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Deficientes visuais praticantes de goalball: avaliação do estado nutricional

Discapacitados visuales jugadores de goalball: evaluación del estado nutricional

 

*Acadêmica do curso de graduação em Nutrição

e bolsista do Programa de Educação Tutorial, PET Nutrição (SESu/MEC)

da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).

**Doutora em Ciência dos Alimentos

Professora do Departamento de Nutrição

da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)

(Brasil)

Hellin dos Santos* | Mayara Schulz*

Natália Durigon Zucchi* | Taymara Cristina Abreu*

Shaline Caldart* | Juliana de Abreu Gonçalves*

Bárbara Blauth Machado* | Jéssica Müller*

Martha Luisa Machado* | Tailane Scapin*

Thayane Schweitzer* | Francilene Gracieli Kunradi Vieira**

frankunradi@gmail.com

 

 

 

 

Resumo

          O objetivo deste estudo foi avaliar o estado nutricional de deficientes visuais praticantes de goalball da cidade de Florianópolis. O estudo foi realizado com nove portadores de deficiência visual praticantes de goalball, com idade entre 18 e 39 anos. Aplicou-se uma anamnese alimentar através de entrevista semi-estruturada e foram aferidas as medidas de peso, estatura e dobras cutâneas. Calculou-se o IMC e o percentual de gordura corporal. Observou-se um IMC médio de 26,3 Kg/m2 e um percentual médio de gordura corporal elevado. Notou-se baixa frequencia de consumo diário de frutas, verduras e alimentos integrais e frequente consumo de frituras, açúcar e sal de adição e bebidas alcoólicas. Estes resultados ressaltam a importância da atuação dos profissionais de nutrição com o intuito de melhorar a qualidade da alimentação que associada à prática de exercícios físicos podem maximizar o desempenho esportivo dos jogadores.

          Unitermos: Antropometria. Alimentação. Goalball. Deficiente visual.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 15, Nº 154, Marzo de 2011. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    Deficiência visual é um termo empregado para referir-se à perda visual que não pode ser corrigida com lentes por prescrição regular (WHALEY; WONG, 1999). A Constituição Federal Brasileira assegura diversos direitos a pessoas com deficiências, entre os quais estão os cuidados com a saúde (BRASIL, 1988). A modalidade esportiva goalball insere-se neste contexto, como um instrumento para a integração do indivíduo à sociedade, auxiliando no cuidado e na manutenção da saúde.

    A alimentação e o estado nutricional de praticantes de atividade física podem refletir tanto o estado de saúde como predizer o desempenho e resistência exigida no emprego de determinadas modalidades esportivas associadas ao treino (SCHNEIDER et al., 2004). Os cuidados nutricionais em pessoas com deficiência devem ser redobrados, pois estas são mais suscetíveis a apresentar osteoporose (CARVALHO et al., 2001), cálculo renal, alteração do metabolismo dos carboidratos, proteínas, lipídios e maior probabilidade de desenvolver doenças cardiovasculares (SPUNGEN et al., 1993; BAUMAN et al., 1992; KOCINA, 1997).

    Apesar da importância do exercício físico e da nutrição adequada, na melhora da qualidade de vida, ser bem descrita na literatura, há poucos estudos avaliando o estado nutricional e o consumo alimentar de desportistas com deficiências. Alguns autores (BARRETO et al., 2008; LEVANDOSKI; CARDOSO, 2008) ressaltam a ausência de trabalhos sobre o assunto, gerando dificuldades à realização de uma análise aprofundada dos resultados encontrados. Neste sentido, o presente estudo visa avaliar o estado nutricional de deficientes visuais praticantes de goalball da cidade de Florianópolis.

Casuística e métodos

    Foi realizado um estudo transversal com nove indivíduos, sendo duas (22,3%) mulheres e sete (77,7%) homens, deficientes visuais praticantes de goalball, vinculados à Associação Catarinense de Esportes Adaptados, localizada no município de Florianópolis.

    Através de uma entrevista semi-estruturada, gravada em fita cassete e posteriormente transcrita, foram coletados dados pessoais, sócio-demográficos, culturais e de consumo alimentar. Foi realizada uma análise qualitativa do consumo alimentar através da aplicação de um questionário de consumo alimentar habitual.

