Associação entre o excesso de peso corporal e a flexibilidade em escolares da cidade de Irati, Paraná Relación entre el exceso de peso corporal y la flexibilidad en escolares de la ciudad de Irati, Paraná |
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* Acadêmico do curso de Licenciatura em Educação Físicada UFPR e integrante do Centro de Pesquisa em Exercício e Esporte da UFPR. ** Programa de Pós-Graduação da Universidade Federal do Paraná. *** Professor da Universidade Tecnológica Federal do Paraná DAEFI - Departamento Acadêmico de Educação Física (Brasil) |
Rafael Vieira Martins* André de Camargo Smolareck** Luís Paulo Gomes Mascarenhas*** |
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Resumo O presente estudo teve como objetivo analisar a associação entre excesso de peso corporal (EP) e flexibilidade em crianças. A avaliação foi realizada em 98 escolares (53 meninos e 45 meninas), com idade entre 7 e 11 anos, da cidade de Irati, Paraná. Foram mensuradas a estatura e a massa corporal e posteriormente foram calculados os valores de Índice de Massa Corporal (IMC). As crianças foram classificadas em eutróficas e com EP (sobrepeso e obesidade). A flexibilidade foi mensurada através do banco de Wells, onde as crianças foram classificadas em aptas (razoável, bom, muito bom e excelência) e inaptas (fraco e muito fraco). Para a associação das prevalências de EP e flexibilidade foi utilizado teste de Qui-quadrado com nível de significância de p<0,05. Embora o número de crianças inaptas tenha superado o número de crianças aptas, este resultado não se apresentou como significativo em ambos os sexos. Assim, o presente estudo conclui que a flexibilidade não é influenciada pelo EP em crianças desta faixa etária. Unitermos: Crianças. Flexibilidade. Excesso de peso corporal.
Abstract This study aimed to examine the association between excess body weight (EP) and flexibility in children. The evaluation was performed in 98 children (53 boys and 45 girls) aged between 7 and 11 years, the city of Irati, Paraná. It was measured height and body mass were calculated and subsequently the values of Body Mass Index (BMI). Children were classified as eutrophic and EP (overweight and obesity). Flexibility was measured using the test "sit and reach", where the children were classified as suitable (reasonable, good, very good or excellent) and unsuitable (weak and very weak). For the prevalence association of overweight and flexibility we used chi-square test with significance level of p <0.05. Although the number of children unsuitable to flexibility did have exceeded the number of suitable children, this result did not appear as significant in both sexes. Thus, this study concludes that the flexibility is not influenced by overweight in children of this age group. Keywords : Children. Flexibility. Overweight.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 15, Nº 154, Marzo de 2011. http://www.efdeportes.com/ |
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Introdução
A flexibilidade é considerada um importante componente da aptidão física relacionada à saúde tanto em adultos como em crianças e adolescentes (ARAÚJO, 2008). Além disso, a flexibilidade pode auxiliar o indivíduo na realização de diversas atividades diárias, bem como contribuir para a diminuição de lesões e o combate a problemas posturais principalmente na região lombar e dorsal (MINATTO, 2010).
Outro aspecto que pode contribuir negativamente no bem estar dos indivíduos é excesso de peso corporal, pois, altos índices de gordura corporal podem levar o indivíduo à impossibilidade de realizar tarefas comuns do seu cotidiano (MELLO et al., 2004). Alguns estudos apontam que crianças que desenvolvem o sobrepeso logo na infância tendem a permanecer em sobrepeso na adolescência e a desenvolver a obesidade na vida adulta (RAMOS e FILHO, 2003; AMARAL e PALMA, 2001). Por conseqüência do aumento do peso corporal, estes indivíduos estarão mais susceptíveis a desencadearem diversas doenças de cunho cardiovascular na vida adulta (DA SILVA, 2005).
Observa-se na literatura que a massa corporal é uma variável que não interfere na flexibilidade e por conseqüência na amplitude dos movimentos, tanto para crianças como para adolescentes (MINATTO, 2010). Da mesma forma, em estudo realizado por Deforche et al. (2003), não foram detectadas diferenças significativas entre flexibilidade e excesso de peso corporal.
No entanto, para Malina e Katzmarzyk (2006), o excesso de peso exerce influência negativa no desempenho motor em testes como o da flexibilidade. Já para Silva, (2006) a concentração de tecido adiposo em torno das articulações pode limitar a capacidade da realização de movimentos amplos. Diante das discrepâncias apontadas pela literatura, o presente estudo teve como objetivo analisar a associação entre excesso de peso e flexibilidade em crianças.
Metodologia
Estudo transversal, com amostra por conveniência, sendo constituída por 98 escolares (53 do sexo masculino e 45 do sexo feminino) com idade entre 7 e 11 anos, todos pertencentes a uma escola da rede pública de ensino da cidade de Irati, Paraná.
Os alunos que aceitaram participar da presente pesquisa receberam um termo de consentimento para ser preenchido pelos pais, no qual continha uma breve explicação dos objetivos e dos procedimentos metodológicos do estudo. Esta pesquisa seguiu os princípios éticos de respeito à autonomia das pessoas, apontada pela Resolução nº 196, de 10 de outubro de 1996, do Conselho Nacional de Saúde.
