efdeportes.com

Incidência de suplementação esportiva em 

academias do município de Patos de Minas, MG

Incidencia de la suplementación deportiva en gimnasios del municipio de Patos de Minas, MG

 

*Faculdade de Ciências da Saúde

Centro Universitário de Patos de Minas, UNIPAM

**Laboratório de Fisiologia do Exercício, LAFISE

Universidade Federal de Minas Gerais, UFMG

***Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial, SENAC

(Brasil)

Natália Carvalho Gonçalves*

Cristiano Lino Monteiro de Barros* **

Patrícia Mendes Silva***

Mariluce Ferreira Romão*

Aline Cardoso de Paiva*

cristianolino@gmail.com

 

 

 

 

Resumo

          A nutrição no esporte tem sido foco de interesse popular, relacionando informações sobre saúde, alimentação e suplementação esportiva. Partindo deste pressuposto, objetivou-se, nesta pesquisa, avaliar o consumo de suplementos entre indivíduos freqüentadores de academias de ginástica, na cidade de Patos de Minas – MG, no período de julho a agosto de 2010. Inicialmente, os voluntários responderam a um questionário, referenciando os dados pessoais, a atividade física praticada, e o uso de suplementos esportivos (tipo, dosagem e freqüência). Posteriormente, através de recordatório, no período de 24 horas, foi registrado o consumo alimentar, especificando horário, quantidade e tipos de alimentos consumidos. Tais informações visaram inferir a necessidade ou não de suplementação. Logo, os voluntários foram submetidos a uma avaliação antropométrica, e composição corporal. Participaram do estudo 30 voluntários adultos, sendo a maioria do sexo masculino. A maioria dos voluntários, (94%) praticava somente musculação, enquanto 6%, também praticava outras atividades aeróbicas. Os suplementos mais utilizados foram: albumina (13%), Whey Protein (13%) e maltodextrina (10%). A média das calorias diárias ingeridas foi de 2325,43 ± 921,76 kcal e a média de ingestão protéica foi de 1,53 ± 0,67g/kg de peso, sem adição dos suplementos. Estes valores mostram que o consumo de proteínas está dentro da recomendação (1,4 a 1,8 g/kg de peso) da Sociedade Brasileira de Medicina Esportiva, não justificando o uso de suplementos protéicos nestes desportistas.

          Unitermos: Atividade física. Recursos ergogênicos. Proteína.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 15, Nº 154, Marzo de 2011. http://www.efdeportes.com/

1 / 1

Introdução

    Os processos gerais de ingestão e conversão de substâncias alimentícias em nutrientes, conhecido por nutrição, são utilizadas na manutenção das funções orgânicas14.

    Alimentar de forma equilibrada conduz o atleta não só à melhor performance, como também, à redução de fadiga, lesões, extensivo ao reparo dos tecidos em tempo hábil, além de garantir os depósitos gerais de energia corporal. Tal ocorrência, em condições normais, dispensaria o uso de suplementos alimentares, salvo em situações especiais ou para atletas de alto nível, ressaltando o maior aporte durante o período de treinamento intensivo e em competições, havendo, portanto, reais necessidades nutricionais aditivas5.

    A nutrição no esporte tem sido foco de interesse popular, relacionando informações sobre saúde, alimentação e suplementação. Partindo deste pressuposto, tornam-se necessários maiores esclarecimentos sobre a necessidade ou não da utilização dos suplementos14, sinalizando uma área promissora em investigação12.

    Tendo em vista os benefícios dos macro e micronutrientes, têm sido desenvolvidos inúmeros recursos ergogênicos (nutricionais, farmacológicos, fisiológicos, psicológicos, biomecânicos e mecânicos)1,14, sugerindo efeitos alusivos ao aumento da massa muscular e diminuição da gordura corpórea15. A ausência de comprovação dos efeitos suplementares químicos, minerais, vitamínicos e protéicos, não minimiza a utilização desses produtos pelos atletas4.

    No Brasil, tem sido observado o uso abusivo de suplementos e drogas, em ambientes típicos da prática de exercícios físicos, principalmente em academias de ginástica e associações esportivas, na maioria das vezes em condições ilegais, inexistindo prescrição médica ou orientação de nutricionista5.

