efdeportes.com

Karate-dô: uma história de vida

Karate-do: una historia de vida

Karate-do: a life history

 

*LABIMH-UNIRIO, RJ

**Universidade Estácio de Sá, RJ

(Brasil)

Ms. Helena Figueira*

Dr. José Antonio Vianna**

javianna@hotmail.com

 

 

 

 

Resumo

          O objetivo desta investigação foi verificar a percepção de um mestre de artes marciais sobre os benefícios da luta na formação dos praticantes. Para a coleta de dados foi realizada uma entrevista livre com um brasileiro consagrado monge budista, mestre em artes marciais com 55 anos de prática, graduado doutor em medicina oriental, doutorado em acupuntura. Observou-se que o karate é um instrumento para o desenvolvimento integral do praticante, no entanto, o processo de esportivização da luta pode estar contribuindo para a desvinculação dos princípios éticos e sociais de formação pró-social da formação física e técnica dos praticantes.

          Unitermos: Karate. Esporte de Combate. História oral. Sohaku.

 

Abstract

          The purpose of this research was to assess the perception of a martial arts master on its benefits in the development of the practitioners. To collect the data it was applied a free interview to a Buddhist monk, master in martial arts with 55 years of practice, medical doctor of traditional oriental medicine and PhD in acupuncture. It was observed that karate is a tool for the integral development of the practitioner; however, the process of transforming it in a sportive fight may be contributing to a separation of ethics and social principles of the training pro-social on the physical and technical formation of the practitioners.

          Keywords: Karate. Sports. Oral history. Sohaku.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 15, Nº 154, Marzo de 2011. http://www.efdeportes.com/

1 / 1

Introdução

    Ao contrário do que alguns pensam dos esportes de combate, onde se situam as artes marciais e em particular o Karate-Dô, têm um alto potencial didático e pedagógico. São instrumentos efetivos para o desenvolvimento sócio-afetivo e perceptivo-motor da criança e adulto.

    Dentro da estrutura dos jogos de combate são desenvolvidos aspectos importantes na formação de crianças e jovens, como a percepção, a noção de distância e ritmo, a auto-confiança, entre outros (FIGUEIREDO, 1998). A situação de confronto com regras definidas leva o participante a decidir sobre como os objetivos devem ser alcançados.

    De forma geral os pais procuram fornecer a seus filhos mecanismos para a sobrevivência no meio aquático e para a auto-defesa contra agressões de outras crianças e jovens e de adultos mal intencionados. A auto-defesa é o motivo principal pelo qual 63% dos praticantes – crianças, jovens e adultos, procurem as artes marciais (VIANNA; DUINO, 1999; TWEMLOW, 1996).

    Segundo Sun Tzu, A Arte da Guerra, “quando se conhece o inimigo e a si mesmo não se corre perigo, nem em uma centena de batalhas” (apud FUNAKOSHI, 2005). A afirmação anterior, utilizada em textos de artes marciais, tem sido empregada em livros de auto-ajuda para desenvolver a auto-estima dos leitores. Muitos dos quais procuram nas artes marciais confiança para viver nas grandes metrópoles.

    No contexto das artes marciais é ensinado muito mais do que somente autodefesa. Indivíduos que treinam karate, com o passar do tempo, têm propensão a melhorar seu autocontrole e diminuir a sensação de vulnerabilidade (MADDEN, 1995) e ansiedade (FOSTER, 1997). Sugere-se que no aprendizado dos katas do estilo Shotokan, o predomínio de movimentos lentos nas formas mais avançadas, aumenta a concentração, refletindo melhora na precisão e execução das técnicas (LAYTON; BELL, 1997). Isto se reverte ao longo de anos de prática ininterrupta, não só em benefícios físicos, como também mentais (RAGLIN, 1990; DANIELS; THORNTON, 1992).

