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Características das lesões ocasionadas na prática do tênis amador

Características de las lesiones causadas en la práctica del tenis aficionado

Characteristics of injuries occasioned in the practice of amateur tennis

 

*Fisioterapeuta . Mestre em Ciência da Motricidade Humana

pela Universidade Castelo Branco, Rio de Janeiro

**Doctor Med. Sci, MD. Universidade do Estado do Rio de Janeiro

(Brasil)

Debora Forti*

debbyfor@gmail.com

João Santos Pereira**

jspereira.md@uol.com.br

 

 

 

 

Resumo

          Introdução: O tênis de campo é um esporte com grande risco de lesões, sendo frequentes as lesões osteomioarticulares nas diversas áreas corporais. Assim, por meio deste estudo, verificou-se a tipologia, a localização corporal das lesões osteomioarticulares e o tempo de inatividade física ocorridos em atletas amadores praticantes de tênis entre 18 e 40 anos nos clubes do Município do Rio de Janeiro, com atividade esportiva há, pelo menos, um ano. Materiais e Métodos: O estudo foi retrospectivo, utilizando um questionário específico e já validado, composto de 26 perguntas abertas e fechadas, com entrevista direta a 100 atletas que realizavam suas atividades em clubes do Município do Rio de Janeiro. Resultados: Constatou-se, quanto à topografia das lesões, que o cotovelo foi a região mais acometida, sendo a tendinite o tipo de lesão mais freqüente, e que a quadra onde ocorreu o maior número de lesões foi a de saibro. A idade e o tempo de prática do tênis são fatores que também precisam ser levados em consideração em relação à freqüência de tais lesões. Embora múltiplos fatores possam contribuir para a ocorrência de lesões no tênis de campo, pelo menos um quarto dos praticantes não se afasta da atividade ou, quando isso ocorre, a maioria não o faz por mais de dois meses.

          Unitermos: Tênis. Lesões. Praticantes de tênis.

 

Abstract

          Tennis field is a sport with a great risk of lesions and it is frequent the occurrence of osteomioarticular lesions on the different body areas. As a result, through this study it was observed the typology, the corporal location of the osteomioarticular lesions and the period of physical inactivity that occurred in amateur athletes who practice tennis in clubs in the municipal district of Rio de Janeiro and who are aged between 18 and 40 years, with sporting activity for at least one year. The study was retrospective and used a specific validated questionnaire, composed of 26 open and closed questions, with a direct interview to 100 athletes that accomplished their activities in clubs in the municipal district of Rio de Janeiro. From the obtained results, regarding the topography of the lesions it was observed that the elbow was the place of a larger attack of lesions, being the tendinitis the most frequent type of lesions. The court where it was observed the higher number of lesions was the one with coarse river sand. The age and the period of tennis practice are factors that need to be considered regarding the frequency of osteomioarticular lesions. Although many different factors can contribute to the occurrence of lesions at the tennis field, at least one quarter of the practitioners do not move away from their activities, or when this happens, the majority does not go beyond two months.

          Keywords: Tennis. Injuries. Practitioners tennis.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 15, Nº 154, Marzo de 2011. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    O tênis é um esporte bastante praticado no mundo principalmente nos Estados Unidos e Europa e, nos últimos anos, vem crescendo no Brasil e em diversos países.

    Nos Estados Unidos, esse esporte é popular, contando com milhões de participantes. De modo diverso de muitos outros esportes, indivíduos jovens, de média idade e idosos o praticam1. A prática diária de tênis com o treinamento específico leva a alterações corporais que dependem do modo de realização dessa atividade, do nível de treinamento, da aptidão dos praticantes e da orientação profissional, entre outros aspectos (Mahn, 2004)2.

    Todos os atletas estão vulneráveis às mais distintas lesões que podem ser atribuídas a fatores específicos e, como nos vários esportes, com o tênis recreativo e profissional não é diferente. Diferenças no equipamento, na biomecânica e nas demandas físicas, além do piso inadequado da quadra, resultam em lesões peculiares a esse esporte, que diferem de outros que se utilizam de raquetes e aqueles de arremesso3, 4. Lesões por “overuse” ou síndrome do uso excessivo foram evidenciadas como sendo uma causa importante de lesões, levando-se em consideração o tipo, a freqüência, a intensidade e a duração dos treinamentos 5,1. No entanto, há uma grande variação na taxa de incidência das lesões no tênis 3.

    De acordo com Pluim (2009) 6, as lesões passam a ser chamadas atualmente de condições médicas, termo mais amplo que engloba lesão e/ou doença. A classificação dessas condições pode ser feita em início agudo ou subagudo/crônico, pela localização, pelo tipo e pela exposição.

    A atividade excessiva não é a única causa para ocorrência de lesões em membros superiores. A técnica inadequada de treinamento, o tipo do cabo da raquete, a tensão utilizada nas cordas da raquete, a fraqueza muscular e intensa força de preensão manual ao empunhar a raquete podem contribuir para o desenvolvimento daquelas. Já o uso de calçados inadequados, os movimentos com paradas bruscas, as saídas rápidas e mudanças constantes de direção, os diferentes tipos de superfície das quadras e a falta de sinergismo entre músculos agonista e antagonista são fatores que podem favorecer o surgimento de lesões em membros inferiores4.

