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Possibilidades de lazer e atividade física em 

trilha ecológica no IFMT, Campus São Vicente

Posibilidades para la recreación y la actividad física en el sendero ecológico del IFMT, Campus Sao Vicente

 

*Aluno do curso técnico em agropecuária

IFMT, campus São Vicente

**Mestre em Educação. Professora

do IFMT – campus São Vicente

(Brasil)

Jhonny Blendo Fernandes*

jhonnyyy_eu@hotmail.com

Larissa Beraldo Kawashima**

lalabeka@hotmail.com

 

 

 

 

Resumo

          A trilha da Gruta de Arquimedes localiza-se no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Mato Grosso (IFMT), no campus de São Vicente, o qual possui uma área de mais de 5.000 hectares, em que se podem encontrar diversas trilhas pouco exploradas e não demarcadas que levam a belezas naturais como grutas e cachoeiras. Este texto tem por objetivo avaliar o percurso denominado “Trilha da Gruta de Arquimedes”, quanto às possibilidades de utilização como prática de Lazer e atividade física regular, identificando ainda as características do percurso percorrido. A pesquisa atende as características da pesquisa qualitativa, pois busca descrever e interpretar dados coletados através de um roteiro de observação pós-visita da caminhada ecológica à “Trilha da Gruta de Arquimedes”, realizada por 29 sujeitos com idades entre 16 e 18 anos, alunos dos 2º anos do curso técnico em agropecuária do IFMT – campus São Vicente, que foram identificados com as iniciais do seu nome e a turma correspondente, garantindo-se assim o sigilo dos alunos. Os dados foram classificados em três categorias teóricas iniciais: a descrição do percurso, a possibilidade de prática de lazer e de atividade física. Os dados indicaram que a trilha tem grande potencial para se tornar uma opção de lazer entre os estudantes do campus, principalmente pelas belezas naturais do percurso. Através dos dados coletados também se pode identificar que a trilha tem descidas e subidas íngremes, o que dificulta a acessibilidade de algumas pessoas, necessitando de adequações como construção de escadas ou degraus. O percurso foi também indicado para a prática de atividade física regular como caminhadas ecológicas e corridas. Conclui-se que a trilha da “Gruta de Arquimedes” apresenta possibilidades de utilização com diversas finalidades, sugerindo adequações no percurso e manutenção constante para abertura à visitação de turistas.

          Unitermos: Trilhas ecológicas. Lazer. Atividade física.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 15, Nº 154, Marzo de 2011. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    Este texto tem por objetivo avaliar o percurso denominado “Trilha da Gruta de Arquimedes”, quanto às possibilidades de utilização como prática de Lazer e atividade física regular, identificando ainda as características do percurso percorrido.

    A trilha da “Gruta de Arquimedes” localiza-se no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Mato Grosso (IFMT), no campus de São Vicente, o qual possui uma área de mais de 5.000 hectares, em que se podem encontrar diversas trilhas pouco exploradas e não demarcadas que levam às belezas naturais como grutas e cachoeiras.

    A trilha da gruta passou pelo processo de planejamento e implantação, sendo realizadas as fases de reconhecimento e demarcação da mesma com placas de identificação e limpeza do local. Foi realizado um estudo sobre a acessibilidade do local, definindo-se caminhos alternativos para o trajeto de volta do ponto turístico em questão, ou seja, da Gruta de Arquimedes, diminuindo-se assim alterações na paisagem devido ao uso da trilha.

    Esta pesquisa se justifica pela importância de se avaliar o percurso demarcado, pois a trilha ainda não foi aberta à visitação, necessitando ainda definir o público-alvo. Assim, faz-se necessário identificar as possibilidades de lazer e exigências físicas para se chegar aos pontos turísticos.

Referencial teórico

    Para se entender o conceito de lazer, baseamo-nos nas ideias de Russell (2002) que discute a necessidade da redução organizada do trabalho para que todos possam optar pelo lazer, não qualquer tipo de lazer, mas um lazer capaz de lhes retribuir com felicidade, com momentos que proporcionem uma “atitude mental contemplativa”, uma espécie de “deleite mental”.