    Objetivou-se, nesta pesquisa, avaliar o consumo de suplementos entre indivíduos freqüentadores de academias de ginástica, na cidade de Patos de Minas – MG, no período de julho a agosto de 2010.

Materiais e métodos

Amostra

    O presente estudo foi realizado em quatro academias de ginástica, no município de Patos de Minas – MG, no período de julho a agosto de 2010.

    Os voluntários assinaram um termo de consentimento livre e esclarecido, informando todos os procedimentos, aos quais seriam submetidos. O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética local.

    Como critério de inclusão na amostra, os indivíduos deveriam estar matriculados em academias de ginástica, fazer utilização de algum tipo de suplemento esportivo, e ter disponibilidade para participar e contribuir com a pesquisa.

    A coleta dos dados aconteceria, impreterivelmente, antes da prática da atividade física, a fim de validar a avaliação antropométrica, que feita em repouso, tem maior fidedignidade.

    Foram entrevistados 30 indivíduos, sendo 28 homens e duas mulheres, na faixa etária de 23 ± 34,11 anos.

Procedimentos

    Inicialmente, os voluntários responderam a um questionário, referenciando os dados pessoais, a atividade física praticada, e o uso de suplementos esportivos (tipo, dosagem e freqüência).

    Posteriormente, através de recordatório, no período de 24 horas, foi registrado o consumo alimentar, especificando horário, quantidade e tipos de alimentos consumidos. O objetivo de tais informações foi inferir a necessidade ou não de suplementação.

    Logo, os voluntários foram submetidos à avaliação antropométrica, permanecendo em posição ortostástica10, identificando a massa corporal (kg) (balança eletrônica microdigital Plennaâ com capacidade de 150 kg, e precisão de 100 g); a estatura (m) (antropômetro vertical milimetrado, com escala de 0,5 cm), dobras cutâneas (mm) (adipômetro CescorfÒ), e circunferência da cintura (cm) (fita métrica inextensiva e inelástica).

    O Índice de Massa Corporal (IMC) foi calculado a partir da relação entre massa corporal e estatura, visando o diagnóstico do estado nutricional7.

    A circunferência da cintura (CC) foi medida ao nível de 2,5 cm da cicatriz umbilical abaixo da costela, na linha média axilar, a fim de determinar o risco de desenvolvimento de doenças cardiovasculares10.

    De acordo com a medida em CC, os indivíduos foram classificados em nível 1 (CC > 80 cm em mulheres e CC > 94 cm em homens) indicando risco para morbidades associadas à obesidade; nível 2 (> 88 em mulheres e > 102 em homens) apresentando risco alto para as morbidades associadas à obesidade11.

    Foram mensuradas as dobras cutâneas biciptal, triciptal, suprailíaca e subescapular, de acordo com o protocolo de Lohman et al. (1991)9, e, por conseguinte, utilizadas para o cálculo do percentual de gordura, segundo a referência de Lohman et al. (1992)8. A composição corporal foi estimada pelo somatório de quatro dobras cutâneas (biciptal, triciptal, subescapular e supra-ilíaca), baseada no método de Durnin e Womersley (1974)6.

    Para análise estatística dos dados foi utilizado o programa Epi Info 3.4.3, considerados significativos os valores de p < 0,05.

Resultados

A prática de atividade, objetivos e utilização de suplementação

    A maioria dos voluntários, representando 94% da amostra, praticava somente musculação, enquanto 6%, também praticava outras atividades aeróbicas (Figura 1).

Figura 1. Voluntários praticantes de musculação e outras atividades aeróbias, além de musculação, em quatro academias de Patos de Minas, MG, no período de julho a agosto de 2010.

    Dos entrevistados, 33% freqüentavam academia há mais de 4 anos, sendo 63% habitualmente cinco vezes por semana, uma hora diária em 50% dos casos, com objetivo de hipertrofia muscular, sinalizando maior interesse na prática de atividade física, como demonstra 54% a Figura 2.