    Para a obtenção dos dados antropométricos foram aferidas as medidas de peso, altura e dobras cutâneas. As aferições foram realizadas antes do treino, no período da manhã pelo mesmo avaliador, sendo as dobras aferidas no lado direito do corpo, realizando-se 3 medidas alternadas em cada local para obtenção do valor médio como escore final, com o intuito de garantir a confiabilidade dos dados obtidos.

    O peso corporal foi aferido em balança digital da marca Plenna®, modelo Sport, com capacidade de 150 Kg e precisão de até 100 gramas, nivelada ao chão. Os jogadores foram medidos descalços, sem adornos e com mínimo de roupas possível. A estatura foi medida através de um estadiômetro marca Alturexata®, com precisão milimétrica, com os participantes em posição ortostática, com os pés unidos e olhando para o horizonte.

    O Índice de Massa Corporal (IMC) foi obtido a partir do peso (Kg) dividido pela estatura (metros) ao quadrado, sendo utilizados os pontos de corte segundo a World Health Organization (WHO, 1997).

    Para obtenção das dobras cutâneas foi utilizado um adipômetro da marca Sanny®. Em mulheres, foram medidas as dobras axilar média, suprailíaca, coxa e perna medial. Em homens, foram aferidas as dobras triciptal, subescapular, suprailíaca e perna medial. O percentual de gordura corporal (% GC) foi calculado através da aplicação do valor da densidade corporal (DC) na Fórmula de Siri (1961). A DC, por sua vez, foi determinada através das fórmulas propostas por Petroski (1995) para adultos brasileiros. A classificação dos participantes quanto ao % GC foi realizada segundo os pontos de corte propostos por Heyward & Stolarczyk (2000).

    Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) (Protocolo nº 690/2010) e todos participantes assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido.

Resultados e discussão

    Participaram do estudo nove deficientes visuais praticantes de goalball, sendo duas (22,3%) mulheres e sete (77,7%) homens. Na tabela 1 estão apresentados os dados relativos à idade, antropometria e ao estilo de vida dos indivíduos de acordo com o gênero.

Tabela 1. Características relativas à idade, antropometria e ao estilo de vida de jogadores de goalball. Florianópolis/SC, 2010.

    Os resultados estão expressos como *Média ± Desvio Padrão (Mínimo – Máximo) ou **Número (Porcentagem).

    De acordo com o IMC, uma mulher foi diagnosticada com sobrepeso e a outra com obesidade. Entre os homens, apenas um apresentou diagnóstico de sobrepeso, apresentando os demais peso adequado. Este resultado é semelhante ao observado no estudo de Barreto et al. (2008) os quais analisaram o IMC de praticantes de natação com deficiência física e visual e observaram que todas as mulheres encontravam-se com sobrepeso.

    Os resultados deste estudo demonstram que apesar do IMC ter revelado que a maioria dos homens apresenta-se de acordo com os padrões de normalidade, observou-se uma classificação elevada do % GC em cinco dos sete homens avaliados. Entre as mulheres, ambas apresentaram % GC elevado, confirmando o diagnóstico de sobrepeso e de obesidade obtidos a partir do IMC. Genari & Zanoni (2007) encontraram resultados semelhantes ao avaliar jogadores mesatenistas portadores de deficiência física. Apesar de a gordura corporal adicional poder servir como proteção desejável em situações de contato (defesa) como o goalball, valores percentuais de gordura corporal acima dos valores recomendáveis podem interferir no desempenho esportivo de um modo geral. Além disso, valores de gordura corporal elevados podem também estar associados ao surgimento de diversas doenças crônicas. De acordo com Teixeira et al. (2008), esta situação pode exigir o aumento da intensidade de treinamento e a adesão de práticas alimentares mais saudáveis pelos jogadores.

Além da gordura corporal, o consumo de álcool observado em 66,6% (n = 6) dos participantes, também pode estar influenciando o desempenho físico, uma vez que os efeitos depressores do álcool sobre o sistema nervoso central incluem uma menor coordenação física, tempos de reação mais lentos e menor alerta mental (SARTORI et al., 2002).