    A opção por este tipo de lazer, segundo Russell (2002), é produto da civilização e da educação. O autor considera que a condição para esse sistema social é que a educação ultrapasse suas atuais fronteiras e adote como parte de seus objetivos o cultivo de aptidões que capacitem as pessoas a usar seu Lazer de maneira inteligente. Não se trata apenas de atividades “intelectualizadas”, mas também o desfrutar de prazeres em que as pessoas pudessem participar ativamente.

    Neste sentido, Marcellino (1987, p. 25) revela que “(...) considerar apenas uma esfera da atividade humana, seja ela o trabalho ou o lazer, é entender o homem de maneira parcial”.

    No planejamento de manejo de uma trilha ecológica, as atividades de recreação, educação e interpretação são planejadas dentro de um programa distinto e com diferentes objetivos. Um subprograma de recreação visa proporcionar aos visitantes a oportunidade de realizar atividades ao ar livre, em contato com a natureza. Segundo Vasconcellos (2006, p. 18), “o turismo e a recreação requerem estruturas e meios comuns para a sua realização e devem ser um veículo para a educação ambiental (...)”.

    As rotas mais disseminadas no mundo são provavelmente as trilhas e caminhos, podendo ser o único meio de acesso fácil às áreas protegidas em locais menos ocupados. As trilhas tendem a ser construídas sem planejamento formal ou sem um plano de manejo para sua implantação, resultando muitas vezes em impactos inadequados, aumentando os custos de construção e manutenção (LESCHER, 2006).

    As trilhas ecológicas interpretativas se enquadram dentro dos percursos interpretativos orientados metodologicamente, visando não somente a transmissão de conhecimentos, mas também atividades que revelam os significados e as características do ambiente (PERES-ESPIRITO SANTO, s/d). As trilhas ecológicas, como meio de interpretação ambiental, visam não somente a transmissão de conhecimentos, mas também propiciam atividades que revelam os significados e as características do ambiente por meio do uso dos elementos originais, por experiência direta e por meios ilustrativos, sendo assim instrumento básico de programas de educação ao ar livre (POSSAS, 1999 apud PERES-ESPIRITO SANTO, s/d, p. 2).

    As trilhas também podem ser utilizadas para a caminhada ecológica,1 ou seja, como um esporte de aventura e, consequentemente, como prática de atividade física regular. Segundo Nahas (2006), a inatividade física representa uma causa importante de debilidade, reduzida qualidade de vida e morte prematura na sociedade contemporânea. Quando se tem um estilo de vida saudável, ativo, com níveis moderados de atividade física, pode-se reduzir consideravelmente os riscos de doenças, principalmente cardiovasculares.

    Em pesquisa realizada por Costa e Luz-Silva (2007, p.3) sobre a caminhada ecológica revelaram que há uma multiplicação desta prática pelos praticantes visando não apenas a educação ambiental,

    “(...) mas a adoção de práticas diárias que levam ao autoconhecimento e a adoção de um estilo de vida saudável e sustentável para o indivíduo e o meio no qual está inserido. A forma que o meio atua sobre o homem será reflexo da relação dialética que há entre ambos, ou seja, todas as ações que o homem se utiliza para alterar o meio serão posteriormente as responsáveis pela sua qualidade de vida em que aflige sua saúde individual e coletiva”.

    Assim, através das caminhadas podemos ter contato com o espaço que nos rodeia, com toda a biodiversidade, além de poder perceber aspectos geológicos e geomorfológicos de sua constituição e que diferenciam os lugares. Ao caminhar realizam-se trocas sutis com o meio, exercitando outras racionalidades que vão construindo significados afetivo-emocionais, além da criação de simbologias/representações mentais do espaço que nos rodeia e que por vezes é ignorado (COSTA; LUZ-SILVA, 2007).

Metodologia

    A pesquisa é de natureza qualitativa-interpretativa que, segundo Bogdan e Biklen (1994), apresenta as seguintes características: a primeira consiste nos dados coletados serem predominantemente descritivos, em que o material obtido é rico em descrições de situações, acontecimentos, incluindo transcrições de entrevistas e de depoimentos, fotografias, desenhos e extratos de vários tipos de documentos. Todos os dados da realidade são considerados importantes.