Figura 2. Objetivos na prática de atividade física, dos voluntários avaliados em quatro academias de Patos de Minas, MG, no período de julho a agosto de 2010

    Dentre os suplementos ingeridos: Animal Mega Pec, BCAA, Creatina, EFA, Glutamina, Dextrose, Massa Miller, Whey Barra Proteína, Mega Massa, NO3, Faser 2, Termoprol, Nutri Masssa, Top Mass e Proteicon® houve relatos de maior utilização proteica, uma vez ao dia, por 37% dos entrevistados.

Figura 3. Suplementos mais utilizados pelos entrevistados, em quatro academias de Patos de Minas – MG, no período de julho a agosto de 2010

    Apesar de somente 6,7% dos indivíduos terem relatado restrição dietética, 50% objetivava emagrecimento, e 50% a manutenção do peso, bem como, 50% foram orientados por nutricionista e 50% pelo senso comum.

Avaliação antropométrica

    A massa corporal média da amostra foi 75,80 ± 10,91 kg, variando de 60 kg a 101,10 kg. A média da estatura foi 1,76 ± 0,06 m (mínimo = 1,60 m, máximo = 1,91 m).

    O IMC médio foi 24,65 ± 3,00 kg/m2 oscilando de 19,88 kg/m2 a 32,64 kg/m2. De acordo com o estado nutricional, trata-se de 53,3% de pessoas eutróficas, e em contrapartida, 43,3% com sobrepeso. 96,7% da amostra não apresentaram riscos de doenças cardiovasculares através do parâmetro CC.

    O percentual de gordura corporal apresentou valor mínimo de 10,50%, e máximo de 35,90%, com média de 19,20 ± 5,22%. Conforme observado na Figura 4, 76,7% dos voluntários estavam acima da média, em relação aos valores referenciais de Lohman et al. (1992)8, indicando inadequação alimentar e suplementar.

Figura 4. Classificação do percentual de gordura dos entrevistados em quatro academias de Patos de Minas, MG, no período de julho a agosto de 2010.

Avaliação da ingestão alimentar

    O cálculo médio das calorias ingeridas, diariamente, foi de 2325,43 ± 921,75 kcal/dia, e estatisticamente, o VET (Valor Energético Total) foi de 2926,99 ± 254,07 Kcal/dia.

    A média da ingestão de proteína (em grama) por quilo de peso foi de 1,53g ± 0,67g, sem adição de suplementos (Figura 5).

Figura 5. Consumo de proteína pelos entrevistados, por quilo de peso, em quatro academias de Patos de Minas, MG, no período de julho a agosto de 2008.

Discussão

    Em estudo realizado com 388 indivíduos praticantes de atividade física em academias2, 43% utilizavam produtos protéicos apresentando similaridade ao presente estudo.

    A Coordenação de Vigilância Sanitária do Ministério da Saúde3, determina que os suplementos sejam apenas vitaminas ou minerais combinados ou isolados (não extensivos a carboidratos, proteínas e lipídios), e que não ultrapassem 100% da Ingestão Diária Recomendada (IDR)3. Acima destes valores são enquadrados como medicamentos, só podendo ser vendidos com receita médica, o que foi observado em 50% dos casos nesta pesquisa.

    Segundo a SBME (Sociedade Brasileira de Medicina do Esporte) a indicação de proteína para atletas de força, é de 1,4 a 1,8 g/kg de peso5, demonstrando que os entrevistados deste estudo não necessitam de suplementação.

    Os suplementos importantes para a atividade física são: nutricionais, farmacológicos e fisiológicos. Os nutricionais aumentam a energia e a massa muscular. Os farmacológicos apresentam funções endócrinas, parecendo aumentar a capacidade física e, portanto qualidade de vida. Os fisiológicos são substâncias capazes de intensificar os processos fisiológicos naturais que geram potência, não sendo drogas em si, porém, proibidos pelo Comitê Olímpico Internacional13. Como neste estudo, a grande utilização dos recursos ergogênicos sinaliza interesse de melhor performance, estética e ativação metabólica.

    Conforme dados coletados em Belém, relata-se que 54% dos indivíduos entrevistados, utilizavam suplementos nutricionais sem indicação de um profissional, e que seria suficiente, na maioria das análises, uma ingestão energética em torno de 15% de proteínas de alto valor biológico, sem necessidades adicionais2, corroborando com a presente compilação.