Inicialmente foram avaliadas as medidas antropométricas de peso e estatura, através de uma balança digital da marca FILIZOLA® com capacidade de 200 Kg, com resolução de 100g, e de um estadiômetro da marca Gofeka/Cardiomed com capacidade de 220 cm e resolução de 0,1mm, respectivamente, seguindo os procedimentos propostos por Gordon et al. (1991). Posteriormente foi calculado o Índice de Massa Corporal (IMC) através da razão entre massa corporal e estatura elevada ao quadrado (kg/m²). Por fim, o estado nutricional foi classificado adotando os procedimentos de Conde e Monteiro (2006), sendo que os indivíduos com sobrepeso e/ou obesidade foram agrupados no grupo de indivíduos com excesso de peso corporal.
A flexibilidade foi aferida através do banco de Wells, onde os alunos foram orientados a permanecerem com as pernas unidas e estendidas sem flexionar os joelhos e sem utilizar movimentos de balanço. Foram efetuadas três repetições e utilizada a melhor medida. Para a classificação da flexibilidade foi utilizada a tabela normativa proposta por Gaya e Silva (2006), onde as crianças foram classificadas como aptas (razoável, bom, muito bom e excelência) e inaptas (fraco e muito fraco).
Para a análise dos dados, primeiramente utilizou-se da estatística descritiva (média, desvio-padrão e freqüências) para a caracterização da amostra. Posteriormente, para a associação das prevalências de excesso de peso e flexibilidade foi utilizado teste de Qui-quadrado, com nível de significância de p<0,05. Os dados foram analisados através do pacote estatístico SPSS versão 13.0.
Resultados
A tabela 1 apresenta os valores de média e desvio padrão das variáveis antropométricas de toda a amostra do presente trabalho.
Tabela 1. Descrição da amostra total
A figura 1 apresenta a freqüência percentílica de meninos e meninas enquadrados no grupo de eutróficos e no grupo de sobrepeso, demonstrando que os meninos apresentaram maior prevalência de excesso de peso corporal.
Figura 1. Prevalência de excesso de peso corporal em meninos e meninas
Na tabela 2 foram analisados apenas os indivíduos com excesso de peso, desta forma, foi observado que não houve associação significativa entre o excesso de peso corporal e o desempenho da flexibilidade, tanto em meninos, quanto em meninas do presente estudo (p<0,05).
Tabela 2. Valores da associação da flexibilidade com o excesso de peso.
Discussão
O presente trabalho teve como objetivo analisar a associação entre excesso de peso e flexibilidade em crianças de uma escola da rede pública de ensino da cidade de Irati, Paraná.
A prevalência de excesso de peso encontrada em nossa pesquisa foi de 24,4% e 32,1% em meninas e meninos respectivamente. Estes achados contribuem para os diversos trabalhos que apontam uma grande ascendência do sobrepeso no público pediátrico ao longo dos últimos anos (SILVA. et al., 2005; SOAR et al., 2004; BALABAN E SILVA, 2001).
O grupo de meninos esteve com os valores de sobrepeso superiores em relação às meninas. Este resultado vai de encontro ao trabalho realizado por Balaban e Silva, 2001, onde foram encontradas maiores prevalências em crianças e adolescentes do sexo masculino em comparação com as do sexo feminino. Aspectos como o consumo alimentar e o nível de atividade física diária são dois elementos comportamentais importantes que podem explicar e diagnosticar o excesso de peso em adolescentes (ROMERO et al., 2010). Entretanto, a presente pesquisa objetivou analisar se existe uma associação do excesso de peso corporal apenas com o desempenho da flexibilidade.
Com relação ao grupo de crianças com excesso de peso corporal, não existiu uma associação significativa entre esta variável e o desempenho da flexibilidade em ambos os sexos. Em trabalho realizado por Silva (2009) o IMC também não influenciou no teste da flexibilidade em 12% das crianças estudadas que se apresentaram acima do peso normal. Da mesma forma ocorreu em estudo realizado por Minatto (2010), onde a flexibilidade não sofreu influência quanto à massa corporal em meninas de 8 a 17 anos. Entretanto, a literatura tem levado em consideração aspectos da composição corporal, da genética, e patológicos, como fatores influentes nos níveis de flexibilidade em crianças e adolescentes (MINATTO, 2010).
Contudo, é importante ressaltar que mesmo que o excesso de peso não tenha influenciado na flexibilidade dos indivíduos da presente pesquisa, cuidados com relação ao controle do peso corporal nesta população são imprescindíveis para uma qualidade da saúde na vida adulta.
Embora os dados da presente pesquisa estejam de acordo com a literatura, algumas limitações devem ser apontadas. A amostra foi por conveniência, portanto, nem os índices de flexibilidade e nem a prevalência de excesso de peso devem ser generalizada para a população. Outra limitação diz respeito à falta da avaliação maturacional da amostra, pois, parte da faixa etária estudada, principalmente as meninas, poderiam estar no início da puberdade, e por conseqüência sofrerem alterações tanto na massa corporal como no desempenho da flexibilidade.
Conclusão
Este estudo conclui que o excesso de peso corporal não influenciou no desempenho da flexibilidade nos indivíduos da presente pesquisa. Porém, os índices de sobrepeso na população estudada estiveram acima do esperado. Portanto, tornam-se importantes as iniciativas voltadas para a modificação quadro atual, pois combater o excesso de peso em crianças e adolescentes é reduzir de sobremaneira os riscos a saúde desta população.
Referências
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Florianópolis, Santa Catarina. Rev. Bras. Saúde Matern Infant, Recife, 4 (4): 391-397, out. / dez., 2004.
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