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Motivação no contexto esportivo: em foco as condições socioeconômicas

La motivación en el contexto del deporte: en foco las condiciones socioeconómicas

Motivation in context sports: focus on socioeconomic conditions

 

*Graduado em Educação Física - UEM

**Mestre. Professora do Departamento de Educação Física da UEM

***Doutora. Professora do Departamento de Educação Física da UEM

(Brasil)

Emílio Constantino*

Luciane Cristina Arantes da Costa**

Lenamar Fiorese Vieira***

lcacosta@uem.br

 

 

 

 

Resumo

          Alguns indivíduos possuem alto nível de motivação, estando muitas vezes predispostos ao sucesso. Muitos fatores podem influenciar a motivação e as conquistas no contexto esportivo: a capacidade de autonomia dos atletas, a sua competência e os vínculos sociais estabelecidos. Este estudo, de cunho descritivo, teve como objetivo analisar o nível de motivação das equipes de futsal e voleibol de dois municípios do estado do Paraná - Brasil, que possuem características socioeconômicas e investimentos financeiros diferenciados no que se refere ao âmbito esportivo. Os sujeitos da pesquisa foram 47 atletas de voleibol e futsal da categoria adulto feminina. Para mensurar o nível de motivação das atletas foi utilizada a Escala de Motivação para o Esporte. Para comparação entre os grupos utilizou-se o teste U de Mann Whitney para dados não normais, o teste t de Student independente para os dados normais e análise de variância de Kruskal-Wallis, sendo estabelecido o valor de significância de 5%. Os resultados apontaram que a motivação intrínseca predominou sobre a motivação extrínseca; não foram encontradas diferenças estatisticamente significativas entre os municípios investigados em relação à escala de motivação para o esporte. Concluiu-se que a motivação intrínseca predominou em ambos os municípios, indiferente da sua condição socioeconômica.

          Unitermos: Motivação. Contexto esportivo. Condições socioeconômicas.

 

Abstract
          Some individuals have a high level of motivation and are often predisposed to success. Many factors can influence motivation and achievement in sport settings: a capacity for autonomy of the athletes, their competence and social ties established. This study was a descriptive, aimed at analyzing the motivation level of soccer and volleyball teams in two counties of the state of Parana - Brazil, which have characteristics different socioeconomic and financial investments in relation to sports activities. The study subjects were 47 athletes from volleyball and indoor soccer adult category. To measure the level of motivation of the athletes was used Motivation Scale for Sport. For comparison between groups used the Mann Whitney U test for non-normal data, the Student t test for independent normal data and analysis of variance Kruskal-Wallis, setting the significance level of 5%. The results showed that intrinsic motivation over extrinsic motivation predominated, there were no statistically significant differences between the cities investigated in relation to motivation scale for sport. It was concluded that intrinsic motivation was predominant in both cities, regardless of their socioeconomic status.

          Keywords: Motivation. Sporting context. Socioeconomic conditions.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 15, Nº 154, Marzo de 2011. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    A motivação exerce uma influência significativa na vida das pessoas. Suas conquistas podem estar relacionadas à capacidade de autonomia, a sua competência e aos vínculos sociais estabelecidos. Dessa forma, investigações na área da motivação esportiva têm sido realizadas buscando estabelecer relações entre o comportamento e ações dos atletas e o desempenho esportivo (VISSOCI; VIEIRA; OLIVEIRA; VIEIRA, 2008).

    Segundo Samulski (2002) a motivação é caracterizada como um processo ativo, intencional e dirigido a uma meta, o qual depende da interação de fatores pessoais (intrínsecos) e ambientais (extrínsecos).

    Ao correlacionar motivação intrínseca e motivação extrínseca, Weinberg e Gould (2001) afirmam que os fatores extrínsecos podem afetar a motivação intrínseca. As recompensas extrínsecas, ou seja, aquelas que não dependem do sujeito, podem aumentar ou diminuir a motivação intrínseca dependendo da recompensa. Dessa forma, os técnicos, professores e instrutores podem aumentar a motivação intrínseca por meio de vários métodos, como realizar elogios verbais e não-verbais, envolver os participantes nas tomadas de decisão, estabelecer objetivos realísticos, tornarem as recompensas dependentes do desempenho e variar o conteúdo e a seqüência de treinamentos práticos.