    Diante do exposto, elaborou-se um estudo com o objetivo de correlacionar as características, a freqüência das lesões osteomioarticulares e o tempo de afastamento em praticantes amadores de tênis, em atividade esportiva há pelo menos um ano.

Materiais e métodos

Amostra

    O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética da Universidade Castelo Branco, Rio de Janeiro, sob o parecer nº 0011/2007 CEP de 24 de abril de 2007 e iniciado após concordância do participante com assinatura do termo de consentimento livre e esclarecido.

    Participaram do estudo 100 atletas amadores de ambos os sexos, voluntários praticantes de tênis em clubes situados nas zonas norte, sul e oeste do Município do Rio de Janeiro, Brasil, compreendidos na faixa etária de 18 a 40 anos, em atividade esportiva há pelo menos um ano.

Instrumentos de avaliação

    Utilizou-se um questionário estruturado, modificado e adaptado de Lozana & Pereira7, composto de 26 perguntas, onde constam três perguntas abertas e 23 fechadas para avaliar as características das lesões ocorridas nos participantes do estudo. As perguntas abertas tinham como objetivo esclarecer melhor as lesões sofridas pelos atletas, já que nem todas apresentam características semelhantes.

    A entrevista foi realizada pela própria pesquisadora, sendo as perguntas respondidas individualmente, em local tranqüilo e isolado nas dependências do clube. Cada entrevista durou em média 15 minutos. Manteve-se em cada entrevista a mesma técnica de pergunta e ênfase do questionamento para não sugestionar os entrevistados.

Tratamento estatístico

    Os resultados foram analisados pela estatística descritiva para caracterizar a amostra e para análise comparativa utilizou-se o Teste do Qui-quadrado. Considerou-se como nível de significância estatística p < 0,05.

Resultados

    Dos 100 praticantes amadores de tênis, 77 eram do sexo masculino e 23 eram do sexo feminino, com idade média de 30,4 ± 8,2 anos e tempo médio da prática do tênis de 13,19 ± 9,2 anos.

    Em relação ao número de lesões, 72% dos entrevistados sofreram pelo menos uma lesão decorrente da prática do tênis, ocasionando o total de 124 lesões, o que representa em média 1,24 lesões por atleta.

    Estão expostos na tabela 1 os dados referentes ao número total de lesões osteomioarticulares de acordo com a área corporal.

Tabela 1. Áreas corporais acometidas em relação ás lesões

    Ao realizar o cruzamento das freqüências das lesões com a topografia, ou seja, com a localização anatômica das lesões, constituiu-se uma variável de apoio analítico resultante da freqüência de lesões observada por participante, podendo totalizar mais de uma lesão por indivíduo. Não se observou diferença significativa ao se cruzar a freqüência de lesões com a topografia (Qui-quadrado calculado = 0,131). Isto pode significar que a freqüência de lesões, seguindo as respectivas topografias, provavelmente sem distintas causas no contexto circunstancial para a sua ocorrência.

    O número total de lesões, de acordo com sua tipologia, pode ser observado na tabela 2, onde consta a freqüência de cada lesão do total de 124 observadas nos 72 praticantes de tênis.

Tabela 2. Aspectos clínicos das lesões e sua freqüência na prática de tênis amador

    Ao se cruzar topografia com tipologia, encontrou-se uma associação significativa com o Qui-quadrado calculado = 0,001, sendo p < 0,05. Tal resultado mostra que as características da lesão e seu diagnóstico evidenciam, de modo relevante, compatibilidade com a localização corporal. Portanto, esse resultado corrobora o princípio causal para diagnóstico na área lesionada.

    Considerando-se alguma lesão decorrente da prática do tênis, relacionou-se na tabela 3 o tempo de afastamento na atividade desse esporte. Não se conseguiu definir, porém, especificamente, qual o tipo de lesão e a localização corporal que ocasionou maior tempo de afastamento.

Tabela 3. Tempo de inatividade esportiva e sua freqüência após a ocorrência de lesões

    Para relação idade e tempo de inatividade esportiva, encontrou-se o Qui-quadrado calculado = 0,486, com p > 0,05, ou seja, não se evidenciou associação entre o respectivo par de combinação. Nesse sentido, pode-se entender que a variável tempo de inatividade não apresenta, de modo direto e objetivo, uma associação com a variável idade.

    Relacionando-se as variáveis tipologia ou tipo de lesão e o tempo de Inatividade, encontrou-se o Qui-quadrado calculado = 0,418, sendo p > 0,05, mostrando que não existe associação entre o respectivo par de combinação, podendo-se reafirmar que o tempo de Inatividade de fato não apresenta igualmente uma associação com a tipologia. Ao se relacionar a variável topografia com o tempo de Inatividade, demonstrou-se o Qui-quadrado calculado = 0,436, com p > 0,05, denotando não existir associação entre o respectivo par de combinação. Assim, pode confirmar-se que o tempo de inatividade não apresenta também uma associação com a topografia.