    A ligação entre a formação física e mental e a integração do sujeito ao ambiente físico e social, faz parte da filosofia oriental, difundidos na tradição de transmissão oral da cultura oriental e em textos que relatam a história e a filosofia das artes marciais. Encontra-se na literatura que em meados do século V, Bodhidharma, monge indiano, caminhou em direção à China para fundar um mosteiro budista. Praticante e seguidor do budismo de contemplação, o monge desenvolveu técnicas de luta sem armas (Shao Lin Su Kempo), objetivando saúde e auto defesa. Através de exercícios físicos penosos pretendia o fortalecimento do corpo, habitat da paz de espírito e da verdade religiosa (VIANNA, 1996).

    O vínculo da prática de artes marciais com a formação social e afetiva dos praticantes está presente no pensamento e prática de grandes mestres que foram responsáveis por transformações e avanços no processo civilizatório das artes marciais. O mestre Gichin Funakoshi (1869 - 1957), considerado o pai do Karate moderno, afirmou que o objetivo do Karatê não é nem a vitória nem a derrota, mas o aperfeiçoamento do caráter de seus participantes (FUNAKOSHI, 2005). Foi ele, o responsável pela mudança do ideograma chinês kara, fazendo menção às artes marciais chinesas, para o ideograma japonês kara, extraído da filosofia zen, que significa vazio, oco, a neutralidade. E acrescentou o termo “Do” que significa o caminho a ser seguido pelo praticante em busca de si mesmo, dos outros e do mundo físico e social. Assim, o Karate-dô passou a designar “o caminho das mãos vazias” (SASAKI, 1995).

    Ao longo do tempo o karate mudou de sua utilidade como arte marcial para ser utilizado como educação física e manutenção da saúde e qualidade de vida. Atualmente, embora tenham sido alteradas as suas finalidades a prática do karate-do oportuniza aos praticantes e esportistas benefícios físicos, cognitivos e sociais.

    O treino de karate envolve três tipos de habilidades: técnicas básicas (KIHON); seqüência de movimentos pré-determinados, no qual se luta com oponentes imaginários (KATA); e luta dois a dois (KUMITE), são os procedimentos adotados para que por meio do movimento ocorra o desenvolvimento integral do praticante.

    Diversos trabalhos comprovam que a prática regular de karatê, com freqüência de 3 a 5 dias/semana, intensidade acima de 50% V02 máx, e duração contínua de 60 min, estão de acordo com as recomendações do Colégio Americano de Medicina e Esporte (A.D.A., 1993; ACMS, 2007). Deste modo, a prática de karate permite benefícios cardiovasculares, aumento da capacidade aeróbia e perda de gordura corporal para propósito de emagrecimento (SHAW; DEUTSCH, 1982; IMAMURA et al., 1999).

    Em níveis competitivos, o Karatê Tradicional estilo Shotokan, se divide em diversas modalidades individuais e em equipe. Não há, nas diversas categorias, separação por peso, mas apenas por sexo e idade. As categorias de competição do Karate-dô são individuais e por equipe de ambos os gêneros nas modalidades KATA (seqüências predeterminadas de movimentos de ataque e defesa contra vários oponentes imaginários), KUMITE (luta dois a dois com regras definidas), FUKUGÔ (disputas alternadas de kata e kumite), EMBU (seqüência pré-estabelecida de ataques e defesas entre dois oponentes, realizada no tempo total de 1 minuto) (ROSSI et al., 2000).

    A evidência de que a característica do karate como esporte deve ser a autodefesa e a não violência pode ser encontrada na elaboração dos kata que foram sistematizados para ensinar e aperfeiçoar os praticantes. A análise de Layton (1993) de 1.183 técnicas provenientes dos 27 katas da linha Shotokan, verificou que há um predomínio de técnicas de defesa sobre as de ataque. Outro forte argumento neste sentido pode ser encontrado em Funakoshi (2005) que enfatiza que as lutas de karate iniciam e finalizam com um cumprimento de respeito e agradecimento ao companheiro pela oportunidade de partilhar o aprendizado.

    Antes de tudo o karate tem a ver com a construção do caráter. Os princípios tratam da questão do caráter e da espiritualidade, assim como da necessidade de coragem, de honestidade, perseverança e, o que é mais importante, humildade - virtudes que encontram sua expressão mediante a cortesia e o respeito autêntico. Aqueles que buscam a fama com exibições de proezas físicas extravagantes são como os que brincam com os galhos e folhas das árvores, sem atingirem o tronco e a raiz. A perícia, a técnica e a agilidade rapidamente perdem seu valor quando comparadas com a importância de se aprimorar o coração, a mente e o caráter – os verdadeiros elementos que definem a qualidade da vida de alguém (FUNAKOSHI, 2005).