    Há ainda uma preocupação maior com o processo do que o produto da pesquisa. Outro ponto é a tentativa de capturar a perspectiva do participante, isto é, a maneira como os sujeitos encaram as questões focalizadas. E, por fim, a análise de dados tende a seguir um processo indutivo, o que o configura como interpretativo (BOGDAN; BIKLEN, 1994).

    Assim, esta pesquisa atende às características da pesquisa qualitativa, pois busca descrever e interpretar dados coletados através de um roteiro de observação pós-visita da caminhada ecológica à trilha da “Gruta de Arquimedes”, realizada por 29 sujeitos com idades entre 16 e 18 anos, alunos dos 2º anos do curso técnico em agropecuária do IFMT – campus São Vicente, que foram identificados com as iniciais do seu nome e a turma correspondente, garantindo-se assim o sigilo dos alunos.

    Os dados foram classificados em três categorias teóricas iniciais ou conceitos emergentes (LÜDKE; ANDRÉ, 1986), e assim serão apresentados a seguir.

O percurso percorrido...

    A descrição do percurso se faz pertinente para identificarmos o caminho percorrido durante a caminhada ecológica, bem como o tipo de vegetação, animais, pontos de referência, de parada e turísticos. Vejamos a descrição do percurso segundo os alunos pesquisados:

    “Saímos da escola passando pelo setor ovino e entramos na mata fechada com vegetação densa, com subidas e descidas” (A. F. A., 2A)

    “O local que dá acesso à gruta é pela instituição onde se passa ao lado do setor de ovino, e segue-se pela mata fechada, pela trilha que foi formada pelos outros alunos, a vegetação é diversificada, o percurso consiste em subidas e descidas” (G. H. C., 2A)

    “Saímos pelo pavilhão, fomos em direção ao ginásio e antes de chegar viramos a esquerda, e fomos agora em direção a ovinocultura, quando chegamos lá, tinha uma cerca, e depois da cerca tinha placas indicando a trilha” (W. G. S., 2B)

    Os depoimentos indicam o caminho percorrido desde a saída no pavilhão pedagógico até a Gruta de Arquimedes, descrevendo pontos de referência como o ginásio de esportes e o setor da ovinocultura. Ainda há indicações sobre os obstáculos percorridos, e referência ao trabalho de demarcação e limpeza da trilha realizada pelos alunos dos primeiros anos do ensino médio e técnico.

    “(...) depois percorremos a trilha até chegarmos à gruta de Arquimedes, e demos a volta por outro caminho” (K. S. P., 2A).

    “O lugar é bem limpo, um lugar bem preservado, bom que você entra em um lugar na mata e sai no outro, isso que é o mais importante, porque você não pode voltar no mesmo caminho” (R. S., 2A).

    Destacamos nos depoimentos anteriores a necessidade de encontrarmos caminhos alternativos durante o percurso, ou seja, “caminhos de ida e de volta”. Segundo Bedim (2004, p. 5), essas atitudes tendem à “prudência ecológica devem ser estimuladas, tendo sempre o cuidado de causar o mínimo impacto possível ao longo do percurso, evitando assim que se altere o status quo do ambiente vislumbrado”.

    Nos depoimentos a seguir os alunos destacam as dificuldades do acesso, a possível distância e as paisagens observadas, como nascentes com água potável, gruta, além de animais (formigas e morcegos).

    “É em uma mata fechada na área da escola, trilha que vai até a gruta, não é tão perigoso e nem pouco, tá no intermediário, tem alguns pontos que oferecem perigo por que a gruta é uma descida” (S. F. J., 2B).

    “O percurso foi bem leve, não precisou fazer muito esforços, as estradas eram bem limpas, só não era na parte até ovino, onde precisamos pular algumas cercas e andar no pasto, as paisagens apesar de seca estavam lindas, a gruta era impressionante”. (R. G. S., 2B).

    “Percurso curto mais ou menos 500 m, bem arborizado, subidas, descidas, morcegos, formigas, ar puro, bem prazerosa” (D. F. S., 2B).

    “Local com muitas árvores, em um trecho com muitas formigas, várias espécies de árvores, uma gruta com água potável, corrente, bem bonita (morada dos morcegos)” (R. S. F., 2B).