    Entretanto, ao se combinar uma associação linear, encontrou-se p significativo, sendo o Qui-quadrado calculado = 0,03 (p < 0,05), devendo-se ressaltar nesse cruzamento entre a topografia e tempo de inatividade que o fator que avalia a significância dessa associação linear entre os pares indica significativo grau de associação indireta, necessitando, assim, da inserção de mais parâmetros para que se possa estabelecer, de modo conclusivo e seguro, a associação direta. Em síntese, pode-se afirmar que a topografia, embora não tenha apresentado uma associação direta, evidenciou uma linearidade de distribuição significativa com a variável tempo de inatividade.

Discussão

    Neste estudo observou-se que os membros superiores foram o local eleito como sede das lesões, com 22,6% de comprometimento na articulação do cotovelo. As lesões crônicas de cotovelo são comuns em atletas cujo esporte envolva o uso de certos implementos, como tacos e raquetes8.

    Estudo com 160 tenistas constatou que as lesões musculares eram as mais freqüentes (23,8%), seguidas das lesões de pé e tornozelo (19,7%) e as de cotovelo (16,8%)9.

    Petri et al10 observaram que, em esportes com uso de raquetes, as lesões ocorrem principalmente em membros inferiores, devido à necessidade de muita agilidade e velocidade, mudanças de direção, aceleração e desaceleração. Lesões relacionadas à prática de tênis de mesa ocorrem mais frequentemente no tornozelo (26,4%), seguido pelo joelho (24,5%). Estudo mais recente confirma que os membros inferiores são os mais acometidos, seguidos dos membros superiores e tronco3.

    Embora se tenha observado no presente estudo que as tendinites foram o tipo mais freqüente (27,4%), outra pesquisa mostrou que a epicondilite lateral do cotovelo e as torções de tornozelo eram mais frequentes11. O uso de um implemento de pequena preensão, que resulta em excessiva atividade dos flexores e extensores de punho, foi associado ao surgimento da epicondilite lateral e medial8. O entendimento básico de biomecânica do tênis e a análise de forças, cargas e movimento durante esse esporte melhoraram a compreensão da fisiopatologia dessas lesões12. Uma maior freqüência de lesões cutâneas como as bolhas e queimaduras de sol (65,5%) seguidas de câimbras (51,8%), luxações (35,5%) e entorses (25,5%), também foram encontradas13.

    A quadra de saibro foi o local onde ocorreu o maior número de lesões osteomioarticulares. Vretaros (2007)4 observou que as quadras de piso sintético, como as de asfalto com resina (mais rápidas) costumam destacar-se como desencadeadoras de maior número de lesões quando comparadas às quadras de saibro (mais lentas). As superfícies ásperas das quadras rápidas possuem um coeficiente de atrito maior com o solo, o que exige sobrecargas elevadas na articulação do tornozelo durante os deslocamentos de saídas rápidas e principalmente nas mudanças de direção4. A quadra de grama, considerada a mais rápida de todas, provocou maior carga no hálux, porém menor carga relativa no médiopé medial e lateralmente, comparado à quadra de saibro 14.

    Neste estudo, a maioria dos participantes relatou que ficou por pequenos períodos de tempo afastada da prática do tênis em decorrência das lesões. Relacionando as variáveis idade, tipologia e topografia da lesão com o tempo de inatividade física, notou-se que os três cruzamentos não evidenciaram associações entre os respectivos pares de combinações. Contudo, as variáveis topografia e tempo de inatividade mostraram que, embora este não apresente, de modo direto e objetivo, associação com aquela, o fator de avaliação de significância da associação linear entre os pares indica um grau significativo de associação indireta, necessitando, dessa forma, da inserção de mais parâmetros que possam estabelecer, de modo conclusivo e seguro, essa associação direta.

    Em síntese, pode-se dizer que, embora a topografia ainda não tenha apresentado uma associação direta, ocorreu uma linearidade de distribuição significativa com a variável tempo de inatividade. É certo ressaltar que a dispersão inerente nas distribuições epidemiológicas devido a diversas possibilidades diagnósticas e combinações das mesmas, resulta em uma fragilidade quando da aplicação de testes de associação, sobretudo, quando a amostra é pequena. Nesse sentido, os resultados desses cruzamentos são prejudicados e pouco conclusivos no aspecto de formação do juízo de valor quanto às associações avaliadas. Provavelmente existem associações entre o tempo de inatividade com a variável idade, tipologia e topografia, uma vez que de alguma forma ocorre relação entre a capacidade de recuperação, a característica da lesão e suas repercussões orto-funcionais.

Conclusão

    As tendinites, as epicondilites laterais e as entorses são as principais lesões encontradas, tendo como a área corporal de maior freqüência de acometimento o cotovelo.

    As causas multifatoriais contribuem para o desencadeamento de lesões em praticantes amadores de tênis. Assim, especificamente a quadra de saibro, a sobrecarga e os movimentos repetitivos estão entre os principais fatores predisponentes para ocorrência de lesões.

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