    O maior objetivo é que os efeitos do treinamento ultrapassem os limites do ambiente de treinamento, formando o indivíduo humilde, cortês, crítico, justo e corajoso, capaz de perceber os fatos sem distorção, agindo objetiva e equilibradamente em todos os momentos da vida (VIANNA, 1996).

    Introduzido no Brasil na dezembro de 1960, o karate difundiu-se por todo o país assumindo progressivamente um caráter esportivo e competitivo. Diferente dos esportes mais tradicionais na sociedade brasileira, a popularização do karate não foi acompanhada de uma produção bibliográfica e científica correspondente à sua amplitude e importância, parece ter predominado a tradição oral da cultura oriental de difundir os conhecimentos, hábitos e atitudes individualmente.

    Assim esta investigação pretende contribuir para ampliar e aprofundar os conhecimentos sobre os benefícios da prática do karate na formação dos praticantes. Para tanto, procurou-se resgatar a memória de um personagem que adotou o karate como filosofia de vida e identificar na fala do entrevistado a sua percepção sobre o que deve ser ensinado no karate, por que e para que ensinar.

Metodologia

    O objeto da investigação foi o Dr. Sohaku Raimundo Bastos, monge brasileiro ordenado no Japão, graduado doutor em medicina oriental no mesmo país, bacharel em medicina oriental e Doutor em acupuntura no Sri Lanka. Optou-se neste estudo pela utilização da história de vida tópica (CRUZ NETO, 2002) como estratégia de compreensão do fenômeno em questão. A história oral tem sido utilizada para a compreensão do passado e do presente e para projetar o futuro a partir de representações de sujeitos que guarda em suas memórias a reação vivida dos acontecimentos e fatos históricos descritos pelos meios oficiais ou não (MONTENEGRO, 1992).

    Foi utilizada como instrumento para a coleta de dados a entrevista livre em profundidade. Solicitou-se na entrevista que o Mestre em artes marciais Raimundo Sohaku falasse livremente sobre sua história de vida relacionada às artes marciais, sobre os conhecimentos, comportamentos e valores que o karate trabalha (o que deve ser ensinado no karate, por que e para que), sobre a contribuição das artes marciais na vida dos praticantes e sobre a relação das artes marciais com os esportes de combate.

    Com a autorização do entrevistado para a utilização das informações concedidas para fins científicos, a análise de dados respeitou a capacidade de verbalização do informante (THIOLLENT, 1980).

Resultados

    Atualmente Raimundo Sohaku tem em funcionamento no Rio de Janeiro uma instituição denominada Academia Brasileira de Artes e Ciências Orientais (ABACO) - que possui em paralelo aos cursos de formação em acupuntura e shiatsu, e seus correspondentes ambulatórios - o Colégio Brasileiro de Acupuntura e a Academia de Honno, na qual são mantidas as práticas milenares orientais. O entrevistado começou a praticar artes marciais em 1955, com 12 anos de idade. Hoje é 10º Dan de Jiu-jitsu, 2º Dan de Judô e 8º Dan de karatê. São 55 anos de prática, desde 1955 até 2010.

    Como não existiam escolas de karate no Brasil, quando iniciou o seu envolvimento com as artes marciais, Sohaku praticou outras lutas antes de aprender karate.

    Achei que o jiujitsu era arte de luta e que o judô era um esporte. Tornei-me faixa preta de judô e depois de jiu-jitsu.

    Sou budista desde bem jovem. Buscava a relação das artes marciais com o budismo. Encontrei então o karatê.

    O karatê me mostrava a essência do Budô – caminho do guerreiro. Dediquei-me a ele pelos valores éticos relacionados ao Budô do Japão.

    A perspectiva de Funakoshi da prática do karate como um modo de viver foi incorporado pelo entrevistado.

