoas, de diferentes idades e sexos, diferentes materiais, variando o jogo conforme seu interesse e identificação.
O estudo realizado destaca que as crianças nas séries iniciais do Ensino Fundamental brincam em grandes e pequenos grupos, estes são separados por gênero ou mistos. Nos períodos da Educação Física e do recreio as brincadeiras se dão repetidamente em todos os dias dos encontros de observação, e são quase que instintivas por manterem-se sendo o que se pode chamar de “brincadeiras tradicionais”, ou aquelas que mesmo ao passar do tempo não variam, apenas mudam o conteúdo das regras ou personagens do jogo. Em sala de aula, a brincadeira pouco acontece, e quando esta flui é provocada pelos meninos, que tentam mesmo em ambiente fechado, buscar espaços para suas brincadeiras de bafo e de correr. Enquanto as meninas, em sua grande maioria, mantinham-se em suas classes a reproduzir as atividades propostas pela professora. E com isso a sala de aula ficava limitada a poucas brincadeiras, quase nenhuma simbolização, e pouquíssima ação voluntária.
Para as brincadeiras de futebol forma-se um grande grupo de meninos não ocorrendo presença de meninas, exceto quando o grupo é pequeno e com crianças da mesma turma. Já para as brincadeiras de bafo, vôlei, pega-pega, e lutas, os meninos organizavam-se em pequenos grupos. A brincadeira de pega-pega pareceu ser favorita entre a grande maioria das meninas formando estas grandes grupos para divertirem-se correndo umas atrás das outras. Os pequenos grupos das meninas ficavam com as brincadeiras de vôlei, pula corda, ovo podre, rodas cantadas, e jogos de simbolização o qual observou-se um comportamento rígido dos integrantes do pequeno grupo mantendo-se firme a idéia proposta de ser o que se propuseram a ser.
Durante a formação de grupos entre as crianças de mesmas séries ou com crianças das séries posteriores, há uma boa integração apesar de se observar que a escolha acontece por identificação e afinidade. Também há a expectativa das crianças com sobrepeso, tímidas, ou com déficits na coordenação motora, pois estas ficavam sempre por últimas e às vezes preferiam isolar-se a não serem chamadas ou serem disputadas para saber onde poderão ficar.
Decorrente do que foi estudado e neste trabalho exposto, percebeu-se que as atividades, preferencialmente orientadas, para crianças das séries inicias do Ensino Fundamental faz-se de suma importância, para que essas possam interagir consigo e com o mundo, aprendendo dentro de um contexto lúdico, recreativo e significativo. Também é necessário que aconteça uma reciclagem permanente e um estudo continuado sobre o significado do jogo para o desenvolvimento infantil por parte dos professores para que se construa uma escola com melhores condutas para a formação dos futuros adultos e cidadãos.
Referências
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BRASIL, Secretaria da Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: Arte / Secretaria de Educação Fundamental. – 2ed. – Rio de Janeiro: DP&A, 2000.
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CURY, Augusto Jorge. Pais Brilhantes, Professores Fascinantes. Rio de Janeiro: Sextante, 2003.
GARDNER, Howard. A Criança Pré-escolar: Como Pensa e Como a Escola Pode Ensiná-la; trad. Carlos Alberto S. N. Soares. Porto Alegre: Artes Médicas, 1994.
KISHIMOTO, TM. O brincar e suas teorias. São Paulo: Pioneira; 1988.
NEGRINE, Airton. Aprendizagem & Desenvolvimento Infantil: 1 Simbolismo e jogo. Porto Alegre: PRODIL, 1994.
BETTI, Mauro. ZULIANI, Luiz Roberto. Educação Física Escolar: uma proposta de diretrizes pedagógicas. Revista Mackenzie de Educação Física e Esporte – 2002, v.1(1), p.73 – 81.
HANSEN, Janete. MACARIN, Samira M. MARTINS, Gabriela D. F. WANDERLIND, Fernanda H. VIEIRA, Mauro L. O brincar e suas implicações para o desenvolvimento infantil a partir da psicologia evolucionista. Rev Bras Crescimento Desenvolv Hum. 2007, v. 17(2), p.133 – 143.
MACARINI, SM. VIEIRA, ML. O brincar de crianças escolares na brinquedoteca. Rev Bras Crescimento Desenvolv Hum. 2006, v. 16(1), p.49 – 60.
SAGER, Fábio. SPERB, Tania Mara. ROAZZI, Antonio. MARTINS, Fernanda Marques. Avaliação da Interação de Crianças em Pátios de Escolas Infantis: Uma Abordagem da Psicologia Ambiental. Psicologia: Reflexão e Crítica, 2003, v. 16(1), p. 203 – 215.
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Marzo de 2011 |