    Em estudo realizado por Pujals e Vieira (2002), verificou-se que a falta de motivação pode interferir no comportamento dos atletas, sendo a intervenção psicológica um meio eficaz para a melhora da motivação intrínseca dos atletas. A intervenção foi apontada como um dos campos de atuação profissional do psicólogo do esporte, onde são realizados programas psicológicos de treinamento mental em conjunto com aconselhamento e acompanhamento dos atletas (VIEIRA; VISSOCI; OLIVEIRA; VIEIRA, 2010).

    Outros estudos (COSTA e VIEIRA, 2003; VISSOCI et al., 2008) revelam que a motivação intrínseca favorece as condutas positivas dos atletas, fazendo com que os mesmos estejam constantemente buscando o cumprimento de suas metas. As investigações relacionadas a esta temática apontaram evidências sobre a importância da motivação intrínseca no contexto esportivo.

    Stefanello (2009) ao evidenciar a importância da motivação intrínseca no treinamento desportivo apontou recomendações para o treinamento da automotivação. Segundo a autora, as técnicas realizadas nos treinamentos parecem contribuir para que o atleta possa assumir o controle do seu comportamento, evitando a desmotivação relacionada a fatores extrínsecos.

    No sentido de fundamentar teoricamente os estudos sobre motivação, a Teoria da Autodeterminação (TAD) tem buscado analisar o comportamento dos indivíduos. Segundo Deci e Ryan (2008), estudiosos da TAD, os trabalhos iniciais sobre a teoria remontam aos anos de 1970 e, as primeiras evidências científicas ocorreram em meados dos anos de 1980.

    A maior incidência de estudos envolvendo a TAD encontra-se na educação, esportes e saúde. Diferente de outras teorias que tratam a motivação como um conceito unitário, a TAD diferencia os tipos de motivação em um continuum que estabelece diferenciações entre a motivação extrínseca dos sujeitos. A idéia inicial era que a qualidade da motivação de uma pessoa seria mais importante do que a quantidade de motivação (DECI; RYAN, 2008).

    Na TAD o comportamento é estudado a partir das necessidades básicas do sujeito, que é regulado por três necessidades psicológicas, atuando de forma interdependente: a competência, a autonomia e o relacionamento interpessoal (DECI; RYAN, 2008). A satisfação destas necessidades psicológicas é considerada essencial para um ótimo desenvolvimento e saúde psicológica dos indivíduos (VISSOCI et al., 2008). De acordo com Guimarães e Boruchovitch (2004), a autonomia é o direito de o indivíduo se reger por si próprio. Segundo tal perspectiva, as pessoas fariam as coisas por vontade própria e não por serem obrigados. Com isso, o indivíduo atribui as mudanças em seu contexto às suas próprias ações. Como conseqüência, se percebe intrinsecamente motivado a planejar suas ações viabilizando seus objetivos e avaliando seu progresso.

    A competência concerne ao indivíduo a capacidade de realizar as tarefas de forma eficaz. Assim, a competência é a energia que estimula o organismo a realizar uma atividade se sentindo recompensado pelo resultado da tarefa (VISSOCI et al., 2008). No contexto esportivo a competência está relacionada ao resultado positivo das tarefas, principalmente aquelas relacionadas a objetivos mensuráveis, como fazer um gol ou um ponto.

    Além da autonomia e da competência, o relacionamento interpessoal representa estar vinculado, pertencer a um grupo e se perceber integrado no ambiente. Essa necessidade de pertencer a um grupo seria uma tendência para estabelecer vínculo emocional com pessoas significativas. No entanto, segundo Guimarães e Boruchovitch (2004) esta necessidade não é muito significativa para a motivação intrínseca, uma vez que a maior parte das atividades intrinsecamente motivadas são realizadas isoladamente.

    Dessa forma, o comportamento facilita ou dificulta a motivação em função da satisfação dessas necessidades, o que resulta em cinco tipos de regulação comportamentais, sendo um para ações intrinsecamente motivadas (regulação interna), e quatro para ações extrinsecamente motivadas (regulação externa, introjetada, identificada e integrada). (LENS; MATOS; VANSTEENKISTE, 2008).

    Para Lens et al. (2008) nas ações extrinsecamente motivadas, o indivíduo somente se motiva a fazer algo em virtude de uma recompensa externa. Segundo Minelli et al. (2010) a regulação externa é a forma mais básica de motivação extrínseca, pois o sujeito somente realiza as tarefas a partir de ameaças e punições.