    Em 69 fui ao Japão com idéia de unir as práticas budistas, a Medicina Oriental e as práticas do Karatê.

    Os japoneses estavam motivados com o milagre econômico e com o êxito do desenvolvimento industrial. Acalentavam a esperança de que o progresso não ameaçaria suas tradições e sua cultura milenar. Diversos movimentos sociais defendiam o soerguimento de valores de sua cultura antiga que estavam sendo sufocados e proscritos no período pós-guerra. No campo das ciências tradicionais, das artes e dos esportes marciais houve um retrocesso imposto pela ocupação americana no Japão.

    Quando de volta ao Brasil, Rio de janeiro, Sohaku inaugurou a Associação Japonesa de Karate-Dô. Entretanto, em 1964, já havia inaugurado junto com um mestre japonês, a primeira academia carioca de karate. Como atleta, na década de 1960, sagrou-se o 1º campeão carioca e campeão no 1º campeonato brasileiro de karate. Por não perceber nas práticas desenvolvidas nas academias e competições esportivas os valores éticos nos quais acreditava, o entrevistado retornou para o Japão em busca da ligação entre o corpo e o espírito.

    As práticas atuais de karate continuam alvo de suas críticas por ter se distanciado dos valores tradicionais orientadores da prática.

    Atualmente ele se tornou uma simples prática esportiva, com empobrecimento à formação de personalidade. Hoje é uma prática deformada com relação ao Karatê-do, embora ainda muito semelhante no aspecto do treinamento mental do praticante.

    O karate aqui é uma prática eminentemente física, como se fosse uma arte marcial.

    Kara = vazio por ser aberto como o céu;

    Te = mão;

    Karate, portanto, significa tanto mãos vazias quanto mãos do céu. Quem o entende como luta o entende como sendo mãos vazias.

    Olhando pelo prisma espiritual o entendemos como mãos divinas. Enfim é uma verdadeira doutrina. É uma formação para vida.

    O karate é percebido pelo entrevistado como um meio para o desenvolvimento sócio-afetivo dos participantes.

    A adolescência, os jovens, são muito beneficiados pelo karate, porque ele incute valores éticos, valores morais e valores afetivos, que, neste segmento etário é primordial.

    A educação oriental caracteriza-se, entre outras coisas, por não se fundamentar apenas na instrução, mas envolve o aspecto ético, moral, e o aspecto afetivo.

    Ao mesmo tempo em que o karate é uma arte bélica, ele incute valores afetivos de irmandade, de fraternidade, de vida. Estes valores obedecem a uma regra principal que é fomentar o bem. Então o karate é uma visão muito altruísta nas relações interpessoais.

    Sohaku acredita que as contribuições do karate encontram-se tanto nos aspecto pessoal quanto social. Os sujeitos bem formados poderiam colaborar na transformação social. No entanto o processo de esportivização do karate parece ter estimulado o afastamento e a ruptura com os valores de formação pró-social.

    Hoje em dia, aqui no ocidente ele é usado como arma ou mesmo como esporte. Se afastou muito destes valores espirituais que privilegiam a vida, o respeito ao próximo, o bem do próximo e o amor ao próximo.

    E estas são regras que poderiam ajudar de forma significativa na nossa sociedade. Sociedade e indivíduo se influenciam mutuamente. A sociedade é um reflexo dos indivíduos que a compõe e, ao mesmo tempo, condiciona a formação destes indivíduos: se intercondicionam.

    Podemos acrescentar que além de exercer influência no meio social, os sujeitos também sofrem as influências do meio em que vivem. É possível que o karate e os seus praticantes sejam reflexos de eventos históricos e sociais.

    O entrevistado atribui ao professor a responsabilidade de resgatar e fortalecer a formação ética e moral dos praticantes.

    O karate bem professado, com um corpo docente que se embase nestes valores éticos, pode ser muito efetivo na formação de jovens e no resgate dos valores éticos, morais e afetivos nos adultos, que deles se distanciaram, ou que jamais os possuíram. Para os adultos este é um treinamento especial, processo de reeducação e de resgate de valores inerentes à natureza humana que foram alienados pelos condicionamentos adquiridos na vida artificial e materialista a que foi submetido.