    As características relativas aos hábitos alimentares dos participantes do estudo estão apresentadas na tabela 2.

Tabela 2. Características relativas aos hábitos alimentares de jogadores de goalball. Florianópolis/SC, 2010

    Todos relataram realizar pelo menos as três grandes refeições diárias (café da manhã, almoço e jantar), no entanto apenas três realizam, além destas, dois lanches diários (lanche da manhã e lanche da tarde), conforme recomendado pelo Guia Alimentar para a População Brasileira (2006). Resultados semelhantes foram encontrados no estudo de Santos & Bastos (2007), onde as três grandes refeições eram realizadas por todos os praticantes de goalball. Estes autores também observaram que cerca de 69 % da amostra não ingeria qualquer alimento no lanche da tarde. O reduzido número de refeições pode estar associado ao excesso de peso e gordura corporal, uma vez que o consumo de grande volume de alimentos nas refeições realizadas parece estar associado à mais rápida formação de gordura no corpo (BRAY, 1992).

    Todas as mulheres e somente um dos homens consomem frutas diariamente. As verduras são consumidas diariamente por sete jogadores. O consumo regular de uma variedade de frutas, legumes e verduras, juntamente com alimentos integrais, garante a oferta diária da maioria das vitaminas e minerais aumentando a resistência às infecções (BRASIL, 2006).

    No que diz respeito aos alimentos integrais, ricos em fibras, apenas dois (22,2%) jogadores relataram o consumo habitual. Este resultado também pode estar associado ao estado de sobrepeso e obesidade encontrados no estudo, uma vez que o consumo adequado de fibras está associado à diminuição da absorção de gorduras e à saciedade. Estas propriedades fisiológicas são essenciais para a prevenção e o tratamento do excesso de peso (LIMA, et al., 2004).

    Em relação ao consumo de sal, açúcar e frituras o Guia Alimentar para a População Brasileira (BRASIL, 2006) recomenda que este seja feito com moderação. No presente estudo, o uso de sal na salada e nas preparações prontas, além de temperos industrializados, faz parte do hábito diário de todos os participantes. Com relação ao açúcar, somente uma pessoa relatou não adoçar bebidas. As frituras estão presentes duas ou mais vezes na semana na alimentação de 66,6 % (n = 6) dos participantes. Gorduras e açúcar consumidos em excesso podem levar ao sobrepeso e à obesidade (BRASIL, 2006), fato que pode estar correlacionado ao IMC e ao % GC elevados encontrados neste estudo.

    Neste estudo contatou-se também que 71,4% (n = 5) dos homens e todas as mulheres ingerem água no intervalo entre refeições. O consumo de água é essencial, uma vez que a mesma é necessária às atividades metabólicas do organismo. Além disso, praticantes de atividade física perdem muita água por meio da transpiração, o que ressalta a importância da hidratação adequada para o desempenho aos exercícios e para a saúde (CUNHA; VIEBIG, 2008).

Conclusão

    Apesar da maioria dos atletas se apresentarem dentro dos padrões de normalidade segundo o IMC, 77,7% apresentou elevado percentual de gordura corporal. Este resultado pode estar associado à alguns hábitos alimentares observados, como o reduzido número de refeições realizadas diariamente, o baixo consumo de frutas, verduras e alimentos integrais e o freqüente consumo de frituras, açúcar e sal de adição e bebidas alcoólicas. Estes resultados ressaltam a importância da atuação dos profissionais de nutrição com o intuito de melhorar a qualidade da alimentação que associada à prática de exercícios físicos podem maximizar o desempenho esportivo dos jogadores.

Referências bibliográficas

  • BARRETO, F.S.; et al. Avaliação nutricional de pessoas com deficiência praticantes de natação. Rev Bras Med Esporte. v. 15, p. 214-18, 2009.  

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  • WORLD HEALTH ORGANIZATION. Obesity: preventing and managing the global epidemic. Report of a WHO Consultation on obesity. Geneva: WHO; 1997.

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