    “Mata bastante fechada e bonita, muitos barrancos, não foi visto nenhum tipo de animal no local, a não ser os morcegos na gruta” (L. R. S., 2A).

    A trilha é curta, com um percurso de 430 metros indicado a partir do setor da ovinocultura até a Gruta de Arquimedes, sendo um total de 860 metros (ida e volta). Porém, a saída para a trilha do pavilhão pedagógico acrescenta a este percurso cerca de 300 metros, totalizando assim um percurso de 1.160 metros aproximadamente.

A trilha ecológica como possibilidade de Lazer

    Nesta categoria de análise, apontaremos as possibilidades indicadas pelos sujeitos da pesquisa para a trilha ecológica da “Gruta de Arquimedes” se tornar um roteiro turístico ou prática de lazer. Segundo Bedim (2004, p. 4), a trilha interpretativa é um ambiente favorável ao “lazer educativo, em que o aprendizado se torna uma experiência viva. Em cada pedra, em cada pássaro, em cada galho, o sujeito amplia conhecimentos, busca o crescimento pessoal e compreende melhor o mundo em que vive”.

    Dentre as respostas dos alunos, há indicações sobre a infra-estrutura da trilha, ou seja, sobre a necessidade de ainda se realizar algumas adequações no percurso. Vejamos as assertivas a seguir:

    “As possibilidades são boas, pois infra-estrutura tem, mas falta investimento e exploração racional” (A. F. A., 2A).

    “As possibilidades são todas positivas! Um projeto bem desenvolvido e com uma verba pode se transformar em uma área de lazer extremamente de boa qualidade, o local propicia e tem espaço para esta prática, somente necessita ser explorado mais”. (G. H. C., 2A).

    “Tem que limpar mais o local, colocar apoio nas descidas e subidas, etc.” (K. S. P., 2A).

    “Possibilidade depende da boa vontade da instituição em melhorar o local com melhor estrutura” (C. F. G., 2B).

    Outra relevante contribuição são as indicações dos sujeitos quanto às belezas naturais do local visitado e as facilidades de acesso à gruta e nascentes. Vejamos as falas a seguir:

    “(...) favorece várias formas de atividades. Além de ser muito bonito e poder aproveitar a beleza de nossa natureza” (R. F., 2A).

    “(...) é uma trilha tranqüila, pequena e não é fácil de se perder e é uma área bonita de se visitar” (E. M. M., 2A).

    “100% de possibilidade, pois é um lugar perto, que não oferece risco ao visitante, e além disso é muito bonito” (P. G. F., 2A).

    “O percurso percorrido é muito próximo a escola, trilhas feitas que estão bem demarcadas e com placas para orientação, a mata é mais aberta não havendo riscos de desvio de percurso” (J. S. S. C., 2A).

    “(...) pois não exige muito da pessoa por ser um percurso simples, e também é ao redor da escola, até sendo a prática mais fácil por ser perto” (R. G. S., 2B).

    “(...) pois não é longe e a paisagem é muito bonita, além de não exigir tanto o preparo físico” (J. C. O., 2B).

    “(...) porque é uma trilha ecológica ao ar livre, no qual você fica em contato direto com a natureza, observando as árvores, a gruta, enfim a paisagem” (R. S. F., 2B).

    Nota-se também a importância de se ter uma alternativa de lazer na escola, principalmente nos finais de semana, conforme indicam os depoimentos a seguir:

    “É uma ótima ideia, pois na escola não há espaço para lazer, e a trilha possibilita o lazer entre os alunos” (L. R. S., 2A).

    “Seria interessante porque nos finais de semana quase não há área de lazer a não ser futebol e vôlei e quem não gosta? Acho que deveria se tornar uma prática de lazer” (H. E. A. S., 2B).

Além da caminhada contemplativa, os sujeitos indicam outras possibilidades de lazer na trilha da “Gruta de Arquimedes”. Vejamos as falas:    

    “é uma possibilidade a ser pensada, pois tem a ver natureza e esporte e caminhada ecológica” (E. J. O. C., 2A).

    “(...) bom para fazer piquenique, também é uma área boa de lazer” (R. S., 2A).