    Atualmente os indivíduos estão imersos em um mundo racional e materialista, característica da sociedade ocidental. Sohaku realça a necessidade de o homem voltar-se para o sensível, o emotivo e o espiritual e para o desenvolvimento de suas potencialidades.

    O homem tem abdicado de suas potencialidades, as quais são insubstituíveis e de grande valia das relações humanas em geral. Entre estas está o saber intuitivo que é alcançado com a fluidez do coração livre dos excessos emocionais e a clareza da mente livre de racionalizações, propiciando o desenvolvimento das capacidades de discernimento e intuição, bem como o aflorar de potencialidades e talentos latentes. O controle natural das emoções é um outro aspecto a que o homem deve estar atento.

    O egocentrismo presente na busca de status, prestígio e vitórias esportivas a qualquer custo aparecem desencontrados com os princípios de formação integral dos praticantes.

    Um grande problema que encontramos no karatê aqui no Brasil é um enorme contingente de professores, provenientes das mais diversas áreas, inclusive da educação física, que estão mais preocupados com a qualidade técnica e com a performance desportiva dos seus alunos, e não estão preocupados necessariamente com os valores desta cultura milenar, ancestral, perdendo portanto muito desta tradição fantástica, que afortunadamente ficou gravada em minha vida e em minha personalidade.

    Portanto, o profissional de boa formação é aquele que é discípulo de mestres que resguardaram e cultivaram estes valores.

    Ao que tudo indica, a arte marcial karate passou por um processo civilizador até ser utilizada como educação física. No entanto, o processo de esportivização da luta transformando-a em esporte de combate parece estar colocando o rendimento esportivo como o objetivo final da prática. Assim, o karate é um instrumento para a transmissão e assimilaçã dos valores, comportamentos e atitudes pró-sociais

Conclusão

    Na entrevista com o Mestre de Artes Marciais prof. Sohaku percebe-se que este mestre tem feito, a 55 anos de prática da arte milenar oriental do karate, próximo de sua forma original, uma filosofia de vida. Em sua trajetória sublinha que as tradições orientais deram uma grande contribuição à humanidade, no sentido de apontar caminhos que podem levar ao auto-conhecimento (SOHAKU, 2004). Falando livremente sobre temas como sua história de vida relacionada às artes marciais, sobre os valores que o karate trabalha, sobre a contribuição das artes marciais na vida dos praticantes e sobre o karate como esporte de combate, apresentou-nos esta arte marcial deve ser enriquecida de valores nobres, éticos, morais, afetivos e espirituais, conforme preconizaram os mestres ancestrais desta arte.

    A prática do karate foi apresentada como formadora e retificadora de caráter, sendo, portanto, grandemente indicada sua prática para qualquer idade, em qualquer época, desde que preservados seus valores reais. Confirmando a perspectiva de que o karate é uma atividade a ser praticada por toda a vida (FUNAKOSHI, 2005).

    Os argumentos de Sohaku confirmam a perspectiva de Gichin Funakoshi quando este afirma que o objetivo maior do karate não é nem a vitória nem a defesa, mas o aperfeiçoamento do caráter dos seus participantes (FUNAKOSHI, 2005). Os praticantes não devem formados apenas nos aspectos técnicos - socos, chutes e bloqueios – e habilidades motoras e valências físicas, mas devem ser desenvolvidos também os aspectos espirituais, sociais e cognitivos da prática. O treinamento pode possibilitar o desenvolvimento da capacidade de persistência, da paciência, da coragem e do equilíbrio emocional, oportunizando a auto-confiança, o auto controle, a auto realização e a auto recuperação, bem como a percepção e diversas qualidades intelectuais. O treinamento de karate pode formar uma personalidade firme e equilibrada (VIANNA, 1996). Em síntese, ao treinar karate trata-se de lapidar não apenas a arte marcial, mas a si mesmos (FUNAKOSHI, 2005) e o mundo.

    Investigações que observem o impacto dos esportes de combate na formação dos esportistas podem colaborar na compreensão deste fenômeno.

