Educação Física escolar: apontamentos sobre sua prática pedagógica Educación Física escolar: notas sobre su práctica pedagógica |
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Mestre em Ciência da Motricidade Humana, UNESP Doutorando em Ciência do Desporto, UNICAMP Docente do Departamento de Educação Física da Universidade Estadual de Ponta Grossa, PR |
Prof. Alfredo Cesar Antunes (Brasil) |
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Resumo O presente artigo tem por objetivo refletir sobre as principais abordagens pedagógicas da Educação Física. A partir destas abordagens mostrar a possibilidade de transformação da atual prática pedagógica da Educação Física. Unitermos: Educação Física. Prática docente.
Abstract This paper reflects about the main pedagogical approaches to physical education. From these approaches demonstrate the possibility of transforming current teaching practice of Physical Education. Keywords : Physical Education. Teaching practice.
Resumen En este ensayo se reflexiona sobre los principales enfoques sobre la enseñanza de la Educación Física. A partir de estos planteamientos se muestra la posibilidad de transformar la práctica docente actual de la Educación Física. Palabras clave: Educación Física. Práctica docente.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 15, Nº 154, Marzo de 2011. http://www.efdeportes.com/ |
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Educação Física e sua prática
A Educação Física escolar passou por várias transformações nas últimas décadas, porém ainda se questiona seu real valor na educação de nossas crianças e jovens. É urgente a necessidade da Educação Física escolar se apoderar destes conhecimentos e colocá-los em prática para mudar a nossa realidade. Ou ficaremos novamente esperando o que determinados grupos de poder nos darão como nova tarefa a ser cumprida?
No aspecto educacional foram apresentadas várias abordagens pedagógicas que pudessem superar a concepção tradicional (figuras 1 e 2) da área que a vinculava exclusivamente com os aspectos biológicos e ao esporte (aptidão física e esportiva).
Assim, o paradigma da aptidão física e esportiva presente na área começou a ser questionado e novos olhares e metodologias foram apresentadas. Neste momento, surgem várias abordagens pedagógicas na área (figura 3). Porém, de acordo com Bracht (1999):
O quadro das propostas pedagógicas em EF apresenta-se hoje bastante mais diversificado. Embora a prática pedagógica ainda resista a mudanças, ou seja, a prática acontece ainda balizada pelo paradigma da aptidão física e esportiva, várias propostas pedagógicas foram gestadas nas últimas duas décadas e se colocam hoje como alternativas (p.78).
A abordagem construtivista forneceu a possibilidade de trabalharmos uma Educação Física que valoriza as experiências dos alunos por meio dos jogos.
Para Darido (2003) a abordagem construtivista defendida por Freire
“... teve o mérito de levantar a questão da importância da Educação Física na escola e considerar o conhecimento que a criança já possui, independentemente da situação formal de ensino, porque a criança, como ninguém, é uma especialista em brinquedo. Deve-se, deste modo, resgatar a cultura de jogos e brincadeiras dos alunos envolvidos no processo ensino-aprendizagem...” (DARIDO, 2003, p. 7).
A abordagem psicomotora ensinou que além de habilidades motoras voltadas exclusivamente ao esporte é possível e necessário que para o pleno desenvolvimento das crianças deve existir a interação entre os aspectos psicológicos, afetivos e motores
Segundo Le Boulch (1988) “Menosprezar a influência de um bom desenvolvimento psicomotor, seria limitar a importância da educação do corpo e recair numa atitude intelectualista” (p. 26).
Por sua vez, a abordagem desenvolvimentista apresentou instrumentos para compreendermos o desenvolvimento motor dos alunos e a utilização das habilidades motoras para diversas atividades além do esporte.
Ao se partir do ponto de vista de que o movimento é o objeto de estudo e aplicação da Educação Física, o propósito de uma atuação mais significativa e objetiva sobre o movimento pode levar a Educação Física a estabelecer, como objetivo básico, o que se costuma denominar aprendizagem do movimento. Na verdade, o reconhecimento do significado de que, ao longo de sua vida, o ser humano apresenta uma série de mudanças na sua capacidade de se mover, e que tais mudanças são de natureza progressiva, organizada e interdependente, resultando em uma sequência de desenvolvimento, traz elementos para a justificativa de uma aprendizagem do movimento (TANI, et al, 1988, p. 64).
Outra abordagem muito divulgada na área é a relacionada à saúde. Esta abordagem “...revitaliza a idéia de que a principal tarefa da EF é a educação para a saúde ou, em termos mais genéricos, a promoção da saúde...” (BRACHT, 1999, p 79).
Os principais autores desta abordagem são Guedes e Guedes (1993) e Nahas (1997). Eles enfatizam a importância tanto da prática quanto aquisição de conhecimentos sobre aptidão física e saúde. Conforme explica Darido
A adoção destas estratégias de ensino contemplam não apenas os aspectos práticos, mas também a abordagem de conceitos e princípios teóricos que proporcionem subsídios aos escolares, no sentido de tomarem decisões quanto à adoção de hábitos saudáveis de atividade física ao longo de toda a vida (DARIDO, 2003, p. 19).
Além disso, as abordagens denominadas de críticas, progressistas ou transformadoras forneceram os argumentos para entendermos de forma mais clara e consciente a Educação Física inserida na sociedade, seus aspectos políticos, culturais e históricos, ou seja, deixou de ser entendida apenas como a “prática pela prática”. As abordagens críticas mais divulgadas são a crítico-superadora (COLETIVO DE AUTORES, 1992) e a crítico-emancipatória (KUNZ, 1991).