    “Pode tornar uma caminhada entre amigos, várias competições, momento para pensar ficar sozinho (A. P. V. S., 2A).

    “Organizar para de repente fazer um acampamento, um balanço para haver um entretenimento com a turma, cada um levando algo para compartilhar” (V. M. J., 2B).

    “Fazer um piquenique, área turística, tomar banho, ver os animais e plantas, fotografar, etc.” (W. G. S., 2B).

    “(...) pois há uma grande variação de fauna e flora e ainda a gruta é um lugar de descanso e reflexão para as pessoas” (D. J. A., 2B).

    “Distração, relaxamento, pois convive com a natureza e se distancia do estresse urbano” (D. F. S., 2B).

    Devido às “clareiras” em meio à mata por onde corta a trilha, os sujeitos indicam possibilidades de se realizar piqueniques e acampamentos, além da possibilidade se “tomar banho” nas águas que afloram das nascentes e para descanso ou reflexão.

    Segundo Serrano (2000, apud VASCONCELLOS, 2006, p. 46), “procurar a natureza para lazer, descanso e relaxamento não deve servir para que esqueçamos o humano que marca nosso cotidiano, mas sim para refletirmos sobre ele”. Assim, acrescenta que deve nos ajudar a (re)conhecer e a (re) constituir uma relação com a natureza e com os outros seres da nossa espécie.

    A falta de tempo livre é apontada em um dos discursos como um problema para a realização de atividades de lazer e/ou atividade física regular. Vejamos o depoimento:

    “Eu acho que há poucas possibilidades, pois há poucos horários vagos disponíveis aos alunos, onde nestes horários vagos são usados para realizar tarefas e trabalhos” (L. M., 2B)

    Este dado é interessante, pois o tempo livre que poderia ser dedicado ao lazer ou atividade física é direcionado para atividades voltadas ao trabalho. Segundo Nahas (2006, p. 24), nas civilizações modernas há muitas opções de lazer passivo (televisão, internet, etc.) que tem reduzido muito a parcela de tempo livre em que somos ativos fisicamente. O lazer ativo como danças, caminhadas e jogos ao livre são substituídos por atividades com esforço reduzido e conforto, pois o tempo livre é ocupado pelo labor, o que dispende grande esforço físico e mental.

A trilha ecológica como prática de atividade física regular

    A implantação de uma trilha ecológica requer planejamento, sendo inicialmente considerado o objetivo da trilha e o público-alvo a que se destina. Neste caso, é importante considerar as dificuldades do percurso e as exigências físicas necessárias para completá-lo, pois só assim haverá garantia de segurança e de que os objetivos propostos para o grupo serão cumpridos.

    Considerando as respostas dos sujeitos da pesquisa, que responderam ao questionário pós-visita a trilha da “Gruta de Arquimedes”, podemos fazer uma avaliação das dificuldades do percurso e determinar com maior precisão o grupo-alvo.

    A maioria dos sujeitos afirma que apesar das belezas da trilha e o percurso ser curto, há muitas subidas e descidas íngremes que necessitam de certo preparo físico para vencer os desafios. Vejamos as respostas dos sujeitos:

    “Bom preparo físico, condicionamento físico, um preparo, pois o local consiste de subidas e descidas” (G. H. C., 2A)

    “Tem que ter boa respiração, pois os barrancos exigem muito esforço físico, principalmente as subidas do barranco” (L. R. S., 2A)

    “Um bom alongamento antes, pois o terreno tem altos índices de declividade, usar roupas adequadas. (...) o percurso não é tão cansativo, relativamente curto, só necessário ter uma pessoa como monitora” (E. J. O. C., 2A)

    “O praticante da atividade deve ter uma saúde boa, não havendo problemas de respiração, também alguma outra indisponibilidade, como um braço ou pé lesionado, pois o percurso exige muito em subidas, descidas rápidas e outros. A possibilidade é pelo fácil acesso ao local” (J. S. C., 2A)

    “Ela exige muito porque na ida você tem muitas descidas, aí você precisa apoiar em algo e na subida você deve firmar as pernas, ir apoiando em árvores e sem falar que você malha muito as pernas; seria bom porque você além de ter contato com a natureza estará praticando uma atividade física” (H. E. A. S., 2B)