    Na regulação introjetada o indivíduo toma para si a razão externa para a atividade: um atleta se dedica aos treinamentos a fim de não decepcionar seus treinadores e, por conseqüência, não se sentir culpado. Na regulação introjetada o atleta realiza as tarefas para agradar outras pessoas, que podem ser seus amigos, os técnicos ou seus pais. Na regulação identificada o indivíduo percebe aquilo como importante para si, realizando suas atividades como forma de ser apreciado por seu grupo social, se beneficiando com as tarefas. Já na regulação integrada, a razão externa para fazer algo é percebida de forma coerente com o conceito sobre si próprio, pois o indivíduo possui consciência sobre seus atos (LENS et al., 2008).

    A motivação que se refere ao prazer de realizar as atividades desenvolvidas se refere à motivação intrínseca ou autodeterminada. O indivíduo se envolve nas tarefas, realizando os treinamentos porque se sente bem, realizando muito além do que lhe é solicitado. Dessa forma, prazer, interesse intrínseco e satisfação inerente controlam ou regulam a atividade. Assim, dizer que uma ação é intrinsecamente motivada é o mesmo que dizer que ela é intrinsecamente regulada, pois o local onde se percebe a causa da ação está dentro do indivíduo. Por outro lado, os indivíduos amotivados não conseguem estabelecer uma razão para a realização de suas tarefas, desistindo muitas vezes, pois não conseguem estabelecer vínculos.

    Tendo em vista os estudos realizados na área da motivação, parece existir uma lacuna a ser preenchida no âmbito das investigações, no que se refere a possível desmotivação dos atletas devido a falta de recursos financeiros e investimentos esportivos na modalidade. Neste contexto, o objetivo desse estudo foi analisar a motivação de atletas de municípios situados no estado do Paraná, buscando responder a seguinte questão problema: existe diferença na motivação de atletas que possuem características socioeconômicas e investimentos financeiros diferenciados em suas equipes?

    Neste contexto, o objetivo desse estudo foi analisar a motivação de atletas de voleibol e futsal feminino adulto de municípios situados no estado do Paraná-Brasil. Especificamente buscou-se verificar e comparar o nível de motivação das equipes de ambos os municípios, além de verificar a motivação das equipes levando-se em consideração as características socioeconômicas das mesmas.

Procedimentos metodológicos

    O presente estudo caracteriza-se como do tipo descritivo (THOMAS; NELSON, 2002). A escolha da população foi intencional. Para escolha dos municípios investigados utilizou-se o IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) (IDH, 2010). Um dos municípios possui IDH entre os 10 mais altos do estado do Paraná, considerado de nível “elevado”. O outro município possui um IDH considerado de nível “médio”, possuindo mais de cem municípios do estado com um melhor padrão de vida que o mesmo.

    A partir desta perspectiva, buscou-se comparar a motivação dos atletas que participam de equipes de futsal e voleibol da categoria adulto em municípios com investimento esportivo diferenciado. A amostra do estudo foi constituída por 47 atletas do sexo feminino das equipes de voleibol e futsal de duas cidades (grande porte e pequeno porte) do estado do Paraná. A idade média dos participantes do estudo foi de 16,85 (± 3,12) anos.

    Para avaliar a motivação das atletas foi utilizada a Escala de Motivação para o Esporte (SMS – Sport Motivation Scale) validada para a língua portuguesa (SERPA; ALVES; BARREIROS, 2004). Esta escala é um questionário a ser respondido de maneira individual que fornece uma estimativa do nível de motivação das atletas. Em cada questão pede-se que o atleta aponte o nível a que mais se identifica. A escala consiste em 28 questões, divididas em 7 subescalas avaliadas em uma escala likert de 7 pontos.

    Para a compreensão dos aspectos socioeconômicos dos municípios participantes da investigação o pesquisador observou os locais de treinamento das equipes, realizando diário de campo durante as observações. As questões referentes ao investimento financeiro realizado pelo município e os patrocínios de cada equipe também foram considerados.

    Para classificação dos municípios utilizou-se os dados populacionais dos municípios, apontado pelo Censo 2010 (IBGE CIDADES, 2010). Um dos municípios foi denominado neste estudo de “cidade de grande porte” (CGP) e o outro de “cidade de pequeno porte” (CPP).

    O projeto de pesquisa foi encaminhado ao Comitê Permanente de Ética e Pesquisa da Universidade Estadual de Maringá sob o parecer nº 175/2007, sendo parte integrante do projeto intitulado “Estudos dos aspectos psicofisiológicos que afetam o desempenho motor na prática do exercício físico e do esporte”.