Também, a Educação Física é compreendida como cultura corporal na qual estão inseridos além dos aspectos motores, os cognitivos, sociais, culturais e históricos. Segundo Coletivo de Autores (1992) “... a materialidade corpórea foi historicamente construída e, portanto, existe uma cultura corporal, resultado de conhecimentos socialmente produzidos e historicamente acumulados pela humanidade que necessitam ser retraçados e transmitidos para os alunos na escola” (p.26).
A abordagem das aulas abertas à experiência tem por objetivo o sujeito crítico e autônomo. Segundo Bracht “essa proposta indica a abertura das aulas no sentido de se conseguir a co-participação dos alunos nas decisões didáticas que configuram as aulas” (BRACHT, 1999, p.80).
Na abordagem cultural apresentada por Daólio “...o ponto de partida da Educação Física é o repertório corporal que cada aluno possui quando chega à escola, uma vez que toda técnica corporal é uma técnica cultural, e não existe técnica melhor ou mais correta”(DAOLIO apud DARIDO, 2003).
Segundo Daolio “...atuar no corpo implica atuar sobre a sociedade na qual esse corpo está inserido. Todas as práticas institucionais que envolvem o corpo humano – e a Educação Física faz parte delas -, sejam elas educativas, recreativas, reabilitadoras ou expressivas, devem ser pensadas nesse contexto, a fim de que não se conceba sua realização de forma reducionista, mas se considere o homem como sujeito da vida social (DAOLIO, 1995, p. 42).
Apesar das diferentes concepções e ausência de um consenso sobre as abordagens é evidente a evolução e possibilidades de superação de uma Educação Física que valoriza apenas os mais habilidosos, que busque apenas a preparação física e a busca da vitória a qualquer preço. Portanto, a área da Educação Física Escolar possui instrumentos pedagógicos suficientes para superar uma prática marcada pela estagnação e falta de reflexão. É evidente que precisamos evoluir sempre, porém não podemos esperar algum milagre para que a situação se altere para melhor. Nossos cursos de graduação precisam preparar os futuros professores para aprimorar cada vez mais a realidade da Educação Física escolar. E esse aperfeiçoamento depende, entre outros fatores, de um maior incentivo para a pesquisa e para uma prática que valorize a reflexão.
Considerações
Desde 1996 com a atual LDB a Educação Física deixou de ser considerada uma atividade para se tornar uma disciplina com o mesmo status e importância das demais. Assim, é obrigação dos agentes escolares, incluindo dirigentes e professores, a inclusão e desenvolvimento da disciplina Educação Física de forma a permitir um processo de ensino-aprendizagem que valoriza a aquisição e utilização de conhecimentos sobre a cultura corporal em todos os seus aspectos: motores, cognitivos, sociais, históricos e culturais. Assim, as aulas de Educação Física devem incluir todas as metodologias e estratégias possíveis, desde as tradicionais aulas práticas até o uso de recursos audiovisuais, aulas expositivas, pesquisas temáticas, seminários, visitas técnicas, entre outros.
O processo de avaliação também deve superar a avaliação por meio de melhores conceitos aos mais habilidosos. Conforme abordado acima a disciplina de Educação Física deve se preocupar com os conhecimentos da cultura corporal em todos os seus aspectos. Assim, a avaliação deve permitir analisar o desenvolvimento do aluno em todos estes aspectos e também o trabalho do professor. Portanto, a avaliação em Educação Física deve utilizar além da observação e participação nas aulas práticas também provas escritas, trabalhos temáticos, apresentações em grupo, auto-avaliação, interpretação de textos, entre outros.
Entende-se que a prática pedagógica da Educação Física deve valorizar a pluralidade e diversidade da cultura corporal (esporte, jogos, lutas, dança, ginástica, etc) construída pelos indivíduos e sociedade por meio de um estilo de vida ativo que leve à saúde e qualidade de vida. Esta prática deve respeitar o desenvolvimento biológico e psicológico do indivíduo na qual os envolvidos participem do planejamento e execução das atividades de forma crítica tendo como objetivo o desenvolvimento integral do ser humano (motor, cognitivo, afetivo e sócio-cultural) e o exercício da autonomia e cidadania na busca de uma sociedade mais justa.
A Educação Física precisa e está progredindo, mas no atual estágio já possui conhecimentos suficientes para superar o paradigma tradicional.
O que não podemos mais é aceitar uma prática pedagógica da Educação Física retrógrada em nossas escolas na qual os pais, a comunidade e os próprios alunos entendam como uma disciplina de segunda mão, menos importante. A Educação Física é fundamental para o processo educacional e os professores devem se comprometer totalmente neste processo.
Referências
BRACHT, V. A constituição das teorias pedagógicas da educação física. Cadernos Cedes, ano XIX, nº 48, Agosto, 1999.
COLETIVO DE AUTORES. Metodologia do ensino da educação física. São Paulo: Cortez, 1992.
DAOLIO, J. Da cultura do corpo. Campinas: Papirus, 1995.
DARIDO, S.C. Educação Física na escola: questões e reflexões. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2003.
FREIRE, João Batista. Educação de corpo inteiro: teoria e prática da Educação Física. São Paulo: Scipione, 1989.
GUEDES, D. P. & GUEDES, J. E. R. P. Subsídios para implementação de programas direcionados à promoção da saúde através da Educação Física Escolar. Revista da Associação de Professores de Educação Física de Londrina. V.8, n.15 p:3-11. 1993.
KUNZ, E. Transformação didático-pedagógica do Esporte. Ijuí: Unijuí, 1996.
LE BOULCH, J. Educação psicomotora: a psicocinética na idade escolar. Porto Alegre: Artes Médicas, 1988.
TANI, G. et al. Educação Física escolar: fundamentos de uma abordagem desenvolvimentista. São Paulo: EDUSP, 1988.
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