Agradecimentos

    Ao Prof. Sohaku que gentilmente se disponibilizou a oferecer seus ensinamentos na entrevista que originou este estudo.

Referências

  • ACMS. Diretrizes do ACMS para os testes e sua prescrição. Trad. Giusepe Taranto. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2007.

  • A.D.A. Position of the American Dietetic Association and the Canadian Dietetic Association: nutrition for physical fitness and athletic performance for adults. J. Am. Diet. Assoc [S.I.], v. 93, n. 6, p. 691-696, 1993.

  • CRUZ NETO, O. O trabalho de campo como descoberta e criação. In: MINAYO, M. C. S. (Org.) Pesquisa social: teoria, método e criatividade. Petrópolis, RJ: Vozes, 2002.

  • DANIELS, K.; THORNTON, E. Length of training, hostility and the martial arts: a comparison with other sporting groups. Brit. J. Sport Med. [S.I.], v. 25, n. 3, p. 118-120, 1992.

  • FIGUEIREDO, A. A. Os deportos de combate nas aulas de Educação Física. Horiz.1998.

  • FOSTER, Y. A. Brief aikido training versus karate and golf training and university student’s scores on self-esteem, anxiety, and expression of anger. Perc. Motor Skills [S.I.], v. 84, p. 609-610, 1997.

  • FUNAKOSHI, G. Vinte Princípios Fundamentais do Karatê: O Legado Espiritual do Mestre. Pensamento - Cultrix, 2005.

  • IMAMURA, H. et al. Oxygen uptake, heart rate and blood lactate response during and following karate training. Med.Sci Sports and Exerc. [S.I.], v. 31, n. 2, p. 324-347, 1999.

  • LAYTON, C. Blocking and countering in traditional shotokan karate kata. Perc. Motor Skills [S.I.], v. 76, p. 641-642, 1993.

  • LAYTON, C.; BELL, V. C. F. Slow movement as a function of advancement in the shotokan karate kata set. Perc. Motor Skills [S.I.], v. 84, p. 1009-1010, 1997.

  • MADDEN, M. E. Perceived vulnerability and control of martial arts and physical fitness students. . Perc. Motor Skills [S.I.], v. 80, p. 899-910, 1995.

  • MONTENEGRO, A T. História oral e memória: a cultura popular revisitada. São Paulo: Contexto, 1992.

  • RAGLIN, J. S. Exercise and mental health: benefical and detrimental effects. Sports Med. [S.I.], v. 9, n. 6, p. 323-329, 1990.

  • ROSSI, L. et al. Avaliação nutricional de atletas de karatê. Rev..Bras.Ativ. Fís. Saúde. [S.I.], 2000.

  • SASAKI, Y. Karatê-Dô. São Paulo: CEPEUSP, 1995.

  • SHAW, D. K.; DEUTSCH, D. T. Heart rate and oxygen uptake responses to performance of karate kata. J. Sports Med. [S.I.], v. 22, p. 461-468, 1982.

  • SOHAKU, R. S. Honno - A sabedoria da natureza Humana. 1a. ed. Rio de Janeiro: Sohaku-In, 2004.

  • THIOLLENT, M. Crítica metodológica: investigação social e enquete operária. São Paulo: Pólis, 1980.

  • TWEMLOW, S. W. et al. An analysis of students’ reasons for studying martial arts. Perc. Motor Skills [S.I.], v. 83, p. 99-103, 1996.

  • VIANNA, J. Valores tradicionais do karate: uma aproximação histórica e interpretativa. Coletânea do IV Encontro Nacional de História do Esporte, Lazer e Educação Física. Belo Horizonte: UFMG/EEF [S.I.], p. 552, 1996.

  • VIANNA, J. A.; DUINO, S. R. Perfil desportivo dos praticantes de artes marciais: a expectativa dos iniciantes. Motus Corporis [S.I.], v. 6, n. 2, p. 113-124, 1999.

Outros artigos em Portugués

  www.efdeportes.com/
Búsqueda personalizada

EFDeportes.com, Revista Digital · Año 15 · N° 154 | Buenos Aires, Marzo de 2011
© 1997-2011 Derechos reservados