    “Deve-se ter equilíbrio, um aquecimento para não haver uma distensão ou algo parecido, alongamento, deve-se estar em condições físicas que possa fazer o percurso em perfeitas condições” (V. M. J., 2B)

    As respostas também apontaram a necessidade do percurso ser acompanhado por um monitor, ou seja, transformar a trilha interpretativa em guiada, além de afirmarem que o acesso ao local é fácil, o que facilita a prática da atividade física, podendo se tornar regular. Segundo Vasconcellos (2006, p. 57), “uma trilha guiada é uma atividade interpretativa em que um guia intérprete dirige um grupo de pessoas através de um caminho com paradas pré-estabelecidas, onde um tema é desenvolvido”.

    Veremos a seguir que algumas respostas indicam que apesar das subidas e descidas com inclinação acentuada, as exigências físicas são mínimas, podendo a trilha se tornar um ótimo local para a prática da caminhada ou corridas.

    “As exigências físicas necessárias são mínimas, por ser um caminho pequeno, porém tem algumas subidas e descidas meio pesadas, mas nada tão difícil. Ela pode se tornar atividade física regular, pois a caminhada é uma ótima atividade física” (W. G. S., 2B)

    “Não necessita de muito preparo físico, uma boa hidratação do corpo e boa alimentação” (H. O. F., 2B)

    “Nesse percurso não precisa de muitas mudanças, pois é fácil de se caminhar e só se for para pessoas mais velhas, assim precisará de utensílio de segurança e apoio nas laterais do percurso” (D. J. A., 2B)

    “Não necessita ser um atleta para fazer esse percurso, o que precisa é querer andar, precisa de disposição para trilha, caminhada, etc. Pode ser um bom lugar para realizar atividade física, pois tem várias subidas que ajudam a forçar um pouco e a distância é boa para atividade física” (S. F. J., 2B)

    “É necessário que se tenha disposição, pois na trilha pode se encontrar locais de relevo, é interessante, pois através dessa trilha pode-se realizar atividades de resistência física” (W. L. F., 2B)

    “(...) fazê-lo como uma atividade física, talvez uma caminhada, ou até mesmo uma corrida mais forçada” (R. G. S., 2B)

    Lechner (2006) diz ser necessário construir trilhas em “s” para evitar que se siga a linha de queda do terreno. Alerta ainda que as trilhas em “s” são difíceis de manter e construir, pois os usuários tendem a cortar caminho na direção da trilha, causando danos aos recursos naturais e degradação ambiental em longo prazo. Quando as subidas/descidas íngreme não podem ser evitadas, recomenda-se a construção de degraus ou escadas, o que poderia ser uma alternativa para amenizar as dificuldades da trilha da “Gruta de Arquimedes”. Indica-se ainda que o melhor material para construção das escadas são as pedras devido a sua durabilidade e estabilidade.

    Duas respostas estabelecem uma relação direta do exercício físico com a saúde. Vejamos:

    “(...) bom para fazer exercício físico pra saúde, exemplo, você andar algumas vezes por semana seria uma boa prática para a saúde” (R. S., 2A)

    “É um bom lugar para caminhar e fazer exercícios físicos olhando a natureza e seria bom para a saúde” (E. B. A. S., 2A)

    As respostas apontam para a necessidade de se praticar uma atividade física regular, evitando-se assim o sedentarismo e, consequentemente, doenças cardiorrespiratórias e obesidade.

    Para determinação do público-alvo, duas respostas apontam que o percurso pode ser realizado por pessoas de qualquer idade:

    “A pessoa deve estar apenas com força de vontade, sendo velho, novo ou deficiente, a possibilidade é total porque é maravilhoso, sendo assim bom pra atividades físicas” (P. G. F., 2A)

    “São poucas as exigências físicas, é recomendado para todo tipo de idade. É só se esforçar para subir e descer, desviar dos galhos, controlar a respiração (inspiração e expiração)” (R. S. F., 2B)

    Apenas um sujeito respondeu que havia poucas possibilidades do percurso se tornar adequado para a prática de atividade física regular. Vejamos sua justificativa:

    “É necessário equilíbrio e um preparo físico para subir no caminho de volta, pois as subidas são elevadas. São poucas as possibilidades, pois o caminho não é muito fácil” (J. C. O. S., 2B)

    Conclui-se que o percurso apresenta dificuldades e que não seria indicado para crianças e/ou idosos com pouco preparo físico. O grupo-alvo seria jovens, adultos ou qualquer pessoa com condições físicas mínimas para percorrer o trajeto da trilha.