    Para a análise dos dados foi utilizado o Teste de normalidade Shapiro-Wilk para adequação dos testes ao tratamento estatístico. Para comparar o nível de motivação entre os grupos de atletas das duas cidades utilizou-se o teste U de Mann Whitney para dados não normais e o teste t de Student independente para os dados normais. Para verificar diferenças na motivação intrínseca, extrínseca e amotivação utilizou-se a análise de variância de Kruskal-Wallis. Foi estabelecido o valor de significância em 5% (p ≤ 0,05).

Resultados e discussão

    Participaram do estudo 47 atletas do sexo feminino, sendo que 51,1% (24 atletas) da amostra são da cidade de pequeno porte (CPP) e 48,9% (23 atletas) da cidade de grande porte (CGP).

    Todas as equipes investigadas são praticantes de esporte coletivo (futsal e voleibol) e treinam em média 06 horas semanais. As atletas da CGP participam de 5,57 campeonatos por ano, enquanto as atletas da CPP disputam em média 2,79 campeonatos. A média de idade das participantes do estudo foi de 16,85 (± 3,12) anos, sendo de aproximadamente 18 anos para a CPP e 16 anos para a CGP.

    O grau de escolaridade “ensino médio incompleto” e “ensino médio completo” foram predominantes, sendo de 82,9% nas atletas participantes do estudo, o que contrapõe dados obtidos em pesquisas que apontam que mais da metade dos atletas estão defasados nos estudos em relação a sua faixa etária (MARQUES; SAMULSKI, 2009). Duas atletas, uma de cada município realizam curso superior em instituições públicas do estado do Paraná.

    A tabela 1 apresenta a tendência motivacional das atletas da CGP e da CPP. Verificou-se que não houve diferença significativa entre os grupos analisados, o que revela que independentemente das características socioeconômicas dos municípios investigados, ambos demonstram uma tendência motivacional muito semelhante.

Tabela 1. Tendência motivacional (t) de atletas da Cidade de Grande Porte (CGP) e da Cidade de Pequeno Porte (CPP)

*Dados não paramétricos apresentados em mediana (md) e amplitude interquartílica (a), teste de 

comparação utilizado “U de Man-Whitney”; Legenda: “ME” – Motivação Extrínseca; “MI”- Motivação Intrínseca.

    Ao analisar as variáveis motivação intrínseca, extrínseca e amotivação (tabela 2), verificou-se diferença significativa na variável motivação intrínseca, indicando o predomínio da motivação intrínseca, uma vez que os valores apontados na tabela 1, “atingir objetivos”, “experiências estimulantes” e “para conhecer”, foram maiores do que das demais variáveis para ambos os municípios, quando comparados com a motivação extrínseca.

Tabela 2. Média dos níveis de motivação de atletas da Cidade de Grande Porte (CGP) e da Cidade de Pequeno Porte (CPP)

* p≤0,05

    Segundo Lens et al., (2008) na motivação intrínseca o local de causalidade percebido é dentro do indivíduo, ou seja, o indivíduo tem interesses internos e prazeres inerentes controlando sua atividade. Outras investigações têm demonstrado o predomínio da motivação intrínseca nos esportes coletivos (VISSOCI et al., 2008). Estes resultados parecem indicar o quanto os atletas necessitam buscar estratégias para estarem motivados. Aqueles atletas que se motivam extrinsecamente, principalmente voltados a Motivação Extrínseca de Regulação Externa, dependendo exclusivamente de ameaças, punições ou premiações, parecem não “sobreviver” no ambiente esportivo. Ainda assim, aqueles que se mantém no esporte poderiam apresentar comportamentos inconstantes, pois suas atitudes ficariam dependentes das ações de outras pessoas, como técnicos, patrocinadores ou gestores. Em investigação realizada por Vieira (1999) sobre o desenvolvimento dos talentos esportivos, a autora afirma que se o atleta jovem não possuir uma grande motivação intrínseca poderá abandonar sua atividade.

    Assim, o que se pode observar é que o que motiva as atletas não são os fatores externos como salário, patrocínio e resultados, mas sim os fatores internos, como fora apontado. Na motivação extrínseca, o indivíduo somente se motiva a fazer algo em virtude de uma recompensa externa (LENS et al., 2008). Em relação a amotivação, onde existe ausência de motivação, verificou-se que as atletas não eram desmotivadas.

    As cidades envolvidas neste estudo diferem bastante em muitos aspectos. Pode-se observar que, enquanto a CGP possui aproximadamente 360 mil habitantes (IBGE CIDADES, 2010), sendo uma cidade pólo no interior do estado, com equipes de renome no contexto esportivo nacional, possuindo vários locais de treinamento, a CPP conta com aproximadamente 14 mil habitantes (IBGE CIDADES, 2010), e cujas equipes esportivas, não possuem patrocínio, dependendo somente do apoio governamental.