    Existem várias substâncias no mercado, que afirmam induzir o aumento de massa muscular, a diminuição de tecido adiposo, e a melhora do desempenho esportivo. Isso incentiva o praticante de atividade física ao consumo ilusório desses produtos, podendo ocasionar sérios riscos a saúde15.

    O excesso de nutriente no organismo pode ocasionar distúrbios renais, hepáticos, diminuição do desempenho sexual, tonteira, enjôos, irritação, insônia e acne12.

Conclusão

    Conclui-se que há grande utilização de suplementação, por indivíduos freqüentadores de quatro academias do município de Patos de Minas – MG, entrevistados no período de julho a agosto de 2010, com maior utilização protéica, e sem indicação de um profissional médico ou nutricionista na metade dos casos. Conjetura-se que uma alimentação equilibrada supra as necessidades metabólicas minimizando os efeitos deletérios do excesso de nutrientes no organismo.

Referências

  1. ALVES LA. Recursos ergogênicos naturais. In: Biesek S, Alves, LA, Guerra I. Estratégias de nutrição e suplementação no esporte. São Paulo: Manole,cap.13, p.281-318, 2005.

  2. ARAÚJO ACM, SOARES YNG. Perfil de utilização de repositores protéicos nas academias de Belém. Revista de Nutrição, 12(1):5-19, 1999.

  3. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância Sanitária. Portaria no. 33 jan./98 e no. 222 mar./1998.

  4. BUCCI L R. Auxílios ergogênicos nutricionais. In: Wolinsky I; Hickson J, James F. Nutrição no Exercício e no Esporte. 2.ed. São Paulo: Roca, 2002. cap.14, p.379-444.

  5. CARVALHO T et al. Diretriz da Sociedade Brasileira de Medicina do Esporte: Modificações dietéticas, reposição hídrica, suplementos alimentares e drogas: comprovação de ação ergogênica e potenciais riscos para a saúde. Revista Brasileira de Medicina do Esporte, 9(2):43-56, 2003.

  6. DURNIN J, WOMWESLEY J. Body fat assessed from total body density and its estimation from skinfold thickness: measurements on 481 men and women aged from 16 to 72 years. Revista Brasileira de Nutrição, 12, 1974.

  7. LEE RD, NIEMAN DC. Nutritional assessment. 2. ed. St Louis, 1996.

  8. LOHMAN TG. Advances in body composition assessment. Current issues in exercise science series. Monograph n.3. In: Champaing IL. Human Kinetics, 1992.

  9. LOHMAN TG, ROCHE AF, MARTORELL R. Anthropometric standardization reference manual. Abridged; 1991. p.90.

  10. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Vigilância Alimentar e Nutricional – SISVAN: orientações básicas para a coleta, o processamento, a análise de dados e a informação em serviços de saúde. Série A – Normas e Manuais Técnicos. Brasília, 2004.

  11. PEIXOTO MRG et al. Circunferência da cintura e índice de massa corporal como preditores da hipertensão arterial. Arquivos Brasileiros de Cardiologia. 87(7):462-70, 2006.

  12. PEREIRA RF, LAZOLO FM, HIRSCHBRUCH MD. Consumo de suplementos por alunos de academias de ginástica em São Paulo. Revista de Nutrição, 16(3): 265-72, 2003.

  13. ROSE EH et al. Uso de medicamentos no esporte. Comitê Olímpico Brasileiro: Departamento Médico. 3.ed. Rio de Janeiro, 2003.

  14. SANTOS MAA, SANTOS RP. Uso de suplementos alimentares como forma de melhorar o rendimento nos programas de atividade física em academias de ginástica. Revista Paulista de Educação Física, 16(2):174-85, 2002.

  15. TIRAPEGUI J, CASTRO IA. Introdução à suplementação. In: Tirapegui J. Nutrição, metabolismo e suplementação na atividade física. São Paulo: Atheneu, 2005. cap.10, p.131-136.

Outros artigos em Portugués

  www.efdeportes.com/
Búsqueda personalizada

EFDeportes.com, Revista Digital · Año 15 · N° 154 | Buenos Aires, Marzo de 2011
© 1997-2011 Derechos reservados