Considerações finais

    As trilhas ecológicas interpretativas se constituem não apenas num instrumento de educação ambiental, mas também como uma forma de se praticar atividade física regular através das caminhadas ecológicas ou corridas. Além disso, pode ser uma interessante opção de lazer, ocupação do tempo livre, para descanso, relaxamento, reflexão ou contemplação da natureza.

    A trilha com a finalidade de educação ambiental pode ser guiada. Mas, é necessário que haja a opção da trilha ser também autoguiada, ou seja, não necessita de um guia ou intérprete, porém é necessário que tenha informações sempre disponíveis ao público, com placas informativas/chamativas e folhetos (VASCONCELLOS, 2006).

    O IFMT – campus São Vicente possui muitas trilhas semi-abertas e outras por abrir que podem se constituir em roteiros turísticos abertos a visitação. O projeto de demarcação das trilhas ecológicas do campus visa futuramente se tornar um projeto de extensão com formação continuada de monitores (alunos do próprio campus) e manutenção permanente das trilhas. Assim, este projeto poderá atender a comunidade interna, da região e escolas que tenham interesse em participar de atividades recreativas, educativas e ecológicas.

Nota

  1. Caminhada ecológica não é apenas andar no meio do mato. Trata-se de um esporte não competitivo, onde cada participante deve colaborar com o companheiro de aventura para que todos superem os obstáculos e possam atingir o objetivo da chegada. Exige ritmo, equilíbrio e passada regular, sempre devagar. Queremos nos divertir, e não bater recordes. A caminhada é a forma mais básica de aventura. A maioria dos aventureiros mais radicais, como os escaladores ou exploradores de cavernas começaram suas aventuras através da caminhada. Disponível em: http://www.schroeder.sc.gov.br/conteudo/?item=22995&fa=9711&cd=15339

Referências bibliográficas

  • BEDIM, B. P. Trilhas Interpretativas como instrumento pedagógico para a educação biológica e ambiental: reflexões. Anais. BioEd, 2004. Disponível em: http://www.ldes.unige.ch/bioEd/2004/pdf/bedim.pdf Acesso em: 24 de agosto de 2010.

  • BOGDAN, R. C.; BIKLEN, S. K. Investigação qualitativa em educação: uma introdução à teoria e aos métodos. Porto: Porto Editora, 1994.

  • COSTA, V. L.; LUZ-SILVA, N. C. Caminhada ecológica: uma outra abordagem sobre a educação ambiental. Anais do XIII Simpósio de Geografia Física aplicada. Natal, 2007.

  • LECHNER, L. Planejamento, implantação e manejo de trilhas em unidades de conservação. Cadernos de Conservação, ano 3, nº 3. Curitiba-PR: Fundação O Boticário, junho de 2006.

  • LÜDKE, M.; ANDRÉ, M. E. D. A. Pesquisa qualitativa em educação: abordagens qualitativas. São Paulo: EPU, 1986.

  • MARCELLINO, N. C. Lazer e educação. Campinas – SP: Papirus, 1987.

  • NAHAS, M. V. Atividade física, saúde e qualidade de vida: conceitos e sugestões para um estilo de vida ativo. Londrina: Midiograf, 2006.

  • PERES-ESPIRITO SANTO, A. Trilhas ecológicas interpretativas. S/d. Disponível em: http://www.ufpa.br/npadc/gpeea/artigostext/trilhas.pdf, Acesso em: 24 de agosto de 2010.

  • RUSSELL, B. O Elogio ao Ócio. Rio de Janeiro: Sextante, 2002.

  • VASCONCELLOS, J. M. de O. Educação e interpretação ambiental em unidades de conservação. Cadernos de Conservação, ano 3, nº 4. Curitiba-PR: Fundação O Boticário de proteção a natureza, dezembro de 2006.

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