    Além da CPP não possuir locais suficientes e apropriados para o treinamento, por vezes, os locais são utilizados para outras finalidades, como shows e eventos. Além disso, o esporte é ainda tratado de maneira muito amadora, pois as equipes não possuem estrutura para se organizar e participar de competições a nível estadual e nacional. Assim, mesmo com condições diferenciadas em relação a apoio financeiro as atletas da CPP são motivadas intrinsecamente.

Tabela 3. Renda familiar de atletas da Cidade de Grande Porte (CGP) e da Cidade de Pequeno Porte (CPP)

    Na CGP as duas equipes participantes do estudo possuem patrocínio, enquanto que na CPP as equipes dependem exclusivamente do apoio governamental. Verificou-se que quatro (04) atletas da CPP e cinco (05) da CGP recebem salário mensal.

    Em relação à participação das atletas participantes do estudo na renda familiar, pode-se verificar que apenas uma atleta da CGP contribui para a renda familiar. Na CPP 25% das atletas fazem de seu salário um apoio financeiro para a sua família. Renda essa que não passa de um a dois salários mínimos para 58,3% do grupo pesquisado na CPP, enquanto que na CGP 47,8% das atletas possuem renda entre três e quatro salários mínimos, como observado na tabela 3. Apesar dos fatores apontados, os aspectos socioeconômicos apresentados acima não representam maior ou menor motivação quando comparados os municípios, sendo ambos motivados intrinsecamente.

    De acordo com Santos et al. (2010) deve-se fomentar a participação empresarial junto as equipes, conquistando parcerias mais rentáveis e duradouras, e assim minimizando problemas e criando condições de trabalho para as atletas.

    Apesar de alguns fatores apontados parecerem privilegiar as atletas da CGP, o que poderia sugerir maior motivação para essas, apenas 65,2% das atletas pretendem continuar suas carreiras, enquanto que 70,8% das atletas a CPP possuem este objetivo. Pode-se verificar que não houve relação entre as características socioeconômicas das atletas e sua motivação, evidenciando que as atletas com condições de trabalho e investimentos inferiores na modalidade se sentem tão motivadas intrinsecamente quanto às atletas da CGP.

    Dessa maneira, como fora apontado por Weinberg e Gould (2001), os indivíduos têm diferentes motivos pelos quais realizam suas atividades. Os motivos mudam com o passar do tempo e, por isso, as atletas, principalmente as da CPP mesmo em condições de trabalho adversas, não estavam desmotivadas a seguir suas carreiras. Dessa forma, pode-se observar que tais atletas parecem se sentir competentes e autônomas, uma vez que essas duas necessidades psicológicas são de cunho mais intrínseco do que extrínseco, como nos aponta Deci e Ryan (2008) através da TAD.

    Tais resultados vêm ao encontro com o que nos remete outros estudos realizados a fim de compreender a motivação dos indivíduos e, em tais estudos constatou-se que a motivação autodeterminada intrinsecamente, ou seja, aquelas independentes de fatores externos desempenham papel positivo em relação às atitudes dos atletas, fazendo com que estes busquem incessantemente o cumprimento de suas tarefas (COSTA e VIEIRA, 2003; VISSOCI et al., 2008).

Considerações finais

    Constatou-se que a tendência motivacional para as cidades de grande porte e pequeno porte foi maior para a motivação intrínseca. Entretanto não houve diferenças significativas entre os municípios participantes da investigação. Ao analisar as variáveis motivação intrínseca, extrínseca e amotivação, verificou-se diferença significativa na variável motivação intrínseca. O predomínio da motivação intrínseca foi maior do que das demais variáveis para ambos os municípios, quando comparados com a motivação extrínseca. Em relação à amotivação, onde existe ausência de motivação, observou-se que as atletas não se encontravam desmotivadas durante a realização da investigação.

    Pode-se dizer que não houve relação entre as características socioeconômicas das equipes e o nível de motivação evidenciando que não há como afirmar que as atletas com piores condições de trabalho se sintam desmotivadas, pois mesmo com condições diferenciadas em relação ao apoio financeiro, as atletas da cidade de pequeno porte são motivadas intrinsecamente.

    Dessa maneira, estudos acerca da motivação no âmbito esportivo se tornam necessários, considerando outros aspectos que possam influenciar no comportamento e atitudes dos atletas de alto rendimento.

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